terça-feira, 20 de junho de 2023

DAS PROFUNDEZAS DO SEU CORAÇÃO

 

Arte: Munique Brum

                                                                                 A Arnon Pinheiro ✝✝


        A Arnon Pinheiro pelo momento único, especial e profundo que nos proporcionou.

        Tive com ele uma curta convivência, um ano, dois anos, se muito, logo ele foi trabalhar como Menor Aprendiz no Banco do Brasil e por isso mudamos de sala no Colégio Estadual. Assim chamávamos o Colégio Estadual Frei Caetano de Messina. Depois saí de Bom Conselho e mal lembro tê-lo encontrado em mais de 5 minutos de conversa nos 50 anos seguintes.

       Aqui, ali, espaçados eu ouvia alguma notícia dele. Nesta altura éramos colegas efetivos do Banco do Brasil e ele havia tido dificuldades trabalhando na empresa. Apenas isso sobre ele. Família, filhos, onde residia, onde trabalhava, se conseguiu se aposentar. Nada, nada de informações.

        No entanto, todas, todas as vezes que seu nome era lembrado, qualquer coisa que citasse Arnon eu recordava daquela manhã no Colégio Estadual.

        A canção era conhecida e havia se espalhado pelo Brasil inteiro, ela contava uma história dolorida e deixava antever um amor imenso. Houve até filme, também de sucesso, a narrar aquela história. Era uma sensação recente naquele tempo.

        Aí naquela manhã. A lembrança do que houve antes e depois é fugídia, então vou criar.

        Pode ter ocorrido na aula de Português ou na aula do professor Clívio Cavalcanti ou na apresentação dos alunos. Na vez de Arnon ele pediu licença, levantou-se e então começou a cantar à capela, afinadíssimo, aquela canção emocionante, que com sua voz límpida entoou:

    "O maior golpe do mundo

      que eu tive em minha vida

      foi quando com nove anos

      Perdi minha mãe querida."

        Acho que todos nós, alunos e professor nos surpreendemos e o silêncio imperou durante a canção. Depois que ele encerrou, bem que merecesse minutos de aplausos, mas foi o silêncio que perdurou.

        Não tenho como dizer o que ele sentia ao cantar Coração de Luto, sei apenas o que senti, que ele entoou aqueles versos com o amor das profundezas do seu coração.

        50 anos é tempo suficiente para apagar quase tudo na vida, mas essa lembrança não apagou. Está vívida.


        Feliz São João. Abraços.

        Marconi Urquiza

        (1973 - 2023)

LINK:

Coração de Luto

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Aventuras no caminho para Palmas


Às vezes uma viagem se transforma em uma aventura ruim.  

Há uma semana,  sem aviso prévio e nenhum piu, a Azul mexeu em nosso voo, transformou uma viagem de 11 horas em 24. 

Era para sair na quarta 14h, foi para 17:40h e findaríamos em Palmas (TO) na quinta às 17.30h.

Sabe, aquela indignação, "não é possível!!" Foi possível, ou aceitava a imposição da Azul ou desistia.

Não desistirmos, sabequei telefonemas, chats, até que reli o aviso da Azul: Comprou em agência? É ela que pode alterar seu voo.

Na maravilha da comunicação atual, fui no chat da Zupper, em 10 minutos a ida veio para terça 17.40h e chegamos 24 horas depois. 

Queríamos ir aos jogos dos aposentados do Banco do Brasil em Palmas. E víemos. Dormimos em Campinas, como vivedor em cidade grande, fomos a um shopping e não vimos nenhuma rua de Campinas,  só as belas rodovias paulistas. 

Duas e meia da tarde o bichão voou, repleto de colegas indo jogar no CINFABB de Palmas.

Quando chegamos no hotel,  lotado,  uma falha na comunicação,  nos deixou sem hospedagem.   Acionei a reserva moral normal,  apelar para o hotel arrumar um local para dormirmos.  Nada feito. Fui atrás de sair do sufoco,  achei um apartamento no AIRBNB, deu BO, a dona estava viajando.

Pronto, voltamos a ficar sem teto, então o atendente deu o quinto telefonema, desta vez certeiro,  tivemos onde dormir.

O resto dos dias foi curtir o evento e os amigos de agora e de outrora,  como se as coisas difíceis não tivessem ocorrido. 

Não filosofo,  vou andando e andando desejando solver as energia da vida. 

Nem quero falar do drible que a bola que deu em mim. 

Vocês conhecem o ditado: "Da-lhe bola!"?

Ano que vem vou fazer ela amiga.

Até lá!!

