sexta-feira, 29 de outubro de 2021

A vida em espiral

 



        Fiquei imaginando quando a vida entra em redemoinho a partir de uma decisão nossa ou de várias decisões. Mãos e pés começam e nos impulsionam, quase sem controle, os nossos movimentos.

        É o que me parece ocorrer no livro A vida em espiral. O livro tem uma bela capa? Tem. Com ilustrações lindas, cores bem distribuídas e um acabamento primoroso? Tem de sobra. Muitos adjetivos. Justificáveis.

            Lá pelo meio do livro lembrei de outro que tratou de uma realidade cotidiana severa dos personagens: o Vidas Secas e da decisão de Fabiano de buscar sair daquela seca que lhe sugava até a alma.

        Também Amuyaakar Ndooy toma a sua decisão, assumindo riscos e transformando os seus amigos e até a sua comunidade. Decisões que vão sendo reiteradas, crescentes e de consequências a cada momento maiores e mais graves, é a vida em espiral.

        Mas, mais que isto, o livro esmiúça aspectos da vida do Senegal no período da sua narração. Aspectos como a do governo que que reprime o tráfico de yamba (maconha), cujo consumo é um costume nacional. Das comunidades muçulmanas onde o álcool entrou forte e os jovens nem querem saber dos preceitos dessa religião.

        Da miudeza humana se revelando na disputa do cargo de Imã, líder religioso do Islã, na aldeia aonde vive Ndooy, cujos grupos religiosos deixam a mesquita fechada por causa dessa querela.

        Da ganância que enche os olhos de agentes do estado senegalês e que também se tornam traficantes da maconha, como se fossem atacadistas, roubando dos traficantes pobres.

        É uma história que traz certos aspectos semelhantes ao homem ao redor do mundo: irresponsabilidade, egoísmo, amor, paixão, costumes ancestrais e machistas, aspectos da vida das periferias e personagens riquíssimos nas suas vidas, como se fossem gente que, ora conhecemos de perto, ora ouvimos falar ou que lemos sobre elas.

        O livro é um mergulho em tudo isso, aqui e ali, abre um espaço no redemoinho para o leitor respirar.

           Por fim, trago um link para uma bela e suingada canção do Olodum: 

           Canto pro Senegal


        Abração, Marconi Urquiza

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

De tanto ouvir falar, de tanto nos impactar, resolvi escrever

 





    
      “Deus me proteja de mim”

     “E da maldade de gente boa”

     “Da bondade de pessoa ruim”

     “Deus me governe e guarde, ilumine e zele assim.”

                                   Chico César – Estrofe da canção “Deus me proteja”

 

   De tanto ouvir falar, de tanto nos impactar, resolvi escrever.

            Vou falar das aventuras que só parecem teóricas, até se transformarem em chuva, depois em uma tempestade; no fim, em uma seca severa.

            Se a inflação pode ser uma chuva prodigiosa no bolso de alguns, ela vira uma tempestade severa para o bolso de muitos e se revela como uma seca violenta, caindo como uma bomba na vida da maioria dos brasileiros.

            Os conceitos como: Liberal, Liberalismo, Socialismo, do antigo Comunismo, da Socialdemocracia, do capitalismo, do Mercado (o rei mercado), Estado Mínimo, Governo, Desgoverno. Muito disso passa longe do brasileiro médio, muito disso passa a léguas da mente das pessoas, até que, mesmo sem terem o mínimo de conhecimento ou consciência específica de suas existências, sejam esmurradas pela carestia.

            Essa é a nossa realidade em 2021. O pau está dando muito forte nas costas de Chico. Lembre-se do ditado: ” Pau que dá em Chico, dá em Francisco”.

            Liberalismo, esse que a gente vê espelhado em muitos economistas, como se sente há três anos, que foi elaborado, projetado, e executado pensando em uns poucos. Em uns poucos que ganham e ganharão com essa inflação galopante.

