quinta-feira, 28 de junho de 2018

Prorrogação na pelada da rua


Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata.... Frase de Carlos Drummond de Andrade.

     Amanhã começa o mata-mata na Copa da Rússia com perspectiva de  haver prorrogações e pênaltis. Isto me  fez lembrar de um amigo que sempre que conversamos ele diz: "Você se lembra disso?", e eu respondo, "um pouco" e o mais frequente, "não me lembro."

     Das muitas lembranças que ele me fez recordar, mesmo não lembrando de imediato, essa tem tudo haver com a esse momento da Copa do Mundo.

    Em grande parte da adolescência quase toda noite nos juntávamos ao lado da imensa igreja matriz para mais uma pelada. Na maioria dessas peladas o jogo era por um certo tempo, por exemplo: começava depois do jantar e ia até acabar a novela das nove da noite.

    Mas esse meu amigo fez a seguinte pergunta: "Lembra daquele dia que fizemos uma barra de dez? Lembro nada." Eu só lembrava de forma genérica das peladas, quase de nenhum detalhe.

     No entanto, depois da minha resposta ele se animou e aí ele começou a narrar aquele fenômeno futebolístico noturno jogado ao som fofo da bola canarinho. 

     "Foi o seguinte: naquele dia a gente marcou uma hora para jogar e no final o placar era empate, cinco a cinco. Como a gente estava de férias da escola e com secura para continuarmos jogando nós nos reunimos rapidamente e combinamos, agora é barra de dez, quem fizer dez gols primeiro ganha o jogo."

     Assim foi feito, e o jogo foi até quase onze da noite, um 10 a 9 fabuloso, jogado descalço no calçamento de paralelepípedos cheiinho de pequenas pedras a furar os pés e estropiar as unhas da gente. Mas não tinha jeito, pé sarado, estávamos lá para outra prorrogação na fantasia de uma Copa Mundo que se renovava a cada noite.

Abraço,




quinta-feira, 21 de junho de 2018

Comentário n. 2



Estamos preparados para enfrentar qualquer sistema defensivo. Decidiremos pelo jogo indo a frente, sem recuar nossa equipe. Somos melhores, antes do jogo decisivo (e da derrota) contra a Itália, na Copa de 1982.    http://www.showdoesporte.com.br/noticias/futebol/14807/
        Nem o mestre Telê Santana escapou da presunção.


     
    Mas que atitude mais presunçosa a cavadinha do goleiro Caballero da Argentina, a sua falta de humildade abriu o caminho para a gloriosa derrota.  O gol desajustou a já desarrumada seleção argentina e por causa dessa absurda falha há um ponto que quero falar, a quebra da autoconfiança.

     A poderosa Alemanha em certo momento do segundo tempo do jogo contra o México partiu  para o abafa, mas não foi por causa de uma autossuficiência como a de Caballero, mas o jogo ajustado, bem treinado e estrategicamente executado da seleção mexicana abalou a autoconfiança da seleção alemã, a ponto do seu grande time dar balões e mais balões sobre a grande área do México.

     Imagine que a Alemanha em certo momento do jogo contra a Suécia leve um gol e  enfrente um time fechado como o México e com isso o tempo passe "rápido" e o nervosismo for chegando avassalador, aquele controle mental, a força psicológica vai dar de novo lugar para as jogadas de peladeiros, muita vontade e pouca organização.

     Mas se ela vencer, será mais uma vez a perigosa e competente Alemanha.

   Desde ontem eu fiquei imaginando um quadro, quase agourento, em que o Brasil jogando o fino da bola enfrente dificuldades com a Costa Rica, como a Alemanha enfrentou com o México, um placar adverso e a gente pode ver autoconfiança cair como um paraquedista em voo livre na medida que os gols não ocorram, ainda mais quando uma certa soberba acompanhar uma equipe. 

   Isto na vida comum tem uma percepção mais demorada, mas não no futebol, especialmente nos jogos decisivos, em que o resultado para ir a uma classificação está logo ali, assim como o resultado que faz descer ao inferno astral em 90 minutos, pressão que costuma levar alguns atletas a cometerem terríveis erros. 

    Sabe, nesta manhã nós poderemos ver um time jogando o fino da bola ou um time nervoso ante a uma retranca secular. Só espero que não ocorram falhas pela soberba de algum jogador brasileiro e que a bola estufe as redes em três a zero. 

