sexta-feira, 28 de março de 2025

Descobrindo pessoas - Botei no Waze e veja o que achei

 



Botei no Waze e veja o que achei. 

        Um amigo sugeriu escrever uma crônica sobre o que se expressou a presidente do México. Se de fato foi ela que disse não dá para saber, mas está na esteira do atual Trumpismo: a América Grande de Novo. Passeando pela internet li uma matéria acerca do comportamento da presidente mexicana, que ao reagir ao aumento das tarifas e outros apertos contra seu país não reagiu como um homem, na matéria há a ênfase, mais ou menos assim: Claudia Sheinbaum  afasta a testosterona ao tratar com Trump. Evidente que este é um resumo do resumo de uma reportagem mais extensa. Mas serve para um vislumbre que a sabedoria, habilidade, bom senso e senso de psicologia cabem em negociações difíceis.

        Há muito tempo faço uma ponte rodoviária para João Pessoa, vou pela manhã e volto à tarde. Nesta semana fiquei três dias por lá. Havia um planejamento de coletar quatro tapetes grandes e cuidar do carro da empresa. Algumas coisas nele que foram se degradando com o uso intenso.

        Os retoques na pintura exigiram nova adesivação do carro, programada para a última quarta-feira às dez horas.  Mas o carro estava todo sujo, fezes de passarinho, manchas de frutos de árvores sobre o teto e capô do motor. Não daria para adesivar o carro daquele jeito. Lembrei que no Manaíra Shopping tem um lava jato. Etapa concluída às 20h da terça-feira.

        Dias antes, a chave de seta havia quebrado, o ar-condicionado do carro estava falhando e o banco do motorista, há muito tempo, mais de ano, estava afundado. Ruim demais.

        Na quarta cedo fui à oficina Jhon, que havia trocado o recipiente do líquido de arrefecimento e informado que a chave de seta estava estragada. Não havia tal peça nos fornecedores da oficina em João Pessoa e foi sugerido que comprasse no pelo Mercado Livre. Peça conosco, fomos à oficina assim que abriu, ao sermos atendidos chegou o veredito: não colocamos peça comprada fora. Nada de mais. Naqueles cinco minutos de conversa, eu disse olha aí quem atendeu? O carro foi atendido aqui. O atendente viu no computador e até disse: Fui eu que atendi. Ele insistiu: Não colocamos peça comprada fora. Aproveitei o ensejo e disse: Por que você não avisou ao nosso funcionário? E também: Por que você não encomendou para a gente vir aqui trocar quando chegasse? Não obtive resposta, só o mantra: não trocamos peça comprada fora.

        Você procura um eletricista. Você pode indicar um? O atendente não conhecia nenhum.  Você mexe com ar-condicionado? Não. Pode me indicar uma empresa? Vá no Kokota, na avenida José Américo, em frente ao Hospital da Unimed. Cujo nome deve ser de um parente distante: Hospital Alberto Urquiza Wanderley. Olha!

        Botei no Waze e saí à procura da Kokota. No meio do trajeto lembrei que o problema do farol era mais importante e escrevi, eletricista, o primeiro que apareceu foi Júnior Eletricista. Cheguei e perguntei se trocava a chave de seta do Renault Sandero. Estava atendendo, me deu uma cadeira e pediu para sentar e aguardar.  Tinha tempo, pois o próximo compromisso era às dez horas. 

        Como toda pessoa observadora, o mecânico solo é multitalento, mexe com eletricidade, com uma parte da mecânica e até é vendedor ocasional de algum carro. As bancadas dele estavam repletas de restos de alternadores, sua especialidade. Em um olhar apressado fiz uma conta no olho que não havia ao menos de cem carcaças da peça.