            Para quem não sabe ou não se recorda, vou contar um episódio de inflação, agalopada, ligeira como um meme, um foguete como uma Fake News.

           1988. Eu desejava comprar um vídeo cassete em Manaus. Querendo barganhar o preço, corri as lojas da Zona Franca e próximas à Rua Guilherme Moreira, aí o mercado do dólar abriu.

            Às duas da tarde acabei entendendo que não poderia esperar para o dia seguinte, meu dinheiro não daria. Se o preço no início da manhã era de 500 dinheiros, às duas horas da tarde paguei 540 dinheiros daquele tempo pelo aparelho. 

            É assim a aventura do liberalismo, é como jogar alguém no meio de um rio sem boia e sem a pessoa saber nadar. É o que gente vê todo santo dia.

            O preço do combustível que tem afetado tanto a economia popular, é um caso exemplar, pelo lado negativo. Veja, o Brasil caminhava para ser quase autossuficiente na produção de combustível. Aí se vendeu ativos, estruturas e negócios da Petrobras. Paralisa-se linhas de produção, subaproveita refinarias e importa-se produtos refinados, mais caros.

            Depois veio a paridade brutal do preço do dólar e petróleo com o mercado livre mundial. Tudo isso, sem que haja compensação com o menor custo dos produtos fabricados pela Petrobras. É mais fácil, é mais simples, “é mais ganho”.  

            Na realidade hodierna, cai o consumo de combustível e ainda assim o ganho permanece alto e até maior que antes, em  que o preço era menor e  onde vendia mais combustível.

            Olha que armadilha o cidadão vive:

            - Preço maior: o lucro de toda a cadeia cresce por litro vendido.

            - Preço maior: a arrecadação de impostos é maior por litro vendido.  

            Tão importante oligopólio, na prática monopólio, vai querer que os preços fiquem civilizados? Os entes governamentais também?

            Neste momento, estamos sós diante do Dragão da Inflação. Mas temos que juntar forças, então vou de Zé Limeira, o Poeta do Absurdo, como um ato de coragem e vontade de prosseguir:

            “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”

 

            Abração, Marconi Urquiza.


            Escutem a canção inteira:

            DEUS ME PROTEJA

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Descubra o Betinho que existe em você



Nessa quarta-feira me lembrei de Betinho, Betinho e o Natal sem Fome. 

De como, na maior timidez anunciei, em um evento em Boca do Acre, o esforço que os funcionários.  FUNCIONÁRIOS.

Vou enfatizar: OS FUNCIONÁRIOS. A empresa estava fora.

Me engajei, com minha esposa, e ao longo de sete anos isto era um motivador além das metas. Deu um sentido profissional e de vida todo especial. 

Era energia pura.

Antes de continuar, devo confessar. Quando o BB quis se apropriar do meu voluntariado, me tornei inerte. 

Natal sem fome.

Foi muito mais que uma ação voluntária, foi uma profunda identidade de pessoas que iam muito além da doação. Milhares de comitês atuando, pessoas se motivando, alegres com estes feitos.

Um episódio espelhou bem esse período. Era de Outubro para novembro de 1997. Um comitê amplo se formou em Terra Boa-PR. Falou-se em recursos que estavam raros, então nós do Banco do Brasil, Cida na liderança, começamos a bolar um evento.

Cuscuz, carne-de-sol e outros agregados dessa comida regional. 

Encurtando a história. 

Chegou o dia do evento, no Salão de Festas da Maçonaria da cidade, cedido gratuitamente, as pessoas receosas experimentaram a comida e começaram a repetir os pratos.
 Via-se nos rostos das pessoas que a comida agradava. Sorriam, pois pensavam que carne-de-sol era uma carne seca, não suculenta. 

A festa corria solta, em certo momento entrei na cozinha e nela havia uma verdadeira linha de produção da melhor comida nordestina. Uma coisa das mais impressionantes que vivi, em se tratando de voluntariado. 

