sexta-feira, 16 de outubro de 2020

A RAINHA ESTÁ NUA - André do Rap

       

"Quem é o culpado? Naturalmente é o bandido por praticar crimes."

Na última terça-feira acordei querendo escrever sobre a soltura do traficante André do Rap. Os comentários à princípio criticaram o ministro do STF Marco Aurélio Mello e ainda continuam. Depois os comentários foram dirigidos ao relator da matéria, da lei anticrime, que se se desculpou dizendo que não era para soltar traficante ou bandido perigoso ou notório. Depois a crítica foi para o Presidente da República por não ter vetado o artigo 316 do Código Penal.

Agorinha eu pensei no mais artificioso e repetido dilema: "Quem nasceu primeiro, foi o ovo ou foi a galinha?" Quem criou o artigo, quem aprovou, quem não vetou e quem aplicou o artigo em um caso concreto?

Quem é o culpado? Naturalmente é o bandido por praticar crimes.

Ao se colocar o artigo na lei anticrime, eu imagino que o deputado relator e os que aprovaram pensaram em si mesmos. Ouso alegar que eles estavam ressabiados dos abusos ocorridos durante a Operação Lava-Jato. Das prisões preventivas intermináveis para forçar uma delação premiada. Só que a lei, para ser JUSTA, deveria ser aplicadas para todos e neste caso, o dano colateral estourou com a soltura do André do Rap. Segundo notícia do G1, o ministro Marco Aurélio já havia aplicado o artigo 316 do Código Penal em quase 80 casos.

Também se falou que o traficante tem duas condenações em segunda instância e que deveria está preso, não estava por causa de um artigo da constituição que o impede. 

A interpretação, de ontem, do STF, é que a soltura do preso  com base no citado artigo não pode ser automática. 

Creio caber outras considerações:
- Quantas pessoas estão presas com prisão preventiva a mais de 90 dias, cujos processos estão dormindo o sono dos mortos nas gavetas e arquivos físicos ou virtuais dos juízes? Ou do Ministério Público?

Vamos mais:
- E se o solto fosse um bandido chinfrim?
- E se o solto fosse um político sem influência?
- E se o solto fosse um inocente sem recursos?

Nestes exemplos ou outros  correlatos, haveria tanta repercussão?

Nestes dias em que o assunto anda em evidência, eu ouvi outro aspecto dessa quadra de gritas e reclamações. Se não interpretei errado, eu ouvi um entrevistado na tevê dizer que seria demais para a agenda dos juízes tomarem conta de todos os casos de prisões preventivas e também darem conta da agenda "normal". 

Com isto eu pensei em algumas hipóteses:
- Os casos são tão, assim, numerosos que tomaria a agenda dos juízes?
- Se são, assim numerosos, então a organização dos trabalhos está falha? 

Uma coleta sistemática em uma agenda eletrônica dos casos daria ao juiz todos os casos para tratar, - ou isto já faz parte da cultura jurisdicional brasileira, o uso da prisão preventiva e nela permanecer, mesmo quando as provas não são apresentadas ou são insuficientes? 

Mas ontem descobri a razão de se poder tornar a agenda inadministrável para as prisões provisórias, é que ela são 32% de todas as prisões realizadas no Brasil, segundo o secretário do sistema penitenciário de Pernambuco, Pedro Eurico*. Segundo ele, 250 mil presos deveriam ter seus processos revistos a cada 90 dias, até que as suas prisões se transformassem em soltura ou presos condenados. Usando a expressão do secretário: Prende preventiva e deixa o cara mofando na cadeia.

Depois de tantas indagações eu fiquei refletindo sobre todo o contexto. Não vi em nenhum lugar que houve uma motivação extra, do tipo subliminar, para o ministro Marco Aurélio Mello ter decidido sobre a soltura do notório traficante. Mas, sem dúvida, foi a sua notoriedade, o seu poder, a sua capacidade financeira e de articulação é que provocou toda esta discussão. Bandido do baixo clero nem daria aquela coceira discreta no saco.