        É uma garagem dupla. Vi um carro bege estacionado no fundo de uma garagem ao lado da oficina principal. Fiquei olhando para aquele carro e a curiosidade me dominou e fui até perto dele, após hesitar, abri a porta do carro e passei a mão nos bancos. O veludo bege, original, ainda persistia. Vi um detalhe que não recordava em carro daquela época. Tem uma trava na porta, um ponto específico para travar a porta por dentro. Farol quadrado, penso que é da segunda geração. Estava na minha frente um Dodge Polara Gran Luxe, perfeitamente conservado, motor ótimo segundo o mecânico. E o maior detalhe daquele carro, ainda estava com a placa original dos anos 1970, amarela e com quatro números e duas letras.

        Voltei para minha cadeira, dez minutos depois Júnior foi trocar a peça, mais dez minutos o carro estava pronto. Olhei o horário, ainda havia uma hora e quarenta minutos para o compromisso das dez horas. 

         Quanto é: R$ 50,00. Paguei contente. Foi até barato para a conveniência de um atendimento tão rápido. Agradeci, entrei no carro e botei de novo no Waze: Kokota ar-condicionado. Em mais ou menos dez minutos estacionei o carro na frente da oficina.  Esta era em parte mais organizada, mas tinha restos de peças espalhadas pelo espaço.

        Queria um diagnóstico para agendar a volta. Começaram os testes: gás em ordem, compressor também. Mais dois testes. O mecânico falou que o ar quente estava atrapalhando a refrigeração, resolveu isolar o ar quente. Espero que não dê problema no futuro. A resistência está queimada. Para cada indicador de velocidade há uma resistência. Podemos fazer agora. Você faz até dez horas? Fazemos. Pode fazer. O senhor quer um cafezinho? Quero. Vá ali naquela sala. Fui, tomei um gole de cafezinho que era destinado ao lanche dos funcionários da empresa. Quanto vi, pensei em não tomar, mas tamanha cordialidade cabia-me aceitar. Tomei.

        Em poucos minutos chegou Kokota, o dono da oficina. Falou também da resistência. Pode trocar, disse. Bem, às nove e cinquenta o ar estava gelando de novo. Confesso que não esperava tanto. Os dois principais problemas do carro estavam resolvidos em menos de duas horas. Coisa que, na minha expectativa, eu esperaria pelo menos uma manhã. R$ 300,00. Paguei feliz e pedi para dividir. 

        Segui para a adesivação do carro. Sem muita surpresa, às onze e meia  o carro estava bonito de novo. A logomarca, o nome de fantasia e o telefone de novo estampados nos lados do carro.

        Mas faltava o banco. Olha, estava pior do que péssimo. De novo botei no Waze, umas três horas da tarde encostei em uma capotaria no bairro do Varadouro de João Pessoa. Fui no rumo, a oficina que o Waze indicou eu não achei, rodei o quarteirão e parei no Júnior Capoteiro. Ele olhou o banco, não disse o valor, não perguntei. Isto vai levar umas duas horas. Olhei a hora e tinha um compromisso. Vem amanhã, às seis e meia eu estou aqui. Estava, cheguei ontem às seis e trinta e sete e estava tudo aberto. Mais uma vez passei o olhar pelo ambiente, dois espaços grandes.  Por lá estava repleto de restos de móveis, de bancos de carro. Restos colocados na frente, na rua. Enquanto esperava peguei o computador e fui dar conta de orçamentos solicitados. Fiquei observando os transeuntes e olhando os prédios ao redor. Muita coisa fechada e degradada. Moradores de rua. E ali perto uma boca de fumo, um ponto de venda de droga. 

        Na região há muitos profissionais com valores mais populares, com preços mais em conta. Na rua Maciel Pinheiro, após a subida da antiga Bolsa de Mercadorias da Paraíba, há inúmeras  lojas de autopeças e lojas de ferramentas diversas. Tudo sem nenhum item de conforto, umas poucas com um banheiro limpo.

        Enquanto digitava, desceu uma mulher jovem vestida com short vermelho com a camisa do Flamengo. Depois ela voltou subindo a rua. Depois que o dono da capotaria falou do ponto de droga, imaginei que aquela jovem em pouco tempo estará completamente degradada e se prostituindo desesperada, sem que tenha mais cliente que queira seu corpo acabado.