Nunca vi uma coisa daquela.  Uma linha de produção organizada e ajustada. 

Teve um momento que a carne começou a acabar e Cida me disse, corre lá em casa e traz os bifes. Estão na geladeira, já temperados.

Tudo isto ocorreu por causa de Betinho e da Anabb, que naquela época agregou muitos do Banco do Brasil à causa.

Betinho, Herbert de Souza, foi uma pessoa transformadora de milhões e a mim, não só a mim, despertou o coração bondoso. Um altruísmo rico,  porque desinteressado em ganhar com o seu resultado. 

Essa é a minha contribuição de hoje.


Abração, Marconi Urquiza



sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Sobre livros e sobre vidas

 

Foi este livro que me inspirou a criar o título O Último Café do Coronel

 "Até no mundo real
  Pode ter dualidade.
  No campo da ficção
  Pode existir verdade.
  A verdade nunca é
  plena
  E a ficção armazena
  Algo da realidade."
              Ademar Rafael Ferreira


Alguns títulos de livros me atraíram à leitura. Vou citar quatro, são eles e na ordem de leitura:

- Travessuras da Menina Má;  O Negociante de Inícios de Romances; O Vendedor de Passados e, O Mapeador de Ausências.

Todos os livros trazem invenções com fatos concretos, só não consegui concluir a leitura de O Negociante de Inícios de Romances. Na metade da leitura não entendi a proposta do autor e parei.

Travessuras da Menina Má, de Mário Vargas Llosa, é um livro do qual tenho uma enorme dúvida, mesmo passado tanto tempo da sua publicação. Enquanto lia, logo após tê-lo feito e 14 anos depois da leitura, sempre que lembro dele sinto o comichão da dúvida. O romance é uma história real? Se não for, a sua capacidade de  iludir chegou à perfeição. Para mim é o melhor livro de Vargas Llosa, dos seis que li. É de uma mulher diferente de tudo e de um homem esquisitão, com um amor perpétuo e impossível por essa mulher.

Muito tempo depois estou em uma livraria e vejo o romance: O Vendedor de Passados.  Desta vez li a quarta capa e a orelha.  Aquela apresentação curta me fez comprar o livro. A prosa leve, um português parecido com o nosso, uma história cativante, um personagem engenhoso, outras tantas querendo um passado novo e distante do período colonial de Angola.  José Eduardo Agualusa, com uma prosa leve, passeia pelo bom humor, pelo trágico e pela história da violência da Polícia Política colonial de Portugal.

Na última segunda-feira conclui a leitura de O Mapeador de Ausências. Ele se assemelha ao livro de Agualusa nas revelações das atrocidades da polícia portuguesa em Moçambique, nos estertores do regime colonial. Tal como, O Vendedor de Passados, a prosa é leve. O vai e vem do presente e passado é bem marcado.

Fui buscar nesse livro ideias que me propiciasse desenrolar o novelo que se transformou o rascunho de O Último Café do Coronel. Um livro que sai da ficção e cai com uma bomba na biografia de um período pesado de Bom Conselho, de minha mãe e irmãos, como para mim, dos amigos de meu pai e até de alguns adversários dele daquele período.

Não posso afirmar que achei um caminho, ou uma ideia para prosseguir, ou mesmo um modo de imitar Mia Couto.  Não achei nada, além de uma ótima leitura. Mas fiquei a matutar. Quanto de passado a ser “resolvido” existe nas pessoas? Quanto de história precisa ser “revivida” na mente e no coração para ser, de fato, colocada no mapa da ausência?

Como projeto de escritor, este talvez seja o maior desafio da minha vida, como um controlador de voo das emoções que estão amarradas com correntes de um elo só, para que não escape, nem tenha espaço para se mover e não perturbar.

Como muito se escuta por aí, o passado deve ficar no passado. Mia Couto vem trazendo as histórias dos ausentes como se elas fossem mal contadas pelos que estão no futuro e no presente.

