terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Os dois natais.

Feliz 2020


Há algum tempo eu gostava de dizer que lá em casa,  casa dos meus pais, tinha dois natais.
   
O Natal de dezembro e o Natal da Semana Santa.

O Natal de dezembro era festivo, colorido e cheio de amigos. O Natal da Semana Santa me parecia mais só da gente. Fazíamos as refeições todos juntos, da quinta ao domingo de Páscoa. Sentia que naqueles dias a liga familiar era maior.

O Natal de dezembro eu aguardava ansioso,  presentes de natal, roupa nova, aquela fugidinha para beber cerveja com os amigos escondidos dos nossos familiares.

No Natal da Semana Santa não tinha parque,  era mais comprido que o outro Natal.  No meio, havia, invariavelmente, o trabalho na farmácia de papai. A viagem para Recife no domingo.  A saudade plantada no sabor do bacalhau. 

No Natal de dezembro eu gostava de sair de casa logo após o jantar. Percorria as ruas olhando as luzes,  simples, que iluminavam o quadrilátero da Praça Pedro II. As barracas,  o som de Bosco Presideu tocando os sucessos de Roberto Carlos e as vinhetas de desejo de bom natal e ano novo das empresas  de Bom Conselho. 

No Natal da Semana Santa ainda dava para jogar um bolinha no Clube dos 30 na quinta-feira. Naquele encontro de amigos que ficaram com os que saíram da cidade.

E no Ano Novo? Na Semana Santa não tem a virada para o novo ano, só os mais fiéis católicos buscavam encontrar a Aleluia. O simbolismo cristão para encontrar Cristo.

Dois dias depois do Ano Novo, a realidade já batia à porta, às vezes apagando tanta festa,  tanto amor.

Pois bem, já para encerrar esta crônica eu me lembrei de uma frase que iniciei outra crônica, inacabada. 

Eu pensei que era só lembrança,  mas era saudade, que virou lembrança da saudade sentida.

Feliz Ano Novo. 

Abraço,  
Marconi Urquiza. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

ABRI A PORTA E SENTI O CHEIRO DO MUNDO

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Imagem representativa do artigo
(*)

Abri a janela e vi o mundo.
Abri a porta e senti o cheiro do mundo.


Depois de escrever as duas frases acima eu me lembrei de uma obra do pintor Cícero Dias: "Eu vi o mundo ...  ele começava no Recife". Parece que eu despertaria para uma nova realidade e ela começou na Rua da União, 263, Hellcife.

Nesta segunda-feira eu comecei a participar de um curso visando me preparar para apresentar um projeto pelo Funcultura do Estado de Pernambuco. Grande parte do dia eu ouvi e prestei atenção no instrutor, que com muita paciência ouvia as pessoas se manifestando, sem as interromper.

De início, nas apresentações das intenções de cada um eu ouvi e fiquei de se certo modo admirado com a variedade de possibilidades de produções culturais vinda da população. Grande parte das pessoas parecia representar algum coletivo e as suas manifestações culturais, alguns, como eu, buscavam verificar se as ideias individuais poderiam ser concorrentes para os recursos do Funcultura.

Dentre os presentes haviam negros, parte deles eram os mais falantes, o que mais se manifestavam e manifestaram as suas dificuldades em face do racismo. O Brasil sabe, mas continua devendo.

A outra parte, com variados tons de pele, só ouvia, aqui e acolá se escutava palavras de apoio e reconhecimento ao que falavam. Em alguns eu senti tensão. Algumas palavras, de certo modo se repetiram: negritude, território (o da periferia, que vale para qualquer pobre), ocupação de espaço(política também? Não ficou claro), reparação histórica, etnias, branquitude, cultura racial, narrativas pelo vencedor. 

Ainda escapou alguma coisa neste sentido: Identidade, pertencimento, símbolo dos vencedores. Em algum momento eu escrevi na minha caderneta: Branco X Preto; assim com as iniciais maiúsculas. 

branco x preto; preto x branco; preto x branco; branco x preto.

É conflito em potencial,  é uma realidade que parece se formar à partir de um pensamento de oposição, de menos oportunidade. O Brasil sabe,  mas ainda deve.

Sabe, fiquei matutando e ao mesmo mesmo tempo tentando ouvir o que as pessoas diziam. Em certo momento me lembrei que a melhor forma de começar a evitar reproduzir o racismo é quando se referir a alguém que o faça pelo nome. O meu é Marconi e o seu? 