     Agora, sinceramente, estou curioso como será o desempenho do México no sábado, se seu jogo tiver a mesma luz que teve na vitória sobre a Alemanha ela poderá se colocar em um caminho para o topo, mas se achar que porque ganhou da seleção alemã represente um título mundial antecipado, nós veremos mais vez o fiasco de sempre, de uma promessa que frustra sempre as expectativas de ver algum dia o bom futebol mexicano entre as maiores seleções.

Abraço, 
    

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Comentário n. 1

                        Resultado de imagem para sistema táticos do futebol

   Ao dar este título a esta crônica me inspirei em Antonio Maria. Lembram dele? Não tem importância, mas do Frevo n.3 ou n.1 tenho a convicção que muitos conhecem.

   Comentário n. 1 começa bem antes, começou no amistoso, com empate, entre Polônia e Chile. O jogo foi dois a dois, dois a zero no primeiro tempo para a Polônia e o Chile jogando forte no segundo tempo, empatou o jogo, pressionando o time polonês.  

    Mas naquele jogo eu fiz a primeira observação, digamos, mais técnica do sistema de jogo de uma seleção que iria para a Copa da Rússia. 

    A grosso modo a Polônia se posicionou assim: 1 (goleiro) - 3 (defensores) - 3 (meio-campo defensivos) - 3  (meias ofensivos) - 1 (atacante de ofício), este sendo Lewandowsky.  Craque que joga no Bayern de Munique.

     Depois de uns vinte minutos e no correr do primeiro tempo, principalmente, vi a Polônia fazer a primeira linha defensiva com cinco jogadores e até com seis jogadores para não levar gol.

   O fato do ângulo das câmaras da TV polonesa ser aberto dava para ver claramente quando o time ficava com 1 - 6 - 3 - 1 para se defender, que se transformou diversas vezes em 1 - 3 - 3 - 4. 

  Mínimo de 3 defensores e  3 volantes,  4  atacando e prontos para recomporem o sistema defensivo.  

     Bem, era para falar da seleção brasileira, como encomendou o amigo Walmir.

   Aí no sábado veio Argentina e Islândia, até comentei com ele que me admirava da obediência ao sistema tático e a estratégia escolhida pelo treinador por parte da Islândia.  Ali, em certo momento do segundo tempo me passou um pensamento rápido, "como seria o Brasil jogando com um time que se defende com seis jogadores?" Eu imaginei que haveria dificuldade, mas não tanta.

    Antes de concluir este Comentário n. 1 recordo de um jogo que assisti em 2004 lá em Surubim em que o Surubim Futebol Clube jogava contra um time retrancado, naquele dia eu comentei que o time precisava chutar de longe, pois só fazia ciscar e não criava nada de novo, até que Marquinho Cucau deu um chute de fora da área, acertou o gol e a vitória daquele domingo.

  Recordando, além dos jogos do Brasil e Suíça, Islândia e Argentina e esplendor de jogo do México contra a Alemanha, creio ainda que jogar contra um time que se defende com tantos jogadores, precisa ter uma enormidade de variáveis táticas para possibilitar chutes de fora da área e muita velocidade na troca de passes e de posições entre os jogadores para desorganizar o sistema defensivo, sem isso fica fácil ser marcado e tomar os contra-ataques.

  Um comentário só sobre o jogo México e Alemanha, ontem que tinha o controle mental foram os mexicanos, se mantiveram organizados durante todo o tempo.

Abraço,

sexta-feira, 15 de junho de 2018

O Big Bang da bola

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    A Copa do Mundo me trouxe vontade de falar sobre futebol. Eu até poderia contar a história que viajei 240 quilômetros para não ver a cor da bola em algum lugar entre Boca do Acre (AM) e Rio Branco no Acre para jogar uma pelada domingueira. Então, qual a sua lembrança mais distante do futebol? 

     Eu poderia dizer que a minha foi entrando no Foto Neto de Zé do Foto em Bom Conselho no dia sete de setembro de 1970. Naquele dia estava vestido com a camisa 11 da imitação do padrão da seleção tri campeã, poderia até dizer que queimei o rosto na fogueira de São João quando Pelé desembarcava do avião vindo do México.

     Mas não foram estas duas cenas, a primeira explosão com o futebol ocorreu quando o Brasil fez 4 x 1 na Tchecoslováquia e aquele mundaréu desceu para a praça Pedro II e ficou em frente ao bar de João Presideu comemorando a vitória.

      Assim se repetiu durante a copa. Mas no dia da final tudo me pareceu silencioso, a farmácia do meu pai estava de plantão e às nove da manhã eu estava lá com ele.

