sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

MONARK E O CÓDIGO DE UMA CRENÇA

 

Código de uma Crença

 



          Quando Monark fez as suas observações nazistas, inúmeras pessoas fizeram as suas críticas, todas procedentes. Mesmo quem não tem afinidade com a história, em algum momento o nazismo e suas consequências nefastas chegaram a essa pessoa. 

    O Nazismo não sai de moda, é ilegal no Brasil e em muitas partes do mundo, mas continua alimentando inúmeros espíritos com a tendência de serem maus.  Muitos, muitas pessoas, são pequenos ditadores e a filosofia nazista cai como uma luva para elas alimentarem os seus impulsos.

    Há alguns anos tomei um susto, não esperava ver o que vi. Era 2018 e nós fomos para Blumenau, Oktoberfest. Eu, Cida, Marcello e Zoraide. No domingo, Marcello nos levou para conhecer a Rua 15 de Novembro. Fomos andando e em certo momento subimos a escadaria da Catedral. Depois de alguns minutos, voltamos para a rua e assim que descemos a escadaria vi uma livraria, me aproximei e parei. Na sua parede, um cartaz que dava um endereço no Facebook, convidando pessoas para um grupo nazista. Até fotografei, depois apaguei, mas fiquei por meses pensando nisso. Por fim, entrou na ladeira do esquecimento, até esta semana.

    O texto abaixo foi escrito em junho do ano passado e não divulguei. Guardei aqui. É datado, tem um contexto histórico e tem também um contexto perene, pois o Nazismo está sempre rondando, é moda permanente.

------ TEXTO  ORIGINAL ------

       Quero dizer, antes de tudo, que você não precisa concordar com estas palavras. Fique à vontade para critica-las.

        Não sei quantos tiveram a vontade de ler sobre o nazismo. A minha lembrança mais longínqua desse regime político foi ao assistir a série Holocausto, de 1978. Naqueles episódios, o que mais me chamou a atenção foi uma aparência de passividade da população que foi dizimada.

        Depois, talvez em 1979 ou 1980, conheci uma professora, alemã, da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Em uma das aulas, ela comentou que seu pai havia fugido dos russos durante muitos meses, após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Caminhou pelas florestas do leste europeu até conseguir entrar no território ocupado, daquele país, pelos Estados Unidos.

         Vale a pena um adendo. Naquele período, todo soldado nazista que fosse encontrado pelo exército da União Soviética era fuzilado.

         Após esse testemunho, fiquei com um comichão, então certo dia me aproximei dela para fazer a pergunta que batia na cabeça.

         — Professora, por que seu pai foi nazista?

         Duas coisas não esqueci daquele momento. A primeira foi a sua expressão de constrangimento e, finalmente, a sua resposta:

         — Não havia como não ser nazista.

         Que situação é essa que não havia uma alternativa para se viver?

         Tal resposta, de modo inconsciente, foi o gatilho para o desejo de me aprofundar nesse fenômeno político-social, cujas implicações foram duradouras. Foram anos de interesse. Dezenas de documentários, artigos, reportagens, livros, filmes. Tudo visto e listo com avidez.

         Nessa trajetória esbarrei com um artigo da revista Veja que tratava de um ex-vice-presidente de uma grande empresa. Bem, esse homem era fã das técnicas, táticas e modos de gerir nazistas. Tal executivo foi demitido em algum escândalo envolvendo a privatização das telecomunicações no Brasil, na época de FHC. Para mim essa afinidade do executivo não é um fato fora da curva. Ouso dizer que as táticas nazistas, fascistas e totalitárias continuam tendo eco mundo afora desde então.

         Aí, vários anos atrás assisti ao filme-reportagem de nome “Caçando Eichmann”. Trata da captura do oficial da SS nazista, em Buenos Aires. Adolf Eichmann, coronel que liderou todo o transporte dos judeus húngaros para o Campo de Extermínio de Auschwitz.

        Depois do filme, li o livro correspondente e saí lendo outros livros. O curiosidade foi tanta busquei um escrito por Hanna Arendt: “As Origens do Totalitarismo: Antissemitismo, Imperialismo e Totalitarismo”. Neste livro, há na bibliografia a citação de outro de sua autoria. Foi assim que esbarrei no mais famoso livro dela: Eichmann em Jerusalém – um relato da banalidade do mal. Este livro marcou muito, deu-me um sentido de observação que propiciou ter percepções críticas para muita coisa.