É pela pessoa. Pessoa.

Olhe para a pessoa. Se for criticar, critique o comportamento e não nomeie o comportamento por qualquer viés discriminatório.

Em certo momento eu me lembrei, como reflexão, que há uma discriminação latente em muita gente. Como exemplo, cito a que há em pessoas oriundas de certas regiões contra outras nascidas em outras regiões do Brasil. Para ser honesto, não vou dizer que li ou ouvi dizer, eu senti e vivenciei.

Nesta semana mesmo, um repórter, em uma entrevista que vi na TV, se o que a pessoa sentia era real ou era o que ele achava que sentia, como se houvesse um viés psicológico auto induzindo o processo de discriminação. Isto também me ocorreu quando reclamei há muitos anos, que mesmo tendo um ótimo desempenho profissional  em  certo período as oportunidades de crescimento na carreira de bancário não ocorriam. No meu caso, o período foi de 8 anos.

A discriminação corrente não é apenas direta, ela é sutil. O preconceito é tão entranhado na nossa psique que, quase não nos damos conta. Eu vi a diversidade naquela turma e tentei ter um olhar neutro, busquei limpar a minha mente de qualquer pensamento preconcebido.

Pois bem.

Quando eu cheguei na sala, eu abri uma porta, apenas um equipamento que me permitiu entrar em um ambiente diferente do corredor. Perto do meio dia eu comecei a achar que uma janela se abria.

Quero fazer agora um aparte no que escrevi antes. 

Nos últimos quatro anos eu fui perdendo a minha capacidade de observar a diversidade. Saí do trabalho por aposentadoria e aos poucos comecei a frequentar ambientes onde há uma certa uniformidade.

As pessoas com as quais convivo com maior frequência são, quase todos, ex-funcionários do Banco do Brasil. Neste ambiente e nem no Whatsapp com este grupamento não se fala em política, futebol clubista e religião. A restrição advém pela razão de que estes temas geram conflitos. Digamos que aqui ocorreu a primeira uniformidade.

Neste ambiente, com estas pessoas, mesmo àqueles em que a sua origem profissional seja distinta, somos, quase todos de classe média e de pele mais clara. Pode se falar em uma segunda uniformidade.

Este grupo com os quais me relaciono gosta muito de futebol. Falamos de futebol, das arengas das peladas, mas não falamos da preferência individual para seus clubes de Recife. Poucos vestem as camisas do time que torcem. Caminhamos para a terceira uniformidade.

Para não forçar a barra, vou citar outro aspecto que me leva a pensar como a minha vida foi ficando uniforme. Os grupos com as quais convivo têm todos mais de cinquenta anos. Na maioria, eu imagino, não dialoga com outros jovens, afora as filhas e filhos e é majoritariamente masculino.

Bem. 

Ontem eu me dei conta que a minha visão de vida estava tão estreita que até me surpreendi ao ver vários pequenos comércios nas ruas adjacentes à rua União. Por quê? Por que meu vasto mundo ficou restrito, uma nesga em uma janela no subsolo.

Chegou à tarde, o sono me derrubou, aqui e acolá eu pescava as informações técnicas e os comentários que os participantes falavam. Quando sai de lá eu comecei a elaborar a experiência do dia.

Quatro horas depois, ao voltar para a casa, me vieram as frases do início, não as anotei e quase as perdi.

Mesmo com toda a subjetividade que nos é inerente, é uma questão de escolha ver a realidade.

O mundo é redondo. Mas, não é perfeito. 

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
                  "Drummond - Poema de Sete Faces".


Terça, 10 dezembro, 2019.
Abraço, Marconi.




PS:

A ILUSTRAÇÃO É UMA Reprodução parcial do quadro de Cícero Dias: Eu vi o mundo ... ele começava no Recife*
(*) Fonte: 

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Vamos falar sobre Política e a preguiça de pensar





Há uma frase de que gosto muito e que, para mim, é a expressão da presença política: “Os ausentes nunca têm razão”. Embora pudessem estar com alguma razão, eles a perdem pelo fato de se ausentarem.


A ideia para o título desta crônica veio do filme: "Precisamos falar sobre o Kevin." Kevin é o filho da personagem Eva que mata o pai e a irmã à flechadas. Uma tragédia que poderia ser evitada, se Eva tivesse provocado o marido para conversar sobre a personalidade maléfica do filho.