Abração,  Marconi Urquiza 

sábado, 15 de abril de 2023

RESULTADO RAIZ NOS TEMPOS DE CHAT GPT




Um dia, em 2000, na metade da aula, um professor, juiz aposentado, falou em Advocacia de Resultados. 
Aquilo soou doce aos meus ouvidos. Foi mel. Meus olhos céticos deram atenção imediata à sua palestra. 

Foi uma situação que não é possível generalizar, ele citou algumas circunstâncias em que o advogado teria de se vestir como gestor de empresa e entregar resultados. 

Lembro que ele trouxe outro exemplo, a do médico que faz cirurgia plástica. 

Este profissional deve ou não entregar ao cliente a expectativa que este tem antes do trabalho do médico?

Ao perguntar o professor silenciou.  Nos olhou e ficamos aguardando seu comentário. 

Eu lá no fundo da sala, perto dos 41 anos, me indagava sobre essas duas questões, pois vivia sob a filosofia, crença e a prática radical da gestão por resultados e havia aprendido que Advocacia e Medicina, na época, não estavam sob o guarda-chuva dos resultados, como se vivia na empresa. 

Se vivia sob pressão, compressão e desespero. Quando os resultados que a empresa queria não chegava, era um Deus nos acuda. Mesmo chegando ao resultado exigido, a gente apenas enxergava papéis e telas. Papéis e telas. 

Algumas vezes faltou um fiapo para 105% da meta, mas faltou e o tratamento era com frequência uma ameaça à degola.

Mas o tinlintintin no caixa passava longe, eram os relatórios, as telas.  Algumas vezes se via os balancetes.  As despesas eram regradas, controladas, mas as despesas correntes eram pagas distantes da nossa vista. 

Era um resultado real, mas não raiz. 

Resultado raiz, vi agora como é.  Correr diariamente para fechar a conta do dia e obter algum lucro. Deixar de comprar algum insumo, por ainda restar uma "laminha". Olhar ávido para ver se no Whatsapp tem um mísero pedido de orçamento. Cutucar o Instagram,  olhar as suas métricas,  tentar adivinhar os humores da rede social, do público e dos concorrentes. Ser manipulado, sim, ser manipulado pelas redes sociais,  que alteram os algoritmos e empurram as postagens para não serem visualizadas pelos potenciais clientes. Ficar nervoso porque a empresa contratada para fazer o Marketing Digital não entrega seu trabalho com mais resultado através do Instagram.

É correr desesperado,  tentando não canibalizar o próprio preço, e se a gente canibaliza temos o risco de não ter recursos para repor equipamentos e por aí vai. Ter o  risco de falir em algum momento, como se a empresa enfartasse.  Por causa disso ou simplesmente por que as vendas são insuficientes.

A busca pelo resultado raiz é como fazer "piquenique na beira do abismo." Às vezes é como estar correndo em cima de um muro estreito.

E não tem nada de sofisticação,  é uma batida no prego a cada minuto. Assim é o resultado raiz. É situação radical, ou tem ou quebra em um mês. 

Deduzo que é este o dilema de milhares de nanoempresas nos tempos do Chat Gpt. 

Tem uma coisa. Você notou o que não reclamei nesta reflexão?

Bem, por hora,  é só. 

Marconi Urquiza 


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Qualidade saiu de moda






Há muitos anos, muitos mesmo, estava iniciando a vida como comissionado,  um cargo na profissão de bancário. Uma pequena evolução em um mar de cargos que se estreitava ao longo dos anos e da cadeia de comando como o bico de uma pipeta.

Ao ser nomeado, com entusiasmo e carências profissionais estive na famosa e saudosa Livro 7, primorosa livraria que existiu em Recife.

Estava à caça de algo que me ajudasse a entender o novo passo que me levou a ser, anos depois, gerente geral. 

Nesta época estava a onda da Qualidade Total no Brasil e sai no rumo dos livros de Administração, procurava algo, mas não sabia o que era e por isso não achava, e não acharia se não fosse a técnica de expor os livros. 

Depois de um bom tempo, um mundão de minutos passei o rabo do olho para um expositor e vi um livro de capa preta, letras do douradas e o mágico título: Qualidade em Serviço.

Sem pestanejar,  sem folhear,  saí da Livro 7 com o livro. No dia seguinte eu viajaria, pela primeira vez de avião, com destino a Tabatinga, na beirada do Brasil, arranhando a Colombia.

Em algum momento da leitura esbarrei com o conceito do autor que o principal fator da qualidade em serviços são as pessoas.

Isto foi tão impactante para mim que nos 20 anos seguintes eu tive essa ideia como um mantra.

Hoje com tanta automação, inteligência artificial, robôs de execução,  robôs de ações delicadas, me vejo a reconsiderar o meu mantra. Os sistemas são de enorme valia na qualidade do serviço. 

