sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A NOVA MENSALIDADE DA CASSI

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      A questão da CASSI exige serenidade para analisar e decisão para escolher. 

   Para algo tão sério como a alteração de um Estatuto Social se requer uma leitura mais ampla que a leitura dos posts no Whatsapp, das inserções de vídeos, textos e análises oriundas dos dirigentes da CASSI como de outras fontes. As que recebemos da CASSI ou por meio de contatos que estão lá direcionam para o sim, há várias outras que indicam o não. Há sim e não convictos. 

    No entanto, há uma quantidade significativa que estão no imenso oceano da dúvida, como eu.

   Um ponto crucial. Nenhuma análise mais aprofundada foi apresentada da proposição do novo estatuto, eu fiz e fiz dentro da minha visão, cultura e conhecimento. Foi um estudo de quase duas semanas, até que uma pequena frase me assustou, não a havia percebido, e ela muda tudo em relação ao custeio da CASSI para os associados, beneficiários no novo estatuto.

    Algumas modificações anotadas:

 I - Modificações na denominação do plano e do associado:

  No artigo 4º a alteração é justificada com o prosaico: "a inclusão desse dispositivo tem efeito meramente didático." A questão é: O que é meramente didático em um estatuto? 

   Neste artigo o nome atual é Plano de Associados da CASSI e a proposta é para Plano de Associados. Some o nome CASSI.
      Qual é o efeito jurídico dessa nova nomenclatura e do teor do caput do artigo?

   No artigo 14º há uma restrição para se observar com atenção: No caso de falecimento do titular original, só terá direito ao plano de associados se for PENSIONISTA PREVI, exclusivamente.

II - POSSIBILIDADE DO BANCO DO BRASIL SOCORRER PROVISORIAMENTE A CASSI.

    Não haverá mais.

  No artigo 25 do "antigo Estatuto" (ainda em vigor) diz o seguinte: "Eventuais insuficiências financeiras do Plano de Associados da CASSI poderão ser cobertas pelo Banco do Brasil S.A.- exclusivamente sob a forma de adiantamento de contribuições." Este artigo foi excluído na proposta do novo Estatuto Social da CASSI. 
   
   Esta alteração ISENTA o Banco do Brasil de socorrer a CASSI, implica que a gestão da Caixa tem que ser muito sobrenatural, sabendo-se de antemão que o projeto de financiamento do custeio proposto fecha com uma economia nas despesas de TREZENTOS MILHÕES DE REAIS sem sabermos como será realizada e que, bem pior, já se sabe que acabará em 2026. A partir da aprovação do novo estatuto se houver pedido de socorro vai ser via contribuição dos associados.  

III - MODELO DE CUSTEIO.

 O novo modelo de custeio introduz a contribuição adicional por dependente, tendo o percentual máximo de contribuição total de até 7,5% da renda bruta (Art. 17 do Novo Estatuto). 
      
   4% de contribuição mensal básica  sobre a renda total e até 3,5% sobre a renda total a título da contribuição adicional por dependente. 

   A contribuição básica mensal do Banco do Brasil é de 4,5% sobre a renda bruta total regular, excluída outras vantagens extraordinárias, o mesmo vale para os empregados e ex-empregados com direitos adquiridos.

    Da introdução da  contribuição adicional por dependente vieram duas siglas, VRD e VFS, interligadas e com impacto financeiro tanto para os ativos quanto para os aposentados. (Art. 26, incisos I e II do novo estatuto, vale a pena ler)

   VRD é o Valor de Referência por Dependente, fixado na propositura do novo Estatuto Social em R$ 342,54. 

   A outra sigla é VFS - Valores das Faixas Salariais, também inicialmente fixados na propositura do Estatuto da CASSI nas seguintes faixas: Até R$ 5.000,00; de R$ 5.000,01 a R$ 15.000,00 e acima de R$ 15.000,01 de renda mensal.