Aqui dou uma quebrada. Algumas vezes, creio que muito dos leitores devam ter ouvido algo assim: "Eu não avisei!". Ocorreu o aviso e assim mesmo o erro foi cometido.

Desde o início da Operação Lava Jato para o bem ou para o mal, ou para ambas as situações, em concomitância, a nossa opinião foi sendo conduzida, quase como uma regra, a favor dela e contra os "bandidos", ou contra os elementos fáticos dela e dos seus protagonistas. Elementos fáticos de fato e os elementos fáticos de "não fatos".  Em resumo, uma oposição entre os fatos comprovados e os "fatos criados por uma narrativa deliberada", intencionados para atingir um objetivo.

Antes disto, a maioria da população se cindiu em a favor e contra. A partir de 2013, tal cisão acabou conduzindo o pensamento do brasileiro para ser um anti, UM ANTI TUDO QUE NÃO FOSSE A SUA FORMA DE VER O MUNDO.

Se alguém olhar os fatos e os interpreta diferente, ele é contra, se não opina, o viés do ANTI TUDO, também interpreta como contra ao MEU PENSAMENTO.  Vou enfatizar, MEU PENSAMENTO. 

Neste ponto vou abrir um espaço para uma experiência pessoal. Sou uma mistura de credulidade com um ceticismo forte. Sou crédulo por que tendo a confiar nas pessoas e sou cético por necessidade. Fui muito vezes enganado ao acreditar que havia boa vontade em muitas pessoas. 

A experiência me fez quase acreditar que o pensamento dos telejornais era o meu. Passei meses assistindo as informações que a Lava Jato produzia. De tanto ouvir eu fui deixando de ponderar aquilo que eu recebia por meio das sucessivas edições do Jornal Nacional, Jornal da Record, Globonews, sites G1, UOL, Estadão, a revista Veja e outros noticiosos menos relevantes. Todos pareciam repetir as mesmas informações, até a Rádio Jornal, que tendo a escutar muito, vinha com o mesmo tom. 

Em certo momento, eu senti que a minha mente estava sendo dominada, nela já não tinha espaço para fazer uma reflexão, até que certo dia eu parei: "Não vou mais assistir e ler esses noticiários." Parei e passei muitos meses sem assisti-los ou os ler.  Mas o processo era massacrante, então comecei a buscar outros meios de me informar ou ouvir opiniões diferentes, que me propiciasse uma certa capacidade de ponderar o quanto se ouvia era verdadeiro, inconteste, ou haviam opiniões diferentes. Assim eu fui saindo do lameiro que me prendia no pensamento único. O MEU PENSAMENTO agora era múltiplo. Comecei a perceber nuances e a minha alma não foi domada.

Bem, esta foi a minha realidade. Ainda vez por outra eu penso na frase de Nelson Rodrigues: "Toda unanimidade é burra"; eu acho que ela é viciante. Provoca um bloqueio que torna muita gente incapaz de ouvir o aviso: "Eu não disse!" Não é o meu caso viver avisando, pois não sou profeta e nem adivinho.

Por causa do acirramento desta forma de reagir, do radicalismo que muita gente se porta ao tratar do assunto. Da prática corrente do linchamento sem consequência nas redes sociais. Da instigação do ódio contra quem quer que seja, contra quem quer que não tenha dado motivo pessoal, insuflado por uma retórica que domina o bom senso e pelo uso da tecnologia que não dar nenhum descanso à mente dos adoradores do novo bezerro de ouro: A raiva contra qualquer humano que seja diferente do nosso modo de ver. Por causas destas e de outras circunstâncias, a maioria tem deixando de discutir uma coisa de imensa importância: A POLÍTICA.

Vamos tentar ilustrar.

 Na "política das eleições", tudo que os candidatos querem é insuflar as nossas emoções mais primárias e universais: o medo, a raiva, o ódio, a vontade de brigar, a vontade de matar, a idolatria. Com isto, muitas vezes dominam os pensamentos e provocam um impacto duradouro na nossa capacidade de sermos tolerantes.  Isto também tem um efeito, na era de antes das eleições turbinadas pela internet ainda se via alguns candidatos mostrarem seu programa de governo. Isto, por hora, perdeu importância.

Na "política após as eleições”, a gente, nobres eleitores, viramos passageiros. Muitas decisões parecem mirar a maior parte da sociedade, mas miram exatamente o contrário. Cá de longe, ficamos apenas no "OBA!; ÔHHH! EITAAAA!. E muitas vezes apenas lamentando. 