        Mais uns minutos subiu um travesti, obeso, meio popular, pois homens se aproximaram para fofocar; logo depois passou uma mulher, também subindo a rua. Short curto, preto, bustier preto, com a aparência de quem tomou banho, mas um corpo de quem era bem idosa, um rosto acabado e com aparência que faltam dentes. Todavia, ela aparentava ter um vigor físico a mais perante a sua aparência acabada.Também foi abordada na rua. Parecia ser conhecida dos homens da região.

        Perto de sete e trinta da manhã pelos menos três homens, com mais de 50 anos,  chegaram na capotaria e sentaram nas cadeiras que ficam na calçada. Um deles tentou puxar conversa comigo, mas eu estava ocupado, não lhe dei atenção e ele também estava mais interessado no que se passava na rua.

        Às oito horas o banco do carro estava pronto. O conforto ao dirigir havia voltado. Júnior Capoteiro deu a conta, paguei e saí pensando nestes profissionais desorganizados e cheios de talentos que ganham mais para sobreviver e que os negócios deles andam de lado, quando não regridem, cuja aparência não atrai clientes novos. Fui pela necessidade, se fosse por uma escolha com base nos princípios da imagem, da organização aparente, teria passado longe deles.  O resultado é que em três horas e trinta minutos consertei três itens do carro, que com muita boa vontade teriam levado pelo menos dois dias se aquelas pessoas não tivessem sido solícitas.

        

        Bem, mais algumas lições para a vida.

        Abração, Marconi.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Viagem de Páscoa


        Quinteiro não gostava do seu nome, preferia o apelido de Quico. Quando alguém lembrava desse nome em tom jocoso, ele se irritava.

        A Páscoa estava chegando e aquele homem decidiu, após muito anos sem ir à cidade onde nasceu e viveu até à adolescência.

        Aposentado há muito tempo, pegou o seu carro e saiu com destino certo, mas com paradas aleatórias. Não seria uma viagem curta, pelo menos três dias na estrada se a sua capacidade física permitisse.

        Ligou para os filhos, avisou para onde iria. Andava sozinho há tempos.

        Arrumou a mala, a bolsa com as roupas que trocaria na estrada. Supriu a nécessaire com os remédios e com os itens de toalete.

        Carro sem uso, saía pouco nele, não era raro encontrar teias de aranha nos pneus. Fez uma revisão básica. Faltando três dias para o sábado de Aleluia chegar pegou a estrada. Concentrado e descansado, conseguiu percorrer no primeiro dia 1.100 km, no segundo dia, o cansaço chegou mais cedo e perto das cinco horas da tarde encostou em um hotel com mais 900 km na bagagem.

        Faltava cerca de 500 km. Às 4 da manhã do terceiro dia caiu na estrada. Dirigiu rápido, às onze horas ele foi vendo a serra de Santa Teresinha e o coração começou a saltitar.

        Entrou na cidade, deu uma volta, reconheceu algumas casas e nenhuma das pessoas que transitavam na rua. "Onde estão meus conhecidos? Morrerão?" Talvez não reconhece mais nenhum depois de 40 anos.

        Sentiu sede, lembrou do Bar do Pereira, virou o carro e foi para a rodovia que ligava a sua cidade a Palmeiras dos Índios. Entrou, passou por uma porta, ao sentar chegou o garçom, pediu uma cerveja e uma batata frita.

        Daquela mesa ele via a Serra de Santa Teresinha inteira. Estava verde. Havia chovido naquela semana.

        Quico levantou o copo e começou a beber, nisso passou um homem, que foi para trás, a 4 mesas de distância. Juntou-se a mais três e sentou. De novo olhou para Quitério, que era servido na segunda cerveja. Lá na mesa do outro homem chegaram mais três amigos, quase todos da mesma idade.

        De cabeça baixa o nosso visitante não viu a aproximação do seu vizinho de bar.