    Uma das questões sobre este novo artigo é que os valores indicados não estão amarrados por artigo, parágrafo ou inciso na proposta do novo estatuto. Aparecem meramente no campo justificativa, sequer há citação que serão regulados no regulamento do Plano de Associados. Os limites estão soltos, a qualquer momento podem ser alterados seus parâmetros, onerando ainda mais os funcionários da ativa e os aposentados.

   Esta é uma cláusula em aberto, entendo que juridicamente é uma autorização sem limites. Serve tanto para o VRD quanto para o VFS.

IV - MODELO DE CUSTEIO - REAJUSTE DO VRD (Valores de Referência por Dependente).

   Você se lembra que no início comentei que li uma frase curta que me assustou?

    Pois bem, quase passo batido por ela. Eu estava fazendo anotações para este ensaio, relendo as observações feitas ao lado de vários artigos, quando algo me chamou a atenção ao reler o artigo 26, inciso I da proposta do novo Estatuto Social. 

   Isto ocorreu na última quarta-feira e não vi na primeira leitura, lá pela terceira é que vi a frase, tão pequeninha, tão impactante. De tão discreta, uma leitura rápida, até normal não alcança o seu teor e impacto financeiro. Veja:


O Conselho Deliberativo definirá, anualmente, o Valor de Referência por dependente (VRD) levando-se em consideração, para fins de reajuste, os cálculos atuariais do Plano de Associados.


   Sabe qual a implicação disso aí? Dissocia completamente o reajuste da parcela VRD do reajuste salarial do associado da CASSI.

   A perspectiva com a aprovação do novo estatuto é que rapidamente possamos estar pagando o percentual máximo de 3,5% para os dependentes.

    Para ilustrar relaciono os percentuais de aumento do Plano CASSI Família II:                        
- 2010:   6,73%        
- 2011:   7,69% 
- 2012: 13,57% 
- 2013: 15,42%  
- 2014:   8,81%  
- 2015:   9,45%  
- 2016: 13,50%  
- 2017:   9,05% 
- 2018: 17,38%  
  Fonte: Relatórios anuais consultados no site da CASSI.

    Nos utilizando da analogia, vejamos como poderá evoluir o valor do VRD.
    
   Com base nos cálculos atuariais do CASSI FAMÍLIA II e nos índices do INPC, que reajusta as aposentadorias da PREVI, projetamos como deveria ter sido a curva se o VRD tivesse sido aplicado à partir de 2010. A linha AZUL é a curva ascendente da projeção de como teria evoluído o valor do VRD e a linha AMARELA como teria crescido o reajuste da aposentadoria e também do salário
.
                              Projeção por analogia para aposentados


                        Projeção por analogia para funcionários da ativa

                        Nota: Gráfico construído pelo colega Walmir Mamede

   Na próxima eu vou trazer minhas observações sobre a nova governança da CASSI.

Abraço,


Link da proposta do novo estatuto para você consultar:
http://www.cassi.com.br/images/hotsites/suaescolha/pdf/estatuto-depara.pdf

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O embróglio da CASSI

                      As verdades diferentes na aparência são como inúmeras folhas que parecem diferentes e estão na mesma árvore.... Frase de Mahatma Gandhi.
    Começo perguntando, pois primeiro me perguntei: 

    O que deu errado na comunicação das medidas de ajuste para as contas e da gestão da CASSI?

    Não sei. 

    O que percebo é uma enorme desconfiança com as soluções apresentadas, calou muito a mensagem que estaremos, com o SIM, entregando a CASSI ao Banco do Brasil e a tudo que pode estar por trás do novo estatuto. 

   Nesta semana, mais uma vez a intensidade da comunicação esteve voltada para os aspectos financeiros da proposta de ajuste da CASSI, mas as soluções passam invariavelmente pela alteração do estatuto da CASSI e de novo regulamento do Plano de Associados, que não passa pela aprovação do Corpo Social ou como se coloca na proposta do novo estatuto, Assembleia de Associados.

