sexta-feira, 14 de março de 2025

Em quase 4 anos

           

Ontem foi um dia para chamar a atenção por muito tempo. Em quase quatro anos que gerencio uma nano empresa, hoje micro, que ela deu prejuízo em um mês. 
     Passamos 2024 em expansão, usufruindo de ter mais um funcionário. O que permitiu mais atendimento, aproveitar as oportunidades de clientes com urgência e atendimento de demandas grandes, como das empresas, em pouco tempo.
     Em fevereiro deste ano um funcionário entrou em férias. Por experiência empírica é mês de menor demanda. Algo inesperado, por que não se repetiu nos anos anteriores foi a enorme intensidade das chuvas que provocaram cancelamento e adiamento de serviços. Também perdemos muitos oportunidades por ter apenas um funcionário trabalhando. A minha percepção falhou.
     Quando o contador informou o faturamento de fevereiro eu parei alguns minutos e logo prossegui nas atividades.
     À noite não pensei muito no assunto, só agora pela madrugada. 
     Algumas vezes leio ou ouço que alguma empresa grande deu prejuízo, creio que empresas desse porte tenha uma enorme resiliência. 
      Em relação a isto, há muito tempo, penso e às vezes comento com algum amigo, fiz até com funcionário, nos seguintes termos: "somos uma empresa frágil, muito frágil."  Qualquer espirro abala a saúde da empresa. Quatro espirros consecutivos é capaz de nos levar à UTI.
     Tirando a despesa corrente com materiais, qualquer investimento é fundamental ser criterioso, ter a cautela como o primeiro mandamento, ter a convicção que dará certo, pois não temos margem para errar e nos recuperar.
     Passamos um tempo até perceber que termos mais um funcionário seria benefíco para nosso atendimento. 
    Em fevereiro esse funcionário a mais faltou, como está em falta em março, já que o que estava em férias pediu desligamento.
     Vamos começar novo processo de seleção, treinamento, descobrir se a pessoa quer mesmo o serviço, se vai dar certo.
     Aquele sinal vermelho do faturamento baixo trouxe outras preocupações, entre elas manter viva a percepção que o nosso carro é um pequeno hatch, quase analógico, e não uma Ferrari com seu enorme valor individual e de mercado.
     O que talvez nos diferencie das outras empresas e profissionais do ramo é a preocupação que a próxima compra pode demorar 1 ano e meio, 2 anos, e que é provável que não tenhamos chance de atender com excelência outra vez e que o boca a boca, de uma cliente satisfeita, pode criar uma leva de cliente para o futuro.

Na RA Serviços de Limpeza alguns dias é preciso vender o almoço para comer no jantar. 

Por hora é só. Abração. 

Marconi Urquiza

Em tempo:
- Nunca fui empreendedor até começar a cuidar desse negócio, muito diferente de ser gerente, embora gerenciar faz parte dessa atividade em uma empresa tão pequena.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Geopolítica - a insensatez com dedo na bomba

Crédito: Shutterstock

        Muitas vezes me assaltam preocupações para as quais nada posso fazer, a desta crônica está nesta categoria. Frequentemente tais preocupações ficam apenas comigo, mas hoje não consegui segura-la, segurar a minha percepção sobre este momento em que vivemos. 

       A respeito do que comentarei há muitas outras percepções para se conhecer, e vale buscar para formar a sua opinião.

        Não sou historiador, gosto da disciplina, sou curioso quanto a história e estou acompanhando desde a posse de Trump a sua articulação para demonstrar ser aliado de Putin. Os EUA favorável à Rússia? 

       Por causa da aparente contradição viajei para uma conversa antiga com um amigo dos tempos do Paraná quando ele alertava sobre conversas, discursos, decisões. Em fim, situações que pareciam claras ou não. Ele costumava alertar: Sempre se pergunte qual a intenção da pessoa; o que "ele" quer de fato. O que está por trás "da sua atitude".