É um contraponto com O Vendedor de Passados, onde o passado não precisa ser esclarecido na sua inteireza, que seja de verdade. O passado é para os vivos, é para se transformar em um passado que os orgulhe e que possam apresentar-se bem com eles.

Aqui e acolá estoura uma fraude de uma biografia inventada, a mais comum, uma pessoa que diz que fez doutorado no estrangeiro, sem ter feito; ter feito formação profissional e as apresenta como concluído, sem que tenha de fato ocorrido. O Vendedor de Passado é para esse público, que deseja uma biografia foda.

O Mapeador de Ausências é como um mapa, em que aqueles personagens vão revisitar os ausentes há muito enterrados, mas vivos. É um pouco como o que veio ocorrendo quando tive o impulso de escrever O Último Café do Coronel. As pessoas que poderiam me ajudar a entender aquele tormento, toda aquela confusão e toda a dor, estão quase todas ausentes. Os poucos que restam, não conseguem falar do assunto, a emoção toma conta e eu choro junto.

Escrever Decisão de Matar, com toda a sua gama de história real, ficcionada, foi muito mais fácil. Várias daquelas ocorrências drásticas eu soube em tempo real, mas fui mero expectador, a dor não me atingiu, o sufoco e as mortes foram de outras famílias. Apesar disso, mais de 25 anos após certos eventos que estão no livro, eles passam por minha mente como se visse um filme. Aqui foi um ficcionista olhando as coisas quase de longe.

Cá, em O Último Café do Coronel, a emoção estava presente em cada hora que escrevi, em cada hora que ficou na gaveta. Eu não era um ficcionista inventando, até tem muita invenção, também não era um biógrafo, trazendo os fatos com a objetividade do historiador, ainda que se utilize das técnicas literárias. Era o filho que quis escrever sobre os últimos meses da vida de um pai, morto em meio de uma disputa política, história da qual nenhum historiador se aventurou em contar, nem eu conseguirei fazer.

 

Abraço e ótimo final de semana.

Marconi Urquiza


Capas dos livros:




Assista o Booktrailer, CLIQUE no link abaixo e comente o que achou dele:








sexta-feira, 1 de outubro de 2021

O drible da vaca




               Agora que tem dois brasileiros na final da Copa Libertadores eu pensei em dois jogos pra lá de antigos. 


1º Tempo, começa o jogo, as cortinas se abrem.


            Em 1990, eu doido para jogar bola, terminei patrocinando o glorioso, e de vida curta, Sport Club Caraúbas para entrar em um torneio organizado pela Liga de Apodi. 

            Acho que estavam dois times de Caraúbas, um de Dix-Sept Rosado, um de Felipe Guerra e acho que dois de Apodi.  Cidades do oeste potiguar.

            Em uma das rodadas, fomos para Felipe Guerra.  No time dessa cidade atuava o jovem prefeito.

            O árbitro era da Liga de Mossoró, quase profissionais.  Todo ataque nosso, soava um apito. Em certo momento, Porquinho, nosso melhor jogador, fez uma jogada, armou o chute. O apito veio estridente.

            No primeiro tempo tomamos 2 x 0, gols do prefeito bom de bola. Eu olhava para o juiz e fazia caras e bocas, mas não reclamava. 

            Quando acabou o primeiro tempo eu encostei nele e fiz um comentário que não entendia as suas marcações, não lembro como, apelei: "deixa a gente jogar, já tão difícil, eles já têm 2 x 0". Ele olhou para mim e disse uma frase parecida com essa:

            - Olha, sabe o que é, eu quero chegar inteiro em casa. Meus meninos estão me esperando. 

           Balancei a cabeça, olhei aquele imenso campo arenoso, até bonito, com as marcações no solo. Redes bem esticadas.  Alguma plateia, então caminhei para a preleção do nosso técnico, convicto que naquela tarde essa regra de "sobrevivência arbitral" já havia decretado o resultado da partida.


