Casca de civilização, da espessura de uma hóstia. Como está a sua?
sexta-feira, 4 de junho de 2021
SÓ IMAGENS
Casca de civilização, da espessura de uma hóstia. Como está a sua?
sexta-feira, 28 de maio de 2021
Viagem de Uber
De repente a sabedoria se preenche toda em uma frase: Cada coisa tem sua hora e cada hora o seu cuidado.
sexta-feira, 21 de maio de 2021
Mulheres adultas têm pelos
Não é um título original, peguei emprestado de Marcela Guimarães.
Há algum tempo,
antes deste maio, havia lido alguma coisa a respeito do tema. Não sei dizer o
que li com clareza, só recordo o contexto e o assunto.
O
texto de Marcela é que me deu o título da crônica. O
artigo está na revista Continente, de setembro do ano passado. A matéria fala
de um projeto de uma zine, um tipo de revista eletrônica, criada pela autora, que é
fotógrafa.
Por
causa da pandemia, chegaram ao mesmo tempo as revistas represadas durante vários
meses. Essa, abri a cerca de um mês, sabe, li com aquela agonia dos tempos
atuais, passando por cima das frases, olhando basicamente as imagens e suas
legendas. Uma típica leitura da internet, três linhas, já se pula para outra
postagem.
Mesmo
assim, o assunto não foi para a porta de saída, sentou-se na sala como um
visitante insistente. Muitos dias após a primeira e apressada leitura essa
visita se levantou e disse:
- Olha,
veja de novo. Está muito interessante - peguei, folheie e pus a revista
no meio das outras. O visitante permaneceu invisível até dois dias atrás, foi quando reabri a revista e lá veio ele de novo:
- Pode
ler, vai gostar - então li, lendo.
O
texto perpassa aspectos culturais, sociais, femininos, masculinos, argumentos
sobre saúde e higiene. Sem deixar de citar que é também um negócio.
Ao ter atenção para a matéria fiz uma viagem na minha própria estranheza de menino adolescente, quando em certo momento dos meus 13 anos vi os primeiros pelos pubianos nascendo, da vergonha de ser visto minha mãe ao tomar banho com meus irmãos e ela me olhar nesse novo corpo.
Andando
na rua, na adolescência dos anos 1970, achava estranho que muitas meninas
tivessem vastos pelos nos braços e nas pernas. Algum tempo depois observava
nessas pernas as marcas da raspagem à Gilette[1].
Até percebia em várias outras, que os pelos dos braços estavam descoloridos com o uso de água oxigenada volume 20.
Lembro de um arquétipo da minha adolescência entre os rapazes da minha terra, que era o uso do bigode. Quanto mais vasto, mais apreciado. Havia também o uso da barba. Eu não tinha nenhuma dois em abundância. Na barba desciam uns pelos espaçados pelos lados do rosto, que a muito custo se pareciam com costeletas. Para bigode, coitado, era uma risca de giz de preto. Uma coisa mínima. Ainda assim, insisti em usar.
Voltando
ao texto de Marcela, me situo na parte em que a autora observa como as mães levam
as filhas ao ginecologista, como as orienta a se depilarem, em alguns casos,
até antes dos 15 anos.
Uma questão cultural se formou. Mais à frente, a matéria remete a outros aspectos: influência de namorados, maridos, amantes, da sociologia do trabalho, entre outros. Impondo, mesmo para quem não queria tanto, um padrão sem pelos para as mulheres a ponto de provocar dificuldade de se realizar o exame toxicológico para as motoristas profissionais, pela ausência de pelos a serem coletados.
Marcela
incorporou várias fotografias na matéria, a maioria de axilas. Também nessa
altura da leitura recordei de um certo estranhamento de minha parte. Vejam. Os
homens não usam camisetas com frequência, as mulheres usam muitas blusas sem
mangas, de alças. Ao se ver em público pelos nas axilas, isto entrou naquele estado
mental de olhar diferente por causa da cultura da depilação feminina, também
assimilada pelos homens. É como uma afronta aos cânones visuais do nosso tempo.
Muitas
vezes apenas expressar um ponto de vista pode nos tornar vítimas de
impropérios, de perseguições, do ódio insano que se vê a todo instante. Mesmo
em algo tão pessoal, como optar por ter ou não pelos expostos, pode parecer “uma
grave infração penal”. O que tende a tornar mais conveniente ou seguro se esconder ou
seguir a ordem das massas. O danado é que às vezes isso se torna inevitável.