    O Diário de Pernambuco da véspera veio com dois encartes, a fotografia de Pelé e o postal da seleção brasileira.

     Sem saber o motivo vi meu pai sair com a Rural. Hoje acho que ele queria mostrar seu fervor de torcedor. Perto da hora do jogo ele a estacionou e então eu fui lá ver aquele papel colado na frente do carro, lá estava Pelé sorrindo para a câmara. Pelé, Pelé!

     O danado disso tudo é que não recordo da festa do tricampeonato, tudo que a minha lembrança alcança foi de novo o mundaréu ocupando toda aquela enorme praça.

     Foi meu Big Bang para o futebol, nos vinte anos seguintes me tornei um peladeiro assíduo e de carteirinha, tanto que cheguei a criar um time. O glorioso e efêmero Sport Club Caraúbas.

Abraço,

quinta-feira, 7 de junho de 2018

A matemática do jogo

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     Com a Copa do Mundo da Rússia já perfumando meu cérebro, a vontade de escrever sobre futebol se intensificou, até me assanhei para voltar a comentar alguns jogos dessa copa, mas de concreto veio a saudade do tempo em que fui comentarista de futebol de carteirinha, cronista esportivo em 2006 oficializado pela Rádio Integração FM de Surubim.

     Quando em 2003 vim do Paraná para Pernambuco eu aportei naquela cidade. Naquele ano eu havia despertado o interesse em estudar cientificamente a liderança e achava que estuda-la a partir do trabalho dos treinadores de futebol era um bom começo, pois este ambiente altamente volátil no Brasil me daria uma percepção como desenvolver esta habilidade em ambientes menos voláteis, mas que estava rapidamente se transformando em alta volatilidade: meu trabalho como gerente do Banco do Brasil. 

     No entanto, pouco meses depois, estudar futebol deixou para trás estudar sobre liderança e saí montando uma pequena biblioteca sobre futebol, como: Universo tático do futebol e Futebol total. Em tempo: este livro não trata do futebol aplicado pela seleção da Holanda em 1974, mas de todas as disciplinas de preparação física e fisiológica de um atleta de futebol.

     Voltando para a história daqueles momentos, alguns meses depois da minha chegada, já frequentando a AABB Surubim, em um desses sábados que eu ia lá tomar umas cervejas eu encontrei Neto Surubim, ex-jogador profissional. Conversa vai, conversa vem, demonstro para ele o meu gosto pelo futebol e ele, quase de bate-pronto, me convida para comentar a rodada de futebol na segunda-feira seguinte no seu programa na Rádio Tambor. Empolgado aceitei. Era para eu ligar para o telefone fixo da rádio a cinco minutos para oito horas da manhã.

     Ansioso, suando as mãos eu liguei. Sem nunca ter comentado nada em uma rádio, nem gravado, nem ao vivo, então eu entrei no ar depois de breve orientação de  Neto Surubim. Ele logo me fez uma pergunta sobre o Palmeiras, então líder da Série B, nem respondi direito e ele me socorreu, depois fez uma sobre o jogo do Flamengo, igualmente fui socorrido e dei graças a Deus.  Senti que precisava me preparar mais, anotar algumas coisas para comentar e por causa desse novo prazer me enfurnei no futebol, via, estudava, anotava, respirava futebol depois do trabalho no Banco do Brasil.

      Em 2004, acho que foi neste ano, o Surubim Futebol Clube entrou para disputar a série A2 do Campeonato Pernambucano e Neto Surubim foi contratado pela Rádio Integração FM para ser o comentarista principal da rádio e eu fui de quebra.  Nas primeiras rodadas nós dois comentávamos em conjunto, mas já no primeiro jogo eu vi que Neto estava mil anos na minha frente. Ele enxergava um mosquito no escanteio do outro lado e eu não via um boi na lateral do campo perto de mim. Não demorou muito eu deixei de lado esse comentário específico de campo e comecei anotar algumas coisas que não apareciam, os passes errados, roubadas de bola, chutes a gol, etc. O famoso escalte (scout) que a gente vê nos intervalos e finais de cada jogo.

      Fui observando que nos jogos mais truncados a incidência das roubadas de bola são mais intensas, também notei que se há muitos passes errados eles podem ser causados por uma intensa marcação, pela má qualidade do campo, pela falta de espaço de um campo pequeno e/ou tudo isso mais a baixa qualidade técnica dos jogadores. Demorei, mais notei que a falta de ensaio, poucos treinos, treinos ruins provoca a falta de desenvolvimento da inteligência do jogador para o jogo e tudo isso vem junto, a pelada, vira ainda mais pelada e ainda mais, sem gás, pouco se aplica a qualidade técnica durante um partida de futebol. 

