sexta-feira, 3 de abril de 2020

Na vida só tenho certeza de uma coisa ... O novo normal

# Sextou # Crônica # Deixe seu comentário

O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas...... Frase de Bertrand Russell.

Passei a semana oscilando, arranhando os sentimentos depressivos, catucando a angústia, escapando pela literatura, puxando as lembranças dos momentos de resiliência e tentando achar o novo normal nessa Quarentena.

Essa mistura de estados emocionais me deu um excesso de assuntos e como tem tanta gente se manifestando ....

Nem sei mais que é pré da pré crise, pré da pandemia leve e o que é atual. Tudo isto, por incrível que pareça me deu uma escassez sobre o que escrever. Sobre o que mesmo? 

Era o dilema do personagem Mário, do romance A Puta Rainha, que no meio da enormidade de posts das redes sociais via uma enorme escassez de profundidade. Para um jornalista como ele, que tinha a missão de escrever "histórias humanas", tudo era muito raso.

Agora eu vi no dilema inverso, tudo parece ser muito profundo. As explicações dos médicos e profissionais da saúde. As implicações da economia e na economia, as implicações enormes para as pessoas, da doença à fome, passando pela angústia do desemprego, da doença e do medo. Tudo é muito sério. Uma seriedade que não cansa, embora tenha pessoas, que em sua "santa" teimosia, teima contra o óbvio. A certeza que vai adoecer.

Antes a gente só tinha a morte como certeza absoluta na vida, parece que Deus colocou essa outra certeza, pelo mesmo menos por enquanto: Você vai adoecer do novo coronavírus.

Essa certeza, por falta da cura, é estampada nas expressões de todos. Não tem ninguém, nenhum que vai passar salvo por ele, até que a vacina seja criada e espalhada pelo mundo.

Uma outra coisa que veio rebolando na minha cabeça é como os países se prepararam para essa pandemia. Os Estados Unidos tripudiaram, Trump, né. Tripudiou do efeito do coronavírus. Tá aí, arriado de joelhos para seus efeitos pesados. 

Trouxe esse exemplo por me lembrado de uma frase que li no departamento de pessoal da Prefeitura de Igarassu, aqui perto de Recife. A frase dizia, mais ou menos assim: "QUANDO NÃO SE FAZ A TEMPO, TUDO É URGENTE." Sábio, né?

Há nove anos eu cursava um mestrado na UFPE e tive aulas de inteligência competitiva. Em uma das aulas, o professor Abraham Sicsu mencionou um indicador de nome "Sinais Fracos". É que tais sinais, se não forem bem interpretados poderão ficar fortes e se tornarem um problema muito sério. 

Sabe, desde de então, a lembrança do assunto sempre volta. O primeiro sinal do COVID-19 foi feito por um médico chinês e o estado chinês tratou ele como caso de polícia. Quando a China disse que enfrentava um problema sério de saúde pública, as nações dormiram diante deste sinal, que não era tão fraco, mas era geograficamente muito longe.  Faltou uma coisa assim: COMO É MESMO ESSE NEGÓCIO? VAMOS VER.

Voltando para gestão da crise. A lógica da prevenção é a seguinte: RETARDE O SEU CONTÁGIO, SENÃO ALGUÉM PODE ESCOLHER UM MAIS NOVO (E PRODUTIVO) PARA VIVER. 

Captou a lógica. Captou a dureza dessa lógica. Captou a lógica demográfica. Mais novo tem mais tempo de vida, mais tempo para produzir para a economia. Não é só a questão de ser mais saudável e o organismo ter mais resistência. 

Sabe, tem um paradigma da Ciência Econômica que diz, mais ou menos  o seguinte: Os recursos são escassos e as necessidades humanas ilimitadas. Este é o momento em que isto está mais sendo percebido e de modo muito mais doloroso.

Pelos menos, por enquanto, temos que conviver com essa outra certeza. Essa outra certeza tá fazendo eu perceber certos hábitos: cutuco o nariz, por fora e dentro dele, constantemente. O ressecamento provoca um incômodo, devo perceber quando começar a ocorrer. Não consegui ainda essa disciplina, mas evolui na percepção que poderia espirrar. Durante dez dias eu controlei a renite e não espirrei. 

