segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Eu e o Banco do Brasil, 11/jan/1982

 

     Fazia tempo que eu esperava por uma segunda-feira, onze de janeiro. 11 do 01. 11-01. Hoje é uma segunda 11 de janeiro. Ter visto Dona Duda, aos 84 anos, nestes dias desencadeou estas lembranças. Dona Duda era dona do restaurante onde fazíamos a refeição em Afogados da Ingazeira.

    39 anos antes eu entrava, pela porta dos funcionários de antes do expediente, no Banco do Brasil de Afogados da Ingazeira, era um pouco antes das sete horas da manhã. Como um visitante ilustre eu era esperado, não por fama, mas por eu ser o último do concurso de 1981 ou quase, a tomar posse naquela agência.

Ao entrar um vigilante me recebeu, uma colega que não lembro o nome me indicou a mesa de Ronald Teixeira Cavalcante, gerente-adjunto, ainda de pé, ele me deu a carteirinha funcional e vaticinou: Decore este número, ele nunca mais vai sair de sua vida. Não saiu. 

Naquele mesmo dia eu recebia o primeiro talão do Cheque-Ouro, o mais potente Iphone dos produtos bancários daquela época, capaz das maiores distinções sociais. Dever o limite foi um visgo que levei cinco anos para me livrar. 

Naquele dia começou uma história, a da minha vida, que me permitiu ter um rumo, em muitos momentos uma causa para viver, um sentido para a vida, agregando valores que ainda hoje me movem, como ética, respeito pelo próximo, tratar o cliente com atenção e consideração (sob qualquer circunstância). A realidade mudou, o discurso de engrandecimento melhorou e a prática destes bons valores pioraram. 

Os melhores anos, pós 1996, foi quando como gerente eu me sentia especial, inventava coisas sadias para dar bons e sustentáveis resultados. Salvar o BB da falência ou da privatização era um sentindo de vida importante. Ter resultado virou o maior mantra, independente das práticas. Minha doce ilusão foi mudando. De 2002 em diante, era preciso se adaptar ao novo modelo, era preciso se reinventar, eu de tantas reinvenções me sentia agoniado, sem saber como me provocar constantemente tantas invenções. Mas eu não enxergava, as reinvenções estava no patamar do espirito, eu não sabia como agir, quebrando ou abandonando os meus valores (honestidade de princípio, atitudes éticas, vendas reais e por aí foi). Não quebrei e me quebrei.

Dia desses eu estava me lembrando da Ação do Fome Zero, aquilo correu o Brasil de cima a baixo. Lembro que em 1998 nos fizemos em Terra Boa (PR), quando as crianças começaram a chegar em um evento dos dias das crianças eu cunhei um termo que nunca esqueci: Fome escondida. Ali a fome era escondida, não escancarada como ocorria no Nordeste daquela época.

Teve um momento que minha esposa idealizou um São João, ela reuniu as crianças dos colegas, conseguiu carroças de burro, um lojista que tocava sanfona e forró se dispôs e correram a avenida Brasil em Terra Boa levando a bandeira do BB. Este e vários outros episódios foram feitos para tornar a imagem do BB simpáticas nas cidades.  Nessa época a imagem do BB era um torrão de madeira, queimadinha, bem queimadinha e eu era um dos artífices do novo Banco do Brasil. Eu me sentia especial.

Deixando as mágoas de lado, há toda uma história rica dentro da empresa, das pessoas que conheci, dos amigos que conquistei, do respeito dos clientes que obtive, das histórias divertidas que ouvi e que presenciei, das lições que aprendi. Dos risos que dei e alguns que provoquei. Do assalto que virou crônica e depois virou brincadeira.

Por ser essa segunda especial, uma marca na minha vida. 

Bom dia minha gente!!

Abração, Marconi


4 comentários:

  1. Uma grande escola em muitos sentidos, o BB deu Norte Sul, Leste e Oeste para jovens. Valeu.

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    1. A vida é feita de desafios e, conosco, no Banco do Brasil, não foi diferente. Fiquei 27 anos na empresa e, como você, passei por muitos desafios presenciando, inclusive, um assalto à agência de Iguaraci-PE, quando tirava as férias da colega Sônia Tenório. Foi muito dramático mas, escapamos ilesos, eu e Pádua (in-memoriam) para contarmos a história daquele fatídico 8 de dezembro. O mais importante em tudo foi a experiência que acumulamos, os colegas que fizemos (ali era uma verdadeira família). O banco mudou muito e, ao meu ver, para pior. Mas, temos a consciência de que, enquanto estávamos na ativa, procuramos dar o melhor e saímos pela porta da frente e de cabeça erguida, com a satisfação do dever cumprido. Um grande abraço.

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    2. Amigo Perninha, com certeza demos tudo que podíamos neste trabalho. É verdade que formamos uma legião de amigos. Deus no acuda de continuarmos conservando-os. Você citou assalto. Passei por um, escrevi até uma crônica. Depois ri da minha agonia tentano me esconder.
      Abração.

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