     Vamos voltar para os comentários ao vivo. Acostumado a ser sucinto, eu fui ainda mais sucinto por uma tremenda insegurança no primeiro jogo do Surubim Futebol Clube realizado no estádio do Coqueiro. Logo nesse jogo eu ouvi  Neto Surubim comentando, pensei: "E agora?". Fluente em falar ao vivo, radialista profissional e ex-jogador do Náutico ele via a movimentação facilmente, a mesma que levei anos para ver com muito esforço. Diante disso eu me encolhi, quando chegou o intervalo o locutor passou o microfone para mim. Larguei de mão as questões táticas e comecei a dizer: roubada de bola, tantas, escanteio, tantos, chutes, tantos, etc. Para cada estatística eu fazia um pequeno comentário e aí comecei a enxergar coisas em um jogo de futebol que nunca havia me ligado.

     Não é que me empolguei, conheci um programador que estava na incubadora da associação comercial de lá e encomendei um aplicativo para utilizar no notebook durante as partidas, mas usei-o pouco, terminou não sendo prático. Ainda hoje guardo comigo o CD de instalação.

     No final daquele jogo, no comentário final repeti a estratégia, não deu outra, o narrador esperto e acostumado a jargões já criou  um, me transformei rapidamente no comentarista da matemática do jogo. 

     A história seguiu e eu, prazerosamente, comentei futebol para a Rádio Integração FM de Surubim mais um ano e meio.
    
     Sem um padrão pessoal eu começava cada comentário diário imitando Galvão Bueno, "amigos da Rádio Integração, bom dia!

     
Amigos da Crônica da Sexta, um abração!
    


Zé Simpatia

Tem gente famosa que não é importante. A passagem de cada um pela vida deve contribuir para que, ao final, o mundo não esteja pior do que era antes. As pessoas são lembradas pelo comportamento que tem no trabalho, com os amigos, na família. (Mário Sérgio Cortella)

Creio que todos nós temos milhares de histórias para contar ou para ser lembrado. Vou começar com essa. Filé foi o último apelido que as atendentes da Farmácia Dehon em Bom Conselho deram a Zé Barros, que era o apelido de José Araújo Costa. Mais nome que apelido, todos só o conheciam por Zé Barros.

Mas Filé só foi Filé por que era uma pessoa alegre, expansiva e que adorava se relacionar, contava histórias e piadas. Poderia até ter outro apelido, Zé Simpatia. 

Feita esta pequena apresentação, um pouco de história para compreender minha parte nela. Quando conheci Zé Barros ele já era famoso em Bom Conselho, o Zé Barros Galego, loiro mesmo, loiro de olhos azuis.

Mas a aproximação começou em 1977 com o namoro com sua filha Aparecida, que sete anos após viraria casamento.

Vamos saltar 20 anos no tempo. Certo dia ele disse que iria nos visitar no Paraná, oferecemos a ele passagem de avião, mas recusou categoricamente. O medo de voar não lhe permitia essa ousadia, mas fez outra maior, típica de sua vida, atravessou meio país no lombo de um ônibus.

Pronto para viajar, ligou para a filha e disse que estaria viajando para nossa casa. Só que não tinha ônibus direto de Bom Conselho para Terra Boa, teria que pegar outro ônibus em São Paulo até Campo Mourão no Paraná.

Quando ele ligou e disse que viria sozinho veio o cuidado, ele não sabia ler e a preocupação de ter dificuldade era enorme durante a viagem. Foi um preocupação justa, mas com a capacidade de fazer amizades que tinha ele desenrolou fácil. Pegou até carona quando o ônibus quebrou.

Chegou perto de nossa cidade pela madrugada e de imediato ligou para Cida dizendo que estava na rodoviária de Campo Mourão, saímos para pega-lo uma da manhã, 36 horas desde Pernambuco. Uma curta viagem de  50 quilômetros desde Terra Boa.

Ao entrar no carro foi logo perguntando pelos nossos filhos e em certo momento ele se voltou para Cida e disse algo assim, "olha pedi para Judite fazer uma galinha guizada, coloca-la na farinha para eu vir comendo na viagem e não deixaram, disseram que era feio." Logo outros assuntos entraram na roda e chegamos em casa e a filha registrou o seu desejo, quando ele voltou para Pernambuco ela preparou uma galinha do jeito que ele gostava. Lembro até que ele disse ao telefone: "minha filha, vim comendo de pouquinho até aqui, não passei fome." Nesse tempo já estava diabético e ninguém sabia.