  Também nesta semana eu tive a oportunidade de conversar com quatro colegas, dois da ativa e dois aposentados. Apesar da discussão forte e constante nos grupos que envolvem os aposentados aqui em Recife, penso até, que em todo o Brasil, os dois colegas não leram nada da proposta do novo estatuto.  Da conversa com os dois colegas da ativa, um comentou que o assunto sequer era tratado na unidade onde trabalha, uma unidade com mais de cem profissionais. Dias depois recebi o link de uma colega sobre a ação judicial  a ser promovida pela ANABB contra a Resolução 23 da CGPAR do Ministério do Planejamento. Aproveitando a oportunidade perguntei a ela como as pessoas estavam agindo com relação a questão da CASSI, ao me responder disse que no horário do almoço este éo assunto. Isto me animou. No curso da conversa eu perguntei sobre o VRD e sobre o VFS, "não sei o que isso", respondi que escreveria sobre isto.

      Anteontem eu contestei um argumento que algumas das verbas projetadas para o Banco do Brasil contribuir para a CASSI eram temporárias e coloquei nesta projetação, aproximadamente um terço do valor a ser pago pelo cairia à partir de 2022 e fui contestado pelo Satoru, que me apresentou a projeção de DRE da CASSI consolidada. Gostaria de ter acesso a base dos cálculos. Fica para depois.

    Voltando para a conversa com os quatros colegas, deu-me a impressão que parte do SIM, parte do NÃO está enxergando todo o contexto com base em suas experiências profissionais vividas na empresa, outros estão enxergando a situação com base na perspectiva de perder o plano de assistência e a CASSI deixar de ser aceita pelos médicos e hospitais. Mas a imensa maioria das intensões de NÃO ao projeto de ajuste da CASSI está imensamente desconfiada do que pode haver por trás da CGPAR/23 e da própria direção do Banco do Brasil e do Governo Federal atual.

    Alguns colegas aposentados até lembram do que ocorreu com  a PREVI plano 1, quando se abriu a possibilidade dos executivos do BB serem aposentados com valores bem acima da média de contribuição, os estatutários.

    Nesse pequeno universo de colegas que conversei durante a semana deu-me a percepção, com base na cultura organizacional, na qual vivi 33 anos e 8 meses, de que coisas mais complexas, que exigem um pensar mais aguçado e uma leitura mais efetiva, lenta, gradual e reflexiva, são tratadas sem a profundidade necessária. Nos da ativa sinto que ocorre pela comunicação desviante do Banco do Brasil e imagino que nos aposentados, há um refluxo emocional e o desejo de libertação das amarras que o banco nos coloca ao longo da vida lá dentro, aprofundar nestas questões da CASSI não parece ser interessante.

  Bem, eu estava seguindo a corrente normal, me baseava apenas pelos comentários do Whatsapp, até que percebi, certo modo de comunicação padronizada, termos que foram utilizados na reunião que presenciei na AABB Recife, termos e argumentos iguais aos colocados pelos palestrantes, sequência do assuntos, argumentos, etc. Aí eu parei, estão querendo me convencer. A velha magia da comunicação, para o bem e para o mal. Lembrando disso eu resolvi agir, fui pesquisar sobre a inflação médica e achei um pequeno desvio nas contas projetadas.  Dias se passaram, vi alguns vídeos contestando as mudança da CASSI e resolvi estudar, ESTUDAR a proposta do novo estatuto da CASSI, estava até pronto para escrever mais algumas coisas a respeito, em detalhes, quando ontem, mais uma vez recebi o link tratando das críticas e alertando para as Fake News sobre a CASSI. Por causa disso resolvi concluir o estudo do novo estatuto. Mais alguns dias eu o termino e então posso escrever as minhas impressões a respeito dele. Se puderem, deem uma lida. Só faz bem para formar a sua opinião.


Abraço,
      

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Expurgando a raiva

                       Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.... Frase de Léon Tolstoi.