        Então vamos a primeira indagação. O que Trump quer de fato com o fim da guerra? Uma coisa parece clara, a parte do leão no acesso as "Terras Raras" que a Ucrânia tem em abundância. Mas por que está tão "empenhado"?

        A Rússia ganhando a guerra pode ter acesso a esse mineral valioso (e raro) para a indústria da transição energética, pois quem mais tem esse mineral ´"Terras Raras" é a China e o Estados Unidas importa dela. Não custa lembrar que a Rússia tem hoje "grande amizade" com a China. Esta é uma leitura. A Rússia abastece a China de gás natural. 

        A outra leitura, bem especulativa, vem da história. Em 1939 a Alemanha Nazista firmou um acordo com a URSS, cujo líder era Stalin, acordo que permitiu a Alemanda e a URSS invadirem a Polônia, fatiando o seu território. A Alemanha saiu invadindo toda a Europa, menos a URSS, em 1941 ela rasgou o acordo e invadiu a URSS (Hoje Rússia).

        Então me pus a pensar. A Rússia guerreia com a Ucrânia, que tinha o apoio dos Estados Unidos para se defender.  Agora Trump expôs que quer recursos minerais que a Ucrânia tem e ele cobiça. Intermediar o fim da guerra diretamente com a Rússia, excluindo dessas conversas a Ucrânia e a Europa, me pareceu com aquele antigo acordo da Segunda Guerra Mundial e o país a ser fatiado desta vez é a Ucrânia e não a Polônia. Por outro lado, a corrida pelas "Terras Raras" é também uma competição dos Estados Unidos com a China.

        Naquela conversa ruidosa de Trump com Zelensky (Presidente da Ucrânia) ele falou que este pode ser o responsável pela Terceira Guerra Mundial. Depois de muitos dias fui reinterpretando aquela arenga, que muitos cientistas políticos dizem que foi uma armação para humilhar Zelensky. .

        Além da pressão e da humilhação a Zelensky, para mim havia ali dois recados ou intenções. O primeiro recado foi para Europa: Olhe, cuide de si mesmo, não vou proteger se a Rússia te agredir.  Mas penso que tem uma mensagem oculta e ela é a seguinte: Estamos dispostos à ir a guerra pelo precioso recurso das "Terras Raras" e não ficar atrás e nem dependente da China. O acordo secreto, se que existe, dos Estados Unidos com a Rússia me parece ser: Encerre guerra, fique com os territórios ucraniamos invadidos e eu tenho acesso às "Terras Raras". 

        Aí nessa guerra de interesses, Trump queria ressarcir os gastos americamos com a Ucrânia sem garantir uma paz duradoura e entrar com as empresas americanas naquele país com a anuência de Putin, mas a expectativa, pelo menos é que vazou na mídia, é que as "Terras Raras" seriam compradas.

        Então vamos aguardar os acontecimentos e ver se esse pacto, Trump com Putin, não virará uma traição de um dos lados e no fim, o que ninguém deseja, vire uma Terceira e catastrófica Guerra Mundial.

        Em tempo, a China declarou que está pronta para guerrear em qualquer dos campos que os EUA quiserem. Então! Então?

       Vamos acompanhar e torcer que não ocorra a catástrofe que o livro Nunca, de Ken Follet, narrou. Uma guerra mundial nuclear.

        Por hora, essa é a minha preocupação.

        

        

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Aventura perigosa no Galo da Madrugada

 

Fonte: Google

            Completa 20 anos de uma aventura perigosa no Galo da Madrugada.

        Quem só ouviu falar o Galo da Madrugada não tem a menor ideia do gigantismo. Quem viu pela TV tem uma ideia da quantidade de gente que brinca nele. Mas entrar ao meio da multidão se perde a noção do todo, mas ganha na pele o suor e os encontrões que os foliões dão uns nos outros. 