        Quando deu por si, o homem estava a um metro dele, o olhando fixamente:

        — Pois não?

        O homem não respondeu e continuou com aquele olhar de quem via um fantasma.

        — Diga?

        — Venha cá, Quico! Dê um abraço. Ei, turma, Quico voltou!!!




        Bem! Hoje é esse continho. Abração a todos.

        Marconi Urquiza




sexta-feira, 14 de março de 2025

Em quase 4 anos

           

Ontem foi um dia para chamar a atenção por muito tempo. Em quase quatro anos que gerencio uma nano empresa, hoje micro, que ela deu prejuízo em um mês. 
     Passamos 2024 em expansão, usufruindo de ter mais um funcionário. O que permitiu mais atendimento, aproveitar as oportunidades de clientes com urgência e atendimento de demandas grandes, como das empresas, em pouco tempo.
     Em fevereiro deste ano um funcionário entrou em férias. Por experiência empírica é mês de menor demanda. Algo inesperado, por que não se repetiu nos anos anteriores foi a enorme intensidade das chuvas que provocaram cancelamento e adiamento de serviços. Também perdemos muitos oportunidades por ter apenas um funcionário trabalhando. A minha percepção falhou.
     Quando o contador informou o faturamento de fevereiro eu parei alguns minutos e logo prossegui nas atividades.
     À noite não pensei muito no assunto, só agora pela madrugada. 
     Algumas vezes leio ou ouço que alguma empresa grande deu prejuízo, creio que empresas desse porte tenha uma enorme resiliência. 
      Em relação a isto, há muito tempo, penso e às vezes comento com algum amigo, fiz até com funcionário, nos seguintes termos: "somos uma empresa frágil, muito frágil."  Qualquer espirro abala a saúde da empresa. Quatro espirros consecutivos é capaz de nos levar à UTI.
     Tirando a despesa corrente com materiais, qualquer investimento é fundamental ser criterioso, ter a cautela como o primeiro mandamento, ter a convicção que dará certo, pois não temos margem para errar e nos recuperar.
     Passamos um tempo até perceber que termos mais um funcionário seria benefíco para nosso atendimento. 
    Em fevereiro esse funcionário a mais faltou, como está em falta em março, já que o que estava em férias pediu desligamento.
     Vamos começar novo processo de seleção, treinamento, descobrir se a pessoa quer mesmo o serviço, se vai dar certo.
     Aquele sinal vermelho do faturamento baixo trouxe outras preocupações, entre elas manter viva a percepção que o nosso carro é um pequeno hatch, quase analógico, e não uma Ferrari com seu enorme valor individual e de mercado.
     O que talvez nos diferencie das outras empresas e profissionais do ramo é a preocupação que a próxima compra pode demorar 1 ano e meio, 2 anos, e que é provável que não tenhamos chance de atender com excelência outra vez e que o boca a boca, de uma cliente satisfeita, pode criar uma leva de cliente para o futuro.

Na RA Serviços de Limpeza alguns dias é preciso vender o almoço para comer no jantar. 

Por hora é só. Abração. 

Marconi Urquiza

Em tempo:
- Nunca fui empreendedor até começar a cuidar desse negócio, muito diferente de ser gerente, embora gerenciar faz parte dessa atividade em uma empresa tão pequena.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Geopolítica - a insensatez com dedo na bomba

Crédito: Shutterstock

        Muitas vezes me assaltam preocupações para as quais nada posso fazer, a desta crônica está nesta categoria. Frequentemente tais preocupações ficam apenas comigo, mas hoje não consegui segura-la, segurar a minha percepção sobre este momento em que vivemos. 

       A respeito do que comentarei há muitas outras percepções para se conhecer, e vale buscar para formar a sua opinião.

        Não sou historiador, gosto da disciplina, sou curioso quanto a história e estou acompanhando desde a posse de Trump a sua articulação para demonstrar ser aliado de Putin. Os EUA favorável à Rússia? 