  
Cantarolando baixinho Elisa, repetindo a música que ouvia pelo fone, ela dizia: "Se quiserem saber porque foi que mudei, eu não vou responder porque nem mesmo sei", aí virou a esquina e parou, a enorme placa amarela com azul tomou a sua alma e ela ainda balbuciou, "Se eu esqueço de mim pra lembrar de você"(*). O marido exigente voltava a chama-la. 
    Elisa, personagem do romance a ser escrito, Inferno Premeditado.

  


     Há quase sete meses eu comecei um trabalho freelance. Depois de vários meses eu percebi que por baixo do meu comportamento impaciente naquele trabalho eu estava aregando com o Banco do Brasil.

      A arenga chegou ao seu ápice quando fui coagido para sair do BB em 2015 e eu prometi para mim que o expurgaria da minha vida, assim fiz, tanto quanto foi possível. Entre altos e baixos isto funcionou até recentemente.

     Por causa dessa circunstância entrei com ação por assédio moral. No final de janeiro deste ano houve a audiência de instrução do processo. Após os depoimentos eu saí aliviado. Foi minha "vingança" contra esse ser, uma medusa, que não morre nunca, um ser sem alma, incapaz de um mínimo de empatia. Foi nesse monstro que a empresa se transformou para mim, como um serial killer que nem as sucessivas condenações por assédio moral e outros danos psicológicos na Justiça do Trabalho o freia.

     A sentença de primeira instância demorou meses, quando recebi em maio a ligação do escritório de advocacia me informando do reconhecimento da magistrada para a existência do assédio moral eu senti um vazio. Um enorme vazio, fiquei calado, não vibrei, não me alegrei, causei estranheza a advogada que cuida do caso, que chegou a me perguntar se eu estava bem. Foi como se de repente tudo houvesse deixado de fazer sentido. Foi como se a morte de um inimigo jogasse a existência do vingador em um limbo. 

    Uns dois meses depois outro telefonema de outra advogada me deu conta do andamento processual, mais uma vez o vazio não preencheu nenhuma expectativa. Meu espírito para isto estava inerte, minha alma pobre.

     Mas nem sempre foi assim, vazio. Por pouco eu não entro em uma depressão, a experiência me aliviou de um maior sofrimento, a raiva me salvou de afundar na lama da angústia. Deliberadamente em comecei a me alimentar dela, até que eu vi perto de mim um dos líderes do assédio de 2015, pessoa para qual a minha raiva era francamente dirigida. Naquele dia eu me assustei, se o encontro tivesse ocorrido eu o teria agredido. Ao chegar em casa naquela manhã de domingo, pela primeira vez em muito tempo, muito tempo, muito, mesmo, eu fiz uma oração de agradecimento por ter chegado em casa apenas com meu kit domingueiro e me prostrei sobre o sofá imaginando o que poderia ter ocorrido.

    Posso afirmar que a raiva é uma boa coisa para sobreviver aos traumas, não a raiva assassina, mas a raiva por saber que foi enganado, ludibriado, a raiva que sua confiança foi quebrada. Tal raiva nos deixa alerta e dá energia para continuar lutando.

    Mas alguma coisa começou a mudar de maio para junho, no final deste mês vários amigos, que ainda labutam na empresa, postaram situações que se revelaram em um terror corporativo, um inferno premeditado. Só que não parou naquelas notícias, na virada do semestre um amigo, angustiado, me ligou dizendo que o seu gerente dormiu gerente e amanheceu escriturário, outras notícias de um downgrade em massa foram chegando. Esta metáfora da cultura corporativa que cinicamente diz que ao funcionário, você se ferrou, pois foi completamente descartado, em sua maioria.

     O aviso do amigo deu um enorme desconforto, mas aí começou a discussão sobre a situação da CASSI, essa super-exposição de assuntos em preto e branco, com o fundo invisível em azul e amarelo. As postagens continuadas, instantâneas, as discussões, muitas vezes fragmentadas, até raivosas,  começaram a fazer por mim algo que eu não percebia.