Agora venho pensando nos passos para otimizar a lavagem das mãos. É tudo tão inconstante, caótico, que muitas vezes eu lavo a mão cinco, seis vezes em dez minutos.

Bem, fiquem aí com estas duas certezas. O novo normal.

Abraço #FIQUEEMCASA 

Marconi Urquiza 



sexta-feira, 27 de março de 2020

Quarentena

# Sextou # Crônica # Deixe seu comentário

A responsabilidade de todos é o único caminho para a sobrevivência humana.... Frase de Dalai Lama.
Estamos vivendo tempos de uma Caminhada Peregrina de Santiago Compostela às avessas. Em uma caminhada deste nível, os nossos fantasmas rondam à memória, talvez alguns desses fantasmas possam estar ao nosso lado agora. Sentado, vendo TV, comendo, falando. Pode ser que uma antipatia, fugidia, que faz a pessoa se refugiar no mundo, tenha que transformá-la em uma antipatia tolerável, bloqueada pela uma força invisível do Coronavírus. A quarentena nos impõe perceber estes fantasmas.

Mas tal antipatia se torna mais difícil quando ela é contra nós mesmos, com os nossos arrependimentos, do temor de deixar alguns projetos pelo meio do caminho, que na vida, "tudo poderia ter sido diferente" ou se, "eu escapar dessa, você fazer ....", é neste aspecto que esbarra a mudança. 

Ontem eu vi um vídeo de Rolando Boldrin, uma linda e profunda mensagem psicografada sobre este momento do planeta. Onde antes tudo era negado, onde os fatores econômicos e de poder mandavam na agenda, o social e humano, que fossem para o pau.

Nem sei se posso falar em ironia dos tempos, ao sair da China, o danado do coronavírus começou pelos que podiam viajar pelo mundo. Caprichou primeiro em pegar os mais ricos. Pode ser a elite? Na falta de melhor termo, fica mesmo elite. Alguém se lembra da história bíblica, das pragas do Egito, que pegou o filho do faraó. Tem sido aquela sofrência. 

Mais individual, impossível. Mais individual que nunca, uma quarentena nos leva a ficar nervosos, agitados, reclamões, às vezes, brutos, descorteses. Talvez violentos e depois, quando essa sofrência for demorando, a missa começará a ser compreendida. A missa da paciência, da solidariedade mútua, da conversa boa, que em algum momento poderá chegar.  O silêncio também começou a dar às caras.

Vi imagens dos canais de Veneza onde se vê o fundo deles.  O ar está limpo, as cidades estão menos ruidosas. As pessoas estão mais contemplativas. Quem sabe, lendo mais. É preciso pacificar a mente, ativar o corpo. Ser disciplinado e profundamente compreensivo. 

Os valores humanos, como a compaixão, demoram a vir à tona. Quem nunca teve, pode ser que esteja precisando da solidariedade. Vai dizer: "Muito obrigado"? Vai dizer: "Que Deus te pague?"  Vai pensar: "Conte comigo, se precisar?" Vai mesmo fazer isto quando for possível?

Vamos nos ocupar com sabedoria, quem sabe resgatando a fantasia, aquela fantasia que faz uma criança criar brinquedos, inventar mundos e sair deles saudáveis ao ser chamada: "Vem meninos, a comida tá na mesa.Vem logo que eu preciso tirar a mesa." A gente nem chegava, a urgência já estava posta. Em outro tempos, a meta já estava nos empurrando, sem pensar, só reagindo. 

Mesmo para quem tem as metas no trabalho, a dinâmica mudou. Os oportunistas dos tempos já colocaram as suas garras, as fakenews políticas perderam a importância, a ordem do momento são as pessoas, proteger a si mesma, proteger os outros não sendo um agente de distribuição do vírus e ter a ajuda dos filhos, dos amigos, do vizinho do prédio, a quem quase nunca vemos. Do zelador do prédio, sempre tão prestativo e por aí vai.

