Hoje é
minha vez de ser técnico de futebol
O
motivo de escrever esta crônica foi ter assistido o jogo Fortaleza contra o
Flamengo na Arena Castelão, em Fortaleza no ultimo 26.11.2024. Fui para ver o
Fortaleza de perto e vi mais que imaginava. Vi um estádio cheio, lotado, com
98% das pessoas assistindo ao jogo sentados, uma torcida feliz e estádio imenso
e ainda em bom estado, ainda que tenha 10 anos de uso contínuo deste a reforma
para a Copa de 2014.
Naquela
noite paguei caro para ir e para voltar. Na ida um engarrafamento imenso, a
ponto dos motoristas de Uber recusarem a corrida. Só consegui ir porque a atendente
do hotel me ensinou um artifício. Colocar o endereço do BNB. Foi assim que consegui
o Uber. A viagem de 50 minutos foi ótima, com bom papo com o motorista.
Hoje
eu pensei, um jogo de futebol pela TV para mim é espetáculo. Replay, análise
tática, algumas vezes, comentários da partida. da arbitragem. Um monte de câmaras,
perto, de ângulo aberto, do detalhe, da torcida e por aí vai. No estádio,
dependendo do local, a visão do campo é plena, a movimentação dos atletas total,
com bola, sem bola. Com bola é a visão direta, sem bola, a paralela. Para um
olhar treinado, a mente vai registrando outros detalhes e outros aspectos de
cada time.
Digo
que tenho um olhar meio treinado, metade treinado. Mas não foi sempre assim. Há
20 anos só via a correria dos jogadores, até que me tornei comentarista da
Rádio Tambor, na região metropolitana de Surubim, a convite do ex-jogador profissional,
Neto Surubim. Craque da bola e dono de uma verve esplendorosa. Um dia Neto
Surubim foi convidado a fazer parte da equipe de esportes da Rádio Integração e
me levou junto. O Surubim Futebol Clube iria participar da 2ª. Divisão do Campeonato
Pernambucano de 2004.
Ele
participava dos programas diários e eu nos dias dos jogos. Então veio o primeiro
jogo, Neto Surubim com sua habitual desenvoltura ao microfone deu um baile nos
comentários. Aquilo que ele via, eu nem de longe conseguia perceber. Restou-me
fazer a estatística do jogo. Aí um locutor criou o bordão: Marconi e a matemática
do jogo. Até paguei pela criação de um aplicativo para acompanhar algumas jogadas,
bom programa, mas pouco prático, pedi muitas opções.
Então
depois desse baile comecei a ir a jogos profissionais como nunca. Comecei a
estudar sobre futebol. Livros, blogs, site de cá e do exterior, até que li o
livro Universo Tático do Futebol, de Ricardo Drucsky. Minhas percepções
começaram a mudar. Comecei a ver além das correrias dos jogadores.
Técnico-tático, preparo físico, preparo mental, ambiente de trabalho, mental,
salários em dia, local específico para treinamento, liderança. Tem mais.
Vamos
saltar o presente.
Venho
acompanhando o Fortaleza desde a Série C, na Série B para cá só não assisti na
TV mais jogos que o do Sport. A característica que mais era perceptível para
mim é o ataque em velocidade, pelo meio, pelos lados. No jogo contra o Flamengo
isto apareceu muito forte, mas foi neutralizado na maioria das vezes pelo
Flamengo, se por seu conjunto defensivo (meias, volantes e defensores) ou pela
falta tática. Evitar a jogada antes que virasse um perigo de gol.
O
Flamengo naquele jogo foi posse de bola, passes curtos, o tal de 1 - 2: Domina
e toca, com deslocamento curtos e rápidos. Quando a marcação do Fortaleza não
conseguia bloquear saíram várias jogadas rápidas e de contra-ataque em uma
velocidade espantosa, contrariando o 1 – 2, mais lento. Aqui veio uma percepção
que não via nos jogos pela TV e que também passaram distante do meu radar de observador.
É
o seguinte. A defesa do Fortaleza é boa, a defesa e o sistema defensivo. Mais
naquele dia foi a defesa que me chamou a atenção, especialmente no mano a mano
(jogador de defesa contra atacante). Os jogadores conseguiram bloquear os ataques
na maioria das vezes, quanto passava o goleiro atua bem demais.
Em
suma, esse é o quadro resumido do Fortaleza. Que ótimo treinador, ótimo ambiente
e uma gestão do clube fenomenal, a ponto de ser uma SAF (Sociedade Anônima do
Futebol) com recursos próprios. Diferente, por exemplo do Botafogo.
Quando
Filipe Luís assumiu o cargo de treinador do Flamengo ele começou a fazer
mudança. Após alguns jogos o comentarista Paulo Vinicius Coelho (O PVC) escreveu
que com Filipe Luís o Flamengo tinha variação de jogo. No jogo contra o Fortaleza
consegui ver três aspectos fortes.
Marcação
compactada, quase o campo inteiro. Quase sempre com 6 jogadores. Onde estava a bola
estavam os jogadores do Flamengo para não dar espaço para os atletas do
Fortaleza criarem as jogadas de velocidade. Quase como um Futsal com seis
jogadores contra quatro. Por causa disso, a defesa do Flamengo naquele jogo
sofreu pouco.
Arrisco
a dizer que o toque de bola curto, com posse de bola quase sempre, é um
tica-taca parecido com o Barcelona de Guardiola ou a seleção da Espanha em
2010.
O
outro aspecto ou variação de jogo foi a virada, a bola saindo do lado direito
para a esquerda, no primeiro tempo. E no segundo tempo, da esquerda para a
direita. O Michael, velocíssimo, jogou no primeiro tempo pela direita e no
segundo tempo, pela esquerda. Várias
caiu pelo meio e com os jogadores do meio campo chutando de fora da área, ajudado
pelos deslocamentos sem bola do ataque.
Mas
tem outro ponto que estava em campo, mas não é visível a qualquer observador à
distância. A assimilação rápida pelos jogadores das variações táticas implementadas
por Filipe Luís. Por que isto ocorreu? Como isto ocorreu?
Pelo
respeito que os atletas do Flamengo têm de Filipe Luís, ela já era uma liderança,
ele tentou recuperar o ânimo de Gabigol, o tratou com consideração pública,
para todos verem, creio que aumentou ainda a percepção de valor pelos demais
atletas do clube. Então, creio, que por isso a sua gestão ficou fácil.
Bem,
por hoje é só.
Abração,
Marconi.