2º Tempo, vamos ver se o time empata.


           A outra história antiga ocorreu, quando, certo dia, Erickson Torres convidou a mim e a Seba para jogarmos em um Sítio em Afogados da Ingazeira. Não vou nem arriscar o nome desse local para não errar feio, o tempo vai tão longe que nem lembro direito o ano, talvez 1984.

            Era um domingo, depois do almoço nos encontramos na frente da agência do Banco do Brasil de Afogados da Ingazeira. Após o nosso time estar todo junto, saímos da cidade, acho que fomos em quatro automóveis pequenos.

            O jogo teria que iniciar cedo, de modo que acabasse ainda com luz solar.  Vou chutar: às 14 horas começou a partida.

            Naquela tarde eu tive dois estranhamentos. O primeiro: O campo tinha um declive de um lado para o outro ao longo da lateral, o outro você lerá. 

           No primeiro tempo, o nosso time atacaria para o gol, cujo lado direito, estava quase cinquenta centímetros mais alto que o lado esquerdo. Como se tivesse uma drenagem natural. Típico campo de terra batida e muito cascalho.

  Começou o jogo. O sol a pino queimava o lado do rosto e incomodava a vista pela luminosidade excessiva. Tem mais, não havia, naquele campo, uma sombra que aliviasse o calor.

 Nosso time, um pega-na-rua, corria desarticulado. O outro time, não era muito melhor que o nosso. Digamos que do nosso lado tivesse um ou dois jogadores de uma técnica apurada, do outro lado, mais jogadores velozes e que conheciam o campo, que era rodeado por uma cerca de varas, de maneira que ela serviu como um alambrado para que a única bola não se perdesse no mato.

     A bola corria no chão quente, a sede começou a chegar, o cansaço em jogar em sol mais forte já dava sinais para o nosso time,  especialmente para mim, pois só jogava à noite na AABB de Afogados da Ingazeira.

      De vez em quando eu apostava corrida com o ponta, ao sair do miolo da zaga, para fazer cobertura do lado esquerdo. Já não tinha o mesmo preparo e nem o mesmo peso de dois anos antes.

      A única coisa que melhorou nesse período, é que havia começado a usar uma meia fina por baixo do meião e tal atitude evitou que fizesse calos nos pés, mas não livrava de sentir aquele calor infernal ao pisar no chão quente.

       Não sei em que momento tomamos um gol. Achei estranha a jogada que o antecedeu, mas nada comentei. O tempo correu e raramente ocorria uma chance de gol, principalmente do nosso time. O jogo estava morno, mais cá que lá.

     Os times agora estavam lentos ao sabor do calor de mais de 32 graus. O nosso lateral esquerdo subiu e parou, acho que ficou lá na frente puxando fôlego, mas o ponta, esse ficou de moita.

       Então bola veio para ele, que veloz disparou, eu cheguei para fazer a marcação, cerquei o rapaz e pensei: ele vai dominar a bola e marcado, volta com ela ou dá um passe. Fiquei tranquilo, o resto do gás daria para não deixar ele livre e até pensei: qualquer coisa uso o corpo e interrompo a jogada com uma falta tática.

      Meu velho! Meu velho! O jogador se voltou, deu um bico de efeito na direção da cerca,  me deu um drible da vaca e correu para o gol. Claro, eu parei, era para ser lateral. A pelada não tinha juiz, era a boca e o bom senso.

       O cabra correu sem marcação e acertou outro bico, gol, dois a zero, foi então que saí do mutismo:

- Que negócio é esse? Foi lateral!

- Aqui não tem lateral – outro respondeu.

- Como não?

- A regra da gente é, bateu na cerca do lado campo, pode continuar o jogo.

- Tá errado

- Pode até tá. Não disseram que a gente joga assim?

- Não.

          Assim a reclamação acabou e o gol, sem VAR e com o puxadinho da regra, foi validado. 


