sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A violência que atravessa os corpos - Édouard Louis

 



        Édouard Louis é escritor francês, 32 anos, seis livros publicados, livros de autoficção, que é o gênero literária como uma autobiografia ficcional. Foi ele que disse que a violência ser como um fluxo, como uma corrente elétrica, repassando a violência para outros!

        Ele esteve na FLIP - Feira Literária de Parati e na última segunda-feira foi o entrevistado no programa Roda Viva da TV Cultura. Foi lá que o conheci. Vi na quarta-feira e repeti ontem. 

        Quis ouvir de novo suas reflexões a respeito da violência como um sistema, especialmente contra os pobres e precarizados. 

        Falou de um paradoxo que sua mãe revelou, que um livro era para ela uma agressão, de algo que seria inatingível e que ela se sentia humilhada e tinha raiva quando ele aparecia com livros em casa, mas, ao mesmo tempo, sonhava em ter uma casa como a Donald Trump, ainda mais inatingível. Mas mesmo assim, com tal sonho se sentia feliz.

        Já na primeira vez que ouvi Édouard Louis o tema da violência ganhou outra dimensão nas minhas reflexões, nas minhas quase autoficções dos três romances que escrevi em que isto é muito forte, dois publicados e um no prelo.

       Há tempos que eu perguntava a razão de, ao escrever romances, me voltei para retratar a violência, no sentido amplo do termo. Pois uma violência física também vem acompanhada de uma psicológica e esta pode ser sútil quando for, provoca tanta dor quanto um tiro na barriga.

        Então, voltando. Há tempos que eu me perguntava por que essa tendência de escrever romances em que a violência é o personagem oculto; se nos contos e nas crônicas isto não ocorre, são textos suaves, alguns idílicos, como o poema Decreto do Carinho. Este é o meu paradoxo, o confronto com a realidade que me atingiu em diversos momentos da vida e o desejo de que tudo fosse de uma paz imensa.

        Enquanto tenta prestar atenção na legenda das respostas do escritor eu me ausentava pensando nas violência percebidas ao longo da vida. Naquela que conduziu minha vida nos últimos 12 anos de trabalho no Banco do Brasil, aquela de minha adolescência, sendo fustigado por ter um espírito independente e de certo modo altivo. Na defesa que achei no silêncio, ora para não sucumbir, ora para não agredir.

        Era ele respondendo, e era, sobretudo, eu viajando nas minhas reflexões. Foi tanto que esbarrei nos tempos iniciais que comecei a jogar futebol. Grosso, perna de pau, de levar drible e ainda ser gozado. Da minha imitação, quando me defini com peladeiro defensivo, que para ser respeitado era preciso ser caceteiro (gíria do futebol que indica que o cara bate dos demais jogadores), até que em algum momento eu mudei, comecei a imitar os jogadores mais técnicos da defesa. 

        Ontem conversando sobre jogar futebol com o Personal da academia eu achei a resposta: para ser respeitado era preciso jogar bem e não necessariamente violento ou viril, na nomenclatura enviesada do futebol. O fato é que me tornei um peladeiro melhor e surpreendentemente para mim, mais técnico. Nunca me imaginei dotado de alguma técnica, mas aprendi a dominar bem a bola, dar um bom passe e outras coisinhas a mais.

        Aí Édouard Louis falou: a violência como fluxo... que atravessa os corpos... violência que recebe e faz nos outros como uma corrente elétrica. Nesse momento tive um curto-circuito. 

        Pela primeira eu tive consciência de que o personagem Aleixo, do romance Decisão de Matar, sou eu e que as suas ações foram as minhas fantasias de vingança pela morte de papai. 

        Imaginei uma pequena bomba estourando um pneu em uma curva de alta velocidade no caminho de Garanhuns e lá do lado uma ribanceira esperando o carro para despedaçá-lo. 