Por causa das decisões políticas, que são diárias, a gente precisa falar de Política. Não da forma doentia e viciante como costumar ocorrer. Mas do impacto que ela tem nas nossas vidas. Vejam alguns exemplos:
- Quando falta apoio para salvaguardar o oceano? Foi uma decisão política que decidiu.
- Quanto se abriu de todo mundo andar armado? Foi uma decisão política.
- Quando se fez a reforma da previdência?
- Quando se constrói uma estrada?
- Quando se dá subsidio a uma indústria?
- Quando se criou o SUS? 
- Quando se privatiza uma empresa pública?
- Quando se quer transformar a nossa economia para um modelo diferente?
- Quando se constrói e se mantem em funcionamento um hospital público?
- Quando se cria uma universidade pública ou se estrangula ela com falta de recursos?

Basta imaginar um pouco. Basta imaginar um pouco para ver como não podemos nos omitir.

A Política precede a economia, a economia favorece ou desfavorece um político, mas a Política e a força do estado é que podem transformar a minha vida, a sua, de muitas pessoas para melhor ou para pior.

Pois bem, é sobre estes aspectos da Política que a gente precisa conversar. Discutir para compreender. Discutir para não sermos passageiros de uma agonia, que às vezes se prenuncia sem nos darmos conta. 

Vamos discutir Política sem apaixonar, pois, sem a cegueira da paixão poderemos ver com toda clareza o que é discurso, retórica e o que é fato ou o que certos discursos prenunciam nas entrelinhas. 

Mesmo distantes, mas ao se ter consciência da realidade política, podemos usar os meios digitais para dizer aos políticos como estamos vendo a sua atuação e assim obter um mínimo de capacidade de não sermos meros passageiros, pois nos dias atuais somos meros fantoches, influenciados por mensagens bombardeadas diariamente, incessantemente, gerando na nossa mente a pior das acomodações: A preguiça de pensar.

Abraço, 

Marconi 

PS:
Uma resenha sobre o filme "Precisamos conversar sobre o Kevin", neste link:


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Nós, a CASSI e o dilema do prisioneiro

O que eu penso, não muda nada além do meu pensamento, o que eu faço a partir disso, muda tudo!... Frase de Leandro Karnal.


O BB decidiu desembarcar da CASSI?



Não sei quantos sabem do que se trata o "dilema do prisioneiro".  

Em resumo: 
Ele é uma tática de interrogatório onde um detido não sabe ou não tem contato com outro membro da gangue ou envolvido no mesmo crime. Um é interrogado e recebe informações que o comparsa lhe dedurou. Mas está incomunicável com o outro. O mesmo ocorre com os demais membros da organização criminosa. Aos poucos vão revelando os segredos.  Uma vez que um abriu a boca, todos estarão com o seu dolo provado.


Nós, em relação à situação da CASSI, estamos nesse tipo de dilema. O "sim" dá uma sobrevida, o "não" pode afundar de vez a CASSI. Todos os indicadores apontam para a sua quebra no próximo Janeiro. 

Toda a extensão do impacto do "sim" a gente não alcança, o "não" é uma incógnita. Uma parte deste dilema diz respeito em saber qual será a atitude do Banco do Brasil se o "não" vencer. Neste ponto eu vou opinar:  O BB parece sinalizar a sua intenção de desembarcar da CASSI. 

O primeiro sinal que percebi foi no PAI - Plano de Aposentadoria Incentivada de 2015, quando a diretoria mudou a nomenclatura de "aposentado" para "pós-laboral". 

Depois veio, ano passado,  a desistência de pagar a sua parte para os novos aposentados empossados à partir de março de 2018. 

Os outros sinais vieram bem antes. 

À partir de 2011, a CASSI teve o primeiro problema sério de caixa.  Nesta época ocorreu o primeiro acordo, reforço de caixa aprovado.

Por que o BB com a sua administração técnica,  rica em pessoas capacitadas,  riquíssimo em instrumentos, softwares e máquinas de gestão deixou o barco correr à deriva?

Veio o BET. Mais grana e o déficit real continuou com barca chamada CASSI passando pelas corredeiras de um rio turbulento chamado "mercado de saúde", tão corrupto quanto muitos outros negócios identificados como tal.  

A gestão foi displicente?