     Comecei a interagir com aqueles assuntos, comecei como nunca a prestar a atenção nas postagens do Whatsapp, mais que nunca voltei a aplicar meus conhecimentos da técnica científica da Análise de Conteúdo, aí se deu o resultado que eu desejava, o DNA do discurso cheio de artifícios para não mostrar as suas reais intensões continua presente nas tratativas da empresa perante os funcionários, mormento agora, ao se tratar da CASSI. Discurso que não vem colando com os aposentados.

    Nestes últimos três dias algo muito bom se revelou para mim, não posso apagar o BB da minha vida, como desejava, nem pelo lado bom, nem pelo lado ruim. A aceitação, que veio maturando na minha alma sem que eu percebesse, vai mudar minha postura. Vou combater o bom combate.
     
Meu abraço,


Ouça a bela canção.
(*) CONTRASENSO - Milton Carlos. 
     
      

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Números não ditos na proposta CASSI

        "Como a matemática pode ser usada para enganar você".  Charles Seife

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      Nas propostas de salvação da CASSI o que mais não foi dito?

    Após presenciar a reunião na AABB Recife vi que a curva da receita na proposta apresentada pela da diretoria da autogestão também tem um horizonte finito, como as demais apresentadas.

     Intrigado, após um post no grupo de Whatasapp de aposentados me chamar a atenção, eu cutuquei, cutuquei, cutuquei até que me lembrei: 
O que pega na assistência médica em geral é a sua maior despesa: os internamentos. Mas o que fode mesmo é a inflação médica. (*)

     
Aí fui ver, enquanto na proposta apresentada, em média, o crescimento projetado nas despesas com saúde dos associados gira em torno de uma média anual de cerca de 10%.

   A inflação médica variou de 15,40% em 2012 a 20,40%(*) em 2016. Percentual sempre acima do projetado na proposta divulgada, inclusive na proposta mãe. Com este histórico de encarecimento ascendente perante o plano de salvação a conta não vai ser equacionada nunca e não demorará, ela voltará a ficar estrangulada financeiramente.

   A CASSI está na UTI, no entanto, a solução apresentada NÃO REVELOU este por crítico, o que nos obrigará a outra discussão no futuro e talvez, imposição de outra medida que quebre o poder que o corpo social ainda tem, além de maior oneração financeira aos associados.

  O que mais não foi dito?




quinta-feira, 26 de julho de 2018

Três foguetes na praça

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    Na semana passada eu me encantei com a crônica Mar de Antonio Maria, pois ela tem a magia de um papo entre amigos, daqueles em que um escuta enquanto o outro fofoca. Achei um primor ele escrever "banho salgado" e não banho de mar.

    Vamos à nossa história. Lá pelo idos de 1991 nós estávamos em Caraúbas, quase Vale do Apodi, quase vizinho a Mossoró e onde em agosto jogar futebol de campo, atacando para fazer gol na barra de cima era tomar contra-ataque do vento.  

   Nesse tempo não havia playground, na AABB, duas piscinas de água salobra. Afora isto, haja criatividade para os meninos brincarem. Como a maioria das cidades do interior, ter uma praça grande é parte do padrão urbanístico brasileiro.  Sem praça grande não há a apoteose dos comícios políticos, nem da festa da padroeira e muito menos um desfile de Sete de Setembro que se preze. 

    Parecida com muitas outras cidades, Caraúbas tem a sua praça grande. Não era uma praça vistosa, ter verde naquele tempo, só se houvesse alguma parte pintada. Mas era uma praça e nela tínhamos um pequeno descanso na canseira que Victor e Rapha nos dava.
  
     A praça ainda hoje é retangular, como a maioria delas, no meio dela, alguns bancos, entre os passeios oblíquos, era só areia. A memória me diz que no canto de cima e a esquerda havia um bar. Mas o Google Earth em 2018 me informou que aquele pequeno quiosque se transformou  e há agora um enorme  pátio coberto.

