Na semana passada eu me encantei com a crônica Mar de Antonio Maria, pois ela tem a magia de um papo entre amigos, daqueles em que um escuta enquanto o outro fofoca. Achei um primor ele escrever "banho salgado" e não banho de mar.
Vamos à nossa história. Lá pelo idos de 1991 nós estávamos em Caraúbas, quase Vale do Apodi, quase vizinho a Mossoró e onde em agosto jogar futebol de campo, atacando para fazer gol na barra de cima era tomar contra-ataque do vento.
Nesse tempo não havia playground, na AABB, duas piscinas de água salobra. Afora isto, haja criatividade para os meninos brincarem. Como a maioria das cidades do interior, ter uma praça grande é parte do padrão urbanístico brasileiro. Sem praça grande não há a apoteose dos comícios políticos, nem da festa da padroeira e muito menos um desfile de Sete de Setembro que se preze.
Parecida com muitas outras cidades, Caraúbas tem a sua praça grande. Não era uma praça vistosa, ter verde naquele tempo, só se houvesse alguma parte pintada. Mas era uma praça e nela tínhamos um pequeno descanso na canseira que Victor e Rapha nos dava.
A praça ainda hoje é retangular, como a maioria delas, no meio dela, alguns bancos, entre os passeios oblíquos, era só areia. A memória me diz que no canto de cima e a esquerda havia um bar. Mas o Google Earth em 2018 me informou que aquele pequeno quiosque se transformou e há agora um enorme pátio coberto.
Depois de um tempo morando na cidade, nós começamos a ir nos finais de semana para esta praça para levarmos os meninos para brincarem. Era um segura ali, um segura lá, não deixa os meninos se sujarem, eles vão se relar. Sabe, muitas vezes a água corrente era escassa, a seca já nos apertava. Cheios de cuidados nós ficávamos pajeando os dois danados inquietos e cheios de energia.
Na peleja de um desses passeios na praça, se aproximou um senhor, nosso conhecido, cabelos bem grisalhos. Ele tinha idade para ser avô dos meninos. Com aquela paciência e com a voz mansa de quem cuidou de netos nós ficamos ali conversando um tempo, eu beirando os 33 anos e ele na casa do 60 anos.
Os minutos foram passando e eu fui me agoniando com as trelas dos meninos, pois queria controlar o impulso infantil, foi quando ele me disse: "deixe os meninos brincarem, garanto que eles vão gastar toda a energia e quando entrarem no carro, nem chegam em casa, já estarão dormindo."
Não sei se por respeito ao convívio, não sei por respeito a sua experiência de vida, provavelmente por não ter nenhum parâmetro de como lidar com a situação eu me calei e fiquei olhando os meninos trelando na praça, correndo alegres, só cuidando com Cida para eles não irem para onde os carros passavam.
Quando a "boca da noite" chegou e escureceu a cidade, chamamos os meninos e fomos para casa, nem percorremos um quilômetro, eles já dormiam esparramados no assento de trás do Monza, sem os costumeiros: "não rele em mim", frase que prenunciava uma nova briga.
Nunca esqueci a sabedoria daquele avô e nem deixei mais de aplica-la na criação dos meninos, era mais ou menos assim, "pode brincar, cuidado com para não se machucar" e a gente soltava os danados até cansarem, agora eram três (*) foguetes correndo rasteiros ou subindo nos toboáguas.
Abraço,
(*) - Victor, Raphael e Philip.