        O meu momento de vida, tempos depois, era de questionamento de um certo “código de ética”. Assim, no minúsculo, porque embora torto, era um código de conduta, amplamente disseminado. Comecei a perceber que vivia em um ambiente em que as ultrapassagens ao Código de Ética ideal, às normas de conduta e as de negócios eram incentivadas. Até as leis eram banalizadas. O código real e influenciador era outro: Entregar o número de qualquer modo. Só entregue. O recado era um só: isto é o que vale, isto é o que é importante.

        Alguns anos depois, comprei o último livro a respeito do nazismo e com ele encerrei a minha leitura sobre o assunto.

        Pois bem, foi o estudo, intitulado de “Crer e Destruir – Os intelectuais na máquina de guerra da SS nazista”. Nele um pesquisador francês estudou com profundidade 99 oficiais nazistas.

        O primeiro ponto daquela leitura foi: A seleção dos oficiais pela SS. A maioria tinham curso superior, mestrado e até doutorado. Não eram incultos, como muitas narrativas que os apresentou após a guerra. Como se para se justificar a brutalidade dessas pessoas.

        O outro ponto, foi a Construção da Crença. Uma vez tudo assimilado que faziam a coisa mais certa do universo, fazer aquelas barbaridades não lhe infligia nenhuma dor, culpa ou remorso.

        Algum tempo depois, vi o filme que discorreu sobre a reunião que decidiu como executar mais rápido os judeus. O “convencimento” para a Solução Final. No filme, em certo momento um general do exército discordou. Ali haveria de haver unanimidade. O general que comandava a reunião, após as devidas regulagem intimidatórias, falando em nome de Hitler, obteve o voto do general “recalcitrante”.

        Cinco, seis anos atrás, apareceu no canal History Chanel um documentário, em vários episódios, intitulado de Códigos Nazistas. Deixei de lado qualquer resenha sobre tal documentário, são vários códigos. Mas vou colocar a minha interpretação. O Código Nazista, como qualquer código de uma sociedade, de um grupo de pessoas, mesmo distantes fisicamente, os faz sentirem-se pertencentes a um tipo de agrupamento. Grosso modo, seria como um agrupamento “espiritual”.

         Então, no código nazista, certas palavras de Hitler se transformavam em palavras-chave, em crença, ordem e execução, sem que se ouvisse um “faça” imperioso. A Solução Final foi uma dessas palavras-chave.

         Vamos para o presente. Nos tempos em que se filma tudo, o que ocorreu na semana passada em Recife (29.05.2021), em Trindade, Goiás. Das queixas-crime em razão de críticas postadas na mídia e nas redes sociais. Inquéritos abertos para intimidar, com base na Lei de Segurança Nacional.

         Em Goiás, um homem foi preso por um policial militar e levado à Polícia Federal para ser autuado com base na L.S.N. e depois liberado por que não havia crime. Em Recife, a Tropa de Choque da polícia atirou contra uma manifestação política ordeira, sem nenhum tipo de provocação, sem nenhum tipo de desobediência à ordem policial, sem nenhum tipo de desobediência a uma lei.

         Vou esticar a minha reflexão. Aquele soldado obedeceu ao quê e mais relevante: a quem?

         O comandante que autorizou a ação recebeu alguma ordem superior para reprimir? Ou há outros objetivos? Colocar medo? Provocar o refluxo de outras manifestações pacíficas? A quem ele servia?

         Nas duas situações. Agiram por conta própria ou há uma rede de comando? Ou há uma rede de comando mental motivada por uma crença que isso é o que deveria se fazer?  

         Assim foi no auge do nazismo, todos obedecendo ao mínimo desejo de Hitler, mesmo que não fosse manifesto. De uma dependência de agradar, acolhido pela crença comum que servia ao seu líder. É possível que esse seja o Código que esteja por trás das duas ocorrências aqui relatadas.

        Dezenas de manifestações pró, uma contra. Faço, como minhas, as palavras da repórter Bianka Carvalho, da TV Globo, ao perguntar a um importante dirigente do Governo de Pernambuco: Há uma polícia dentro da polícia?

        Bem, estas são as minhas ponderações, peço as suas.


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Bem, é isso por hora.

Marconi Urquiza 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Como se fosse o dono do tempo

 



        Tempos atrás eu escrevi a crônica Escritório de Conversas Avulsas, que era na farmácia de papai em Bom Conselho.  Hoje imagino que aquele comércio era muito mais que atender os clientes, lhes vender medicamentos, fazer curativos, aplicar injeções, orienta-los em alguma dúvida, poderia se dizer que praticava o que hoje se diz como marketing de relacionamento. Mas isso é resumir a dimensão de tudo que ali ocorreu anos a fio.