Outro fator, de minha livre manifestação, é que o que ocorreu foi uma lição para todos. O ministro, pode não ter desejado, mas mostrou que a lei tem falhas, mostrou também que há defeitos no sistema judicial em manter sem nenhum andamento, sem nenhuma atenção, muitas ações criminais, justas ou injustas. Mostrou, querendo ou não querendo, que o assunto merecia atenção das autoridades judiciais e da sociedade, e foi o que ocorreu. 

Revelou, para quem quiser ver, minúcias do sistema judicial criminal brasileiro para que haja uma atenção plena para as execuções penais, pois tem muito preso que deveria ser solto e, estão presos, tem crime que poderia ser punido com penas alternativas de pequeno delitos e há a prisão, compulsória na nossa cultura.  Sem esgotar o tema, realidades que o sistema judicial e o estado brasileiro deveriam cuidar adequadamente.

Enfim, eu torço para que a justiça seja justa e que as imperfeições sejam corrigidas em um processo de melhoria contínua.

Este caso mostrou que a rainha está nua.


Semana Iluminada,
Marconi Urquiza

Noticiário a respeito:

Marco Aurélio mandou soltar quase 80 presos usando o mesmo critério de André do Rap. 

Promotor diz que a fuga de André do Rap era esperada e critica Marco Aurélio

(*) PASSANDO A LIMPO - Parte final do áudio  - Após o minutos 40.

(*) Passando a Limpo, Super Manhã, Geraldo Freire. Rádio Jornal FM, 90.3 - Recife (PE).


sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Cheiro de pão francês







Dia 02, ao passar à noite pela frente da padaria da frente de casa, me surpreendi, ela havia se mudado.  Perdi o cheiro de pão sendo assado que eu sentia do apartamento, quando vento mudava de direção. 

Adoro e evito comer pão.  Gosto tanto de pão que já  comi pão como tira-gosto da cerveja. De pão assado na chapa nem se fala. Do pão faiscando na manteiga, Deus do céu!!!

Tem horas que eu vou na área de serviço e vez por outro sobe do apartamento do andar debaixo o cheiro do pão na chapa e não tem uma vez que não comento com minha esposa: estão assando pão no apartamento do João. 

Tanta afinidade com pão,  francês, principalmente,  me fizeram o favor de comprar uma passagem para a estrada da saudade.

No final dos anos 1960, Delzuite Tenório abriu uma padaria em Bom Conselho.  A farmácia do meu pai ficava a uns 50 metros dela e toda tarde eu ia para lá ajudar nos negócios. 

Depois de um tempo, a simples compra de um pão virou quase um vício,  duas e cinquenta da tarde eu me levantava e caminhava para a frente da farmácia. Lá,  como se tivesse bisbilhotando a rotina lenta da cidade, eu ficava de narinas bem abertas.  Só esperando o cheiro do pão quentinho escorregar pela ladeira e me chamar. 

Quando o cheiro invadia a minha alma, eu saia baixeirinho, naquele galope miúdo e sincopado, para comprar o pão e, ansioso, dar algumas pernadas ligeiras para me debruçar sobre a mesa da minha casa e aproveitar o pão quente derretendo a manteiga.  Dois pães,  vinte minutos,  e eu voltava para a Farmácia Confiança contente.

Tem um detalhe que não sei até hoje: se era pão com manteiga ou manteiga com pão?

Por hoje,  vou de café coado e pão  quentinho. Que tal saborear?

Grande abraço, Semana Iluminada. 
Marconi Urquiza 


sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Você se lembra?

 



O expediente se encaminhava para terminar quando Marco Antônio viu se aproximar da sua mesa Genilton, que sentou e puxou conversa. Como faltavam cinco minutos para Marco Antônio dar saída no ponto e ele ficou ouvindo o seu colega falar.

Às vezes gostava de conversar com Genilton, mas quando o assunto era sobre política ou futebol, evitava. Tempos atrás, ao fazer um comentário de uma notícia na internet sobre um político famoso, se surpreendeu com a agressividade do colega, desde então apenas ouvia, quando dava, mudava de assunto. 