        Aleixo criou uma arma, a partir de um tanque de guerra de brinquedo com controle remoto, para poder matar o personagem Carlos Rivera, que nem sequer o havia feito mal, mas havia feito mal a muitos com sua cobiça e desonestidade.

        Nisso a entrevista prosseguia enquanto eu fazia tais reflexões, em certo instante ele disse que fugiu daquela situação que o oprimia, ser diferente do sonho que seu pai tinha dele. Das pessoas que o agrediam com palavras, da pobreza e da precariedade em que vivia no norte da França e da literatura que o salvou de alguma forma.

        Não posso dizer que escrever o personagem Aleixo e sua história no romance Decisão de Matar me livrou de fluxo de violência, não. Isto ocorreu por que meu próprio pai que nos educou evitando a cultura e o pensamento de vingança, de não cultivar um espírito de rancor, apesar de ter dito que se fosse morto era para nós nos vingarmos. Mas seguimos em frente, juntando os cacos, evitando os encontros que pudessem ocasionar o desejo insano de se vingar.

        O que Aleixo fez para mim foi a oportunidade de sepultar aquelas lembranças que um dia tive, com ele enterrei todas as minhas fantasias de ser um vingador e as transformei em uma narrativa ficcional. 

        Posso afirmar que isto foi maravilhoso, pois não teria tido nenhuma chance de ver os filhos crescerem e de conhecer agora, os nossos netos.

       Enfim, Édouard Louis me fez um enorme favor ao me estimular a escrever estas reflexões.


        Por hora é só.

        Abração, Marconi Urquiza

        

        

        

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Três amigos adoeceram

        

        Três amigos adoeceram recentemente. Um deles vinha adoecendo há muito tempo, desde que aposentou.

        Lembro de uma conversa com ele logo após aposentar, ouvi, em parte fui bom ouvinte, em outro momento veio a impaciência dos mal ouvintes. 

        Nem posso afirmar que controlei a impaciência, mas continuei a escuta-lo. Quando o monólogo deu brecha, eu sugeri: "amigo, escreva, escreva, escreva tudo".  Pensava que ele escrevendo liberaria a sua angústia e ocuparia a mente, mais tarde substituíria os pensamentos por outros sadios. Ele vivia em uma depressão profunda. 

        Nem isto e nem outra tentativa ocorreu.  Hoje ele está inconsciente após uma cirurgia no crânio. 

        Os outros dois, as ocorrências foram repentinas, em um dia estavam bem, no outro hospitalizados. 

        Esta vontade de escrever a respeito veio me perseguindo desde os últimos vinte dias e se tornou inadiável quando desejei Feliz Aniversário e recebi o agradecimento com a informação que um dos amigos estava hospitalizado.

        Na quarta-feira é o encontro semanal com um grupo de amigos.  O assunto, citando um dos amigos foi comentado e passei a passear pela memória. 

        Saí visitando os encontros com amigos e familiares doentes, foi uma viagem silenciosa enquanto ouvia os companheiros da mesa falando as suas loas. Até rimos dos casos engraçados.  Mas a mente continuou o seu passeio e parou em um amigo que trabalhava na mesma agência que eu.

        "- Soubesse que "Célio"* foi hospitalizado?
        " - Não. O que houve?"
        " - Teve um infarto". 

        Na hora pensei: um infarto para quem tem 40 anos é coisa grave.
    
        Saiu do hospital e entrou em licença médica.  Finda a licença encontrei-o na agência, ele trabalhava em um posto bancário.

        " - E aí? Como está?
        " - Estou bem."
        " - Foi infarto?"
        " - Foi estresse".

        A conversa andou mais uns minutos e se encerrou. Mas "Célio" estava diferente, era mais comunicativo, ele ficou introspectivo. Meses nessa condição. 

        Essa imagem da sua introspecção tem servido como um ponto de observação e reflexão de quando as pessoas se encontram com grandes problemas em suas vidas. 

        Como o seu eu elabora tudo isso?