Muito
se fala das tribos, do modo exponencial que cresceram no ambiente da internet.
Tornou-se mais fácil se juntar as pessoas com as mesmas predileções e
radicalizar contra quem pensa e age diferente.
Como
tantas outras crenças limitantes que recebemos pela vida, ser o que se deseja,
ou usar o que se quer, gera impacto na nossa vontade. Fazer cara de paisagem
não é uma tarefa fácil, mas pode ser a alternativa de se ser o que se deseja.
[1]
Gilette – Marca da lâmina de barbear.
Ótimo final de semana
Marconi Urquiza
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Perfil no Instagram (mais visual)
https://www.instagram.com/mulheresadultastempelos/
Link da revista eletrônica(visual e com depoimentos):
Revista: Mulheres adultas têm pelos
Link da matéria na revista Continente (artigo completo):
Mulheres adultas têm pelosexta-feira, 14 de maio de 2021
MIND
Ontem vi um gesto que cutucou a mente. Seria voluntário?
Simples ato de uma vaidade latente? Seria apenas um gesto corriqueiro? Ou
então, um aceno de um flerte inconsciente? Ou aquele gestual de tirar os
cabelos de trás das orelhas foi consciente de quem desejava se mostrar mais
bonita.
Tal sutileza me fez lembrar de dois escritores brasileiros
e as suas artes de mostrar tais nuances em seus contos.
O primeiro deles é o conto Missa do Galo. Nele, Machado de Assis apresenta o sutil flerte de
uma mulher casada para o sobrinho do seu marido, que estava hospedado em sua
casa. Pequenos sinais, palavras que soam como avisos, mas que eram uma abertura
para o rapaz, desde que ele se ligasse nela.
O outro conto, também de Machado, do qual não recordo o
título, vem da inteligência do escritor e do seu personagem central em atrair o
amante de sua esposa para um encontro furtivo em nome dela, onde a morte o espera.
O terceiro conto, tal qual o segundo, é o ódio que move o personagem,
masculino, a atrair o feminino em Venha
ver o pôr do sol. Aqui Lígia Fagundes Telles usa de uma maestria que ocorre
em muita gente: a dissimulação. O rapaz dissimula até o final a sua real intenção.
Flerte, ódio, traição, dissimulação, frustração,
ingenuidade. Vida e morte.
Tais contos são da era em que o comportamento humano era
influenciado pela comunidade, pelos jornais, pelo rádio, pela tevê, pelas
fofocas e pelos sentimentos naturais, educacionais e culturais de um povo. De
construção mais lenta, por meio da população de uma região, bairro, grupos de
convívio.
Agora vamos sair da era analógica para a digital.
A psicologia, a psicologia social, sociologia, psicanálise,
psiquiatria, as religiões, enfim, todas as ciências, entidades ou estudiosos
que se aprofundaram nos comportamentos humanos. Todo o saber a esse respeito
estão interligados para influenciar as pessoas nas redes sociais.
Recentemente li um artigo no Estadão intitulado: O
pertencimento é mais importante do que a verdade: a era da desinformação.
Pode-se traduzir desinformação como Fake News e a causa desse padrão comportamental
se reflete na demonstração de aprovação ao que se recebe, onde “a verdade de um
post ou a autenticidade não foram identificadas como motivo para retuitar”.
Esse pertencimento é o básico pelo qual as pessoas se juntam
em grupos. Para se sentirem participantes, de dentro de algo que lhe parece
valioso: ser aceito. Tal contexto preenche uma parte de suas vidas. Tal
percepção é muito importante para uma interpretação adequada e até possibilitar
uma conversa sem agressões.
Agora volto a matutar sobre aquele gesto de soltar o cabelo
de trás das orelhas e embelezar o rosto, dele é que veio as ideias abaixo.
Imagine uma pessoa com 61 anos, lá pelo ano de 2082. Que
teve acesso e viveu todo o tempo com um celular na mão, participando de grupos,
dando likes e cliques negativos e positivos. Lendo e absorvendo aviões diários
de notícias, mensagens, imagens, opiniões. Ela sente pertencer ao mundo, pois o
mundo é o digital.