        Era sábado de Zé Pereira de 2004. Acordei com a vontade de conhecer o Galo da Madrugada, chamei Cida e os filhos, toparam ir Raphael e Philip e também convidei o amigo Alexandre Negri, que topou. Não lembro a hora exata que saímos de Surubim (PE), a 126 quilômetros de Recife.

        Viemos em uma Doblô. Para entrar em Recife pegamos a BR 232 na altura do bairro Curado, em Jaboatão dos Guararapes, e seguimos direto para a Avenida Abdias de Carvalho. Logo após cruzarmos a Avenida San Martin tive o primeiro estranhamento. Imaginei, como no Paraná, de onde tinha vindo a menos de um ano que até meio-dia as lojas estivessem abertas. Fui observando a cidade quase sem trânsito e as lojas fechadas, todas.

        Seguimos para a Boa Vista, fui por ali procurando um local para estacionar o carro e que não ficasse longe da Rua do Sol. Terminei estacionando na Rua José de Alencar, perto de dois restaurantes. Era cedo, talvez 8 horas, 8 e 30. Dali fomos andando pela Rua da Imperatriz, passando pela ponte de ferro e viramos na direção do palco, que ficava em frente ao prédio dos Correios na Avenida Guararapes. Fomos caminhando até uma posição confortável, com sombra e uma posição ótima para ver o show de abertura. Nenhum de nós sabíamos de nada, sequer buscamos informações.

        Pouco a pouco as pessoas iam chegando, o espaço ficando menor, mais apertado e aí Alceu Valença abriu o desfile do Galo da Madrugada cantando no palco. Ao vê-lo cantar dançamos junto com outros foliões. A gente se empolgou e esqueceu tudo ao redor. Lembro até que quando chegamos lá nos posicionamos embaixo do camarote onde estava o meu chefe no Banco do Brasil, Valdenir Diniz. Ele falou alguma coisa, mas pouco entendi que quis dizer.

        Em certo instante, Negri levou um encontrão de um mala que queria lhe roubar a câmara fotógrafica, estava chegando a hora de sair. Alguns minutos depois eu senti um frenesi na multidão e olhei para trás. Ainda distante, cerca de 200 metros, vinha o primeiro trio elétrico percorrendo a estreita Rua da Concórdia, se aproximando da Praça Joaquim Nabuco. 

        Então decidimos sair dali, olhamos a Ponte Duarte Coelho e nos pareceu ser o caminho mais lógico, por que era a saída mais próxima de onde estávamos. 

        Formamos uma fila indiana. Negri seguiu na frente, como abre-alas, eu em segundo e segurando na mão de Philip, bem pequeno, depois Raphael e Cida. Eu até imaginei que a saída fosse ser fácil, com a urbanidade das pessoas permitindo que crianças pudesse sair dali normalmente. Mas um tsunami humano vinha em sentido contrário. Era gente com o único objetivo de ir para o meio da múltidão e nos viam (intuitivamente) como obstáculo para seu objetivo de brincar no Galo.

        Ao final de muitos minutos (20 ou 30 minutos) conseguimos chegar ao meio da ponte e pudemos respirar mais tranquilos. Cruzamos a barreira policial e seguimos pela Avenida Conde da Boa Vista até onde estava o carro. Em daqueles restaurantes almoçamos e depois voltamos para nossos lares, são e salvos.


         Ótimo carnaval para todos.

        Abração, Marconi Urquiza

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

EXPLOSÃO DE UMA PAIXÃO


        Na última quarta-feira estava ouvindo o programa com Geraldo Freire na rádio CBN Recife. Geraldo Freire com Wagner Gomes no quadro Acerto de Contas a partir das 9.00h. É um ótimo programa, diversificado, há momento que é divertido. Muito informativo.  São mais 4 debatores, todos eles advogados atuantes.

        Logo no início, se a memória não falha, Geraldo Freire colocou para discursão o caso da denúncia da Procurador Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e mais 33 pessoas. 