Abração, 

Marconi Urquiza.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Prevente Senhor

    


    Muitos anos já se passaram desde que o desejo de escrever uma história se transformou em a ação frenética que durou 15 dias e cem páginas escritas.

    Naquele distante janeiro de 1999, tudo veio à mente, quase como uma psicografia as ideias chegaram concatenadas e na ordem narrativa.

    Na inspiração para o personagem central, veio a lembrança de conversas de papai com amigos sobre um grande empresário da construção civil que havia quebrado e dado prejuízos a uma quantidade imensa de pessoas em meados dos anos 1970

    De tais conversas, ouvi que ele deixou o caos em Recife e foi morar no Rio de Janeiro. 

    Esse homem real me fez, de modo muito intuitivo, criar Carlos Rivera.  Em ser que tem tudo, inteligência, tino e percepção para negociar, menos escrúpulo. Um perfil semelhante ao do presidente da empresa de saúde Prevent Senior. Bem formado, ambicioso, zero de escrúpulo. 

    Voltando para o nosso personagem de ficção. Carlos Rivera ficou rico do modo  típico dos mafiosos, roubando, fraudando, usando a sua influência. Evoluiu, unindo a sua inteligência, com a inteligência outros personagens ávidos pelo bom dinheiro que recebia dele.

    O caso da Prevent Senior, ocorreu que os mortos tiveram dos seus prontuários a supressão que adoeceram da Covid-19. Lendo as reportagens dos sites, fiquei pensando quais poderiam ser as motivações.
    Manter a aura que havia implementado uma solução milagrosa para salvar os doentes ricos da Covid-19? 
    Grana? 
    Falta de ética médica? 
    Alinhamento de pensamento com uma corrente do tratamento precoce e uso de certas drogas? 

    O que parece, é que forçaram profissionais ou cooptaram outros a sumirem da certidão de óbito a questão da Covid-19.

    O nosso personagem, Carlos Rivera, bruto na ação, um gentleman no trato, descobriu uma forma de se utilizar do aparato judicial para enriquecer ainda mais.  Saiu limpando a sua biografia, mas sujeira boa, ainda deixa uma borra, é só procurar.

    Mas a impotência também transforma pessoas, a frustração pode provocar depressão ou raiva. A maioria sai sem força quando é atingido por um furacão como Carlos Rivera ou um vulcão, como é o caso da Prevent Senior. 

    Mas há pessoas que introjeta uma raiva por longos anos, mostrando uma face de paz e tranquilidade. Esse pode ser o caso do romance Decisão de Matar.

    Se interessou, vá no link e leia o primeiro capítulo.
    

     

     
       

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

A aventura do passarinho dentro da casa

    Não se sabe o que atraiu o passarinho para aquela casa. Ele chegou, pousou sobre o muro e ficou observando. Dava um pio, outro, andou para um lado, depois voltou e após algum tempo levantou voo, mas não foi para longe, pousou em uma jabuticabeira que ficava no oitão da casa.

    Outros passarinhos também se aproximaram, a jabuticabeira carregada exalava o seu perfume forte, meio azedo, o chão estava forrado de frutos.

    O passarinho ficou por ali, quando os seus amigos da natureza chegaram ele foi para uma árvore sombreadora que ficava no jardim, no entanto, a sua curiosidade fez ele se fixar na casa.

    De dentro da casa se ouvia as vozes alegres das crianças, um converseiro de dá agonia, vez por outra a voz da mãe entrava disciplinando a confusão entre os filhos. O pai estava em outro cômodo da casa, mexendo em alguma coisa. Nem ele, nem passarinho se viam ou ouviam mutuamente.

    O passarinho, pequeno, se assustou quando um sabiá, maior que ele pousou por perto, ele, por precaução, mudou de galho. Em certo instante sentiu o cheiro de uma fruta aberta e seu o seu olfato o levou a mudar de árvore e ir para uma goiabeira. Ele deu algumas picadas na goiaba, se alimentou e saiu de perto daquele fruto, foi para uma árvore que ficava mais perto da casa.