        É isto que venho refletindo sobre estes amigos com doenças recentes. Não por curiosidade, mas por afeto, por desejo que superem a condição e lá na frente coloquem um sorriso no rosto, daqueles que os olhos brilham também. 

        É preciso compreender, se isto estiver fora da nossa capacidade, é respeitar. Deixar a pessoa no seu luto. 

        É fundamental dar apoio, mas a dor do luto pode vir como um remédio para a alma. Noutras ocasiões esse remédio não vale nada, mas é preciso respeitar o momento de cada um.

        Este é o desafio:


        Esta crônica estava pronta desta a semana passada e não tive coragem de publica-la, se não fosse o encontro dos amigos com Loyola na nesta quarta-feira, ela ficaria para arquivo. Para arquivo. 
        
        Mas ela estava aqui, tendo uma frase que mostra a grande alma dele ao responder a um amigo da pelada. Calado eu prestação atenção ao redor e ouvi a sua resposta e ela veio assim, em tom de voz sereno, repetindo, sereno, eis: Para você ver a gravidade, estou fazendo quimioterapia. Mas o papo continuou, ele não mudou em nenhum momento o tom e nos fez felizes. Também serenamos. Serenamos. Ansiávamos para conversar com ele. 

        Ficamos muito alegres pelo encontro.  

        Vai um poema dos tempos que eu não dizia ao ver um amigo, a uma pessoa do meu apreço: Foi muito bom te ver, dizendo, cumprimentando e olhando nos olhos.

        Vai o poema:

        SÓ SAUDADE
        amigo,
        amigo sinto saudades,
        nunca ligo,
        não é por maldade,
        tem descaso,
        mas não é maldade,
        é por saudade.

        Amigo,
        a saudade enternece,
        quando cresce,
        entristece,
        acredite
        no meu coração
        na alma.

        Se lugar é
        muito grande.

        Amigo,
        não ligo, mas
        ligo aqui dentro,
        sei que não 
        advinhas.

        Imagine, amigo!
        Querer de 
        tão longe saibas
        disso,
        De longe e ainda
        mais
        se não ligo,
        mas digo,
        a saudade diminui
        quase rui
        quando estas palavras
        vão para ti.
        Só faltam chegar,
        verdade,
        verdade!

        Amigo,
        eu sou só saudade.

        Araruna-PR, 26.08.2000
        Fiz como um pedido de desculpa a Ary Braz.


       Abração, Marconi Urquiza 





(*)
Célio - nome fictício. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Viva os amigos!!!


    (*)

       Para mim começou timidamente há seis anos nos treinos de futebol para os jogos dos aposentados do Banco do Brasil na AABB Recife. 

       Eu jogava eventualmente, só aumentava a presença no campo nestes períodos, ia mais no clube para encontrar pessoas. Na época, meros conhecidos. 

       Por causa dos treinos os nomes começaram a se fixar em minha mente.

     Então para não ficar na solidão fui aumentando as idas à AABB. Quarta e sexta. Ia para ver gente.

      Ia para ver gente. Só para ver.

      Queria ouvir vozes e não apenas as vozes dos meus pensamentos. 

      Certa vez encontrei dois colegas aposentados conversando e bebendo cerveja. Perguntei se podia sentar. "Senta aí", e uma cadeira foi apontada para mim.

     Nesse tempo ainda pedia a minha cerveja, diferente da que eles bebiam. 

      Então comecei a vir, assinar o ponto, ouvir mais que falar.  Esses amigos eram quatro, com histórias em comum. Amigos de décadas.  Então eu ouvia, ouvia, é bom ouvi-los.

      Aquele dia para beber cerveja foi se ampliando, um compromisso de minha parte crescendo. Embora tenha faltado muitas quartas-feiras, vi a importância daquela conversa semanal.

      O tempo passou e eu fui fazendo parte daquele grupo de amigos, a ponto de minha presença e atenção serem cobradas.