        O debate parecia que se encaminharia forte, mas tranquilo, com bons argumentos, tanto a favor quanto contra ao que se colocou o PGR. Maurício Rands abriu o debate, informou aos ouvintes que leu a denúncia até 2 horas da madrugada e que ela contém fundamentos probatórios que justificam a denúncia.

        A primeira contrariedade de um dos debatores, a favor de Bolsonaro, foi ao comentar o que o comentárista da CBN Wálter Fanganiello Maierovitch, no seu comentário do dia anterior, já definia Bolsonaro, antes mesmo do julgamento, como culpado. Da denúncia em si nada falou. Achei, enquanto ouvia o rádio, que esse debatador não lera o documento. Nesta hora, apesar da serenidade aparente havia contrariedade na voz desse debatedor.

        Logo depois surgiu o primeiro sinal da paixão. Começou a haver interrupções na fala uns dos outros. São dois de direita e dois de esquerda.  Não gosto dessa nomenclatura, mas ela é facilita a comunicação. 

         O programa prosseguiu e nessa altura estava passando pela fábrica da Jeep em Goiânia (PE). O sinal da rádio flutuava de ótimo a mediano, mas ainda era audível e principalmente compreensível.

        Então Geraldo Freire lançou outro ponto para as reflexões e análise dos debatores. Vou frisar: homens, creio que passado dos 50 anos, advogados.  Estou excluindo Geraldo Freire e Wagner Gomes.  

         O ponto agora foi uma análise e opinião sobre uma pesquisa recente sobre as instituições brasileiras.  Geraldo Freire informou que entre dez brasileiros, sete desaprovam o Exército.

          Nisso indagou se isto deveu-se ao 8 de janeiro e aos acampamentos na frente dos quartéis.

         Um dos debatedores se posicionou que aqueles acampamentos só existiram porque os comandantes das guarnições militares permitiram, ao ouvi-lo me pareceu ponderado, mas senti uma ponta de ironia, como se sutilmente provocasse um dos debatedores. Nem teve tempo de concluir, foi interrompido com argumentos bem distantes do assunto colocado por Geraldo Freire. Esse debatedor trouxe, nessa altura, cheio de raiva, uma "invasão do MST" ocorrida durante o governo de Temer. Naquele momento pensei: mas o MST não foi pesquisado e não era o foco da pergunta, era o Exército. 

      A coisa começou a desgringolar no ar e a transmissão saiu do ar para mim, segundos depois voltou e já se ouvia os comerciais.  Fiquei com a impressão que Geraldo Freire deu um jeito de encerrar aquela virulenta manifestação no ar.

       De certo modo aquela explosão me assustou, acho que ainda mais por se tratar de profissionais que tem em suas vidas o debate e o contraditório como regra. 

      Nada havia naquele minuto qualquer lembrança da voz pausada de quando faz suas análises com equilíbrio, era como se quisesse abafar qualquer pensamento contrário à sua paixão.  Essa "insanidade" tão frequente nos humanos e que provoca desastres e destruições de vidas.

       Não deixei de pensar em parte do livro de Jessé Souza, quando analisa a elite de São Paulo. Aquele homem é da elite brasileira, muito diferente do que o autor trata em Pobre de Direita, mas o que senti, tanto lá como cá, que o que moveu o cidadão, pela reação verbal bruta, foi a moral. O sentimento. 

       Será que ele é um ressentido e humilhado, motor da adesão à direita do pobre brasileiro?

        Bem, a minha fase é de reflexão. 


       Abração, Marconi Urquiza. 


       

        

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

1978 - O primeiro desafio

 


        Spoiler

    Você vai ler um tema delicado. O contexto e a opinião são meus, a história e a percepção também, mas pode ser que arranhe a sua própria história de vida.  