    Lá na cozinha da casa a mãe preparava o café das crianças, ela abriu dois mamões papaia, limpou as sementes e os cortou em cubos e os colocou em um prato sobre a mesa da cozinha. Saiu para vestir as crianças, o pai passou pela cozinha, saiu pela porta dos fundos e foi fazer a limpeza dos tapetes do carro. Fazia diariamente para não encher o carro de areia e de barro, o vermelho, capaz de encardir tudo.

    Ali, na garagem aberta, ele viu o passarinho voar e pousar na travessa do teto da edícula. Não lhe pareceu que ele estivesse perdido.

    O passarinho parece que havia se decidido de alguma coisa. Ficou observando o homem, que o havia ignorado, olhou para a casa e ouviu de longe as vozes alegres das crianças sendo arrumadas e perfumadas pela mãe, para irem para a escola. Todos prontos, camisas por dentro das bermudas e com os cabelos penteados para trás.

    O passarinho pulou para um caibro e se aproximou da entrada da cozinha, deu dois pulos e ficou olhando para a mesa onde estava o mamão, depois se aventurou e voou, entrou na cozinha e pousou sobre um armário alto. Em segundos pousou sobre a mesa e deu uma picadinha no doce mamão. Foi neste momento que a cozinha se encheu, os três filhos chegaram junto com a mãe.

    Da garagem o pai ouviu os filhos gritarem e aquilo despertou a sua curiosidade. O que estaria acontecendo? Quando chegou na cozinha, os três filhos estavam correndo para a sala vizinha e depois para a varanda fechada por uma janela envidraçada. Eles queriam brincar com o passarinho, que queria fugir e voava de um lado para o outro na varanda, se encontrar uma brecha para sair da casa.

    Quando o pai se aproximou, ouviu da esposa: um passarinho entrou dentro de casa.

Aquele ser miúdo estava apavorado, um dos meninos quis pegar ele, mas o pássaro se esquivou voando entre as mãos.

    O passarinho olhava para todos os lados, mirou para o pequeno corredor e se preparou para voar por ele, foi quando o homem apareceu e frustrou a sua intenção.

    O pai das crianças ficou olhando aquela agonia do pequeno pássaro, que já estava cansado, por isso se aninhou no beiral de uma porta. Cauteloso, o pai andou até o janelão e abriu uma brecha. O bicho nem se mexeu. O homem ampliou a abertura, o passarinho permaneceu quieto. O pai abriu as duas folhas de vidro e escancarou a janela, deixando a brisa varrer a casa de ar fresco, mas o pássaro ainda ficou parado. Então alguém soprou para o homem: Sai daí, e ele se afastou da janela.

O passarinho olhou, sentiu o ar fresco chegando para respirar, viu a família agrupada no outro lado da varanda e se encheu de coragem. Deu um voo curto até o beiral da janela, piou e olhou para os gigantes humanos, virou as costas e foi pousar no galho mais alto da árvore sombreadora, de onde poderia viajar.

    A mãe chamou as crianças para tomar café. A janela ficou aberta e todos foram para a cozinha. Logo as crianças seriam levadas para a escola e os pais iriam para os seus trabalhos.

    No meio do café todos se voltaram para a porta dos fundos e perto dela, pousado sobre um balanço de cordas o passarinho dava seu show de canto.

    Dois dias depois ele voltou, ao ver a família reunida, se aninhou no beiral da janela lateral da cozinha e começou a cantar.

    No dia seguinte voltou e fez novo show matinal.

    No terceiro dia uma das crianças falou alegre: Olha pai, o passarinho é amigo da gente!

    A partir daí o passarinho foi recebido com água fresca e alpiste.

 


    Abraço, Marconi Urquiza


O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...