Bem, não vou dizer que descobri hoje, já sabia que havia vários. Mas já contei dez livros não lidos que comprei nos últimos anos. Devo ter mais. 

Por fim, Quem não sabe não seja a hora de você escrever, contar os seus causos, gravar vídeos contando eles. Quando mais engraçado melhor.  Quem sabe você aproveita este momento para praticar a paciência. Escrever vai lhe dar uma mente pacificada ou a fé, como nos disse o Dalai Lama: "Somente a fé remove a desordem mental e devolve a clareza de espírito." Este deve ser o melhor caminho.

Para não ficar apenas na conversa vazia, hoje estou treinado, posso ajudar  a quem se dispuser a escrever.


Deus te pague amiga, amigo, pela paciência de me ler.

Abração, Marconi Urquiza

PS: 
Ligue, estou à disposição: 81-99595.8424 (Whatsapp também) ou marconiurquiza19@gmail.com









sexta-feira, 20 de março de 2020

Eu estou com medo ... O medo bom

# Sextou # Crônica # Deixe seu comentário

A confiança é a mãe do descuido.... Frase de Baltasar Gracián y Morales.


Depois de seis dias de recluso, ontem eu dei uma saída para pegar dinheiro e comprar medicamentos. Podia estar contente, nestes seis dias consegui escrever quase cem páginas e conclui um romance inacabado desde 1999. Foi o medo que aumentou minha capacidade criativa e o sentido de urgência a me dar foco e energia para redigir até 10 horas diárias.

Pois bem, saí de casa e fui comprar uma tomada para ar-condicionado, uma dos funcionários falava sobre a pandemia, outro em cinco minutos higienizou as mãos duas vezes. 

Cheguei no ETC (misto de galeria com escritórios diversos). Precisava utilizar uma conta da Caixa Federal. Senti algumas pessoas preocupadas. Nas Lojas Americanas presenciei a mãe e sua filha conversando e se aproximando demais das pessoas. Não sei se negavam a realidade ou eram imprudentes. Me incomodou e dei dois passos para frente.

Dentro do shopping olhei a Lotérica, costumeiramente cheia, estava vazia. Olhei e vi alguns idosos passando por lá, vi tensão e vi muito medo. Medo. Talvez o mesmo medo que meu rosto revelava.

Dali fui na farmácia da mesma galeria, não esperei, mesmo os fregueses, dois apenas, guardando distância, o ambiente era muito pequeno. Saí do ETC e passei em uma loja, ali perto, fui comprar um borrifador. Freguesia não vi. Ouvi uma das funcionárias falando um tanto despreocupada, quando perguntei se havia borrifador ela me levou onde estava, mas sua expressão mudou.

Saí desta loja em fui em outra farmácia, que tem um movimento mais fraco. A primeira coisa que notei, a sua porta estava aberta, escancarada. Era costumeiramente fechada por causa do ar-condicionado. Pedi três meses dos medicamentos aos quais devo diariamente tomar. Não esperei que a CASSI me mandasse.

Enquanto eu aguardava o atendente despachar meus pedidos, uma senhora, mais idosa que os meus sessenta anos entrou e perguntou por álcool em gel. "Não". Ela, guardando distância, correspondeu ao meu olhar, e na expressão dela, havia o maior dos medos. 

Tem medo ruim, tem. TEM TAMBÉM O MEDO BOM, tem e neste momento o medo de ser contagiado é um medo bom, que deve ser seguido pelas medidas de higiene, pelo isolamento social. Pela autodefesa, que se deve ser coletiva.

Ontem quando eu voltei, uma nova contagem regressiva recomeçou, a do aumento do risco de contágio, infelizmente, hoje de novo. A minha esposa foi ao supermercado. 

