
Assim terminou o último final de semana, uma ação incomum para um evento sofrido, mas esperado, ilustrado por uma outra situação comum para milhões e incomum naquele instante. Melhor teria sido uma fotografia ou uma pequena filmagem. Diria quase tudo por si, bastaria uma simples legenda.
Vamos começar por algumas cenas do filme 1945. No início do filme dois judeus sobreviventes ao Holocausto chegam a uma vila erma na Hungria trazendo dois baús. A chegada deles provoca um rebuliço na vila, todos os que se aproveitaram e ficaram com os bens dos judeus deportados pelos nazistas entram em parafuso, mas o que os dois homens desejam nada tem haver com os bens usurpados.
Em sua cena de grande significado, na saída do cemitério, chega o prefeito da vila querendo saber por que eles estavam ali e se dirige ao judeu idoso para perguntar:
- O que vocês estão fazendo aqui?
Neste momento a câmara roda pelos rostos dos figurantes, representando os "herdeiros" do patrimônio dos seus conterrâneos de religião judaica. São expressões crispadas pela raiva e pelo ódio, em seguida ela retorna para o rosto do prefeito e em seguida para o homem mais velho, que com o olhar triste responde com a voz pausada:
Neste momento a câmara roda pelos rostos dos figurantes, representando os "herdeiros" do patrimônio dos seus conterrâneos de religião judaica. São expressões crispadas pela raiva e pelo ódio, em seguida ela retorna para o rosto do prefeito e em seguida para o homem mais velho, que com o olhar triste responde com a voz pausada:
- Só viemos enterrar o que sobrou dos nossos irmãos.
O velório se encerrava, o corpo já estava na sepultura. Havia aquela expectativa do final do trabalho do coveiro para irmos para nossas casas. Ele continuava vedando a sepultura, fechando as brechas da tampa da gaveta com cimento, por fim ele deu o acabamento para que ela ficasse hermética. A pequena assistência, assim como eu, já dava o sepultamento por encerrado, mas não foi isso que ocorreu.
Bem devagar o coveiro se ajoelhou com a perna direita, colocou a mão esquerda sobre a tampa da gaveta, depois pôs a mão direita sobre a fronte. A surpresa fez o silêncio maior. Então observamos ele fazer a prece, curta, silenciosa, cheia de fé, e então, fez o sinal da cruz e se ergueu, sinalizando, finalmente, o fim do sepultamento.
Bem devagar o coveiro se ajoelhou com a perna direita, colocou a mão esquerda sobre a tampa da gaveta, depois pôs a mão direita sobre a fronte. A surpresa fez o silêncio maior. Então observamos ele fazer a prece, curta, silenciosa, cheia de fé, e então, fez o sinal da cruz e se ergueu, sinalizando, finalmente, o fim do sepultamento.
Foi uma prece muito especial para dona Lilia, foi também para todos nós ali presentes, foi também para os invisíveis e, em particular, para mim, um vivente que tão poucas faz.
O tempo amigos, o tempo ...
Não dá para terminar e dar meu abraço sem antes ouvirmos esta canção.
Abraço,














