Agora que tem dois brasileiros na final da Copa Libertadores eu pensei em dois jogos pra lá de antigos.
Acho que estavam dois times de Caraúbas, um de Dix-Sept Rosado, um de Felipe Guerra e acho que dois de Apodi. Cidades do oeste potiguar.
Em uma das rodadas, fomos para Felipe Guerra. No time dessa cidade atuava o jovem prefeito.
O árbitro era da Liga de Mossoró, quase profissionais. Todo ataque nosso, soava um apito. Em certo momento, Porquinho, nosso melhor jogador, fez uma jogada, armou o chute. O apito veio estridente.
No primeiro tempo tomamos 2 x 0, gols do prefeito bom de bola. Eu olhava para o juiz e fazia caras e bocas, mas não reclamava.
Quando acabou o primeiro tempo eu encostei nele e fiz um comentário que não entendia as suas marcações, não lembro como, apelei: "deixa a gente jogar, já tão difícil, eles já têm 2 x 0". Ele olhou para mim e disse uma frase parecida com essa:
- Olha, sabe o que é, eu quero chegar inteiro em casa. Meus meninos estão me esperando.
Balancei a cabeça, olhei aquele imenso campo arenoso, até bonito, com as marcações no solo. Redes bem esticadas. Alguma plateia, então caminhei para a preleção do nosso técnico, convicto que naquela tarde essa regra de "sobrevivência arbitral" já havia decretado o resultado da partida.
2º Tempo, vamos ver se o time empata.
A outra história antiga ocorreu, quando, certo dia, Erickson Torres convidou a mim e a Seba para jogarmos em um Sítio em Afogados da Ingazeira. Não vou nem arriscar o nome desse local para não errar feio, o tempo vai tão longe que nem lembro direito o ano, talvez 1984.
Era um domingo, depois do almoço nos
encontramos na frente da agência do Banco do Brasil de Afogados da Ingazeira. Após o nosso time
estar todo junto, saímos da cidade, acho que fomos em quatro automóveis pequenos.
O jogo teria que iniciar cedo, de
modo que acabasse ainda com luz solar.
Vou chutar: às 14 horas começou a partida.
Naquela tarde eu tive dois estranhamentos. O primeiro: O campo tinha um declive de um lado para o outro ao longo da lateral, o outro você lerá.
No primeiro tempo, o nosso time atacaria para o gol, cujo lado direito, estava quase cinquenta centímetros mais alto que o lado esquerdo. Como se tivesse uma drenagem natural. Típico campo de terra batida e muito cascalho.
Começou
o jogo. O sol a pino queimava o lado do rosto e incomodava a vista pela luminosidade
excessiva. Tem mais, não havia, naquele campo, uma sombra que aliviasse o calor.
Nosso time, um pega-na-rua, corria desarticulado. O outro time, não era muito melhor que o nosso. Digamos que do nosso lado tivesse um ou dois jogadores de uma técnica apurada, do outro lado, mais jogadores velozes e que conheciam o campo, que era rodeado por uma cerca de varas, de maneira que ela serviu como um alambrado para que a única bola não se perdesse no mato.
A
bola corria no chão quente, a sede começou a chegar, o cansaço em jogar em sol
mais forte já dava sinais para o nosso
time, especialmente para mim, pois só jogava à noite na AABB de Afogados da
Ingazeira.
De vez em quando eu apostava corrida com o ponta, ao sair do miolo da zaga, para fazer cobertura do lado esquerdo. Já não tinha o mesmo preparo e nem o mesmo peso de dois anos antes.
A
única coisa que melhorou nesse período, é que havia começado a usar uma meia
fina por baixo do meião e tal atitude evitou que fizesse calos nos pés, mas
não livrava de sentir aquele calor infernal ao pisar no chão quente.
Não
sei em que momento tomamos um gol. Achei estranha a jogada que o antecedeu, mas nada
comentei. O tempo correu e raramente ocorria uma chance de gol,
principalmente do nosso time. O jogo estava morno, mais cá que lá.
Os times agora estavam lentos ao sabor do calor de mais de 32 graus. O nosso lateral esquerdo subiu e parou, acho que ficou lá na frente puxando fôlego, mas o ponta, esse ficou de moita.
Então bola veio para ele, que veloz disparou, eu cheguei para
fazer a marcação, cerquei o rapaz e pensei: ele vai dominar a bola e marcado, volta
com ela ou dá um passe. Fiquei tranquilo, o resto do gás daria para não deixar
ele livre e até pensei: qualquer coisa uso o corpo e interrompo a jogada com
uma falta tática.
Meu velho! Meu velho! O jogador se voltou, deu um bico de efeito na direção da cerca, me deu um drible da vaca e correu para o gol. Claro, eu parei, era para ser lateral. A pelada não tinha juiz, era a boca e o bom senso.
O
cabra correu sem marcação e acertou outro bico, gol, dois a zero, foi então que saí
do mutismo:
-
Que negócio é esse? Foi lateral!
-
Aqui não tem lateral – outro respondeu.
-
Como não?
-
A regra da gente é, bateu na cerca do lado campo, pode continuar o jogo.
-
Tá errado
-
Pode até tá. Não disseram que a gente joga assim?
-
Não.
Assim a reclamação acabou e o gol, sem VAR e com o puxadinho da regra, foi validado.
Abração,
Marconi Urquiza.