Foi o que ocorreu naquela tarde, com o papo sendo chato, sem querer opinar e nem expulsar o seu colega da sua mesa, Marco Antônio estava para fazer cara de paisagem quando sentiu que Genilton havia esgotado os assuntos do momento. Achando que a sua história caberia na conversa de ambos, ele começou:
- Sabe, na semana passada eu recebi aqui no trabalho um xará, Antônio, só Antônio. Ele sentou aí onde você está, se apresentou, melhor, disse que era amigo do chefe. Mostrou o seu álbum de fotografias do seu trabalho. Rapaz, eu estranhei as roupas coloridas.
- De palhaço?, - perguntou Genilton.
- Não. Poderia ser ... – e Marco Antônio parou de falar, pensava.
- De palhaço Marco? Só pode ser.
- Não, de Drag Queen.
- Drag Queen!!, - Genilton falou tão devagar, o estranhamento do exotismo da profissão de Antônio só não foi maior, por que ele via vez por outra um na tevê.
- Pois é. Nem deu tempo de pensar em algo, ela já foi contando o seu problema ...
- Qual problema esse bicha tem? Não é para ter nenhum.
- Mas tem ...
- Ignora, irmão. Ignora.
- Não consegui ...
- Você tem o coração mole. Mole demais.

Marco Antônio olhou para Genilton já arrependido de ter falado, mesmo assim sustentou o olhar de condenação do seu colega de trabalho. Cuidadoso, escolhendo as palavras, falando com um tom de voz ameno, disse:
- Genilton, eu tinha que ouvir. Olha, no estado dele, dez reais para mim não custa nada. Nada. Nada ...
- É que você é rico, mas também é muito besta!

Marco Antônio já tinha resolvido parar aquela conversa com Genilton. Estava procurando a palavra mais educada para interromper o papo, que havia se tornado desagradável, mas de repente Genilton mudou de tom, já crítico, rosnou:
- Você gosta é de bicha! Não é?

Marco Antônio ia levantando, foi quando se lembrou que estava na sua própria mesa. Por muito pouco não disse: “Meu velho, levanta daí que você não é bem-vindo!”

A expressão de Genilton era agressiva, até arrogante. Marco Antônio viu, mas fixou o pensamento em uma conversa diferente daquela.

Esperando uma resposta ríspida, que não veio, Genilton, ao não ver alimentada a sua vontade de brigar, relaxou, nisso Marco Antônio voltou a falar:
- Genilton, dia desses um cliente sentou na minha frente e começou a conversar.
- Eu sei, você tem paciência.
- Aí esse cliente me pediu socorro. Não tinha forças para subir essa escada.
- Lá vem você com seu coração bondoso, - disse Genilton, irônico.
- Eu chamei Zezé e ele desenrolou, - desta vez não houve réplica. 
Marco Antônio continuou:
- Sabe, um mês depois ele voltou, mas dessa vez não pediu ajuda.
- É capaz de ser o tal de Drag Queen.
- E ele contou uma história linda. Disse que um dia estava na aula quando uma colega chamou parte da turma para rezarem juntos.
- Agora vem você com religião.
- Pois bem, ele disse que durante mais de mês ele rezaram no intervalo do recreio a favor de um colega, que ele não tinham tanta intimidade.
 
Nesse momento, Genilton tinha parado de se mostrar irritado e prestava atenção.
 
- Sabe, Genilton, eu fui ficando acanhado com a fé dele. Teve uma hora que eu disse que não era de rezar e ele disse, sorrindo: “Olhe, não se preocupe, eu rezo por você e por mim”. Sabe, eu dei um sorriso chocho. Chocho demais. Nisso ele já tinha se levantado e foi no cafezinho, quando voltou veio trazendo um para ele e outro para mim. Tomamos, então perguntou: Onde eu estava?
- Falando da oração para o colega, - respondeu Genilton.
- É verdade. Foi quando ele disse que quase dois meses depois, aquele colega voltou curado e depois de uns quinze dias ele se aproximou do rapaz e disse a ele: “Nós rezamos toda noite quando você estava em doente.”