      Em alguns dias, a mesa fica cheia, em outro, são apenas dois e amizade vai sendo renovada.

     E tudo isso para dizer: Ei amigos!

      Aquele abraço. Aquele abraço França, aquele abraço Joãozinho, aquele abraço Loyola!, aquele abraço Valter.

       E para não deixar o futebol de fora, até que quase dá para armar um time de society.

      Na ordem dos nomes. Vai um
volante, um atacante, um ala esquerdo, o meia-atacante e eu, o zagueiro. 

      Bem, o abraço mais apertado. Assim que começamos nossa jornada amizade, de copos cheios, um dos amigos diz: "Que minha mulher nunca fique viúva" e os copos tilintam. Aí outro saca, "que não falte..." Bem, fica o resto para outro dia.

      De nossa parte, um cheiro para nossas esposas, uma trem de humor e uma terra de amor.

      Bem, por hora é só.

     Abração, Marconi Urquiza. 

(*)

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Queimadas, fogo, aquecimento global


      Aí o pau cantou, o pasto queimou, a cana torrou, os animais silvestres morreram, o patrimônio de milhares derreteu com o fogo, o céu alaranjou e adoeceu muita gente e essa praga também pegou o Brasil rico em cheio. A rica Europa, os Estados Unidos sofrem também, sem falar na Austrália. 

      Por causa desses eventos no Brasil lembrei quando o tema aquecimento global começou a ser espraiar pelos jornais e revistas e um ponto foi repetido muitas vezes, parecia um mantra: O aquecimento iria pegar em cheio as áreas mais pobres do planeta. O  Norte e o Nordeste do Brasil, a África, a Asia, Oriente Médio. 

      Os ricos do mundo foram se recusando a cuidar de sua poluição, as pessoas ricas também. 

      Hoje a minha percepção era que só em cima dos "lascados" a mão pesada na Natureza iria sentar o pau. Uma convicção atravessada pelos interesses econômicos e pela sensação que não seriam atingidos de tal forma que se gerou uma "convicção", derivando dela um "escudo psicológico" em contexto, a grosso modo assim: Como é lá, nós aqui estamos a salvo. Nada precisamos ajudar aquele povo.

      Aí o tempo, eita tempinho danado para dar razão aos cientistas, esses "bocudos" catastróficos.  Pois é, nem há porque crer neles? 

      Crendo ou não a questão climática afeta Antony, Antônio e Tonho. Afeta Mary, Mariah e Maria. Desse trem ninguém escapa. 

      Então a parte rica do mundo e do Brasil se achava isenta do sofrimento das questões climáticas, os freios estavam desligados. A geração futura que dê conta desse mundo.

      Preservar a natureza para nossos filhos, nossos netos e por aí vai. Para quê, não vou estar aqui? Tenho comigo que milhões pensaram desta forma.

      Sem falar das ameaças de vírus desconhecidos das florestas dizimadas e das camadas das geleiras que estão derretendo. São outros aspectos da Emergência Climática a gerar preocupação nos cientistas. 

      Bem, essa é a nossa realidade. Como indivíduo temos que agir a favor da natureza.  Um pouquinho que seja, com um pouquinho de cada um se terá uma significativa melhora nesse quadro perigoso.

     Mas agora com a velocidade da desorganização da natureza pelo aquecimento global, as labaredas lambendo as nossas bandas, as secas sugando as nossas peles e as águas afogando bicho, gente e as riquezas, pode ser que muitos, muitos olhem para os céus ao se darem conta que somos de alguma forma iguais em nossas diferenças. 

Por hora, é só 

Abraço. Marconi Urquiza. 







quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Punho de rede, punho de ferro


         Ali, perto dos 40 anos, cursava Direito e um princípio jurídico e constitucional passou despercebido quase o tempo inteiro durante o curso, depois sumiu, só vim lembrar dele na terça-feira ao conversar com o motorista do Uber.