        Veja, há uns quatro anos eu fui para uma festa popular que é o Carnaval de Zé Puluca. Evento que ocorre em Bom Conselho no domingo anterior ao carnaval oficial. No sábado, daquele ano, se organizou a saída de um antigo bloco de carnaval da cidade, coisa da saudade, o Xipê. O nosso esquenta ocorreu na casa da viúva de Arcôncio Camboim, dona Socorrinho Guerra. No meio da conversa veio um dos filhos do casal, não lembro o nome, e me disse mais ou menos assim: 

        — Papai só chegava da fazenda, almoçava e já ia para a farmácia do seu pai. Como ele gostava de ir lá.  

        Eu fiquei contente, a minha reação foi tímida e a surpresa sincera. Na semana passada eu recebi um áudio de Luiz Clério, o editor do jornal A Gazeta, de Bom Conselho, noticiando, quase de imediato, uma situaçao que tinha ocorrido minutos antes. 

        A notícia me fez viajar para a adolescência, as lembranças chegaram como estivesse vivendo aqueles momentos. 

        Era quase sempre uma hora da tarde. Melhor é dizer, depois do almoço. Era frequente eu vir cobrir papai na farmácia após o meio-dia. Papai que tinha o hábito de cochilar à tarde, saia do comércio e nos colocava para ficar tomando conta dele até perto das três da tarde.

        Quase todas as vezes, ao chegar ele já estava sentado, na cadeira vizinha ao balcão em L da farmácia. Já estava com o primeiro caderno do jornal aberto e os outros protegidos sob a sua perna.

        Quando eu lia aquele jornal, li saltando as notícias, apenas as que me interessava mais, um pouco mais demorado no caderno Viver. Ele, não, lia metodicamente tudo, tudo. Cada linha, cada palavra.  Quase sempre sem conversar, poucas palavras. Respondia aos cumprimentos e voltava à leitura.

        Duas horas depois dobrava o Diario de Pernambuco e o devolvia. Se levantava, ia até a entrada da farmácia e ficava por lá alguns minutos observando o que se passava na rua. Depois devagar ia para a calçada, atravessava a rua e subia a praça como se fosse dono do tempo.

        De fato foi, viveu lúcido e bem até os 95 anos.

        Esse leitor foi o Naduca, Arnaldo Cavalcante de Miranda.



sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

O tempo faz refletir



        Há 9 anos começava a maior doutrinação do pensamento do brasileiro.  Era um alinhamento quase universal. Revistas, jornais, rádios,  internet, judiciário,  ministério público.  

        Foi tempo de uma desconstrução que dava para sentir saudade de Toninho Malvadeza, o Antônio Carlos Magalhães,  famoso por utilizar a desconstrução fascistoide de seu alvos. Tudo feito metodicamente, palavras bem colocadas, ações realizadas com rigor científico para manter a população alimentada pelo grotesco, pelo fuzilamento moral, desencadeadas em períodos regulares. Tudo parecia tão verdadeiro, tão cheio de certezas, tudo tão cheio de virtude que acendeu a paixão do brasileiro, com maior ênfase pelos que tinham o poder de fazer justiça, o desejo de justiçamento. 

        E tudo era acompanhando com avidez todas as noites. Nem a mais foda das novelas teve tanta audiência e tanta expectativa. Muitos se sentavam no sofá para receber a sua dose de diária de informação desinformante. E muitos brasileiros ficaram ávidos, não queriam mais justiça, queriam sangue, vingança e ódio e isso foi crescendo e se tornando o Novo Normal. Odiar era chique, era verdadeiro, parecia expressão de um pensamento livre, mas não era. O pensamento já estava doutrinado. 

        Há quatro anos o vulcão começou a fumegar, o alinhamento se formava em um subconsciente da unidade de um pensamento que o pais precisava mudar, que o novo seria a redenção. Era tanta gente cheia de certeza que ficou que ouvir com bom senso era impossível. Mas para que bom senso? Para que? Se a certeza já existia. Quando estamos certos não precisamos pensar só agir. Impenetrável aos fatos que começavam a mostrar um horizonte difícil. 