As rugas de contrariedade que existiam no rosto de Genilton foram suavizando, ficaram apenas as dos anos, então ele deu uma fungada e disse:
- Era para mim. Esse homem é o Drag Queen?
- É.
- Eu não agradeci. Onde ele está?
- Morreu ... estava bem doente. Pegue esse papel, ele deixou esse poema que um amigo havia feito naquele tempo.

Genilton pegou, desembrulhou o papel amarrotado como quem abre um pacote de pão e se pôs a ler:
Muitas vezes nos
damos por vencidos
ao ouvirmos
de alguém um
diagnóstico.
Porém Deus nos
prepara o prognóstico
Atendendo com amor
nossos pedidos.
Os problemas são
todos removidos (no áudio errei e gravei resolvidos)
quando a fé se torna
cristalina.
E a resposta que
vem da mão divina
nos devolve por inteiro
as emoções.
Ao notarmos que
nossas orações
Alteram as razões da
medicina.
Genilton baixou o olhou e viu: 
Ass. Ademar Rafael Ferreira
 
Então Genilton olhou para Marco Antônio e apenas disse:
- Não sei o que dizer.
- Depois que ele saiu de vez da vida, eu só penso nele assim: Meu amigo, um certo Antônio, - falou Marco Antônio.
- É, - disse Genilton, e o silêncio se fez ouvir.


Grande abraço, Semana Iluminada
Marconi Urquiza

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Inspirador de personagem

 

                              
Quem aprende
prevenir
nunca vai remediar.
Quem não amola a
foicita
Pouca cana vai cortar.
Ao caminho fique
Atento
Pra não gritar por São
Bento
Depois que a cobra
picar.

(Por Ademar Rafael Ferreira)

Sabe uma daquelas perguntinhas que coloca a gente para pensar? Foi o que me ocorreu, quando me perguntaram como eu havia criado os personagens do romance  A Puta Rainha

Pois bem, meses atrás conversando pelo Instagram com uma leitora prévia do romance, ela disse que assim que tivesse oportunidade queria conversar sobre os personagens do livro, como os havia criado. A pergunta me fez pensar, eu criei mesmo ou foi a intuição que me conduziu? 

No início confesso que fui tudo intuição. Tudo saiu de supetão da minha mente.

Quando pensava nessa crônica, eu recordei de um livro de Mário Vargas Llosa, cujo título é: Cartas a um Jovem Escritor. Em certo trecho deste livro ele observa que toda ficção começa autobiográfica. Em miúdos, um escritor começa um livro à partir de um ponto da sua própria vivência.

Não fugi a esta regra. Eu comecei A Puta Rainha por causa uma lembrança que me deu o motivo e o impulso naquele início*. Durante semanas esse impulso me conduziu, a história parecia que era ditada, no entanto, em certo ponto dessa trajetória da criação do livro eu me vi perdido, sem saber como encaminhar o livro para o final. 

Então, em certo dia, eu fui para a Livraria Cultura do Paço da Alfândega, aqui em Recife. Agora fechada. Saí zapeando entre as estantes e em um dos móveis, que expunham as capas dos livros, eu vi A Jornada do Escritor (Christopher Vogler). Comprei e fui ler, na medida em que lia, eu fui remoldando a narrativa. Nesse livro descobri que um bom personagem, além de um conflito que precisa resolver, precisa de um mentor.

O mentor, também um personagem de ficção, que tem a função de ajudar  o personagem principal a ser forte, valente, superar a si mesmo, superar as dificuldades e chegar no fim do livro diferente. Bem, tudo isso dentro de uma lógica chamada de verossimilhança, e que significa que tudo que está escrito no livro parece ser uma história verdadeira. Olha!!

Imagine amigo, pense no dilema. "A mentira" precisa ser bem contada, se a narração parece irreal pode cair no descrédito e o livro fracassar. Agora imagine, um escritor cair em uma situação de descrédito na era do cancelamento, das redes sociais viralizando tudo.