Mas ainda há Serviços do tipo Raiz. Oficinas mecânicas,  dentistas, medicos, limpeza, higienização,  pintura,  consertos do lar, entre tantos outros. Estes são alguns exemplos que o humano faz diferença,  mesmo que tenha máquinas à disposição. 

Aí calhou de ir administrar uma empresa de serviço,  serviço raiz,  apesar dos equipamentos e dos produtos de alta performance.

Por hora não chegou nenhuma máquina que entre na casa do cliente,  que farege a urina, que identifique a mancha e tenha o escutador de forró capaz de sanar o mal humor e as idiossincrasias das pessoas.

A qualidade tão em moda no passado,  saiu da mente das pessoas, tal como a ética, sob qualquer ótica. E tal ocorrência não foi por que as atitudes de qualidade foram incorporadas nas atitudes das pessoas, foi por que, agir assim exige um esforço absoluto e diário, tal como a frase: o preço da liberdade é a eterna vigilância.  

Vale o mesmo para a qualidade, é a todo instante,  até antes mesmo da execução de qualquer serviço, por mais simples que seja.

Por hora é só. 

No desafio de entender e mudar meu pequeno mundo.

Abração,  Marconi 


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Voluntarismo e o campo esburacado do amadorismo

        




        A maior qualidade de um empreendedor é a iniciativa para criar oportunidades. É o voluntarismo que faz ela ou ele se mover.

        Alguns poucos crescem e se transformam em gigantes, uma pequena parte têm empresas sustentáveis e a maioria é nanoempresário, com o risco diário e quase certo de quebrar.

        O voluntarismo é uma fator que faz a pessoa ir em busca, de realizar a vontade de ser dono de um negócio. Mas essa qualidade é também um defeito quando a realidade exige mover-se com planejamento e se transforma em um grave defeito, por que muito não sabem como parar para pensar o futuro.

        Esse defeito acarreta muitos outros e é o que leva à mortandade absurda das nanoempresas.

        Por que digo tudo isso?

        Por que a qualidade de ser voluntarista começou a ser para mim um defeito, pois o momento da nanoempresa exige outros pensares e mais que isto,  ação para organizar os processos da empresa. 

        Não de repente,  mais de repente, os equipamentos começaram a quebrar e foi uma cascata de quebradeira.  Coisa simples,  um cronograma de manutenção preventiva não tinha.

        Isto e outros pontos de gestão,  ou não tinham ou eram ou são deficientes.

        Aí fui descobrir na marra que meu voluntarismo ajudou a ampliar as vendas,  mas para crescer ainda mais, ser uma empresa de vendas recorrentes, tudo que tenho feito nada vale,  por que ainda estou no campo esburacado do amadorismo. 

        E quando me defrontei com duas consultorias do Sebrae comecei a compreender a terrível estatística da quebradeira das microempresas. A maioria são como os puxadinhos de muitas casas.  Cômodos vão sendo acrescentados e vem uma chuva forte e ela vai para o chão.  Não tem alicerce,  não tem amarração, não tem reboco,  a água se infiltra facilmente. 

        Foi assim que me senti ao ter os diagnósticos do Sebrae, a que estou em uma casa frágil, prestes a desabar.

        Ainda bem,  feliz de gente, como nós, que tiveram estes alertas chegando a tempo para não se transformar em um escombro.

        Por hora, é só. 

        Na labuta para superar as dificuldades.

        
        Abração, Marconi Urquiza

        


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Bom dia! Um cafezinho?

    


    Se eu tivesse de ser um escritor profissional estava falido, dois dos quatro romances que escrevi levei mais de 15 anos para dar uma cara de livro pronto,  mesmo assim,  nenhuma obra de alta literatura,  muito distante de tal conceito e avaliação.

    Há muitos anos lembro com clareza quando ouvia a coluna do escritor Raimundo Carrero na Rádio CBN de Recife, quando ele explicava que se poderia criar um personagem apenas falando o que ele vestia, ou seu biotipo, algo mais simples que um perfil psicológico. Esse comentário me deu um impulso tremendo, pois vivia preso na construção de uma "alma" esplendorosa. Mas hoje sei que aquela foi uma simplificação didática no curto tempo que ele dispunha para falar de literatura.

    Aí com a maior dificuldade, falta de competência para fazer o mínimo para ter um bom personagem, eu resolvi contar "apenas" uma história.  Assim fiz e tentei fazer.

    A história feita é A Puta Rainha,  escrita 8 anos depois. A que tentei e ainda tento, é O Último Café do Coronel.

    Na maior dureza, vi que em uma história baseada em fatos reais há tantos personagens com a sua psicologia que o risco é ficar na superfície ou estereotipar.

