sexta-feira, 9 de julho de 2021

Um amor que transborda


     
Sobre 
relacionamentos
Eu acho, ninguém
discorda:
havendo união 
pacífica 
o amor sempre
transborda 
havendo separação,
a saudade pinta 
e borda.
                Ademar Ferreira Rafael

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Tudo tão diferente,
Tudo tão igual.

 

            Por seguir uma colega, eu venho involuntariamente acompanhando pequenos pedaços de sua vida, aquilo que coloca no Instagram.

            A primeira postagem foi a dor, imensa, intensa, da perda física do amado marido. Súbita, sem preparo para amadurecer o espírito para o inevitável. Um choque que maltrata.

            Meses depois veio o aniversário dele, o natal, alguma viagem marcante. Mais saudades, mais amor.

            Há alguns meses, um amigo do esposo partiu, um amigo do casal. Mais dor, mais saudade, mais tristeza. O amor se manifestou com todo o seu esplendor.

            Na última semana ele faria 60 anos. Vi no Instagram a fotografia da família. O casal, as duas filhas, sorrisos abertos, felizes.

            Mais saudade, mais amor.

            Dois anos, o luto sendo elaborado. O Instagram ajudando na solidariedade para aquela mulher, ainda cheia de dor.

            Na madrugada acordei, coloquei meu coração em cada uma das postagens, nada escrevi. Parei no muro da minha dificuldade em me mostrar solidário no mundo virtual, além do coração vermelho.

            Talvez seja, não sei, talvez seja porque uma dor dessas atravessa a distância, a tela, o dedo que aperta o celular e me faz sentir parte daquele luto.

            Fiquei imaginando uma carta. Como das antigas. Demorando para chegar, cheia de selos. Com as letras titubeantes e os sentimentos esparramados nas palavras, cheias de vírgulas e de reticências. Onde o que se vê é o coração minguando ao colocar nos Correios.

            Pensei em uma carta dessas. Condoída e também repleta de força, cheia de amor, dizendo. Dizendo:

            “Que o bom Deus ilumine o seu amado, que nossa senhora lhe dê forças agora e sempre.”

            “Que os amigos consolem você e as suas filhas para que atravessem essa estrada difícil.”

            “Olhe, eu estou longe, você sabe, mas conte sempre comigo”.

            No verso da carta, em letras miúdas, querendo se esconder, estaria escrito assim:

        Da saudade, 
        sfaz a dor.
        Da dor,
        se faz a saudade.
        Do amor se 
        faz a lembrança,
        Da lembrança
        transborda o amor.

               Era isso que escreveria, mas não escrevi.


Abraço,
Marconi Urquiza

Um comentário:

  1. Algumas perdas são impossíveis superar, somente com muita força e fé podemos abrandar os estragos.

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