Com o BET ocorreu um deliberado "auto-engano"? Do BB também? Não creio.

Chegou 2016 e o pacto de salvação da CASSI previsto para durar até 2019, já abriu o bico em 2017 e ficou muito grave no ano passado. 

Uma projeção financeira tão mal feita assim. Mais um engano do BB? Não acredito. 

Desde 2018 estamos sendo chamados a aumentar a nossa contribuição,  com prazo previsto e curto. Em 2022 já teremos que aumentar de novo a nossa contribuição.  

Hoje,  para aumentar o meu dilema, eu imaginei algumas coisas, bem poucas .

A primeira:  
Ninguém sabe como o BB vai se comportar, mas há comentários que ele vai vender a carteira da CASSI. 

Dentro deste dilema, já na primeira proposta de alteração do estatuto do ano passado um bocado de alterações não foram comunicadas honestamente e a nós apenas foram apresentados e enfatizados os números de um balancete pouco confiável. Os bodes na sala não fediam, estavam inodoros, até o momento em que o BB colocou toda a sua estrutura de poder para forçar a aprovação do sim, aí eles federam, se denunciaram e foram removidos pelo "não." 

Talvez o BB quisesse mesmo que o "não" ocorresse, talvez fosse o contrário? Mas a realidade posta é que agravou ainda mais a situação da CASSI.

Para mim, ele desembarcar da CASSI é questão de tempo.

Quem sabe ele contrate um plano como a Bradesco Saúde,  Sul América,  Amil, etc? Ou nos pressione de tal modo, forçando irmos buscar um plano mais em conta, com menos opções para reparar a saúde do que o temos na CASSI.

Na realidade, para mim este é um aspecto de uma estratégia montada há muito tempo. Ela não tem nada a haver com o governo de momento, pode ter ganho outros elementos como a indicação que a empresa será privatizada.  

Partindo desta hipotética situação,  se tivermos que ir ao mercado,  é possível que um casal venha a pagar o dobro do que se paga hoje em um plano de saúde verticalizado, como a Hapvida. 

A outra ponta desse dilema é que, se aprovada a mudança estatutária, em dois anos a CASSI voltará a ser bombardeada. Os custos deverão continuar a pressionar e teremos contínuos aumentos dos nossos custos pessoais. 

Sem ser oráculo,  creio que autogestão como ela está hoje vai deixar de existir.

Como fã das palavras apenas compreendidas nas estrelinhas, no contexto da economia do BB, é possível que a empresa queira passar para nós a sua bola de ferro amarrada pelo estatuto, como o benefício definido, entre outras amarras. Tal coisa, pode ser um daqueles bodes inodoros colocados nas entrelinhas da proposta do novo estatuto.

Acho que alguém pode ter razão. Essa obrigação que implica em custos maiores pode  atrapalhar, não a venda do BB, mas o seu maior valor de mercado. 

Não me decidi pelo Não ou pelo Sim. O fato é que  continuo com o meu dilema.

Abc
Marconi Urquiza
Aposentado do BB em 2015.











quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Baseado em Fatos Reais?

Todos os bons livros se parecem: são mais reais do que se tivessem acontecido de verdade.... Frase de Ernest Hemingway.
Este é o meu desejo.


Duas semanas atrás eu vi uma entrevista do diretor Bruno Barreto.  Aquele de Dona Flor e seus dois maridos; A Dama da Lotação,  entre outras obras.

Em certo momento, o entrevistador, Mário Sergio Conti, fez uma pergunta e Bruno Barreto respondeu mais ou menos assim: A falta  de verossimilhança na vida real é normal, ninguém liga, mas na ficção, não ter verossimilhança é péssimo (terrível) para o qualquer obra. 

Ser verossímil, implica que algo parece ser intuitivamente verdadeiro.

No último sábado,  em um encontro com ex-colegas do Banco do Brasil no Clube  AABB, aqui em Recife,  a amiga Ana Karine, que vem lendo o livro, A Puta Rainha, com zelo de revisora, me fez uma pergunta.

Respondi sem pensar muito, mas depois fiquei com a sua pergunta recocheteando dentro da minha cabeça todos esses dias.

Certa vez vi um filme de James Bond com Pierce Brosnan, O Amanhã Nunca Morre. Uma cena deste filme ficou na minha mente. Nela, ele dirigiu um carro dentro de um edifício garagem, deitado no assento de trás e por meio do visor e dos controles de um celular. Era uma cena dramática  e eu ria por tê-la achado fantástica, inverossímil. Lembro até que eu disse: Aí é que é mentira!