        Meu primeiro voto e desafio foi em 1978, em eleição para deputados e senadores.  Naquela eleição poderia se votar para senador de um partido diferente dos votos para deputados estadual e federal. Eu, como muitos jovens naquele período queria votar no MDB. Papai que era da Arena já tinha dado o recado. Para senador eu estava livre para votar, mas para deputado tinha que votar nos que ele apoiava. Não lembro qual foi o candidato a deputado federal, mas o estadual foi Carlos Caribé. 

        No instante em que entrei na cabine de votação o mundo parou para mim. Fiquei dois, três minutos para votar, resistindo ao que papai queria e à minha própria vontade. Depois que o mesário me chamou à atenção, terminei de votar e saí do prédio e fiquei da rua parado, desapontado por ter votado no Carlos Caribé. E ali parado no meio do sol no rosto, "com aquele gosto de sabão na boca."

        Desde 1976 percebia um sentimento que crescia na cidade nas épocas das eleições e se espalhava feito água miúda, que a princípio é apreciada e depois afoga a terra. Não era um fenômeno explosivo, que surge como uma erupção vulcânica. Está mais para uma semente adormecida que viceja quanto a chuva chega. 

        Aquele sentimento vinha, sumia, ao sumir permitia que quase inimigos nas eleições pudessem se encontrar, conversar e até beberem juntos como pessoas civilizadas. Daqueles que admitem pensamentos contrários aos seus.

        Mas esse sentimento me parecia ser como uma erva daninha que ia tomando o coração de muita gente. Uma erva daninha imensamente resistente às secas, até que com um pouquinho de chuva voltava cada vez maior, até tomar conta do manancial de afeto que fica no "coração".

        Como leigo, tentar descobrir a causa disso foi o maior desafio, a partir das minhas reflexões sobre este sentimento e os comportamentos derivados dele na minha cidade. Isto enquanto por lá vivi e pude conviver periodicamente. Dos 15 aos 22 anos. Depois sumi da cidade.

        O tempo passou e comecei a escrever um romance, O último café do Coronel. Enquanto desenvolvia o texto o sentimento e a busca por uma explicação lógica, vou enfatisar: lógica. A busca por uma explicação voltou, achei uma, digamos assim. Depois li um livro, Guerreiros do Sol - o banditismo no Nordeste do Brasil, que deu-me outra ideia para o que ocorria em Bom Conselho (PE) na época das eleições.

        Com as minhas reflexões e a leitura do livro de Frederico Pernambucano de Mello entendi que a resposta para a causa daquele ressentimento entranhado na alma de muita gente da cidade estava explicada.

        Chega 2025, andei vendo vídeos onde o sociólogo Jessé Souza é entevistado. O primeiro e mais longo foi em Reconversa (You Tube), com entrevista de Reinaldo Azevedo e Waldrido Warde. A entrevista versou especialmente sobre o livro Pobre de Direita - a vingança dos bastardos. Comprei o livro.

        Li 80% dele, estou naquela fase de refletir sobre o contéudo para poder continuar com a mesma atenção e tentativa de neutralidde diante da leitura e do que contem o livro. A fase da leitura é a das entrevistas e reflexões que o autor coloca diante das respostas dos entrevistados.

        Durante a leitura voltei ao meu sentimento sobre as causas daquela mágoa poderosa, daquele ressentimento entranhado durante o tempo que vivi e convivi em Bom Conselho, e nessa última reflexão, a partir do que Jessé Souza observou, vi que estava ali parte da causa, o poderoso sentimento de Humilhação, que se tornou um catalisador político no Brasil. De certo modo que já estava lá em Bom Conselho há 60 anos. Menos a virada moralista que ocorreu a partir de 2018. 

        É um livro poderoso, que se puder, se deve ler com calma, tentando não deixar as impressões e preferência de voto interferirem na compreensão do texto. 

        Bem por hora, é o que tenho. 


        Abração, Marconi Urquiza

        

        

 

        

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Ai que saudade d´ôce

         Vital Farias em 2008 no.                   Programa Sr. Brasil.