Chegamos em Terra Boa por volta das duas da manhã. Os meninos só viram o avô7 no raiar do dia. Trouxe doce, queijo e outras comidas cuidadosamente embalados para não estragar, aquelas coisas de sertanejo histórico. 

Cida tomou conta do pai e foi apresentar os amigos de Cianorte, de Terra Boa, de Barbosa Ferraz. Alguns dias depois marcamos para viajar para Foz do Iguaçu. Em tempo, todo amigo, parente que vinha nos visitar nós fazíamos questão de mostrar as Cataratas do Iguaçu. Nessa brincadeira, fomos lá seis vezes em oito anos.

Assim fizemos com ele, em um sábado seguimos para lá, primeiro fomos em Ciudad del Leste e depois para as Cataratas do Iguaçu.  Mas Zé Barros não era fã de altura e nem de rio cheio, tudo isso lhe dava um medo enorme, ainda assim, conseguimos fazer parte do passeio pela calçada que ladeia o cânion do rio Iguaçu pelo lado brasileiro até próximo da Garganta do Diabo. Quando fomos chegando perto dela, os respingos das cachoeiras já molhava nossas roupas e o som do rio despencando 70 metros abaixo o assustou e os temores antigos não deixaram ele prosseguir.

Subimos a primeira escada que dava para o estacionamento, ainda convidamos ele para olhar as cachoeiras pela vidraça da estação do elevador, sem acordo. Sentindo que a visita estava terminada eu saí para ir buscar nosso carro que estava no fim do estacionamento do parque. Saí andando devagar, estava um dia abafado, calorento.

Nesse dia seu Zé Barros estava com um chapéu vistoso, de abas largas, do tipo da novela O Rei do Gado, a roupa também era vistosa, nova, gostava de se vestir com elegância, parecia um rico fazendeiro. Na época Silvio Santos tinha um programa de televisão de muito sucesso, inclusive era motivo de muitas brincadeiras Brasil afora.

Enquanto vou caminhando para trazer o carro, Cida e o pai se sentam em um banco sob uma boa sombra de uma árvore. Ele com 68 anos e Cida com 38 anos, era uma diferença de idade que chamava atenção. Eles ficaram juntinhos,  Cida colocou o braço no ombro do pai e ficaram conversando, nisso passa um carro com vários rapazes, que arregalam os olhos e ao ver o coroa com uma mulher bem mais jovem e muito bonita o motorista para o carro e o carona grita: "É namoro ou amizade?" Zé Barros não era de peder uma piada não teve tempo para responder, Cida respondeu antes, "É namoro".  O rapaz deu uma gargalhada e sumiu no mundo e nós seguimos a viagem, gargalhando de vez em quando ao lembrarmos da cena, pai e filha passando por amantes e da expressão de certeza dos rapazes, saindo convictos que o coroa namorava uma novinha. 

Essa pequena história bem humorada não foi exceção, exceção sempre foi ele não tentar fazer o ambiente ser mais leve e alegre, que eu posso mais dizer? Centenas de histórias bem humoradas, por hora fico apenas com essa. 




Abraço,






sexta-feira, 1 de junho de 2018

Assédio Estruturado

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O mal consiste em comportar-se intencionalmente de maneira a prejudicar, abusar, rebaixar, desumanizar ou destruir outros inocentes - ou usar sua autoridade e poder sistêmico para encorajar ou permitir que outros o façam em seu nome
        Philip Zimbardo.
    

     Um certo dia eu estava imaginando como poderia ajudar meus advogados na ação que movi por causa de longo assédio moral. Quase todos nós temos ideia do que seja o assédio moral, um processo continuado e inspira a dor de um medo atroz.

     Aquela reflexão veio à minha lembrança ao ver as fotografias de um protesto recente, onde revelava a face do mal sintetizada em uma sigla, GDP. Por causa disso saí caçando nas centenas de arquivos digitais o texto original que escrevi há mais de dois anos. Ainda bem que salvei uma cópia escaneada do manuscrito feito com lápis grafite em duas folhas de um caderno escolar.

     Aquele conjunto de reflexões começa assim: Assédio Estruturado no ...