    Comigo aconteceu as duas situações, todas as leituras prévias dos amigos apontavam tais carências, entre outras.

    Resolver tais problemas têm sido difícil,  pois ao contrário de uma ficção ou de uma história baseada em fatos reais, onde não há envolvimento emocional, resolver a psicologia dos personagens é menos difícil. 

    Mas este livro tem por base os últimos meses de vida de papai e uma ambição de explicar a formação histórica do viés político de uma comunidade. Não é um tratado de história ou de sociologia, mas uma narrativa ficcional utilizando fatos reais para criar um enredo. Me vi enredado ao longo dos anos, nas inúmeras tentativas de escrever, em emoções que me fizeram ficar emparedado e paralisado.

   A sua redação foi iniciada em 2007, mas a realidade se impôs e venho desde 2021, quando retomei a escrevê-lo, "moendo devagar", quem sabe em alguns meses ele esteja pronto e com um mínimo de qualidade, com  uma história que prenda o leitor até o final.

    Por hora é só. 

    Abração,  Marconi




sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Hoje estou com vontade de chorar



    
    
        Nesta semana eu li a postagem de um amigo. Catei o telefone e ensaiei gravar uma mensagem que pudesse ser um estímulo a ele.

        Ensaiei, imaginei,  escolhi palavras e aí parei. Sempre fui péssimo, ruim demais em ser convincente ao tentar melhorar o astral de alguém. Essa deficiência me fez desenvolver uma espécie de audição ativa e empática.  Até nisso às vezes falho.

        Naquela ideia inicial do aúdio, a primeira coisa que iria dizer era: Chore, amigo.  Chore alivie a sua alma, mas parei, cai no dilema: E se o choro, em vez de ajudar, aprofundasse um estado de melancolia. 

        Tal dúvida me inibiu e fiquei paralisado, como seria fácil criar uma carta dessas em um romance, em um conto, mas no real!

         Por isso, Amigo, saiu essa cartinha meio escondida. 

        Sabe, lamento, penso que senti a sua dor, a sua tristeza, o seu desconsolo. Se eu disser que a vida é assim mesmo, de altos e baixos, vou cair na mesmice. Se eu disser que você deve se fixar no lado bom, nas miudezas que alegram, mesmo no meio da dor, da dúvida, ou da perda, vai soar infantil. Se eu disser que há recordações prazerosas, felizes, que dão um gás em uma realidade dolorosa, posso cair naquele esparrela que o passado ficou e quem busca lá seus urguentos, ao voltar ao cotidiano, afunda ainda mais. Até acho que é verdade, mas creio piamente que aquela energia pode nos ajudar.

        Outro dia vi uma pessoa orando, orava tão firmemente que eu parei por alguns segundos para observa-la na minha curiosidade de mal rezador. A pessoa parecia serena, sei lá, acho que havia encontrado nas suas orações aquele Deus compassivo. Tem hora que não adianta rezar para pedir, mas adianta rezar para compreender, para aceitar as coisas como elas são, para achar aquela paz que serena a alma.

        Lamento estar distante, mas uma coisa eu iria fazer, se estivesse perto de você, daria um abraço, se me permitisse. Apertaria a tua mão com força e calor, sentaria ao seu lado e tentaria escutar o seu coração, só escutar, sem interrromper. Converse, sabe, converse. Dá pitaco é uma merda, mas vou dar. É uma pequena história.

        Ainda, enquanto funcionário do Banco do Brasil, eu atendi uma cliente, ela sentou à minha frente e nada pediu, já foi contanto a história do seu filho, que após fazer comentários contra uma gang de traficantes foi atingido na cabeça, conseguiu se salvar, mas seu comportamento mudou de doce para agressivo. 

        Naquela tarde eu só olhava para ela calado, dentro de minha mente rodavam centenas de palavras, mas nenhuma formava uma frase que a consolasse. Naquele dia ela precisava ser apenas ouvida. Foi a mim que ela confiou a sua dor.

        Sabe, amigo, isto pode ser uma coisa boa, ache esse amigo, essa amiga, que apenas lhe escute na sua dor. Com quem você possa compartilhar seus sentimentos. Não sei se você tem essa pessoa, se não tiver, pode falar comigo, garanto que não vou fazer cara de paisagem.
        
        Bem, amigo, falta-me palavras, mas estou cheio de sentimentos. Pode ligar, pode ligar, na hora que quiser. Um beijo no coração.

       Assim seria a minha carta,  torcendo que sirva para amenizar a sua dor.

        Por hora é o que tenho.

        Abraço, Marconi

O poder revela ou transforma uma pessoa?

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