Com base no livro de Vogler eu comecei a pensar em um mentor para Dora. No perfil de uma pessoa que fosse capaz de dar um rumo para uma jovem de 14 anos.

Matutei, matutei para lá, para cá, passeie pelas minhas lembranças, pelas dezenas de livros que li, pelos exemplos do livro A Jornada do Escritor, até que um dia acordei pensando em um, o Coronel Zélio.

Veja o que ocorreu. 

Nos primórdios do site Estante Virtual eu fui à caça de um livro antigo que tinha ouvido falar, de um uma pessoa real da nossa cidade - Bom Conselho. Uma liderança política que se manteve ativa mais de 50 anos, até falecer aos 84 anos. Essa pessoa era o coronel Zé Abílio - José Abílio de Albuquerque Ávila. Ao caçar, eu achei dois exemplares do seu livro: Um Coronel do Sertão. Era a sua autobiografia. Em 2010 eu li o livro, há uma frase nele que me soou  como um aviso que o coronel dava aos seus desafetos: Não adianta o cabra gritar por São Bento depois da cobra picar.  Achei tão significativa que incorporei no romance A Puta Rainha.

Por causa da leitura desse livro eu comecei a lembrar de um monte de comentários sobre o coronel Zé Abílio, da sua inteligência agregadora, da sua liderança pessoal e política,  do seu jeito ardiloso de fazer as campanhas, do seu famoso cafezinho das cinco horas da tarde, mantido toda a sua vida. Aí, aos poucos, com base nesse personagem histórico eu comecei a imaginar quem seria o mentor para Dora, então fui construindo-o na medida em que escrevia, assim surgiu o Coronel Zélio. Ele não é o espelho do coronel Zé Abílio, mas tirei dele, o que mais me impressionou, a sua sabedoria de vida.

Bem que eu poderia incorporar uma chamada bem humorada para quando o coronel Zélio mandasse um aviso, frase costumeiramente dita pelo Padre Arlindo de Tamandaré quando encerra os seus vídeos: Mas menino! 

Pois então!

Mas menino!
Ao caminho fique
Atento
Pra não gritar por São
Bento
Depois que a cobra 
picar.


Mas menino!
Semana Iluminada.
Marconi Urquiza


     

Coronel Zé Abílio          Um coronel do Sertão

* Entenda lendo a última crônica: 










sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Escritor .... Hum !!!!!


Capa de Milena Carvalho

O ideal nesta vida
É poder filosofar
E com imaginação 
Aprender e ensinar.
Jamais ficar deprimido 
Em tudo buscar sentido
Ser dinâmico sem surtar.
(Por Ademar Rafael Ferreira)

Algumas vezes fui perguntado o que eu sou nessa quadra da vida e após juntar a coragem do mundo, eu disse:
- Sou escritor. 
Alguns olharam e não disseram nada, outros exclamaram:
- Ah! Escritor! ... Hum!!!

Escritor por aqui, é como sonhar em monetizar o impossível, por isso quero compartilhar essa fascinante aventura de fazer da imaginação o dia a dia e não perder  o juízo.

Há quase um ano venho adiando o lançamento do livro A Puta Rainha, sonhando com o impossível, sonhando que um editora de porte de uma Companhia das Letras se interessasse pelo livro. Não tinha ilusões, mas tinha a esperança do verbo esperar, agora estou transformando a esperança para o verbo esperançar. Resolvi agir. Meses atrás criei uma marca: Galo Prosador e ela foi contestada pelo Clube Atlético Mineiro. Desisti dela e criei outra: Prosa Books, imaginando ir além. Vamos ver o que vai dar.

Diante do dilema de me dedicar durante quatro anos ao livro e o risco de não ser lido, me vi tentado a estudar como fazer o lançamento e a sua divulgação nas redes sociais. Sou modesto nas minhas expectativas, a leitura do livro por alguns amigos deu-me a convicção que há uma boa história para o leitor, com um personagem interessante. Mais de um, na verdade.