As relações sociais foram todas intermediadas pelas redes
digitais, pela internet. Ela conhece pessoas distantes, sem nunca ter convivido
ou conservado longamente. As ama ou odeia, muitas vezes são indiferentes. O que
se tornou raro. Os seus sentimentos são intermediados pelos algoritmos,
incessantemente.
Como seremos em 2082?
Como estaremos? Ricos em nossa cultura e diversos ou apenas na medida da cultura permitida
pelos donos dos algoritmos,?
Abração e ótimo final de semana.
Marconi Urquiza
Tradução: Mind = Mente.
sexta-feira, 7 de maio de 2021
Conversa com Ivan
Imagine.
Imagine que você vê uma fotografia antiga de uma pessoa que conviveu na sua infância. Aí a fotografia sai de dois grupos do Whatsapp e se esbarra com ela no Facebook. Um fragmento de um sentimento que ficou rondando a sua lembrança há muito tempo aparece de novo. Uma sensação crescendo e então aquilo de muito anos atrás encheu o coração, voltou para ser compartilhado.
Inicialmente lembrei-me de um encontro, uma conversa e aos poucos uma história foi se formando
Ocorreu em dois momentos distintos. Na infância, em Bom Conselho, havia três
farmácias. A de papai, a de Ivan Crespo e a de Nelo. Farmácia Confiança, Drogaria
Crespo e Farmácia Mons. Alfredo Dâmaso - penso que era esse o nome. Tenho
dúvida.
Nessa
época o movimento de carros na Praça Pedro II era pequeno. A farmácia de papai
ficava na Praça João Pessoa, uma extensão da grande praça Pedro II.
Várias
vezes papai me mandou ir até Ivan comprar algum medicamento que faltava para
despachar uma receita médica. Nesse tempo eu ainda usava calça curta. O que
acho interessante, diferente dos dias atuais, é que não se andava tanto pela
calçada, era mais pelo meio da rua.
A
caminhada desde a farmácia de papai até a de Ivan era de cerca de 150 metros, feito na
diagonal, subindo a rua. Acho que as primeiras vezes que cumpri essa missão eu
devia ter uns 10 anos. Hoje tenho 61anos, lá se vão mais de 50 anos.
Assim
que eu saia do balcão da nossa farmácia, antes de pisar na calçada, o dinheiro
já estava todo dobrado e preso na mão esquerda. Tão fechada que ficava
dolorida.
De punho fechado caminhava o mais rápido que podia, algumas vezes chegava ofegante, mas não era por cansaço, era do medo e pela ansiedade de cumprir aquele trabalho.
Após
esse encontro, o tempo correu, nos anos seguintes o vi umas poucas vezes e de longe. Até que certo dia mudei a minha atitude. Nessa época pesquisava para um
livro que pretendia escrever, um romance com a história sobre a morte de papai.
Havia
conversado com alguns amigos de meu pai e não prossegui com esse intento, pois havia muita emoção represada ao tratar do assunto. Aqueles homens pareciam
querer se desmanchar em lágrimas ao iniciar a conversa sobre a sua morte. Parei, também não suportei.
Acreditando
que falar com os adversários políticos da época poderia ser o caminho para a
obtenção de luz para algumas dúvidas, comecei a pensar em algumas pessoas. Depois
de muitas dúvidas, indecisões e adiamentos repetidos, criei coragem e fui
falar com Ivan. Ele devia estar com 70 anos e eu atravessava os 48.
Cheguei
um dia à tarde, quase final de expediente. Ele estava sentado na mesa onde
ficava o caixa, no meio da farmácia. Me aproximei e me cumprimentou como sempre, com o Marne Novo. Pedi licença e sentei-me na cadeira que me ofereceu. Me fez algumas perguntas, quis saber quantos filhos tinha, idade, essas coisas. Falei
que tinha vivido distante, mas agora trabalhava em Pernambuco. Emendei e falei das
minhas lembranças de criança quando ia lá comprar os remédios, ele riu ao dizer
que eu tinha um medo danado de perder o dinheiro. Também ri.
