Fiquei imaginando quando a vida entra em redemoinho a partir de uma decisão nossa ou de várias decisões. Mãos e pés começam e nos impulsionam, quase sem controle, os nossos movimentos.
É o que me parece ocorrer no livro A vida em espiral. O livro tem uma bela capa? Tem. Com ilustrações lindas, cores bem distribuídas e um acabamento primoroso? Tem de sobra. Muitos adjetivos. Justificáveis.
Lá pelo meio do livro lembrei de outro que tratou de uma realidade cotidiana severa dos personagens: o Vidas Secas e da decisão de Fabiano de buscar sair daquela seca que lhe sugava até a alma.
Também Amuyaakar Ndooy toma a sua decisão, assumindo riscos e transformando os seus amigos e até a sua comunidade. Decisões que vão sendo reiteradas, crescentes e de consequências a cada momento maiores e mais graves, é a vida em espiral.
Mas, mais que isto, o livro esmiúça aspectos da vida do Senegal no período da sua narração. Aspectos como a do governo que que reprime o tráfico de yamba (maconha), cujo consumo é um costume nacional. Das comunidades muçulmanas onde o álcool entrou forte e os jovens nem querem saber dos preceitos dessa religião.
Da miudeza humana se revelando na disputa do cargo de Imã, líder religioso do Islã, na aldeia aonde vive Ndooy, cujos grupos religiosos deixam a mesquita fechada por causa dessa querela.
Da ganância que enche os olhos de agentes do estado senegalês e que também se tornam traficantes da maconha, como se fossem atacadistas, roubando dos traficantes pobres.
É uma história que traz certos aspectos semelhantes ao homem ao redor do mundo: irresponsabilidade, egoísmo, amor, paixão, costumes ancestrais e machistas, aspectos da vida das periferias e personagens riquíssimos nas suas vidas, como se fossem gente que, ora conhecemos de perto, ora ouvimos falar ou que lemos sobre elas.
O livro é um mergulho em tudo isso, aqui e ali, abre um espaço no redemoinho para o leitor respirar.
Por fim, trago um link para uma bela e suingada canção do Olodum:
Abração, Marconi Urquiza

A vida, muitas vezes, pode ser confundida com uma 'biruta' de aeroporto ao ser exposta aos ventos trazidos pelos interesses "menores" que se transformam em "gigantes".
ResponderExcluirÉ verdade, subimos e descemos ao sabor do vento da vida.
ExcluirFale de sua aldeia e estarás falando do mundo. Muito interessante você nos trazer a literatura do outro do Atlantico, de nossos irmãos africanos. Somos herdeiros de sua cultura, seu sangue, sua cor. E a vida... a vida vai nos levando. Deixa a vida nos levar. Até porque somos como formigas sobre um tronco de arvore descendo rio abaixo... e tem cachoeira ali na frente!
ResponderExcluirQue imagem linda a que você descreveu.
ExcluirCaro Marconi. Lembro-me do ditado popular "Navegar com as velas e não com os ventos". Olhar além do horizonte pode ajudar na saída da espiral. Abraços Walmir
ResponderExcluirÉ verdade.
ExcluirMarconi, pelos sua excelente narrativa já deu vontade de ler. Show!
ResponderExcluirÉ aventura literária muito boa.
Excluir