       Por causa da aparente contradição viajei para uma conversa antiga com um amigo dos tempos do Paraná quando ele alertava sobre conversas, discursos, decisões. Em fim, situações que pareciam claras ou não. Ele costumava alertar: Sempre se pergunte qual a intenção da pessoa; o que "ele" quer de fato. O que está por trás "da sua atitude".

        Então vamos a primeira indagação. O que Trump quer de fato com o fim da guerra? Uma coisa parece clara, a parte do leão no acesso as "Terras Raras" que a Ucrânia tem em abundância. Mas por que está tão "empenhado"?

        A Rússia ganhando a guerra pode ter acesso a esse mineral valioso (e raro) para a indústria da transição energética, pois quem mais tem esse mineral ´"Terras Raras" é a China e o Estados Unidas importa dela. Não custa lembrar que a Rússia tem hoje "grande amizade" com a China. Esta é uma leitura. A Rússia abastece a China de gás natural. 

        A outra leitura, bem especulativa, vem da história. Em 1939 a Alemanha Nazista firmou um acordo com a URSS, cujo líder era Stalin, acordo que permitiu a Alemanda e a URSS invadirem a Polônia, fatiando o seu território. A Alemanha saiu invadindo toda a Europa, menos a URSS, em 1941 ela rasgou o acordo e invadiu a URSS (Hoje Rússia).

        Então me pus a pensar. A Rússia guerreia com a Ucrânia, que tinha o apoio dos Estados Unidos para se defender.  Agora Trump expôs que quer recursos minerais que a Ucrânia tem e ele cobiça. Intermediar o fim da guerra diretamente com a Rússia, excluindo dessas conversas a Ucrânia e a Europa, me pareceu com aquele antigo acordo da Segunda Guerra Mundial e o país a ser fatiado desta vez é a Ucrânia e não a Polônia. Por outro lado, a corrida pelas "Terras Raras" é também uma competição dos Estados Unidos com a China.

        Naquela conversa ruidosa de Trump com Zelensky (Presidente da Ucrânia) ele falou que este pode ser o responsável pela Terceira Guerra Mundial. Depois de muitos dias fui reinterpretando aquela arenga, que muitos cientistas políticos dizem que foi uma armação para humilhar Zelensky. .

        Além da pressão e da humilhação a Zelensky, para mim havia ali dois recados ou intenções. O primeiro recado foi para Europa: Olhe, cuide de si mesmo, não vou proteger se a Rússia te agredir.  Mas penso que tem uma mensagem oculta e ela é a seguinte: Estamos dispostos à ir a guerra pelo precioso recurso das "Terras Raras" e não ficar atrás e nem dependente da China. O acordo secreto, se que existe, dos Estados Unidos com a Rússia me parece ser: Encerre guerra, fique com os territórios ucraniamos invadidos e eu tenho acesso às "Terras Raras". 

        Aí nessa guerra de interesses, Trump queria ressarcir os gastos americamos com a Ucrânia sem garantir uma paz duradoura e entrar com as empresas americanas naquele país com a anuência de Putin, mas a expectativa, pelo menos é que vazou na mídia, é que as "Terras Raras" seriam compradas.

        Então vamos aguardar os acontecimentos e ver se esse pacto, Trump com Putin, não virará uma traição de um dos lados e no fim, o que ninguém deseja, vire uma Terceira e catastrófica Guerra Mundial.

        Em tempo, a China declarou que está pronta para guerrear em qualquer dos campos que os EUA quiserem. Então! Então?

       Vamos acompanhar e torcer que não ocorra a catástrofe que o livro Nunca, de Ken Follet, narrou. Uma guerra mundial nuclear.

        Por hora, essa é a minha preocupação.

        

        

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Aventura perigosa no Galo da Madrugada

 

Fonte: Google

            Completa 20 anos de uma aventura perigosa no Galo da Madrugada.