        O vulcão explodiu e soltou para todos os lados a sua lava. Não sei se o desejo ou esperança continuou a mover a maioria. Moveu e remexeu em tudo. A certeza, capitaneada pela doutrinação do pensamento, manteve-se firme no domínio.

        Aí ocorreu um dilúvio com nome e sobrenome, a arca estava maior e sem Noé para conduzir até que água baixasse.

        Pois bem, é preciso pensar nessa coisa difícil chamada política, um angu que tem todos os matizes e em todos os agrupamentos humanos.

Política é parte
integrante
Das ações do dia a dia
É muito mais que
debate
As vezes é 
escorregadia
Não é de esquerda,
de direita,
Centro nem ideologia.
(Ademar Ferreira)
    

Abração,  Marconi Urquiza 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Francisco

 

        O nome dele é Francisco, um dos milhões de Francisco do Brasil. Um dos tantos que sente que a cor da sua pele o pega e o faz sofrer

        Mais de um ano já se passou quando ele escreveu em grupo do Whatsapp: Naquele tempo não tinha nada disso. Era início dos anos 1970, onde ele não sentia o racismo.

        Eu também não, menino branco, conversava com os amigos e os tratava pelo nome ou pelo apelido sem nenhuma outra conotação. Mais que isso, só as briguinhas de criança e jovens.

        Francisco era Francisco, Marconi era Marconi, Everaldo, era o Vevé, Manoel, o Mané. Até ganhei um apelido de um desses amigos que tinha dificuldade em falar meu nome e inventou um nome bem mais difícil e estranho: Malincônico. Já visse uma coisas dessas?

        A reclamação em 2020 tocou em mim de modo diferente, tocou no sentido de pensar cada palavra, cada expressão, cada ponto e cada vírgula. Zerou a espontaneidade. É tanta vigilância, que em vez de falar, prefiro ouvir, pois é preciso cuidar para que as ideias preconceituosas que os anos de vida possam ter incutido em minha mente não magoem as pessoas.

        Quando Francisco disse: Naquele tempo não tinha isso, senti a sua tristeza, a dor por um negócio que nem sequer poderia existir, sei que existe e é mal, maltrata, mata, exclui, acaba com as oportunidades.

        Pois bem, Francisco, somos agora sessentões. Vai meu abraço, vai meu apreço. Estamos juntos.


        Marconi Urquiza

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Criar

 


Ando tão sem assunto, que chego na vésperas das sextas-feiras com a mente vazia e isto já tem vários meses. Algumas vezes me dá vontade de falar do processo de escrita e paro. Penso todas às vezes: É um assunto que interessa a tão poucos e desisto.

Em 2003 eu ensaiava querer aprender mais coisas sobre como criar um personagem e me convidei para conversar com Dr. José Nivaldo, médico e escritor, que vivia em Surubim. Ele bom de papo, falou um monte e em certo momento eu perguntei:

- Doutor, eu tenho uma curiosidade. Como é criar um personagem? 

Silêncio, ele ignorou completamente pergunta. Tornei a fazê-la, silêncio, então parei.  Diz um dos maiores professores de escrita criativa, Assis Brasil, que um livro deve começar pelo personagem central.

Quando rascunhei o primeiro romance eu não pensei nisso, queria apenas contar uma história. Foi isso que fiz. Naquela época ainda não tinha desenvolvido o sentimento, que ao se fazer um texto grande, eu estava como se tivesse construindo uma casa. Isto só ocorreu quanto fiz o Trabalho de Conclusão do Curso de Direito. Meses de trabalho, e sim, foi muito difícil. Não com a profundidade da dissertação, mas tão complicado quanto ela.

Certo dia, já falei dele, ganhei um presente de um senhor, 70 anos na época, um angolano de pele branca, fugido da guerra da independência de Angola, em 1975. Ele me deu o livro: Angola - O último café. Que é uma narrativa da fuga da fuga de uma família no meio da guerra civil e do desejo de vingança contra os filhos de portugueses. Esse título me fez criar imediatamente outro, bem sonoro. Mas não tinha mais nada que uma ideia desconchavada.

Seguindo a cartilha, fui pesquisar. Li muitos livros. Por exemplo: Coronel, Coronéis, de Marco Antônio Vilaça. Li o livro: Coronelismo: Enxada e voto, de Victor Nunes Leal.  