A
cada minuto da nossa conversa sentia que ele ia se emocionando, acho que se
surpreendeu com minha visita. Depois de
alguns minutos disse-lhe o que mais desejava. Comentei do meu projeto, da
minha dificuldade em obter comentários e perguntei se poderia me dizer alguma
coisa daquela confusão enorme da eleição de 1982.
Ele
me expôs detalhes que eu nunca havia tomado conhecimento. Da provocação
inicial na Praça Pedro II em outubro daquele ano, da armadilha não percebida por papai naqueles
episódios, desde o mês de agosto. Foram informações importantes para compreender
a escalada da violência que tomou conta daquela disputa.
Nessa
altura eu senti que Ivan estava muito emocionado e eu tentava me comportar como
um repórter investigativo, mas não consegui, inventei uma desculpa que teria de
pegar os filhos na casa do sogro e saí o mais rápido que pude, segurando as lágrimas.
Peguei
o carro e fui na direção contrária ao destino que
usei como desculpa. Após um passeio curto voltei pela Praça Pedro II e passei
pela frente do seu comércio. Agora Ivan estava sentado em um banco de praça, no
canteiro central do largo da praça. Ele estava com o olhar distante, não sei se sentia só, não
parecia triste, como das outras vezes que o havia visto naquele mesmo local.
Bem, eis um pequeno fragmento de duas vidas.
Ótimo final de semana.
Marconi Urquiza
Fonte da imagem:http://tiagopadilhaoblog.blogspot.com/
sexta-feira, 30 de abril de 2021
TANGENDO BOI
Após a escolha do novo líder da ECOA*, as festividades de uma agência cresceram de modo exponencial e se tornaram mais gostosas e repletas de comida. Muita comida, muita mesmo.
Não há esse negócio de regrar comida, tudo que se refere a comida nas festas têm o signo da fartura.
Aí um colega mais espirituoso saiu-se com essa:
- Sei não! Jota fez acordo com o Batalhão de Trânsito.
- Mas como? Para quê? - Indagou espantado outro colega.
- Para levar a feira mensal em casa.
- O quê? Ôoooopa, endoidou!
- Só pode! Só de carne é uma enormidade, pois o boi ele leva tangendo pela rua.
Ótimo final de semana
sexta-feira, 23 de abril de 2021
CHOPE CARAMELADO
Um
xícara de café expresso, um chope escuro. Da incompatibilidade nasceu essa
história.
Meio
dado a falastrão, Querêncio chegou atrasado no futebol e ficou no banco. Viu os
amigos correrem durante meia-hora. Entrou a segunda pelada e ele continuou
esperando. Perdera a vez, havia agenda para a primeira pelada, mas seu atraso
lhe jogou para o fim da fila.
Quando
começou a jogar viu alguns amigos mais chegados indo embora. “Hoje não ter
ninguém para tomar uma cerveja”. Os que estavam jogando com ele eram meros
companheiros de peladas. O máximo de intimidade era o protocolar: “Como vai?”
Desejava
contar a novidade que descobrira no Shopping Boa Vista. “Fica para depois,
aquele quiosque tem vida longa com o seu chope saboroso”.
Após
o final da pelada, ele tomou banho, arrumou as suas coisas para ir embora, mas
caiu na tentação:
−
Júnior, traz uma Origina gelada.
Deu
um sorriso chocho, pois havia se lembrado do dono de uma galeteria de frango
defumado, pois certa vez ao pedir um frango inteiro, foi corrigido por esse
homem: “É galeto. Mas tem frango aqui, ali e lá dentro”. Pensou em dizer que
ele era preconceituoso, mas deixou para lá.
Tomou
a primeira cerveja, pediu a segunda. Tomou mas um copo e no final dele veio:
“Puta merda, que chope bom aquele. Sábado vou lá tomar duas canecas”.
Chegou
a sexta-feira e se ele se encontrou com Valter.
−
Vamos tomar uma hoje?
Péricles
foi passando:
Eles
sabiam que a limitação de horário se devia a Lei Seca. Seis e meia da noite
sentaram para aquele hora de bate-papo regado à cerveja. Lá pelas tantas,
Querêncio disse:
−
Vamos amanhã lá no Shopping Boa Vista tomar um chope?
Cada
um bebeu seu copo de cerveja. Mas agora era de Heineken. Na garganta de
Querêncio desceu amargando, mas desceu gostosa.