        Quem só ouviu falar o Galo da Madrugada não tem a menor ideia do gigantismo. Quem viu pela TV tem uma ideia da quantidade de gente que brinca nele. Mas entrar ao meio da multidão se perde a noção do todo, mas ganha na pele o suor e os encontrões que os foliões dão uns nos outros. 

        Era sábado de Zé Pereira de 2004. Acordei com a vontade de conhecer o Galo da Madrugada, chamei Cida e os filhos, toparam ir Raphael e Philip e também convidei o amigo Alexandre Negri, que topou. Não lembro a hora exata que saímos de Surubim (PE), a 126 quilômetros de Recife.

        Viemos em uma Doblô. Para entrar em Recife pegamos a BR 232 na altura do bairro Curado, em Jaboatão dos Guararapes, e seguimos direto para a Avenida Abdias de Carvalho. Logo após cruzarmos a Avenida San Martin tive o primeiro estranhamento. Imaginei, como no Paraná, de onde tinha vindo a menos de um ano que até meio-dia as lojas estivessem abertas. Fui observando a cidade quase sem trânsito e as lojas fechadas, todas.

        Seguimos para a Boa Vista, fui por ali procurando um local para estacionar o carro e que não ficasse longe da Rua do Sol. Terminei estacionando na Rua José de Alencar, perto de dois restaurantes. Era cedo, talvez 8 horas, 8 e 30. Dali fomos andando pela Rua da Imperatriz, passando pela ponte de ferro e viramos na direção do palco, que ficava em frente ao prédio dos Correios na Avenida Guararapes. Fomos caminhando até uma posição confortável, com sombra e uma posição ótima para ver o show de abertura. Nenhum de nós sabíamos de nada, sequer buscamos informações.

        Pouco a pouco as pessoas iam chegando, o espaço ficando menor, mais apertado e aí Alceu Valença abriu o desfile do Galo da Madrugada cantando no palco. Ao vê-lo cantar dançamos junto com outros foliões. A gente se empolgou e esqueceu tudo ao redor. Lembro até que quando chegamos lá nos posicionamos embaixo do camarote onde estava o meu chefe no Banco do Brasil, Valdenir Diniz. Ele falou alguma coisa, mas pouco entendi que quis dizer.

        Em certo instante, Negri levou um encontrão de um mala que queria lhe roubar a câmara fotógrafica, estava chegando a hora de sair. Alguns minutos depois eu senti um frenesi na multidão e olhei para trás. Ainda distante, cerca de 200 metros, vinha o primeiro trio elétrico percorrendo a estreita Rua da Concórdia, se aproximando da Praça Joaquim Nabuco. 

        Então decidimos sair dali, olhamos a Ponte Duarte Coelho e nos pareceu ser o caminho mais lógico, por que era a saída mais próxima de onde estávamos. 

        Formamos uma fila indiana. Negri seguiu na frente, como abre-alas, eu em segundo e segurando na mão de Philip, bem pequeno, depois Raphael e Cida. Eu até imaginei que a saída fosse ser fácil, com a urbanidade das pessoas permitindo que crianças pudesse sair dali normalmente. Mas um tsunami humano vinha em sentido contrário. Era gente com o único objetivo de ir para o meio da múltidão e nos viam (intuitivamente) como obstáculo para seu objetivo de brincar no Galo.

        Ao final de muitos minutos (20 ou 30 minutos) conseguimos chegar ao meio da ponte e pudemos respirar mais tranquilos. Cruzamos a barreira policial e seguimos pela Avenida Conde da Boa Vista até onde estava o carro. Em daqueles restaurantes almoçamos e depois voltamos para nossos lares, são e salvos.


         Ótimo carnaval para todos.

        Abração, Marconi Urquiza

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

EXPLOSÃO DE UMA PAIXÃO


        Na última quarta-feira estava ouvindo o programa com Geraldo Freire na rádio CBN Recife. Geraldo Freire com Wagner Gomes no quadro Acerto de Contas a partir das 9.00h. É um ótimo programa, diversificado, há momento que é divertido. Muito informativo.  São mais 4 debatores, todos eles advogados atuantes.

