sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Hoje é minha vez de ser técnico de futebol

 


Hoje é minha vez de ser técnico de futebol

 

O motivo de escrever esta crônica foi ter assistido o jogo Fortaleza contra o Flamengo na Arena Castelão, em Fortaleza no ultimo 26.11.2024. Fui para ver o Fortaleza de perto e vi mais que imaginava. Vi um estádio cheio, lotado, com 98% das pessoas assistindo ao jogo sentados, uma torcida feliz e estádio imenso e ainda em bom estado, ainda que tenha 10 anos de uso contínuo deste a reforma para a Copa de 2014.

Naquela noite paguei caro para ir e para voltar. Na ida um engarrafamento imenso, a ponto dos motoristas de Uber recusarem a corrida. Só consegui ir porque a atendente do hotel me ensinou um artifício. Colocar o endereço do BNB. Foi assim que consegui o Uber. A viagem de 50 minutos foi ótima, com bom papo com o motorista.

Hoje eu pensei, um jogo de futebol pela TV para mim é espetáculo. Replay, análise tática, algumas vezes, comentários da partida. da arbitragem. Um monte de câmaras, perto, de ângulo aberto, do detalhe, da torcida e por aí vai. No estádio, dependendo do local, a visão do campo é plena, a movimentação dos atletas total, com bola, sem bola. Com bola é a visão direta, sem bola, a paralela. Para um olhar treinado, a mente vai registrando outros detalhes e outros aspectos de cada time.

Digo que tenho um olhar meio treinado, metade treinado. Mas não foi sempre assim. Há 20 anos só via a correria dos jogadores, até que me tornei comentarista da Rádio Tambor, na região metropolitana de Surubim, a convite do ex-jogador profissional, Neto Surubim. Craque da bola e dono de uma verve esplendorosa. Um dia Neto Surubim foi convidado a fazer parte da equipe de esportes da Rádio Integração e me levou junto. O Surubim Futebol Clube iria participar da 2ª. Divisão do Campeonato Pernambucano de 2004.

Ele participava dos programas diários e eu nos dias dos jogos. Então veio o primeiro jogo, Neto Surubim com sua habitual desenvoltura ao microfone deu um baile nos comentários. Aquilo que ele via, eu nem de longe conseguia perceber. Restou-me fazer a estatística do jogo. Aí um locutor criou o bordão: Marconi e a matemática do jogo. Até paguei pela criação de um aplicativo para acompanhar algumas jogadas, bom programa, mas pouco prático, pedi muitas opções.

Então depois desse baile comecei a ir a jogos profissionais como nunca. Comecei a estudar sobre futebol. Livros, blogs, site de cá e do exterior, até que li o livro Universo Tático do Futebol, de Ricardo Drucsky. Minhas percepções começaram a mudar. Comecei a ver além das correrias dos jogadores. Técnico-tático, preparo físico, preparo mental, ambiente de trabalho, mental, salários em dia, local específico para treinamento, liderança. Tem mais.

Vamos saltar o presente.

Venho acompanhando o Fortaleza desde a Série C, na Série B para cá só não assisti na TV mais jogos que o do Sport. A característica que mais era perceptível para mim é o ataque em velocidade, pelo meio, pelos lados. No jogo contra o Flamengo isto apareceu muito forte, mas foi neutralizado na maioria das vezes pelo Flamengo, se por seu conjunto defensivo (meias, volantes e defensores) ou pela falta tática. Evitar a jogada antes que virasse um perigo de gol.

O Flamengo naquele jogo foi posse de bola, passes curtos, o tal de 1 - 2: Domina e toca, com deslocamento curtos e rápidos. Quando a marcação do Fortaleza não conseguia bloquear saíram várias jogadas rápidas e de contra-ataque em uma velocidade espantosa, contrariando o 1 – 2, mais lento. Aqui veio uma percepção que não via nos jogos pela TV e que também passaram distante do meu radar de observador.      

É o seguinte. A defesa do Fortaleza é boa, a defesa e o sistema defensivo. Mais naquele dia foi a defesa que me chamou a atenção, especialmente no mano a mano (jogador de defesa contra atacante). Os jogadores conseguiram bloquear os ataques na maioria das vezes, quanto passava o goleiro atua bem demais.

Em suma, esse é o quadro resumido do Fortaleza. Que ótimo treinador, ótimo ambiente e uma gestão do clube fenomenal, a ponto de ser uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol) com recursos próprios. Diferente, por exemplo do Botafogo.

Quando Filipe Luís assumiu o cargo de treinador do Flamengo ele começou a fazer mudança. Após alguns jogos o comentarista Paulo Vinicius Coelho (O PVC) escreveu que com Filipe Luís o Flamengo tinha variação de jogo. No jogo contra o Fortaleza consegui ver três aspectos fortes.

Marcação compactada, quase o campo inteiro. Quase sempre com 6 jogadores. Onde estava a bola estavam os jogadores do Flamengo para não dar espaço para os atletas do Fortaleza criarem as jogadas de velocidade. Quase como um Futsal com seis jogadores contra quatro. Por causa disso, a defesa do Flamengo naquele jogo sofreu pouco.

Arrisco a dizer que o toque de bola curto, com posse de bola quase sempre, é um tica-taca parecido com o Barcelona de Guardiola ou a seleção da Espanha em 2010.

O outro aspecto ou variação de jogo foi a virada, a bola saindo do lado direito para a esquerda, no primeiro tempo. E no segundo tempo, da esquerda para a direita. O Michael, velocíssimo, jogou no primeiro tempo pela direita e no segundo tempo, pela esquerda.  Várias caiu pelo meio e com os jogadores do meio campo chutando de fora da área, ajudado pelos deslocamentos sem bola do ataque.

Mas tem outro ponto que estava em campo, mas não é visível a qualquer observador à distância. A assimilação rápida pelos jogadores das variações táticas implementadas por Filipe Luís. Por que isto ocorreu? Como isto ocorreu?

Pelo respeito que os atletas do Flamengo têm de Filipe Luís, ela já era uma liderança, ele tentou recuperar o ânimo de Gabigol, o tratou com consideração pública, para todos verem, creio que aumentou ainda a percepção de valor pelos demais atletas do clube. Então, creio, que por isso a sua gestão ficou fácil. 

Bem, por hoje é só.

 

Abração, Marconi.

3 comentários:

  1. Perfeitas as observações. Cronista e comentarista é para gente grande. Armando Nogueira era craque. Feliz Natal.

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  2. Boa Marconi. 🎯🙌
    Tiro o chapéu para os torcedores do glorioso futebol, uma paixão nacional de muitos.
    Perdi está paixão, ainda jovem, quando presenciei uma briga entre torcida do Palmeiras e Corinthians em 1976 e até hoje não adentrei em estádio de futebol.
    Vez por outra, paro para ver algumas jogadas em futebol de várzea, no Pina com o verdadeiro futebol raiz.

    Guimarães Júnior, já dizia:
    "O maior time do mundo não é o mais rico e nem o que é formado por grandes astros do futebol, mas o maior time do mundo é aquele que faz vibrar e alegrar o coração dos seus apaixonados torcedores."

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  3. Marconi como sempre, na sua humildade, dando uma aula de técnica e tática de como se fazer futebol. Parabéns amigo, vc já esta pronto, para quando quiser, iniciar a sua carreira de treinador nos quadros de futebol da AABB-RECIFE. Grande abraço.

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