Interessante é o livro de Vilaça fala dos mais famosos coronéis de Pernambuco. Chico Heráclito, de Limoeiro, José Abílio, de Bom Conselho, Veremundo Soares, de Salgueiro e houve outro, que acho que era de Parnamirim. No livro de Leal, ele estudou os coronéis de Minas e São Paulo. Em resumo: Os barões do café e do gado. Os homens riquíssimos e com praticamente os mesmos modos de agir dos coronéis nordestinos.

Em síntese mal ajambrada: O poder é que guiava esses homens e fazia terem certos comportamentos semelhantes.

Continuei a pesquisar, tinha lido no jornal A Gazeta, de Bom Conselho (PE), um pequeno resumo de um trecho do livro A Revolução Pernambucana de 1911, do pesquisador João Alfredo dos Anjos. Cacei esse livro para tentar entender por que em Bom Conselho, em 1911, não houve eleição, motivado por uma briga na bala do coronel José Abílio, a favor de Dantas Barreto, e Lívio Machado Wanderley, que era a favor de Rosa e Silva. No popular, a bala correu solta.

Nessa pesquisa, achei uma autobiografia, um livro raríssimo, do coronel José Abílio: Um coronel do sertão. Li com gosto, nas lacunas eu imaginava o seu perfil, misturando com o que falou de si mesmo, com as histórias que ouvi dele na minha vida.

Um dia, no meio de uma depressão, comecei a escrever, pouco mais de 4 páginas e o coronel surgiu em um hipotético diálogo que tive com meu pai, na porta da farmácia, quando falei para ela da moça bonita que passava na outra calçada e na hora papai disse: Cuidado, ela é do coronel. 

Aí foi surgindo um personagem, rico, cheio de nuances, cheio de manhas, contradições e de humanidade. Foi tanto, que ele extrapolou do romance, ainda inédito, A Puta Rainha para o outro, também a ser publicado: O Último Café do Coronel. Ambos já comentados em outras crônicas.

As ideias, não surgem apenas de uma clarão, ela surgem da reflexão, de certa prática de pensar e agir, de experimentar e tentar soluções para um problema. Não surgem do nada, sempre tem um pesinho em um somatório de pensamentos.

Um escritor, um cientista, um cantor, compositor, artesão. Todos aqueles que usam a capacidade de criar, podem até ter o dom, mas ele exercitam diariamente a vontade de criar algo, de ter uma solução, e por aí vai.

A inteligência, para mim, é mais que uma capacidade natural, ela é criação da pessoa, da sua insistência em melhorar.

Pois bem, como esse raciocínio, quem sabe, um dia, não saia: Coronel, Coronéis, o mesmo José.


Até a próxima.

Marconi Urquiza.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Ao gosto dos leitores

 

   Rubem Fonseca e Gabriel Garcia Márquez


        Tempos  atrás, há mais de um ano eu vi uma entrevista de Tony Bellotto, em uma live de lançamento do livro "Dom". Onde ele, ao ser indagado, disse que o escritor de histórias policiais que lhe inspirou no estilo de escrever foi Rubem Fonseca.  Elogiou demais, disse que ele não aliviava nas frases, era um estilo direto e seco.

        Até então não havia lido nada de Rubem Fonseca, só outros escritores que o tinham como referência e continuei assim, sem ler.  Depois de bem um ano que eu havia comprado um livro seu, Agosto, ele que continuava encostado no meio os outros, na fila para ser lido. 

        Nessa leva de leituras recentes eu havia concluído o livro reportagem, "O Nome da Morte", escrito pelo jornalista Klever Cavalcanti.  Apesar dele utilizar recursos de um romancista, tudo no livro é real. É a história de um matador de aluguel que anotou 492 mortes que fez em 35 anos de profissão. Se tiver preguiça de ler, há um filme homônimo.

        Na secura de ler, desta vez foram dois livros de ficção, dois dos livros da série "Estações de Havana", de Leonardo Padura. Uma série policial que primeiro vi no Netflix, só bem depois li os livros. Desta vez li de uma tacada: "Máscaras e Paisagem de Outono".

        Aí a paquera do livro "Agosto" se transformou em namoro.  Não terminei, mas posso fazer alguns comentário.  O livro traz parte daqueles eventos anteriores ao suicídio de Getúlio Vargas. É um romance entrelaçado de ficção e história real, romanceada. A história é boa e a narrativa não deixa o leitor entediado.

        Mas tem um aspecto que me fez lembrar um comentário do amigo Ronald. Certa vez me disse que eu escrevia seco, sem "lamber (por minha conta)" o leitor. Sem aliviar a carga dramática nos dois romances de minha autoria que leu. Quando eu passei de dois terços do romance Agosto fui me identificando com esse modo de escrever. 