        Logo no início, se a memória não falha, Geraldo Freire colocou para discursão o caso da denúncia da Procurador Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e mais 33 pessoas. 

        O debate parecia que se encaminharia forte, mas tranquilo, com bons argumentos, tanto a favor quanto contra ao que se colocou o PGR. Maurício Rands abriu o debate, informou aos ouvintes que leu a denúncia até 2 horas da madrugada e que ela contém fundamentos probatórios que justificam a denúncia.

        A primeira contrariedade de um dos debatores, a favor de Bolsonaro, foi ao comentar o que o comentárista da CBN Wálter Fanganiello Maierovitch, no seu comentário do dia anterior, já definia Bolsonaro, antes mesmo do julgamento, como culpado. Da denúncia em si nada falou. Achei, enquanto ouvia o rádio, que esse debatador não lera o documento. Nesta hora, apesar da serenidade aparente havia contrariedade na voz desse debatedor.

        Logo depois surgiu o primeiro sinal da paixão. Começou a haver interrupções na fala uns dos outros. São dois de direita e dois de esquerda.  Não gosto dessa nomenclatura, mas ela é facilita a comunicação. 

         O programa prosseguiu e nessa altura estava passando pela fábrica da Jeep em Goiânia (PE). O sinal da rádio flutuava de ótimo a mediano, mas ainda era audível e principalmente compreensível.

        Então Geraldo Freire lançou outro ponto para as reflexões e análise dos debatores. Vou frisar: homens, creio que passado dos 50 anos, advogados.  Estou excluindo Geraldo Freire e Wagner Gomes.  

         O ponto agora foi uma análise e opinião sobre uma pesquisa recente sobre as instituições brasileiras.  Geraldo Freire informou que entre dez brasileiros, sete desaprovam o Exército.

          Nisso indagou se isto deveu-se ao 8 de janeiro e aos acampamentos na frente dos quartéis.

         Um dos debatedores se posicionou que aqueles acampamentos só existiram porque os comandantes das guarnições militares permitiram, ao ouvi-lo me pareceu ponderado, mas senti uma ponta de ironia, como se sutilmente provocasse um dos debatedores. Nem teve tempo de concluir, foi interrompido com argumentos bem distantes do assunto colocado por Geraldo Freire. Esse debatedor trouxe, nessa altura, cheio de raiva, uma "invasão do MST" ocorrida durante o governo de Temer. Naquele momento pensei: mas o MST não foi pesquisado e não era o foco da pergunta, era o Exército. 

      A coisa começou a desgringolar no ar e a transmissão saiu do ar para mim, segundos depois voltou e já se ouvia os comerciais.  Fiquei com a impressão que Geraldo Freire deu um jeito de encerrar aquela virulenta manifestação no ar.

       De certo modo aquela explosão me assustou, acho que ainda mais por se tratar de profissionais que tem em suas vidas o debate e o contraditório como regra. 

      Nada havia naquele minuto qualquer lembrança da voz pausada de quando faz suas análises com equilíbrio, era como se quisesse abafar qualquer pensamento contrário à sua paixão.  Essa "insanidade" tão frequente nos humanos e que provoca desastres e destruições de vidas.

       Não deixei de pensar em parte do livro de Jessé Souza, quando analisa a elite de São Paulo. Aquele homem é da elite brasileira, muito diferente do que o autor trata em Pobre de Direita, mas o que senti, tanto lá como cá, que o que moveu o cidadão, pela reação verbal bruta, foi a moral. O sentimento. 

       Será que ele é um ressentido e humilhado, motor da adesão à direita do pobre brasileiro?

        Bem, a minha fase é de reflexão. 


       Abração, Marconi Urquiza. 


       

        

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

1978 - O primeiro desafio

 


        Spoiler

    Você vai ler um tema delicado. O contexto e a opinião são meus, a história e a percepção também, mas pode ser que arranhe a sua própria história de vida.  


