sábado, 26 de agosto de 2023

Guerreiros do Sol e minha ignorância

        

        
       Não foi por causa da série Cangaço Novo, bem que ela veio me ajudar a escrever esta crônica.

        Após três semanas do início da leitura do livro Guerreiros do Sol - violência e banditismo no Nordeste do Brasil,  conclui a sua leitura no último sábado (26.08.23).

        Algumas reflexões são importantes para mim. 

        Tudo que sabia sobre o cangaço era superficial. Nada conhecia sobre a índole e cultura do sertanejo. Da sua cultura consolidada por séculos de isolamento. 

        Sou do Agreste Pernambucano e achava que os homens de minha terra eram muito suscetíveis a serem violentos. Umas das características do sertanejo ancestral segundo o livro. 

        Esta suscetibilidade impactou direto no meu comportamento,  enquanto gerente do Banco do Brasil, que após 15 anos fora de Pernambuco fui trabalhar em 2003 em Surubim (PE). Como se diz no popular: eu era cheio de dedos para dizer alguma coisa aos clientes.  No exagero, quase isso, eu pensava 200 vezes antes de falar uma frase mais dura.

        Então, voltando ao livro, há nele até uma tipologia para o cangaço, o autor explica que havia três tipos de cangaço. O Cangaço meio-de-vida. Como profissão.  O Cangaço-vingança.  O uso de cangaço para vingar-se de um mal que sofreu e o Cangaço-refúgio. Quando o cangaceiro procura uma proteção contra algum inimigo ou da perseguição da polícia, por exemplo.

        Para mim tudo se resumia a três nomes: Lampião, Antônio Silvino e Jesuíno Brilhante. No entanto, o cangaço (banditismo) foi amplo, endêmico,  como informa o autor.

        Uma coisa que me chamou a atenção, entre tantos detalhes, foi o aspecto cultural que envolvia o cangaceiro, um ser cheio de liberdade em uma busca por uma vida de muita aventura, no caso do Cangaço meio-de-vida. Inclusive com a população do sertão os admirando e apoiando contra as volantes que os combatiam. Além de tudo havia uma rede de proteção de poderosos fazendeiros, políticos e comerciantes.

        Um outro ponto da minha ignorância é que parte da minha história de vida se passou pela ribeira do rio Pajeú.  Vivi em Afogados da Ingazeira entre 1982 e 1987. Nesse período poucas vezes se falou em cangaceiros,  ouvi a informação que Antônio Silvino nasceu na cidade, apenas isso,  de resto não era uma assunto que se conversava naqueles anos. 

        No período, se a memória não falha, a cidade parecia mais calma que minha cidade natal, que tinha frequentes episódios de violência entre seus habitantes. Surras e assasinatos eram comuns.

        O fato é que passei batido pelo assunto e só tive a curiosidade despertada quando ganhei de presente o livro Estrela de Couro - a Estética do Cangaço, do mesmo autor. Frederico Pernambucano de Mello. Lindo livro.

        Ao ler Guerreiros do Sol até o final, entre os pontos que desconhecia, um me chamou muito à atenção. A análise e minha interpretação que Lampião foi deixando de ser o guerrilheiro de sempre e foi se aquietando, não querendo mais confrontos, como se o amor por Maria Bonita o houvesse amançado. Além do que, a sua vida de bandido nômade estava cobrando alto para os seus quase 40 anos de idade. Interpretei como se estes fatores tivessem contribuído para ser achado e morto.

        Mas no livro há muito mais, é preciso ler com paciência e ir apreciando as informações que ao longo dele vão chegando. Esta é uma parte da história  do Nordeste que só tomei completo conhecimento agora, antes tudo eram apenas fragmentos que não me davam compreensão desta realidade que assolou o nordeste, em um banditismo rural medonho.

        De certo modo esse fenômeno é revivido sobre a alcunha de Novo Cangaço, quando bandidos do nosso tempo atacam os bancos pelo interior do Nordeste, do Sudeste também. 

        Em resumo: Vale a pena ler o livro, pois se terá a compreensão do complexo fenômeno do cangaço e dos fatores multifacetados da sua origem e sustentação durante tanto tempo.

        Por hora é só. 

        Abraço, Marconi Urquiza. 


3 comentários:

  1. Para decifrar o enigma do cangaço é preciso mergulhar Na cantiga. Valeu parceiro.

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  2. Interessantes e esclarecedores seus comentários sobre o cangaço, Marconi. Acho que vale muito ler o livro comentado.

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  3. Ótimos comentários sobre a obra e o povo que a inspirou.

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