    Nele tentei ser objetivo, buscando não misturar a minha situação emocional à percepção do que o me ocorreu e ocorreu com milhares de pessoas antes e depois do meu caso. 

    Ele é estruturado porque há evidências de ser uma política (não escrita) da organização e é praticado com autorização implícita de toda uma cadeia de poder, visto que os praticantes não são punidos e são muitos, talvez milhares. É uma realidade onde frases soam como senhas para desencadear o assédio, como a que dizia: A decisão de aderir deve ser fruto da decisão madura e individual.

    Gostaria ter incluído a imagem do texto diretamente, mas por prudência não vou fazer em razão de que no original há nomes que devo evitar citar.

     Importante que eu faça uma pequena ressalva, no texto reproduzido a seguir há a citação de um grupo de empregados priorizados para sofrer o assédio, mas não se resume a eles, com um pouco de esforço dá para se juntar fragmentos de situações e encontrar esse tipo de assédio moral em diversas situações vida afora. 

   Os elementos dessa estratégia são utilizados quase sempre precedendo as mudanças "revolucionárias", as famosas mudanças disruptivas, ou manipuladas para parecer como tais, não como uma evolução dos negócios. 

    É uma forma de minar resistências e a coragem, forçando a insegurança e o medo como combustível para tornar o ambiente um inferno para os fins, nominados de sadios, muitas vezes mascarando  a ineficiência dos estrategistas. A questão maior é que escancara O efeito Lúcifer* e a maldade campeia feito um rastilho de pólvora,  por isso a frase de Philip Zimbardo faz tanto sentido:

   O mal consiste em comportar-se intencionalmente de maneira a prejudicar, abusar, rebaixar, desumanizar ou destruir outros inocentes - ou usar sua autoridade e poder sistêmico para encorajar ou permitir que outros o façam em seu nome

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 (Manuscrito)    

      Assédio Estruturado no...                                           

     - Elementos e Passos -

1 - IDADE ALVO: os assediados na maioria são profissionais seniores, estão na    casa dos cinquenta anos e tendem a ter garantida a aposentadoria da previdên-
cia privada.

2 - PROCESSO: O processo é sistemático e estruturado.

- NO PRIMEIRO PASSO: Começava com um gerente máster mudando as metas da unidade ou da carteira de clientes fazendo-a crescer desproporcionalmente perante as carteiras ou unidades de negócio de perfil parecido.

- SEGUNDO PASSO: Começa a se minar a confiança do empregado com cobranças incisivas disfarçadas de cobranças normais para os resultados, após manipular as metas para cima e fora da capacidade empresarial da capacidade empresarial da carteira de clientes ou da unidade de negócios.
                      
 OBS: Se o funcionário consegue superar essa metas elevadas, o que ocorre?
 - Não recebe o devido reconhecimento; - É punido com uma meta ainda maior.
            
 - TERCEIRO PASSO: Digamos que esse funcionário que deixou de ter um nome e começa a ser mal falado nas rodas internas do poder por ter alta resiliência.       Agora ele/ela, que em sido premiado por desempenho, é congelado nas suas pretensões profissionais. 
   A carreira é congelada, não consegue mais uma promoção e todas as suas reivindicações nesse sentido são silenciosamente negadas, sem feedback... Sem feedback.

- QUARTO PASSO: Digamos que ele/ela percebe esses movimentos e a sua resiliência cresce ainda mais, mais esforço, mais capacitação e melhor  desempenho. 
  Mas ele/ela já começa a desanimar, o seu amor pela empresa, a vontade de mostrar que é bom, produtivo e lucrativo começa a dá sinais de exaustão. Os seus rostos revelam sinais de insônia, os nervos parecem fazê-los suar a zero grau. 
   Nessa altura começam as exposições públicas, em reuniões com os demais funcionários começa-se a diminuir a imagem profissional, cobrança e conversas em particular são reveladas e ele/ela sente todo o desamparo.

- QUINTO PASSO: Se ainda assim restar alguma resiliência, o assédio agora é terceirizado, ex-chefes do empregado e outros empregados são cooptados para fazerem parte da rede do assédio e sugerirem a aceitarem a situação, parecendo a decisão ser de moto próprio, mascarando a coação.

- SEXTO PASSO: E se o fiozinho da resiliência final ainda alimentar a alma do  empregado, aí é entra a poderosa GDP.

                           Bem, aí a morte é certa.
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          Encerro esta crônica com esta significativa frase de Hanna Arendt:


                    Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história.... Frase de Hannah Arendt.

Abraço,







O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...