        Diz o Direito Administrativo que só é permitido ao gestor público agir conforme a lei autorize.  Salvo falha da memória, o professor completou o raciocínio informando que o "ente" privado pode fazer tudo que a lei não proíba.

        Então, em um momento da conversa, o assunto caiu no hackeamento do site da McDonald's e do Real Hospital Português do Recife. Parece ter havido alguma invasão ou tentativa e todo o sistema do hospital estava sem funcionar, paralisando as suas atividades.  

        Para quem não conhece o hospital, ele é gigantesco, a começar pelo número de funcionários, mais de 6.000 trabalhadores. Na última sexta-feira fui testemunha, a instituição estava parada há 3 dias.

        Após este contexto, a conversa caiu no bloqueio da rede X/Twitter. O motorista argumentou que era um bloqueio sem haver lei, e é um fato.  Argumentei que Flávio Dino, quando era Ministro da Justiça, tentou aprovar uma lei que regulasse as redes sociais e que não passou, os deputados que lucraram com seus mandatos lacrando nelas não quiseram.

        O que era uma terra sem lei, piorou. Se quiser mais exemplos dessas situações extremas provocadas pela redes sociais basta ler A Máquina do Caos, de Max Fisher. 

        Caso também se interesse pelas miudezas das motivações individuais é hora de ler Engenheiros do Caos  (Giuliano Da Empoli).

        Aí a conversa andou mais um pouco e o motorista observou sobre o bloqueio da Internet, como o bloqueio da rede X fosse para a WEB inteira. Sequer a Starlink foi bloqueada, outra empresa do Elon Musk.  Neste ponto começou o "reino" da informação enviezada, deturpada, com potencial para virar um boato forte e viralizar. Como o motorista do Uber, quem acreditar nessa falsa informação, ao se dar conta que isto não é verdadeiro, já espalhou para muita gente. 

       Se houver reconhecimento, não terá algoritmo para espalhar que estava errado e corrigir o falso, isto não agrega a atenção que as redes sociais buscam para vender anúncios e tudo ficará no âmbito do indivíduo. 

        Nisso a conversa entrou sobre ter limite, eu disse que deve haver, pois as redes sociais não tinham limite, agora com a decisão do STF o discurso saiu para a prática. 

        É preciso limite, temos limites individuais para tudo. É fundamental impor-se como país e como soberania. 

        "Quem deixa a sua casa ser desrespeitada, perde o respeito para si próprio".  Também vale para o país, vale para o Brasil. 

         Punho de rede, punho de ferro,  serve para a gente não cair, serve para o Brasil não bagunçar.
        
        
        Por hora, é só. 

        Abração, Marconi Urquiza. 



Livros sobre este tema:

Fonte: https://liberindex.com/fake-news-so-o-odio-fatura/

Olha, destes cinco livros, apenas não li o último: Manipulados.

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Castigo da empolgação


Amigos,

Estava aqui pensando. 

No futebol, na próxima quarta-feira, dia 14.08, vamos começar a nossa jornada Campeã para Fortaleza.

A minha realidade pessoal é que na maioria dos últimos 5 eventos eu cheguei no final do período de treinamento machucado. 

Neste último procurei ser moderado, comedido nas disputas e sustentando a musculação. 

E fui me sentindo cada vez melhor, com mais fôlego, mais rápido, com melhor tempo de bola. Enfim, um pouco melhor que no início dos treinamentos. 

Nessa sensação que estava melhor, fui me empolgando  e cheguei a dar carrinhos para cortar chutes no campo da AABB durante os treinos. Coisa que  não fazia desde os tempos do Paraná, já há quase 30 anos.

Pois bem, todo o cuidado foi pouco e a imprudência cavalar.

No último treino, no Clube da Caixa, ao ver a triangulação do ataque adversário, dei um carrinho para livrar nossa equipe de um gol.  Até que livrei e tomei um puta prejuízo. A entorse do tornozelo direito foi violenta e me empurrou para o DM mais de 60 dias.