A verossimilhança viria ocorrer 30 anos depois, com os carros autônomos. 

No outro lado desse espectro, está a obra em que a história tem cara de verdadeira e é verdadeira. Como as biografias.

Há muitas histórias que têm jeito de ficção e são histórias reais. 

Por fim, há as que têm cara de história real e são ficção. 

Enquadrada nesta última categoria, há 12 anos eu comecei ler um livro em uma viagem.  Cada vez que lia, mais eu achava que aquela história fosse real, tanto eram os sinais e a verossimilhança empregada pelo autor.

Fiquei com esta impressão anos a fio.  Tanto que indiquei este livro para muitas pessoas lerem. 

Voltando para a pergunta de Ana Karine.
Quando conversamos sobre o romance A Puta Rainha, ela, após falar algumas impressões que tinha acerca do mesmo, fez a pergunta:

- Marconi,  o livro é baseado em fatos reais? 

Depois fez mais alguns comentários, citando algumas cenas. Uma delas foi quando Cigana (uma personagem) passou por uma praça. Etc, etc, etc.

Voltando à minha resposta. Disse que era tudo ficção. Não lembro se comentei, que apenas o personagem Coronel Zélio eu me baseie na sua autobiografia (Um coronel do sertão).

Aqui e ali houve inspiração em algumas coisas biográficas, minha e de outras pessoas, no entanto, toda a história foi sendo criada à medida em que fui escrevendo.  Eu me divertia imaginando certas cenas, noutras dava até um suador.

Depois de muito pensar, me indaguei. Se os meus primeiros leitores, sete, tiveram a mesma percepção de Ana, então estarei a caminho de conseguir o meu intento de ter transformado centenas de ideias em uma história "crível".

Baseado em fatos reais?  Que seja segundo o conceito de Ernest Hemingway.

Abraço, 
Marconi Urquiza. 


Notas:
1 - O livro que me deixou com a impressão de ser real é: Travessura da Menina Má, de Mário Vargas Llosa. 

2- Dividi os originais de A Puta Rainha, com 748 páginas, em três volumes.  O primeiro eu submeti ao Conselho Editorial da Companhia Editora de Pernambuco (CEPE). Tem 313 páginas. 

Os outros dois volumes estou burilando, para submeter até  fevereiro de 2020. 





quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A Viúva

Resultado de imagem para estado de viuvez


        Nesta quarta-feira ao passar pelo cruzamento da Avenida Rosa e Silva com a Rua Santos Dumont, aqui em Recife (PE), me deparei com várias pessoas aguardando o sinal fechar para cruzar apenas a Avenida Rosa e Silva.

      Alguns segundos de espera, alguns segundos de uma observação rápida dos viventes que ali aguardavam o momento da travessia. Era por volta do meio dia. Um traje destoou dos demais. A maioria estava de calça jeans ou de calça Leg, logo na frente das pessoas que esperavam eu vi uma mulher de vestido.

      Quarta-feira de vestido? Estranhei.

     Bem, segundo as minhas observações de andante os vestidos são mais utilizados aqui em Recife nas quintas e nas sextas-feiras. A razão eu não sei. Já imaginei, há muito tempo, que um vestido caberia, como o jeans, como uma das vestes do casual day.  O meu conceito para estes vestidos: São roupas cujos cortes estejam na altura ou um pouco acima dos joelhos, tenham aspecto jovial e o tecido seja mais colorido, menos sisudo.

        Quando o vestido de tons amarelos, com algumas figuras de outras cores, que davam um toque de classe, me chamou a atenção, eu fui olhar o restante do corpo daquela senhora.

       Estava de óculos, grande, clássico, cabelo penteado, com corte na altura do pescoço, solto, mas não esvoaçante.

       Com olhar de curioso treinado, eu fixei a minha atenção naquela mulher. Cerca de 60 anos, talvez um pouco mais. Deduzi a idade por causa de alguma flacidez na pele das pernas. Com o peso normal, sem barriga. Não tinha adereços, o batom era discreto, mas não de cor neutra, um leve vermelho. No rosto uma leve maquiagem, se é que fosse maquiagem. 

      Corri a vista e não vi nenhuma jóia. Quando a vista desceu para os braços eu vi na sua mão esquerda as duas alianças juntas no dedo anelar. Aí voltei para o rosto, sério.