Tempos atrás, há um bocado de anos, eu tinha uma certa predileção por leituras, digamos mais técnicas. Alguns filósofos antigos entraram nessas leituras, um deles foi o Baltasar Gracián, espanhol do século 16. Dele eu comprei A Arte da Prudência. Li parte do livro com gosto, não lembro mais o que nele me chamou a atenção, mas hoje, diante do quadro do Coronavírus trago dele, este ensinamento:

"NÃO DEVEMOS PERDER UMA HORA, POIS  NÃO ESTAMOS SEGURO NEM DE UM MINUTO".


Abraço, saúde e paz.
Marconi Urquiza








sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

A Estética da Mentira

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Desconfiado que estavam mentindo para mim eu comprei o livro: Como Detectar Mentiras, de Paul Ekman. Por achar que não valia a pena prosseguir com tal investigação, encostei o livro e a ideia que me perturbava. 

Aí, muitos anos depois veio o caso da demissão do Rodrigo Alvim, pelo atual Governo Federal, por usar em um vídeo a estética nazista de mentir. Contraditório para passar informações falsas,  e não contraditório pelo potencial de perda política.  Alguém se lembra que foi veiculado que o nazismo era de esquerda?

Mais uma vez eu me levantei para escrever algo sobre os modos de mentir.  Pedi ajuda ao Prof. Denílson,  que me enviou dois artigos.  Catuquei para lá e desisti,  cá.  A tarefa ia além das minhas rasas pretensões.  Parei.

Não é que no último domingo eu estava lendo o livro: O Vendedor de Passados,  de José Eduardo Agualusa, e me deparei com uma página inteira, a 138, onde ele cria o Ministério da Informação,  cuja função era propagar informações falsas. O texto é uma fala  indireta do personagem José Buchmann, cujo teor é o seguinte:

"Contou que numa pequena ilha do Pacífico, onde vivera alguns meses, a mentira era considerada o mais sólido pilar da sociedade. O Ministério da Informação, instituição venerada, quase sagrada, estava encarregue de criar e propagar notícias falsas. Um vez à solta entre as multidões, essas notícias cresciam, adquiriam formas novas, eventualmente contraditórias, gerando amplos movimentos populares e dinamizando a sociedade. Imaginemos que o desemprego atingia níveis considerados perigosos. O Ministério da Informação, ou, simplesmente O Ministério, punha a circular notícias segundo as quais fora encontrado petróleo em águas profundas, porém ainda dentro da zona marítima exclusiva do país. A possibilidade de uma eminente explosão econômica revitaliza o comércio, os técnicos expatriados regressavam a casa, desejosos de colaborar na reconstrução, e em poucos meses nasciam novas empresas e novos empregos. 
    Aí o narrador cita o caso de um opositor que lhe é imputado uma amante, mas que não era e nem ele conhecia a mulher.  Ela a conhece,  larga a esposa e casa com amante propagada pelo Ministério. 
       ....
- A impossibilidade de controlar os rumores - concluiu - é a principal virtude daquele sistema. É isso que confere ao Ministério uma natureza quase divina - xeque ao Rei!"
   Nem sempre, é claro, as coisas corriam da maneira prevista pelos técnicos. 

Mais atual, impossível. Pois bem.  O livro é de 2004. 12 anos antes de Donald Trump transformar essa estratégia em um sucesso mundial. 

Você se lembra do ditado? "Quem pode mais,  pode menos".  Para disparar tanta mentira e desinformação em escala de produção em série precisa de dinheiro,  precisa de gente preparada, precisa comprar meios tecnológicos e a crença que tudo não passa de algo bem trivial. Pior que é, mentir é trivial, não mentir é exceção. Trivial não é viver apenas de mentir ou da desinformação. Era, virou trivial.   

Essa Gente preparada, que se arrenda por valor alto por quem seja capaz pagar muito dinheiro. Gente com conhecimento elevado de Psicologia Social e não apenas intuitiva, que tenha capacidade de arregimentar uma multidão para serem "soldados" propagadores, de graça. Seja por crença, seja por terem vergonha de admitir que foram enganados, seja por gostarem de seguir quem lhes parece mais forte que a si mesmo, seja apenas por que o que chega a elas uma justificativa um modo de ver os fatos, já anteriormente admitido como verdadeiro. Essa lista não se esgota facilmente.

