Olhe não acredite no que vai ler, mas que foi, foi!
Nesse dia o papo rolava aleatório, quase de tudo se papeou. Em conversa entre homens vez por entra o futebol e muitas vezes alguém comenta sobre uma mulher. De casamento, quase nunca, só se for para falar da sogra, pois sogro que se preze, só sacaneia e não leva a fama.
Naquela noite escapou alguma coisa de casamento.
Quando tem muitos em uma roda de conversa prefiro escutar. Vejo quem é discreto, quem é gabola, quem só faz comentário cirúrgicos, quem gosta de ter atenção, enfim, vou aprendendo os perfis para compor algum personagem e aprender quem são meus companheiros.
O uísque tinha alguma fartura até certa altura da festa, cerveja não. Era pingada. Quando caiam algumas gotas no copo eu tratava de economizar. Só molhava os lábios, regrei tanto que quando fomos embora ainda havia cerveja no copo.
Por aí dá para ver que estava sóbrio. Só a minha audição era indiscreta.
Beleza?
Lá no meio do salão as mulheres organizavam o desenrolar da festa. Elas no seu clube da Luluzinha, trabalhando, correndo de uma lado para o outro e nós, os marmanjos, só esperando cair a bebida nos copos e os salgadinhos sobre a mesa.
Dentre aquelas damas umas duas tinham o agito e a atitude de quem se sente bem liderando. Iam para um lado, para o outro. Tudo isso bem observado por um dos convivas.
A festa acalmou um pouco, o papo chegou nos assuntos de trabalho, alguém especulou sobre quem seriam os candidatos a prefeito, o futebol não era preferência dos outros e não foi falado.
Depois de bem uma hora de conversa, um dos convivas, imagino que a sua língua estava coçando há muito tempo, soltou a pérola daquela noite:
- Eu fico imaginando como Carlos da conta de Maitê?
A mesa parou, tentamos interpretar o que ele queria dizer. Carlos ficou sereno, eu fiquei vermelho, o perguntador cínico e Roosevelt me disse depois que pensou que haveria briga.
Naquela expectativa por uma resposta, Carlos apenas riu. Outro assunto entrou e a indiscrição sumiu na noite.
Tempos depois encontrei Carlos. Eu também estava curioso: como um cara paradão dava conta de uma mulher agitada?
Aquela indiscrição de Miguel agora dava coceira na minha língua, o papo foi correndo cada vez mais para longe daquele desafio de se saber o segredo de Carlos. Em um escorregão dele mesmo o assunto que eu ansiava voltou :
- Visse para Miguel? Perguntar aquilo. Tava bêbado? A bola veio para mim, só que Miguel nem de longe estava tungado.
- Tava não - Respondi
- Que perguntinha mais cabulosa.
- É verdade. Mas você se saiu bem. O assunto esfriou rapidamente.
- Sabe, eu me calei por não saber como responder. Só pensei na hora que eu e Maitê estávamos namorando bem.
- Transando? Isso?
Carlos deu um sorriso largo, dos homens que andam cumprindo bem as suas obrigações e disse:
- Isso não vou responder, e deu uma tapinha no meu ombro e foi embora, deixando-me com a certeza da dúvida.
- Abelhudo.
Abraço,