      Saí andando para casa, mais uns 200 metros de um caminho em que a imaginação tomou conta. Ela é viúva. Ainda utiliza as alianças, poderia tê-las tirado, as manteve, valoriza seu estado de viuvez. Manter as alianças poderia significar ter um espírito que valoriza e respeita as tradições, ou no meio social em que vive, sinalizar seu novo estado civil é cobrado ou é importante. Por fim, imaginei que ela poderia amar muito o seu cônjuge.

       O rosto sério indicava que ela ainda sente muito, mas o vestido jovial parecia revelar que ela começou a superar. O corpo bem cuidado, demonstrado pelo peso ideal e a pele bem tratada parecia indicar que a tristeza começou a ser bem administrada. O luto agora, parecia estar suavizado. 

      Após alguns minutos fui me aproximando da minha morada, não visualizei ela andando e imaginei a sua mão esquerda se erguendo, ajeitando os óculos, mostrando o brilho das duas alianças, depois passando a mão nos cabelos e, com ela espalmada, passou de leve sobre o vestido. 
      
     Quando entrei no prédio me lembrei de uma frase de Ariano Suassuna, na qual ele oferece a sua sabedoria:

   Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.

     O sinal abriu, ela atravessou a avenida e ....


Abraço,
Marconi.

     

     
     
    

    


    

    

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

De um Mestre Contador de Histórias




Amigas, amigos,

a crônica de hoje é musical, de um mestre contador de histórias.

CLIQUE NO LINK e ouça  Gonzagão em grande forma. DELICIOSO.