Uma outra questão, é que os líderes da horda da DESINFORMAÇÃO não respeita nem a lei, a não ser que lei seja encomendada por tais líderes. 

O que se tem é toda ordem de ação abusiva.  Para se lidar com pessoas deste tipo, a que moldar o espírito para lutar. Jogar duro é o nome do jogo. Jogar em o nome da defesa da paz, é talvez jogar sem ética. Pode ser o caminho de um tipo de guerra, mas quem só entende esta linguagem, dizer bom dia, faz ser interpretado como fraco.

Sabe o que para gente abusiva? Um muro com 10 metros de largura e o dobro de altura. 

O pior, é que os instrumentos legais existem, os meios de combater, no momento, parecem ser iguais ao ditado: "É como enxugar gelo". Segundo a  Rogério Galloro (*), delegado da Polícia Federal e assessor especial do Tribunal Superior Eleitoral, a saída é haver EDUCAÇÃO DIGITAL. É um indivíduo filtrando o que lhes chega.

Entendeu?

Abraço, 




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

1ª Entrevista ao vivo, ninguém .... Futebol

Futebol foi desde os 11 anos uma paixão para jogar, depois, aos poucos, foi se transformando em uma predileção para assistir às partidas, muito tempo depois eu quis estudar o futebol para entender melhor o esporte. Tática,  gestão,  preparação física, ambiente interno e por aí vai.  Nessa época comprei uma pequena biblioteca.  Uns 10 livros. Era 2003. Deste período dois livros me ajudaram a entender um pouco o futebol: Universo Tático do Futebol e Ciência do Futebol (conferi na internet).

Também foi nessa época que comecei a ser comentarista de futebol.  Rádio Tambor FM e depois Rádio Integração FM, em Surubim, PE. Só isto já vale uma  crônica. 

Mas a paixão era mesmo jogar. Quando fui a Afogados da Ingazeira no dia 02 deste mês eu fiz questão de primeiro ir ao minicampo da AABB,  pedi para ser fotografado junto a trave de uma dos gols, pois me recordei das tantas peladas que joguei lá ao longo de cinco anos. 

Nessa esteira de recordações, eu me lembrei do primeiro jogo na cidade. O colega Seba me convidou para jogar em um sítio. Campão. Felizmente um campo bom, mesmo sem grama. 

Entrei de quarto-zagueiro.  No primeiro tempo tomamos um gol.  Perdendo de 1 x 0, tentamos empatar,  mas não é que nosso ponta esquerda rasga uma dividida e dá uma bomba, gol. Nunca vi algo daquele jeito. 

Veio o segundo tempo. Minha chuteira não gostou dos meus pés de pele fina e foi criando calos, bolhas, eram tantas que mal conseguia andar.

Tomamos o segundo gol. Perdíamos de 2 x 1. Em certo momento,  sem ter condições de correr eu me mandei para frente e fiquei por lá, na chamada zona morta,  mas não é que uma bola escapa para mim, quase sem marcação eu consegui cruzar do lado esquerdo,  meio de trivela, meio de bico e aquele touro do ponta-esquerda acertou outro chute e empatou. 

Nos últimos minutos, o tempo escurecendo, eu fiquei lá na ponta esquerda,  escondido,  torcendo que não viesse nenhuma bola.

Quando acabou o jogo, eu pode dar uma alívio aos pés.  Sabe, dos cinco dedos do pé direito três estavam estropiados.  Bolhas estouradas. Danei cuspe nelas na esperança de aliviar o ardor, burrice, ardeu foi mais.

