A primeira vez que li algo a respeito eu fiquei, assim, meio parado, refletindo sobre o conteúdo. Era como se tudo tivesse se juntado em uma palavra: Tóxico.
Tóxico. Era assim que papai falava sobre pessoas viciadas em drogas, especialmente a maconha, nos anos da década de 1960 em diante. Outras drogas ilícitas não estavam ainda infestando por Bom Conselho, naqueles anos da minha infância.
O tempo passou e um estudioso do trabalho escreveu sobre ambientes do trabalho tóxicos. Aqueles ambientes que provocam tanto desconforto que levam ao adoecimento psíquico de muita gente e o sofrimento mental para a muita gente.
Ansiedade, insônia, alcoolismo, isolamento, irritabilidade, baixa produtividade, entre outros problemas.
Na esteira que aquela leitura me despertou, vieram outras e mais outras, até que li sobre a Síndrome de Burnout. Em uma imagem simples e direta, é como se a pessoa queimasse por dentro como um fósforo aceso.
Tempos depois, esbarrei em uma matéria sobre comunicação não violenta. No contraponto disso, a comunicação agressiva é bem comum. Não precisa gritar, até em voz baixa pode se xingar, diminuir a autoestima, minar a confiança.
Hoje se sabe que a violência doméstica, física, vem precedida da comunicação violenta. É um processo lento e crescente de abuso entre pessoas. É semelhante ao que ocorre na parábola do sapo que ferve junto com a água, sem que esboce qualquer reação. A temperatura vai subindo e o animal morre sem fazer nenhum movimento para sair da panela.
Vários anos se passaram até que definisse uma percepção, a partir de uma lembrança de um jogo de futebol.
Em 1995, nós fomos jogar futebol de salão em uma cidade vizinha. Em certo momento, um jogador foi ao árbitro e disse que estava levando pancadas de um adversário. O árbitro fez ouvidos de mouco.
Na jogada seguinte levou outra e compreendeu que do árbitro não haveria nenhuma ação.
O tempo correu e o jogador, que gostava de ser duro levou uma trombada que o jogou no chão. O que deu o troco, olhou para o árbitro e esperou que ele apitasse falta e até o advertisse. Não apitou e o jogo prosseguiu sem que aquele, que andou lhe dando pancadas, tentasse de novo lhe machucar.
Mais de 20 anos depois, estava em casa, muitas recordações vieram na esteira da reflexão sobre relacionamentos abusivos, após ver uma sucessão de notícias sobre feminicídios.
Puxei o assunto na hora do café, em uma das conversas se falou de uma pessoa pública, notório por não respeitar limites. E dá indicações que o que coloca um freio momentâneo nas suas atitudes, é uma reação na mesma altura da sua agressão.
O modo abusivo de ser é desse modo, não adianta contemporizar, pois lhe dar força para o seu comportamento. É não deixar o medo tomar conta, mesmo em desvantagem. Sobretudo, não tentar agradar o abusador, que quase sempre interpreta isso como fraqueza, aumentando a sua maldade.
Esse tipo de pessoa é como se estar diante de um vampiro, ele se move e se sente forte ao sugar o nosso sangue espiritual. Não é para se consolar e parar de lutar, tal pessoa, vai sempre atrás de uma vítima, pois é um predador.
Às vezes a luta parece impossível, se isto é o que se tem no momento, se prepare, pode ser que tenha que ter uma reação “abusiva” para se livrar do abuso.
Há um risco, o risco de se tornar uma pessoa abusiva ao reagir. Mas isso é comigo ou com você e não com o abusador.
Abraços, Marconi Urquiza