−
Essa cerveja bem gelada, como essa, é muito boa – comentou Péricles.
Querêncio
sentiu que o assunto estava acabando. “Rapaz, vou cutucar ele, se não, nem
chega na saideira”.
−
Péricles, sabe esse chope do Shopping da Boa Vista?
Terminaram
aquele cerveja. Querêncio sentiu que Péricles estava para sair, então disse:
−
A saideira?
Beberam
rápido. No estacionamento Péricles chamou Querêncio.
−
Vamos, eu dou carona. O caminho para minha casa é o mesmo da sua.
Cinco
minutos depois:
−
Amanhã te ligo – disse Querêncio.
No
dia seguinte Querêncio ligou, mas Péricles não pode ir. Dez horas Querêncio
chamou a esposa:
−
Mirna, vamos no Shopping Boa Vista?
Meia-hora
depois saíram, faltando dez para as onze horas da manhã, Querêncio chegava nos
bancos altos do quiosque de chope.
−
Quero um chope escuro.
Em
minutos a caneca estava à sua frente. Com os lábio gulosos tomou um gole
grande. “Tá diferente”. Terminou aquela caneca, pediu agora uma tulipa. O gosto
não mudou. A decepção começava a chegar.
−
Pode me trazer uma tulipa de chope claro?
A
atendente colocou na sua frente o chope claro. Bebeu devagar tentando encontrar
as “notas do sabor especial”. Tomou apenas a metade da tulipa e não se
aguentou:
−
Moça, trabalha aqui há muito tempo?
−
Não mudou nada. Olhe aqui – e mostrou os barris de chope.
Aquecidos
no micro-ondas, em um minuto os seis pães estavam prontos para serem
degustados.
−
Traga mais um chope claro e também a conta – pediu Querêncio.
O
sabor marcante dos pães de queijo engoliu por um momento o sabor do chope e da
sua lembrança.
Saiu
do quiosque disfarçando a sua decepção. “Ainda vem que Péricles não veio. Ainda
bem”. Um pouco depois se encontrou com a esposa.
−
E aí? Saciou a vontade?
Com um ar de sonhador, muito sonhador, respondeu:
− Do chope caramelado.
Mirna
saiu do estacionamento, pegou uma ruazinha, a Corredor do Bispo e foi dirigindo
devagar por várias ruas estreitas cheias de carro dos dois lados. De relance
olhou para o marido, viu que ele tentava achar a resposta do sonho do chope
caramelado.
Mirna
sinalizou e entrou à esquerda na Visconde de Suassuna. O trânsito no sábado
estava tranquilo. Dirigia sem pressa. No sinal da Avenida João de Barros ela ouviu
um murmúrio.
−
Disse alguma coisa, Querêncio?
O
sinal abriu e Mirna se concentrou em dirigir, só teria sinal um quilômetros
depois e logo atravessariam a avenida mais movimentada do Recife.
Chegaram
no Parque Amorim. O sinal Para cruzar a avenida estava fechado.
Mirna
estava impaciente:
−
Vai dizer ou vai ficar nesse suspense.
Um
sorriso meio debochado apareceu no rosto de Querêncio antes dele falar.
−
Olhe, a uns dois meses nós fomos no Shopping Boa Vista. Lembra que lanchamos e
eu tomei uma enorme xícara de um café caro na São Braz? Lembra?
Querêncio
apenas sorriu, desta vez feliz, pois havia sentido o sabor inigualável do chope
caramelado. A sua iguaria única. Só quinze anos depois é que algum cervejeiro
com gosto pelo café andava tentando inventar uma cerveja caramelada. Bem que
poderia chamar Querêncio para ser degustador.
−
Mirna, pode acreditar, foi uma invenção da boa.
O poder revela ou transforma uma pessoa?
imagem: Orlando/UOL. Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...
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Por Djalma Xavier. Pra começo de conversa, trago dois personagens que tem algo a nos ensinar e ilustram bem as questões principais...
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Sábado passado me larguei de Recife no meio da tarde e fui a Bom Conselho. (284 km). Fui por que o amigo Antiógenes me incluiu e...
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Ontem o amigo Loyola se foi. Há alguns meses descobriu um tumor no pâncreas. Ao saber da notícia, no início da noite, de sua...