        Fiquei lembrando do comentário de Ronald e me recordei de alguns detalhes que me fizeram ter uma estilo seco. Primeiro: sempre tive muita dificuldade de escrever frases longas, tinha medo de me perder. Segundo: A minha dificuldade em por vírgulas me fez escolher as frases curtas e com ponto final.  Terceiro, o que só ocorreu muitos anos depois. As frases curtas tornam a leitura mais ágil e me obrigada a simplificar e não complicar.

        Ainda bem que só li Rubem Fonseca quando já tinha um certo jeito de escrever. Mas sempre tive uma admiração por dois escritores, meus professores indiretos: Gabriel Garcia Márquez.  O outro foi Graciliano Ramos, cujo estilo, nos anos 1980, eu tentei imitar. Acho que dos dois, estão misturados à minha forma de escrever, foi de onde juntei os seus modos e maneiras.

        Nem recordo quantos livros li neste último ano, talvez 20, mas neste período o que mais me marcou foi o "A Vida em Espiral". Este é romance de um rompante parecido com a crueza dos fatos de "O Nome da Morte". Para quem gosta de uma estilo mais leve, é hora de ler "Tia Julia e o escrevinhador", de Mário Vargas Llosa.

        Por hora, é só isto.

        

        Abração.

        Marconi Urquiza


sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Gratidão genérica




    Nesta semana, em um papo dos tempos atuais com um amigo, apareceu: Gripe, vacina,  um tico de política,  um pouco do que cada um anda fazendo. Como andava a cerveja, os livros,  as leituras,  de futebol não se falou, esse assunto anda fora de moda entre os torcedores do Sport Recife. 

    Leitor das crônicas quis saber sobre os livros:  
    "Rapaz,  acabei mais um". Ainda Indagou: "É aquele que nunca acabava?" E daí mudou de assunto, falou um pouco sobre a mentalidade entranhada:  "Tu vê, entra doença,  sai doença,  e os caras não mudam, parecem amarrados na desgraça". Só ouvi, evitei comentar. 

    Em certo momento, perguntei: 
    "E Sport?" 
    "Olhe, amigo, deixe esse assunto para o começo da Copa do Nordeste".  
    Para mostrar que ele estava encerrado, me perguntou: 
    "E as cervejas?" 
    "Hoje tá pouca", respondi. Lhe disse que um dos filhos e a nora tiveram Covid-19 e fiquei em quarentena, que testei,  deu negativo,  depois gripei, mais um teste, também negativo. 
    "Eu também gripei", o amigo disse. Então parou, seus olhos reviraram, até pensei,  agora tá com esse tique?

     Era necessário esperar,  então ele contou:
     "Na segunda noite que a gripe me derrubou, fiquei sem forças e me deitei cedo. Eu senti meu corpo brigando com os microbios a madrugada inteira,  suando, lutando, esquentando sem ter febre. Quando foi umas 6 horas levantei me sentindo melhor. Já sentisse uma coisa assim, essa luta para superar os microbios?" 

    Sem pensar muito, respondi: 
    "Amigo, nunca tive essa percepção", então ele completou: 
    "Até aquele dia eu também não tinha tido."

    Senti que aquela experiência foi forte, então silenciei, mas ele, então, se saiu com isso:
    "Eu tenho uma gratidão genérica", não me aguentei: 
    "Como é isso? Que isso de gratidão genérica".
    "Vê, é para o motorista,  que não sei quem é e que levou a vacina. Para aquela mulher que aplicou a vacina no meu braço e nem perguntei o nome. Para  o cientista que ajudou a cria-la. Entendesse? Para os políticos que brigaram para que as vacinas viessem rápido..." 
     Interrompi: 
     "É obrigação deles cuidar da população." 
     "É, pode ser. Pode ser... Pode ser."

     No final, pensei como esse amigo, também reconheci o esforço dos milhões que labutam pelo "bem comum".

     Para essas pessoas vai a minha gratidão e o desejo de um 2022 pleno, de tudo que a imaginação lhe conceber.

    
    Abração, Feliz 2022 para todos.
    Marconi Urquiza

    Uma canção antiga, mas que vale a pena ouvir de novo. Clique no vídeo.



Mais um, não é Abração, é, no link: AQUELE ABRAÇO





    


O poder revela ou transforma uma pessoa?

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