        Meu primeiro voto e desafio foi em 1978, em eleição para deputados e senadores.  Naquela eleição poderia se votar para senador de um partido diferente dos votos para deputados estadual e federal. Eu, como muitos jovens naquele período queria votar no MDB. Papai que era da Arena já tinha dado o recado. Para senador eu estava livre para votar, mas para deputado tinha que votar nos que ele apoiava. Não lembro qual foi o candidato a deputado federal, mas o estadual foi Carlos Caribé. 

        No instante em que entrei na cabine de votação o mundo parou para mim. Fiquei dois, três minutos para votar, resistindo ao que papai queria e à minha própria vontade. Depois que o mesário me chamou à atenção, terminei de votar e saí do prédio e fiquei da rua parado, desapontado por ter votado no Carlos Caribé. E ali parado no meio do sol no rosto, "com aquele gosto de sabão na boca."

        Desde 1976 percebia um sentimento que crescia na cidade nas épocas das eleições e se espalhava feito água miúda, que a princípio é apreciada e depois afoga a terra. Não era um fenômeno explosivo, que surge como uma erupção vulcânica. Está mais para uma semente adormecida que viceja quanto a chuva chega. 

        Aquele sentimento vinha, sumia, ao sumir permitia que quase inimigos nas eleições pudessem se encontrar, conversar e até beberem juntos como pessoas civilizadas. Daqueles que admitem pensamentos contrários aos seus.

        Mas esse sentimento me parecia ser como uma erva daninha que ia tomando o coração de muita gente. Uma erva daninha imensamente resistente às secas, até que com um pouquinho de chuva voltava cada vez maior, até tomar conta do manancial de afeto que fica no "coração".

        Como leigo, tentar descobrir a causa disso foi o maior desafio, a partir das minhas reflexões sobre este sentimento e os comportamentos derivados dele na minha cidade. Isto enquanto por lá vivi e pude conviver periodicamente. Dos 15 aos 22 anos. Depois sumi da cidade.

        O tempo passou e comecei a escrever um romance, O último café do Coronel. Enquanto desenvolvia o texto o sentimento e a busca por uma explicação lógica, vou enfatisar: lógica. A busca por uma explicação voltou, achei uma, digamos assim. Depois li um livro, Guerreiros do Sol - o banditismo no Nordeste do Brasil, que deu-me outra ideia para o que ocorria em Bom Conselho (PE) na época das eleições.

        Com as minhas reflexões e a leitura do livro de Frederico Pernambucano de Mello entendi que a resposta para a causa daquele ressentimento entranhado na alma de muita gente da cidade estava explicada.

        Chega 2025, andei vendo vídeos onde o sociólogo Jessé Souza é entevistado. O primeiro e mais longo foi em Reconversa (You Tube), com entrevista de Reinaldo Azevedo e Waldrido Warde. A entrevista versou especialmente sobre o livro Pobre de Direita - a vingança dos bastardos. Comprei o livro.

        Li 80% dele, estou naquela fase de refletir sobre o contéudo para poder continuar com a mesma atenção e tentativa de neutralidde diante da leitura e do que contem o livro. A fase da leitura é a das entrevistas e reflexões que o autor coloca diante das respostas dos entrevistados.

        Durante a leitura voltei ao meu sentimento sobre as causas daquela mágoa poderosa, daquele ressentimento entranhado durante o tempo que vivi e convivi em Bom Conselho, e nessa última reflexão, a partir do que Jessé Souza observou, vi que estava ali parte da causa, o poderoso sentimento de Humilhação, que se tornou um catalisador político no Brasil. De certo modo que já estava lá em Bom Conselho há 60 anos. Menos a virada moralista que ocorreu a partir de 2018. 

        É um livro poderoso, que se puder, se deve ler com calma, tentando não deixar as impressões e preferência de voto interferirem na compreensão do texto. 

        Bem por hora, é o que tenho. 


        Abração, Marconi Urquiza

        

        

 

        

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...