E a divisão do livro? Em capítulos, com partes, sem partes, e a escrita, como começar o livro, as primeiras frases, como encerrar o livro. Se o cara não cuidar, fica uma viagem que se sabe como começa e não se sabe qual destino que ela vai chegar. Em suma, escrever o fim do livro: é tão difícil quanto começar.

Nessa aventura, cujo custo mais barato foi o meu tempo, foram horas de pesquisa, dinheiro gasto em alguns cursos mixurucas, horas em lives que me enganaram nas boas intenções, queriam me vender outros cursos. Achei uma consultora, que não me consultou em nada, disse o que eu já sabia. Frustrei-me com ela. 

Um escritor auto publicado, é antes de tudo um belo sonhador, é por conta do seu sonho, um empreendedor em potencial. Por causa dos custos de arrumar um livro, para tê-lo pronto para o leitor apreciar, eu decidi fazer tudo sozinho. Então fui aprender, pedi socorro, gastei o couro sentado em busca de entender como deve ser um livro de qualidade. 

Levei muitas horas, muitos dias para escolher a melhor tipografia, digo, a melhor e gratuita fonte e fazer a capa? Não deveria dizer, foram três meses. Três meses para acertar um esboço que me parecesse profissional, só pareceu. Mais estudo. Imitação, peguei uns dez livros com edições caprichadas por editoras de renome e fiquei olhando como ele faziam. Aprendi alguma coisa e copiei demais.

Achando que o livro estava pronto, imprimi um enorme catatau de quase 400 páginas de papel A4 e pedi para cinco amigos lerem. Depois de alguns dias, eu fui reler, estava tão ruim, mas tão ruim, que eu compreendi ligeiro que a falta de feedback era a péssima qualidade daquele texto gigantesco.  Então voltei a trabalhar no livro, sabe, tive um desespero. Mas uma alma bondosa corrigiu 152 páginas e me fez entender, que tudo o que tinha imaginado precisava de muitas "vírgulas" para virar uma história apreciada.

Eita, é agora, esse agora foi em novembro do ano passado, agora vou lançar! Parei, descobri que estava cansado do livro e ele ainda não estava pronto. Ainda assim fui aprender a usar o site KDP, da empresa Amazon, para publicar como e-book. Foi só o começo. 

O livro como experiência de uma boa leitura, ainda estava longe. 

Tentei ser eu mesmo o revisor, o copirraite, o leitor crítico. Toda a cadeia de produção de um livro, faltou uma coisa, ser o diagramador, além de ser seu próprio editor. Capista! 

Se o ser não for dotado da extrema autoconfiança ou um rematado arrogante, ele vestirá a insegurança como segunda pele. No meu caso, acho que já virou a quarta pele. 

AÍ veio a pandemia, tudo que era gasto extra foi sendo reduzido e sobrou algum dinheiro no orçamento, que andava apertado. Quando vi a sobra, contratei duas professoras de português especialistas na Leitura Crítica e na revisão e copirraite. Bom, agora eu tinha o livro arrumado.

Voltei para treinar as capas, nessa altura o livro original tinha virado, três, voltou a ser um, e já tinha terminado um romance iniciado em 1999 e escrito um livro com 22 contos.  Mas o dilema continuava e continua: Como promover o livro para que os leitores se interessem por ele?

É agora sair da criação de uma história para criar um plano de ação para promover o livro, ampliar meu horizonte de criador para o de empreendedor, de certo modo retornarei ao horizonte que me vestiu durante mais de 23 anos como gestor do Banco do Brasil, planejar como vencer os objetivos e executar as ações para que eles sejam superados.

Agora estou esperando o orçamento de um profissional de marketing digital, se não couber no bolso, agregarei mais uma função ao meu ofício recente de ser escritor, o de marqueteiro digital e aí incluirei na minha Bio no Instagram: escritor, capista, diagramador de livro e marqueteiro digital de livros. Como no real, a nossa unicidade como pessoa é cheia de facetas, ganharei essas de quebra.