Depois dessa estréia, eu viajei mais uma três anos no tempo, fui para o minicampo da AABB Afogados. Era um sábado à tarde, tinha chovido. O campo de terra estava macio.  Eu saí da defesa pelo lado esquerdo em um contra-ataque e cheguei a um metro da linha de fundo. Jogada rápida,  quando dominei a bola e levantei a cabeça, a defesa estava paralela ao goleiro.  Olhei para o outro lado e vi Pádua chegando por trás da zaga,  eu pensei em tocar por baixo da bola e passar para ele  cabecear,  o problema é que eu não sabia fazer isso. Naquela fração de segundos, eu vi o goleiro dando dois passos na ideia que eu iria cruzar e ele se afastou do pé do poste. Quando vi ele se movimentando para a direita, eu dei um tapa na bola em direção ao gol e no contrapé dele,  enquanto ele ia para o meio da área, a bola, que não foi forte, entrou no gol raspando o poste.

Foi um dos gols mais bonitos que fiz.

Mas desta época vem a minha maior satisfação de um peladeiro. Ser a preferência na escolha dos times das peladas da AABB Afogados da Ingazeira nas terças e nas quintas-feiras.

A satisfação cresce quando digo que joguei a vida toda como zagueiro.  Eu tinha um preparo físico excepcional. Havia vindo do futebol de campo da Universidade Rural de Recife, então minicampo era um pouco maior que uma grande área. 

Era tanta saúde que eu conseguia cobrir quase toda a defesa. Corria solto,  chegava fácil no outro gol.

Mas teve um dia que eu tive que tirar a cabeça.  Amistoso com um time de Iguaraci, PE. No time deles tinha um ponta direita, forte pra burro, corria e chutava como poucos,  não é que ele dribla para o lado direito e sapeca um chute, daqueles que bola estala.  Eu estava na linha do chute, a uns cinco metros. Ela subiu na altura da minha cabeça,  a um 1,88 m, plantei os pés e segurei a bolada. 

Beleza! Mais ou menos. Fiquei com uma dor de cabeça medonha. 

Bom, o jogo continuou,  não é que  o cara sapeca outro chute. Forte, tal qual o outro e eu estava de novo na linha da bola, só que dessa vez, no último segundo, eu me abaixei e matei o goleiro,  a bola estufou a rede. Só ouvi a reclamação dele e eu dizendo algo : Tu tá doido eu botar a cabeça de novo nessa bola!

Mas um dia, para encerrar esta crônica,  houve um torneio de minicampo.  Nosso time precisava fazer 6 x 0 para se classificar e só fez 2. Todo mundo correu demais.  Estávamos cansados, eu fui um dos últimos a sair do campo.  Quando fui chegando na lateral do campo, perto da linha de fundo da sede da AABB Afogados, eu vi uma pessoa se aproximando  rápido, foi perguntando como tinha sido o jogo e já colocou o microfone para eu responder. Nem sei o que disse, mas acho que respondi igual a todo jogador que é  pego de surpresa e nunca falou ao vivo: "É o jogo foi difícil; O adversário marcou bem; não fizemos o placar necessário", etc, mas, um etc curtinho.

Minha primeira e única entrevista na longa carreira de peladeiro, ainda em campo.

Abraço e bom carnaval.

Marconi 



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Tchau querido, cheguei na obra

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Peguei o carro no lava-jato e decidi levar o laudo médico na AABB Recife, laudo que me permite praticar futebol sem riscos cardíacos.  Pois bem, desci a Avenida Rosa e Silva entrei na Rua do Futuro e nem nela, nem nas imediações da AABB eu encontrei vaga para estacionar.

Segui para a Avenida Rui Barbosa e fiz a volta pela Rua Santos Dumont. Foi aqui que encontrei a minha companheira de viagem. 

Na calçada, ela andava devagar e me chamou a atenção por causa da sua estatura. A jovem era alta para os padrões daqui.

     Com o trânsito bem devagar, passei por ela e parei mais um pouco à frente. Andei mais alguns metros e o sinal fechou. Ela se aproximou e passou pelo carro. Prestei atenção pela segunda vez.

Camisa azul, calça jeans, bota de quem trabalha na construção civil, cabelo preso com um coque. Um pouco mais adiante passei por ela de novo e a vi pela terceira vez. Parecia cansada, mais para uma tensão contida. O rosto emoldurado pelos óculos estava sério. O pensamento parecia bloquear a percepção do que havia ao redor.