Carolina com K



Karolinaaa.
Hahaa.
Karolina foi o maior estrupicio que encontrei na minha vida!
ahh.mulé bagunceira da mulesta, mulé cangaceira.
Conheci Karolina num forró que eu tava tocando.
quando eu avistei aquela mulézona diferente no meio do salão
sem dançar com ninguêm, só mangando dos matutos.
Eu pensei comigo.
-aquilo deve ser um grande pedaço de mal caminho!.
mulé bunita, morena trigueira, cabelo comprido, boa linha de lombo.haha.!
Ai eu começei a caprichar no Fole vei pra ver se ela dava fé de mim.
mais ela nem fé deu.
E eu pensei comigo.
-Destá danada.deixa aparecer um colega pra me da uma ajuda, eu vou ai pra
tu ver o que é bom pra tosse!.
Ai apareceu Ancermo.
-Ôh Ansermo!.pega essa sanfona aqui.
Ancermo pegou a sanfoninha, ai eu fui na banda de Samarica
-Samarica tem celveja?.
-bote um caliçe.
-cerrejinha é essa Samarica?.só tem espuma.
-Oxente?!.celveja quente é assim mermo!.
-Apois bote duas encangada ai no fundo do pote, que eu vorto mais tarde!.
ai me butei pro salão com mais de mil!.
xeguei perto dela e disse.
-Que mal pergunte.vois mi cê que é a Carolina?.
ela escorou na perna esquerda.descançou a direita.
botou as mão nos quartos.balançou, e disse.
-Perguntas bem.Karolina com K.
-Que dançar mais eu?.
ela disse.
-Só se for agora!.
abufelei!.e sai com essa mulé!.
jogue ela pras direita, ela veio.joguei pra esquerda, ela tava ia.
mulé era adivinhona!.chamei a mulé no vôo do karkará.
sabé comé o karkará né?.ele voa na vertical para no ar e fica penerando.
ai eu vim descendo com ela bem devagazinho nos meus braços.
quando ela triscou o chão.ela deu uma gaitada!.
-Hahaii!.eh hoje.
eu digo é hoje mermu!
ai saimos fazendo aqueles fuxico todo, a mulé pegou o cabelão enrrolou na mão.
ki nem o vaqueiro quando vai derrubar boi.pendeu a cabeça pro lado.
e saiu rodado.e eu rodando mais ela dando cheiro no kangote dela!
nessa altura nois ja tava fazendo era triato.era o maior burburi da mundo!
ai eu disse pra ela:
-Karolina vamu aculá?.
ela respondeu:
-Boraa.
Chegamo na banca de Samarica
-Samarica.cerrejinha.
ela butou uma.nois bebemu.
-Bote mais uma.
ela butou a outra.nois bebemu.
eu disse:
-Samarica.bote mais duas encangada no fundo do pote
que nois vamu vortar mais tarde!.
ai vortemu pro salão.
ai eu num tava fazendo akela mizera toda mais não.
ai nois ja tava sereno.nois ja tava dakele jeito.maior felicidade.
ai zé do bainha xegou bateu a mão no meu ombro e disse:
-Gonzaga.acabou a festa.
eu digo:
-oxente?.acabou a festa?.
-acabou pra você!.
-você agora vai tocar.
-você que é o tocador?
-você ta aqui fazendo arte.ta fazendo até triato.ihh.vá tocar!
-Apois ta certu!
ai cheguei perto do Ansermo e disse:
-Ansermo.passa a sanfona pra cá, e vá dançar com karolina.
-mais não vão pra longe não viu?.fica dançando aqui em vorta de mim.
ai Ansermo axou foi bom!.
ai eu caprixei.
devez enquando.Ansermo passava por perto de mim assim.
karolina dava uma rabanada de vestido pra riba d'eu.
cubria a sanfona.ai eu só sentia aquele cheiro de fulô de amor.Haha!.
maior filicidade.
ai Zé do bainha gritou de lá.
-é 5 mi reis.ta na hora da cota.
-é 5 mi reis.quem nun pagar nun dança.
-é 5 mi reis.
-nãooo!.ta cunverçando homi!
-Oxente!
-num quero cocorê... nem xoro baixo!
-é 5mi reis.é 5mi reis.é 5mi reis.
Também foi ligeiro.fez a côta, xegou perto d'eu e disse
-o teu ta aquii!.
eu disse:
-Ansermo.passa a sanfona ai pra Pedro meia garrafa.
-Sanfona na mão de Pedro meia garrafa!
ai eu saii.zé do bainha ganhou os quarenta.
ai eu sai com karolina e Ansermo!.
-Vamu contar o dinheiro Ansermo! é 20 pra tu.e 20 pra eu!
-eu vou contar.prontu!
-Um pra eu.um pra tu.um pra eu.
-Um pra eu.um pra tu.um pra eu.
Ansermo besta.com as butuca ensima de karolina.
nem presta atenção na minha contage.e eu tô lá!
-Um pra eu.um pra tu.um pra eu.
-Um pra eu.um pra tu.um pra eu.
-Pronto Ansermo!
-aqui ta o teu.aqui ta o meu.
-agora tu vai vorta a tocar até de manhã, guarda minha sanfona
que amanhã eu vou buscar.
e eu já vou com karolina.hahaii.
xegamos na banda de Samarica.
-Samarica.
-Cerrejinhaa.cerrejinha.
Samarica passou a cerrejinha pra eu.
nois bebemu.
ota cerrejinha.bebemu a ota!
ai ja tava ali perto mermu do pé de sombrião
onde minha éguinha tava amarrada.
xeguei perto da éguinha, acoxei a cia, passei a perna,
joguei karolina na garupa, saimos escondidos pelos os fundos
e fomos simbora.
ai karolina disse pra mim:
-olha Gonzada, da uma buxa mermu que a cabruêira vem ai atraz.
parece que eles tão querendo butar gosto ruim no nosso amor.
-não diga issu karolina!.
sapiquei a espora do suvaco no vazii dessa égua.
ai a éguinha se abaixou.saiu danada chega saiu baixinha.
-piriri.piriri.piriri.piriri.piriri.piriri.piriri...
-êpa!...
parei memu na beira do rio, o riacho tava cheiro rapaz!
ai.a égua rifugou água.
-e agora karolina?
-vamu se esconder dentro das moitas!.ai por dentro dos matos.
ai nos entremo nos matos.a negrada vinha atraz, riscou também na beira do rio.
ai nos escultamos foi o cunverceiro deles:
-eh.sumiram.se encantaram.se escafedeucem.
-vamu caçar eles?
-hoomiii.vamu vortar pro samba, que ainda tem umas 2 horas de forró.
-é mesmo.vamu vortar.
a cabrueira vortou.e nois 3 ali dentro da moita.
eu.karolina.e minha égua.
e ali nois 3.escultando a cantiga das águas.
tirei a sela.e lavei a éguaaa!...
Hahaii...
Fonte: Musixmatch
Compositores: LUIZ GONZAGA LUIZ GONZAGA
Letra de Karolina com K © UNIVERSAL MUS. PUBLISHING MGB BRASIL LTD


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