Serei uma pessoa com um "moi" de personas. Bem, falar disso, fica para outro dia, é melhor me concentrar em D. Santinha, em Dora, no Coronel Zélio, Antônio Carlos e outros personagens que estão doidos para se apresentarem aos amados leitores.

Abração, Semana Iluminada.

Marconi Urquiza





sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Foi na inauguração do campo

 Frases marcantes do futebol que servem pra vida toda!

Sabe, alguns dias atrás estava zapeando pela tevê e parei alguns instantes em um jogo do CRB, na série B, em Maceió. Em certo instante o câmera correu pela arquibancada vazia e aí eu me lembrei que meu pai me levou para a inauguração do Estádio Rei Pelé, em setembro de 1970. Pelé estava lá, o Santos inteiro, goleando a Seleção Alagoana.

Três anos depois, em algum domingo ensolarado de 1973, acho que Bom Conselho estava no maior frisson. Campo de terra arrumado, terraplanagem recente, traves novas, rede de náilon e viria um artista nacional para inaugurar.

Pedro de Lara, famoso por atuar no Programa Silvio Santos. Filho de Bom Conselho, saído como retirante, era o convidado ilustre. De longe todos vimos ele entrar no campo de paletó, com seu sapato social, preto, brilhando ao sol. Se aproximou do grande círculo, junto com o prefeito e mais uma ou duas autoridades e inaugurou o campo com um curto chute.

Ao redor do campo, atrás das linhas, havia uma multidão e eu estava lá, logo depois da linha de meio de campo na direção do cemitério. O campo não era no sentido norte-sul, para que a luz solar ficasse na lateral das barras, ele era no sentido leste-oeste e o cemitério ficava a oeste. Perto dele ficava um dos gols, o outro, ficava perto do muro que dividia o campo, o antigo campo do ABA, que era fronteiriço com uma rua.

Acabada a inauguração, iria começar uma melhor de três. CSB - Centro Sportivo Bomconselhense, era um e outro time, se a memória não me engana, era o Vera Cruz, do Alto de Zé Flexeiras. 

Antes de falar do jogo, vou falar do campo. Ele estava lisinho e macio, a raspagem com a motoniveladora tinha deixado o terreno duro, bom de jogar. Naquele dia não ventava muito, no entanto, quando o vento fazia a sua graça, quem estava do lado da linha que ficava perto do hospital sofria, todavia, a gente ficava de costas para o sol e era melhor de ver o jogo.

A primeira coisa que a memória registrou, foram os ternos (camisas, calções, meiões) novinhos e parecendo engomados. As pernas dos jogadores lustravam com os raios solares. Parece que havia, naquele tempo, o costume de passar terebentina ao se massagear. A camisa do CSB lembrava a do Palmeiras de 1972, a do Vera Cruz, a memória falha, mas penso que era preta, listrada de amarelo, listras verticais. Tenho enorme dúvida a esse respeito.

Começou o jogo, jogo aberto. Uma correria enorme. Jogo franco, bom de ver. Aí o CSB fez um gol, depois fez outro. Aí veio o terceiro gol. Nessa hora o CSB atacava para o gol do cemitério, o gol a oeste. 

Bem leitor, tudo aqui é de memória. Só de memória. Vou reavivar a minha localização na torcida. Nesta hora eu e a muita gente tinha caminhado mais para perto do gol do Vera Cruz, mais ou menos a 35 metros da linha de fundo. 

Aí, em certo momento, o CSB armou um contra-ataque e a bola foi passada para Elisênio, jogador de passadas largas. Ali, logo  depois do círculo central, ao receber a bola, imagino que ele viu um corredor, com os marcadores distantes, ele correu rápido com a bola dominada. A cada passada dele e dos defensores um rastro de poeira foi se criando, quando ele se aproximou da entrada da grande área, já havia se formado uma pequena nuvem. 

Não lembro direito, se ele chuta e cai ou caindo chutou. Mas lembro que ele  ficou olhando do chão a corrida veloz da bola até ela entrar no gol. Afinal, nós torcíamos pelo CSB e vibramos com o gol.