     Depois de um tempo morando na cidade, nós começamos a ir nos finais de semana para esta praça para levarmos os meninos para brincarem. Era um segura ali, um segura lá, não deixa os meninos se sujarem, eles vão se relar. Sabe, muitas vezes a água corrente era escassa, a seca já nos apertava. Cheios de cuidados nós ficávamos pajeando os dois danados inquietos e cheios de energia.

    Na peleja de um desses passeios na praça, se aproximou um senhor, nosso conhecido, cabelos bem grisalhos.  Ele tinha idade para ser avô dos meninos. Com aquela paciência e com a voz mansa de quem cuidou de netos nós ficamos ali conversando um tempo, eu beirando os 33 anos e ele na casa do 60 anos. 

   Os minutos foram passando e eu fui me agoniando com as trelas dos meninos, pois queria controlar o impulso infantil, foi quando ele me disse: "deixe os meninos brincarem, garanto que eles vão gastar toda a energia e quando entrarem no carro, nem chegam em casa, já estarão  dormindo."

    Não sei se por respeito ao convívio, não sei por respeito a sua experiência de vida, provavelmente por não ter nenhum parâmetro de como lidar com a situação eu me calei e fiquei olhando os meninos trelando na praça, correndo alegres, só cuidando com Cida para eles não irem para onde os carros passavam.

    Quando a "boca da noite" chegou e escureceu a cidade, chamamos os meninos e fomos para casa, nem percorremos  um quilômetro, eles já dormiam esparramados no assento de trás do Monza, sem os costumeiros: "não rele em mim", frase que prenunciava uma nova briga.

    Nunca esqueci a sabedoria daquele avô e nem deixei mais de aplica-la na criação dos meninos, era mais ou menos assim, "pode brincar, cuidado com para não se machucar" e a gente soltava os danados até cansarem, agora eram três (*) foguetes correndo rasteiros ou subindo nos toboáguas.


Abraço,

(*) - Victor, Raphael e Philip.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Cabulei a crônica O MAR

  Um tributo a saudade.


  

Cronista pernambucano, famoso no Rio de Janeiro na década de 1960

O MAR
Banho de mar no Recife era “banho salgado”, e só se tomava com ordem médica, das cinco às sete da manhã. Antes do sol.
As roupas de banho das mulheres começavam numa touca, seguindo-se um casaco-sunga escuro (com aplicações róseas ou azuis) até os joelhos e sapatos de borracha.
Não devia confessar, mas sou do tempo do “banho salgado”. Acordávamos com a noite fechada, entrávamos em nossas roupas de banho e partíamos. De carro, para a Boa Viagem. Em jejum. Ai de quem tomasse café e caísse no mar. Contavam-se casos de pessoas que envesgaram ou ficaram com a boca torta. Tinha que ser em jejum como o da comunhão. Nem água.
A família só descia do automóvel  depois que o chofer, pessoa de confiança, fizesse um reconhecimento da área e garantisse  que não havia ninguém (homem) ali por perto.
Na praia, a pessoa mais velha mandava  que todos fizesse o “pelo sinal” e tirava uma ave-maria, a que todos respondiam, encomendando a alma a Deus, no caso de afogamento ou congestão.
– Botaram algodão nos ouvidos?
– Botamos.
Davam-se as mãos, moços e crianças, entravam no mar, até a cintura.
– Um, dois três ... e já!
E mergulhavam agoniados, de mãos dadas, olhos, ouvidos, boca e nariz tapados.
Essas minhas lembranças vêm de 1928. Apenas 33 anos.  Mas o mar era uma novidade. Um desconhecido. Fazia-se cerimônia com ele.  Tinha-se medo dele.  Mar de 1928 era ainda o mar de Castro Alves. Soleníssimo: “Stamos em pleno mar!” Fazia medo. O mar de hoje é o de Caymmi. Abrandou. Tornou-se íntimo. Ninguém respeita.

É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar...