Quando dobrei  na esquina da Rosa e Silva a perdi de vista e só vim encontrar com ela na manhã de ontem, ao imaginar qual teria sido a causa da sua tensão. 

Por uma daquelas cargas da mente, um quadro se formou em minha mente.

* * *

Pois bem. Dali, da Rua do Futuro, ela chegou em casa. Havia saído antes do marido para ir ao trabalho. Os utensílios que ela utilizou pela manhã estavam lavados e secos. Mas ela passou direto para o banheiro do seu quarto. Iria recolher a rua suja para lavar. Ao passar pelo quarto viu a toalha molhada jogada sobre a cama de casal, roupas largadas no chão, mal acomodadas na gaveta, fruto da indecisão do seu marido, de três anos, na escolha da roupa que levaria para jogar futebol.

Era quarta, dia da pelada dele. Só chegaria em casa depois das nove horas da noite.

        Ela recolheu a roupa suja, pegou a toalha e estendeu sobre o box. "Ele que busque uma toalha enxuta." Com contrariedade viu o lençol que ele deixou de qualquer modo. Irritada o cheirou, suado, recolheu também para lavar. Passou uma mão sobre a cama, espalhou a coberta e voltou a pegar a roupa para lavar.

Quando chegou na cozinha, estavam espalhados, sujos, os utensílios que ele utilizou para comer. "Nem coloca na pia. Nem molha para facilitar a lavagem." Deixou assim mesmo. Tomou um copo d`água. Levou as roupas, olhou o restante das roupas sujas. No sapateiro viu tudo deslocado. A procura pela chuteira não importava se os outros sapatos se esparramassem no chão.

Algo foi enchendo dentro dela. Um calor foi chegando no rosto. Separou as roupas do cesto, as que havia trazido, largou a roupa dele, pegou as suas. Deu fome. Entrou na cozinha, fez um sanduíche, comeu com uma xícara de café solúvel. Lavou estes utensílios e voltou para perto da lavadora de roupas. Ao chegar perto dela seu calor aumentou e a fúria se revelou. Tirou a roupa suada, embolou e as jogou dentro da lavadora. Tirou o sutiã e  a calcinha, também jogou dentro da máquina de lavar. Não se importou que a sua nudez fosse vista por vizinhos. Na mesma hora mudou de ideia, retirou a camisa e a calça suadas e cheias de poeira e saiu andando nua para o banheiro. Se banhou do pescoço para baixo, não colocou desodorante, voltou a vestir a camisa e a calça utilizadas todo o dia no trabalho. Dia que andou sob um sol forte, vistoriando a obra na qual trabalhava.

        Deitou com a roupa suja. A raiva cedeu, a adrenalina baixou e ela dormiu como se estivesse dopada.

- * -

Ele chegou, disse "Querida", foi logo na cozinha, na certeza de que seu lanche estivesse pronto sobre a mesa. Nada. Teve que fazer. Foi na área de serviço e jogou a roupa suada no cesto. A sua ainda estava lá. Levantou a cabeça e viu no varal, secando, apenas as roupas dela. Se irritou. Saiu dali e foi no quarto, sentiu o cheiro de suor e a viu vestida com a roupa do trabalho.

Seu nariz sensível não gostou, voltou para o armário, pegou outra toalha e tomou banho no banheiro social e foi dormir no outro quarto. No dia seguinte, ela saiu às cinco horas da manhã e fez apenas a sua comida.


- * -

        Uma hora depois recebeu uma mensagem:
- Meu café?
- Faz aí
- Pq
- Acordei atrasada
- Vc nunca acorda
- Hj acordei
- Minha roupa não tá lavada
- Lava aí
- Pq
- Tava com muito sono e minha roupa não pode se misturar com a sua
- O guarda roupa tá uma bagunça
- Arruma aí
- Não tenho tempo
- Nem eu. Tchau querido cheguei na obra

* * *

Bom final de semana,
Marconi Urquiza

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