Aquela queda me deixou curioso, tempos depois eu me encontrei com Elisênio e perguntei para ele a razão da queda, não lembro a resposta: não sei se disse que caiu para se proteger ou se levou um tranco. Só sei de uma coisa, foi um gols dos mais bonitos que já eu vi. 


Abração, Semana Iluminada.

Marconi Urquiza


Elisênio:

Blog do Tiago Padilha: Atuação do Vereador Elisênio Borges na Legislatura  2005 a 2008. Para melhor compreensão de toda a população explicitamos  inicialmente as atribuições do Vereador. (Parte 1)

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

PRESENTEAR, O QUE VOCÊ FAZ?

 Fotos: Veja como presentear cada signo neste Dia dos Namorados - 10/06/2014  - UOL Universa


Fiquei imaginando a expressão de quem me deu um presente que não me agradou, a minha cara eu sei, de decepção: "Que cara mais mal agradecido, quando dei um presente e ele mal recebeu", fora outras intermitências.

Nada mais justo que evitar a decepção do presenteado e ainda mais a própria, que dá um presente que desagrada, não é mesmo?

Suponho que isto ocorra com muitos. Então o que se faz, combinar o presente, combina-se, compra-se e entrega ao presenteado um almoço frio. Mas é assim mesmo, evita o desgosto que pode durar uma vida de mágoas.

Uma dos modos de presentear é conhecer a pessoa. Os seus gostos e dar um presente entre as preferências, captado de um comentário fortuito, por exemplo, e fazer uma surpresa agradável. Só que isto é quase uma impossibilidade mundial, pois quase todos nós não olhamos desse jeito para as pessoas.

Outro modo de presentear e eu já fiz, é chamar a pessoa a ser presenteada e levar para uma loja que você possa pagar e ficar ouvindo os comentários. Isto funciona melhor, imagino, ao se tentar presentear uma mulher. Pois bem, quando ela se agradar, você diz, escolhe o seu.

A arte que mais utilizo de presentear é sair com o amigo, o filho, beber uma cervejas e rachar a conta. Fraquinho, né?

Certa vez conversando com amigo ao telefone, ele comentou sobre um livro de um jornalista, falou loas e disse que me mandaria uma cópia, pois não achou o livro impresso, agradeci e uma semana depois chegou a sua carta e a fotocópia do livro. Comprei um original e mandei para ele. Não sei a cara dele e nem ele viu a minha, meio desgostoso com o que eu entendia ter sido uma ideia ruim, a fotocópia. Tempos depois recebi o livro original. 

Tempos atrás, outro amigo deu-me um livro de poemas, livro bonito, mas como não é o meu gosto literário mais forte. Acho que não fui agradável.

Destes dois exemplos, vem a outra parte de um bom modo de presentear: Não fazer expectativa.

E agora vem a de ser presenteado: Não fazer expectativa. 

O ato de presentear, é, na maioria da vezes, uma representação, a demonstração de afeto, então receba o afeto e só olhe o presente depois.

Para finalizar, muito anos atrás eu estava em uma conversa de amigos, quando um deles disse:
 - Comprei um livro de Estatística para a minha esposa. 

O professor Cidão, que estava na roda, olhou para aquele colega de faculdade e disse: 
- Olha, ele gosta dela! 

Todos olhamos para ele sem compreender o que ele queira dizer com a sua afirmação, até que alguém perguntou:
- Professor, por que você acha isso? - Cidão pareceu surpreso, deu um sorriso leve, olhou para cada um daqueles três alunos e então respondeu:
 - O livro é um presente nobre, ele reflete muito mais o caráter de quem presenteia do que quem é presenteado.

Na verdade, penso que, tirando os presentes de pura conveniência, o ato de presentear é um ato nobre e deve ser entendido como a demonstração de apreço e afeto.

Por fim, se tem dúvida com o que presentear, faça algo semelhante a esta frase de um autor desconhecido:
"Se não sabes o que presentear a teus seres mais queridos no Natal, presenteie-lhes teu amor."¹

Abração, Semana Iluminada.
Marconi Urquiza

¹Link da frase:





O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...