Daquele mar do Recife, ficou uma lembrança: o cheiro dos sargaços. A quem os teve, sargaços na infância, por mais que ande, por mais feliz que esteja, faltará alguma coisa.
18/11/1961


Fonte: blog Panorama


Abraço,


PS: 

Até que escrevi a crônica da semana, Libertação, mas por prudência e para ter uma reflexão mais aprofundada a deixei fermentando, se der um pão vistoso, publico, se a massa muchar, fica apenas para rascunho.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

O Brasil recalcado

     
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    Tempos atrás eu estava lendo sobre o nazismo quando li algo sobre Elias Canetti e seu livro "Massa e poder". Comprei o livro e comecei a leitura, não li muito, mas deu para me ajudar a entender o seu conceito de Massa e algumas das formas como a Massa se forma. Elias Canetti disse em certo instante que a Massa tende a se formar e esvaziar rapidamente, como não li todo o livro, vou deixar as suas demais considerações para esse fenômeno para outro momento.

    Mas o que ocorreu no último domingo, quando toda a confusão se formou em decorrência do despacho habeas corpus a favor Lula, trouxe motivação para Luis Nassif expressar a sua preocupação em um artigo recente. Não é um artigo partidário, é um artigo que me levou à reflexão como um cidadão comum, sem desejo de se envolver perante todos os problemas institucionais e da política brasileira.

    É um dilema não saber qual rumo tomar, é um dilema imenso não saber onde depositar a minha esperança, em quem depositar minha confiança, porque confiar mesmo, não confio em ninguém.

    Mas a desesperança não é uma expressão que acolheu a minha alma apenas, ela pegou muitos outros brasileiros e não veio "pela graça do divino". Quase tudo foi fabricado a partir da investigação da Lava-Jato, foi na determinação de expurgar a corrupção e corruptores de todas as latitudes que abriu uma enorme "falha de San Andrés" (*) no tecido institucional brasileiro, a ponto de que o respeito a hierarquia na justiça brasileira não existir mais.  Temos, é o que parece, um oficial graduado mandando na graduação máxima de uma cúpula rachada e que parece, não se faz respeitar, que não usa o poder institucional diante de abusos de poder.

     O que tem isso com Massa? Tudo, cada evento como o de domingo alimenta a enorme máquina de distração. Somos uma enorme massa a serviço de manipuladores, sendo retroalimentada periodicamente, instigada regularmente para que sejamos apenas repetidores de um discurso desviante e não enxerguemos a realidade.

     Veja leitor, também no último domingo, dentro de um grupo de whatsapp, formado com um propósito definido de acompanhar o problema de um plano de saúde coletivo, só que ao ser divulgado o despacho do desembargador Favreto o pau cantou. Nesse grupo cresceu a já velha, costumeira e peculiar intolerância, um bate boca virtual se formou com "direito" a xingamentos e provocando a debandada de muitos interessados apenas no objetivo inicial da formação do grupo.

    Será que vivemos em um Brasil recalcado? Com todos os rancores saindo pelos poros? O que você acha?

    Intolerância, preconceito, rancor, inveja, frustração, despeito, ódio, falta de paz de espírito, desamor, sentimento de injustiça, desemprego, fome, violência, desapontamento ...

    O que a gente tem é um caldeirão fervendo, destilando todo ódio que uma pessoa seja capaz, uma coletividade odiando, sem ao menos saber porque odeia. Tal contexto se dá por uma razão bem sutil, mal conseguimos pensar por nós nessa quadra de afetos regressivos constantemente estimulados e bombardeados pelas mensagens de ódio de todos os naipes.

   O que disse Luis Nassif? Estamos caminhando para uma ditadura? Só o tempo dirá.

   Forme sua própria opinião, leia mais, reflita mais, pondere mais, compare as opiniões.

Abraço,



Aprofunde, leia a visão crítica deste jornalista, em uma versão mais ampla:


(*) Falha geológica existente na Califórnia, de grande risco para um terremoto de grandes proporções para Los Angeles.

     


O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...