Só voltei a jogar futebol após quase 4 meses daquele carrinho de um empolgado peladeiro de 64 anos.

Bem, para que tudo isso. Para dizer que a moderação nesse início de treinamento vai nos permitir chegar a Fortaleza inteiros e poder participar da brincadeira jogando bola.

Por hora é só.

Grande abraço. 

Marconi

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Da violência retórica à violência real

                 Fonte: REUTERS

     Eita coisa corriqueira,  o homem subir ao palanque, seja ele físico ou virtual, e nele propagar toda a virulência que as palavras podem conceber. 

     Homens comuns, cá embaixo, na plateia real ou virtual, no mais das vezes nem ponderam.  Tudo dito de forma tão simples que pensar a respeito dos assuntos não é importante. Assim, sem um mínimo de reflexão, as "verdades" viram certezas.

     Tudo que muita gente deseja é de certezas, pois diante de tanta instabilidade, quem diz qual caminho a ser seguido ganha adeptos, fãs fervorosos.  E basta, isto já capaz de dar um sentido para a vida de tantos.

     Quando li o artigo  

Atentado a Trump: da retórica violenta à violência real

..., eu parei. Me pus a pensar.  E quase de imediato pensei naquele impacto na alma do Trump quando sentiu que a morte esteve bem próxima. Será que sentiu mesmo?

     Vamos admitir que Trump não seja um ser humano comum, que a bala que feriu a sua orelha foi o espinho tinhoso de uma laranjeira. Um simples acidente. Então ele nada sentiu e nem sentirá.  Ponto e pronto.  Todo o resto será especulação da minha parte.

     Do artigo que cito e que deu o título desta reflexão separei algumas frases: 
     A retórica divisiva, emocional e violenta surgiu no centro da cena com a ascensão de líderes populistas de extrema direita.
.. 

(É uma opinião, mas pode ser uma constatação. )

     Por fim, arremesse essa liberdade para odiar em uma sociedade de cultura armamentista (EUA). Eis o previsível contínuo que começa com o uso de retórica violenta e acaba em violência real. A imensa maioria não vai passar da ideia à prática. Mas basta um para a tragédia.

     Da violência retórica à violência real. Essa frase me levou a passear por muitas lembranças, tantas quantos foram reavivadas quando saí à procura do Processo Penal da morte de papai, na esteira do desejo de escrever sobre seus últimos meses de vida.

     Na eleição de 1968 eu tinha 9 anos. Fui a muitos comícios com papai, mas não compreendia nada do que se passava.  

     Em 1972, só soube que haveria um candidato único e uma paz momentânea ocorreu. 

     Em 1976 eu já era adolescente, vi papai andar armado, o que não era habitual, fazer as refeições com a arma por perto, ir para a sua empresa e manter a arma perto da mão. 

     A tensão estava presente e o medo me abraçou.  Foi neste ano que um panfleto, com uma violência retórica imensa virou uma violência real contra quem se imaginava ser o idealizador do "documento" apócrifo.  A pessoa levou uma surra pesada. 

     Em 1982 a violência retórica foi veloz para a violência real e saiu vitimando pessoas. 

     Uma coisa é estar na beira do campo estimulando um time a dar porradas nos jogadores da outra equipe.  A figura muda completamente quando o castigo que prega para os outros é aplicado a si mesmo. Pode até reforçar este aspecto virulento, mas o medo vai cobrar o seu quinhão, o pau que dá em Chico Francisco dá em Francisco.

    Nestes tempos de Internet, quando o pau pega o Chico, Francisco não diz. Se cala.Tem medo.

     Fiquei pensando quando a gente se destempera e expele a nossa virulência verbal, o pior que ela pode ser um bumerangue a nos arrebentar a cara.

Por hoje é só. 

Abração, Marconi Urquiza 

Artigo:



O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...