         Essa canção foi composta no mesmo ano que saí de Recife e fui para Afogados da Ingazeira deixando a minha namorada, Cida. É um hino ao amor e a saudade.

        Naquele sábado, 09 da janeiro de 1982, era uma da tarde, saí de uma pequena rua só com entrada, por trás do edifício Garanhuns, na Boa Vista, no Recife.  Virei à esquerda, ela estava na calçada, levantei a mão e balancei a minha saudade, uma saudade feroz que só não foi maior naquela viagem por que eu ia rumo ao desconhecido.  Viajei sozinho. Era preciso concentração.

        Durante uns 100 quilômetros, até Bezerros, bem que a frase da canção foi meu lema, sem nem conhecê-la:

        Eu chorando pela estrada, mas o que eu posso fazer?
        Trabalhar é minha sina
        Eu gosto mesmo é d'ocê

        Estava a caminho da posse no Banco do Brasil. Tudo novo, uma vida nova, um despontar para a descoberta do mundo do trabalho, o que me obrigou a me virar pelo avesso, criar amizades, vencer a timidez e a lentidão ao datilografar, uma enorme exigência daqueles tempos.

        Não se admire se um dia um beija-flor invadir
        A porta da tua casa, te der um beijo e partir
        Fui eu que mandei o beijo
        Que é pra matar meu desejo
        Faz tempo que eu não te vejo
        Ai que saudade d'ocê

        Esse beija-flor era os cinco minutos de telefonema diário. Toda noite ia ao posto telefônico ligar, diminuir um pouquinho a enorme saudade, bem que poderia ter dito "Ai que saudade d´ôce", mas esse era o sentimento, quase uma dor que aliviava ao ouvir a sua voz.
       
        Se um dia você se lembrar, escreva uma carta pra mim
        Bote logo no correio, com frases dizendo assim
        Faz tempo que eu não te vejo
        Quero matar meu desejo
        Te mando um monte de beijo
        Ai que saudade sem fim

        
        E as pingadas cartinhas que levavam dias para chegar, que eram aberta com sofriguidão e lidas com vagar até o beijo que encerrava a missiva. Um beijo que representava um dilúvio de beijos e abraços, das mãos ansiosas e suadas pela emoção de um encontro que demorava dias, às vezes quinzenas, pois a grana teimava em acabar antes do dia 20. O dia do salário.

        E na sexta-feira à noite o beija-flor me acompanhava no ônibus da Progresso, que tonto de sono descia às cinco da manhã na rodoviária de Recife e corria feito doido até a rua Barão de São Borja para aplacar a saudade, que no domingo perto da meia-noite, era renovada assim:

        Eu chorando pela estrada, mas o que eu posso fazer?
        Trabalhar é minha sina
        Eu gosto mesmo é d'ocê.

        Foi a minha sina durante três longos anos, até que casamos a saudade ficou a passo de um beijo. 

        Aí a saudade ficou a um passo de um beijo.

        Então o tempo passou e hoje leio que Vital Farias, o compositar dessa bela canção, morreu e a recordação veio com toda a energia, como um looping, a repetição que ocorria todas as vezes que a ouvia. 

        Um pedaço da vida, das saudades que embalaram meu coração ao longo da vida e eu fui buscar mais uma vez ouvir a canção e trazer este pequeno fragmento dos 65 anos de vida.

        
        Bem, por hora é só.

        Abração, Marconi Urquiza


Atenção

        Vamos escutar Vital Farias com Rolando Boldrin nesse vídeo do Programa Sr. Brasil, dois grandes artistas em um momento único e feliz.

       Clique no link e assista ao vídeo:
       
    

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Leituras rápidas

 


        Ando com uma preguiça de escrever e se for extenso, é quase impossível iniciar um texto. Hoje acordei pensando um assunto, na falta de algo profundo, vão umas palavras sobre a leitura. 

        Por falta de grana não viajei em um final de semana de Afogados da Ingazeira para Recife, isto ocorreu em 1984. Como ajuda para ficar o final de semana sozinho na república, literalmente, pois todos os moradores, exceto eu, viajaram, eu ganhei emprestado o romance Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez. Comecei a ler no final da sexta-feira e fui me empolgando, me empolgando e na boca da noite do domingo terminei a leitura.  Nunca havia lido um livro daquele tamanho com tanta gosto e tão rápido.

        Dois anos depois me peguei lendo Xogum, um livro sobre o Japão medieval. Havia assistido a série, mas como parte dela era falada em japonês, sem legenda, fiquei carente e quando a Editora Abril lançou o livro em dois volumes o comprei e o li nas férias do trabalho em 1986. Dez dias de leitura, um livro de mais de 1.000 páginas. Mas como a história foi bem contada, fluída, terminei.  

        Em uma conversa me perguntaram se havia deixado de ler algum livro pela metade, respondi muitos. Lembro de três livros, um de um autor norte americano, um livro extenso, quando perto do final perdi o gosto de continuar o lendo, outro exemplo foi o romance de Ariano Suassuana, Romance da Pedra do Reino. Neste tenho até detalhes, já passado da página 600, parei a leitura, terminei cansando. Recente, tentei ler Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro, logo no início parei,  o meu momento pedia outro tipo de leitura.

        20 anos após ler Cem Anos de Solidão passei na frente de uma livraria no Shopping Center Recife e vejo na vitrine vários livros, aquela ilha vermelha dos exemplares do Código Da Vinci. Fui atraído pelo que falavam do livro. Era uma sexta-feira. No sábado seis da manhã comecei a ler, e fui lendo, e fui me empolgando, e fui tendo uma compulsão que só terminou quando conclui a leitura dele às 10 horas da noite e ganhei por causa disso, uma tremenda enxaqueca. 

        Ler Cem Anos de Solidão em dois dias foi uma descoberta do prazer de ler, mas o Código Da Vinci, ler em 16 horas continuas deu-me arrependimento. Foi um exagero. Embora saiba que por experiência própria que para ler precisa de rítmo, se o leitor se afastar três, quatro dias do livro, dificilmente terminará.

        Mas teve um romance que o li propositalmente lento, poucas páginas do livro por dia, levei quase trinta dias para o ler. Foi Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Não queria acabar a leitura deste livro em um dia, um dia e meio, pois entendia que o livro merecia ser lido com respeito a ele e ao autor. É uma obra de arte para ser cuidadosamente apreciada. Considerando um livro de 128 páginas, bom de ler, foi a mais demorada leitura.

        Recentemente li Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva. Toda vez que veja um livro que fala de algo biográfico familiar procuro ler. É um livro leve, ao mesmo tempo profundo, traz emoções contidas, como disse o autor em várias entrevistas, não tem nele melodrama. Após o ler o meu momento de leitura virou, entrou o interesse por livros com análises do momento atual do Brasil e comecei a assistir cortes de entrevistas no You Tube, até que peguei Jessé Souza sendo entrevistado sobre seu último livro: Pobre de Direita - a vingança dos bastardos - o que explica a adesão dos ressentidos à extrema direita?

        Pouco posso comentar sobre ele, o início ele traz explicações como "o consentimento da massa ocorre vinda do alto (elites) para baixo", sendo imposto através da comunicação, do convencimento por meio dos sentimentos regressivos (coisa de psicanálise) que as mensagens afloram nas pessoas. Mais não posso me aprofundar mais, pois nem cheguei ao um terço do livro.

        Posso adiantar que tem sido um leitura interessante, algumas descobertas e a compreensão como podemos ser manipulados como se tivessemos decidindo que hoje, em vez de comer feijão carioca, escolhemos comer feijão preto.

        Bem, por hora é só. 

        Abração, Marconi Urquiza.

O poder revela ou transforma uma pessoa?

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