quinta-feira, 7 de setembro de 2023

O Rato

            
https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2020/04/isolamento-social-ratos-lixo-esgoto-esconderijo-alimento-pandemia-coronavirus-covid

        Até ontem estava sem ideia sobre o que escrever. Puxava um assunto, outro,  um livro, parte de um livro, um filme, um artigo, os cortes de vídeos da psiquiatra e escritora Ana Beatriz (Mentes Perigosas) e nada deu liga.
         Fiquei a mutatar, paquerando a desistência de escrever a crônica desta semana. 

         Como se sabe, como diz o ditado popular: Quem procura, ...

         Mas é preciso que certas ideias sejam pegas pelo laço, o cabra precisa estar atento para notar que uma é capaz de sair do terreno vago para formar um texto, uma mensagem. 
         Bem, depois dessa conversa mole vamos ao calo, ou caso, ou a uma conversa inviesada. 
         Tempos atrás comecei a ler um romance, daqueles que tem bandido, tem policial, tem crime, tem rico que sacaneia,  tem pobre que se lasca, tem político que se mete na investigação,  tem delegado que junta a imprensa para fazer espetáculo,  tem preso que não é bandido, tem policial que faz tudo para aparecer e "cumpre seu dever" para o dono do poder e abusa do poder fácil e some no meio da burocracia estatal.
          Aí aparece um cara que o leitor não dar conta. Quer dizer, o vê, mas não o percebe no emaranhado de gente, de cenas e de circunstâncias e ele vai passando incógnito no meio da turba e dos tiros. 
          É tão dissimulado que o leitor fica caçando em sua mente o que ele está fazendo no livro. 
         Tão ardiloso quanto um crocodilo que sai da água com rapidez e surpreende sua presa.
         No caso do personagem por ser tão premeditado, mas TÃO PREMEDITADO, que morde com força e some nas sombras, quase um ostracismo, deixando rastros quase inexistentes. 

         Aí ontem pela manhã fui conversar com um advogado para defender a empresa em uma Reclamatória Trabalhista, a estreia da empresa nesse ponto da vida empresarial.
         Levei o caso e voltei refletindo,  na verdade, a continuação da reflexão que venho fazendo desde que li a petição inicial.
         Li cada ponto reclamado, de início foi apenas a tomada de consciência do que se tratava.
         Aí, ainda ontem, após coletar os documentos para a defesa, comecei a viajar nas conversas com o Reclamante dos últimos dez meses. 

         Pouco a pouco as moedas foram sendo colocadas no Caça Níquel.

         Telefone corporativo, comprado e ainda assim reclamado.
         Insalubridade,  questionada e reclamada pelo ruído e não pelo risco biológico ou químico que tantas vezes comentou. 
         Horas extras,  quase todo o tempo trabalhava menos de 8 horas. As poucas horas extras realizadas foram pagas. Os intervalos respeitados.
         Dano moral.  Como provocou para configurar um dano real.  Até Síndrome de Bournout falou, mas desta não reclamou.
         LER, como repetiu.  10 meses é pouco tempo para uma LER. Falava das mãos e colocou a lombar.

         E como dominou o discurso,  as atenções e as minhas preocupações ao longo dos meses. Um verdadeiro estrategista. 
         Bem,  aí fui aos poucos juntando queixas, cobranças que pareciam aleatórias, peças de um quebra-cabeça com várias ações planejadas para ter elementos para a reclamação judicial.

         Há em mim a convicção que tudo foi premeditado,  cada passo, cada frase, cada teste à minha personalidade,  cada experimento aos meus limites. Tudo premeditado, tudo.
         E como um Rato ele emergiu gigante nos últimos meses de trabalho na empresa, provocando constrangimento com as clientes,  reclamações pelo atendimento e por serviços ruins.
         Foi tudo como um jogo, na base do prejuízo emocional e financeiro descobri que como micro empresário que  não há espaço para ser bonzinho,  não pode ser injusto,  mas não pode bonzinho e ainda, tem que ser precavido como um bom enxadrista a projetar uma partida, se armando na proteção da empresa e de si mesmo.

         Em resumo, não há espaço para amadorismo de qualquer espécie. 

         Por hora é  só. 

        Abraço,  Marconi Urquiza. 
      

      "Ficou curioso sobre o livro?" 
           "Gosta de quebrar a cabeça para saber antes do fim quem é o                    bandido?"

        Escreva nos comentários do blog, passo o título do romance.



     

sábado, 26 de agosto de 2023

Guerreiros do Sol e minha ignorância

        

        
       Não foi por causa da série Cangaço Novo, bem que ela veio me ajudar a escrever esta crônica.

        Após três semanas do início da leitura do livro Guerreiros do Sol - violência e banditismo no Nordeste do Brasil,  conclui a sua leitura no último sábado (26.08.23).

        Algumas reflexões são importantes para mim. 

        Tudo que sabia sobre o cangaço era superficial. Nada conhecia sobre a índole e cultura do sertanejo. Da sua cultura consolidada por séculos de isolamento. 

        Sou do Agreste Pernambucano e achava que os homens de minha terra eram muito suscetíveis a serem violentos. Umas das características do sertanejo ancestral segundo o livro. 

        Esta suscetibilidade impactou direto no meu comportamento,  enquanto gerente do Banco do Brasil, que após 15 anos fora de Pernambuco fui trabalhar em 2003 em Surubim (PE). Como se diz no popular: eu era cheio de dedos para dizer alguma coisa aos clientes.  No exagero, quase isso, eu pensava 200 vezes antes de falar uma frase mais dura.

        Então, voltando ao livro, há nele até uma tipologia para o cangaço, o autor explica que havia três tipos de cangaço. O Cangaço meio-de-vida. Como profissão.  O Cangaço-vingança.  O uso de cangaço para vingar-se de um mal que sofreu e o Cangaço-refúgio. Quando o cangaceiro procura uma proteção contra algum inimigo ou da perseguição da polícia, por exemplo.

        Para mim tudo se resumia a três nomes: Lampião, Antônio Silvino e Jesuíno Brilhante. No entanto, o cangaço (banditismo) foi amplo, endêmico,  como informa o autor.

        Uma coisa que me chamou a atenção, entre tantos detalhes, foi o aspecto cultural que envolvia o cangaceiro, um ser cheio de liberdade em uma busca por uma vida de muita aventura, no caso do Cangaço meio-de-vida. Inclusive com a população do sertão os admirando e apoiando contra as volantes que os combatiam. Além de tudo havia uma rede de proteção de poderosos fazendeiros, políticos e comerciantes.

        Um outro ponto da minha ignorância é que parte da minha história de vida se passou pela ribeira do rio Pajeú.  Vivi em Afogados da Ingazeira entre 1982 e 1987. Nesse período poucas vezes se falou em cangaceiros,  ouvi a informação que Antônio Silvino nasceu na cidade, apenas isso,  de resto não era uma assunto que se conversava naqueles anos. 

        No período, se a memória não falha, a cidade parecia mais calma que minha cidade natal, que tinha frequentes episódios de violência entre seus habitantes. Surras e assasinatos eram comuns.

        O fato é que passei batido pelo assunto e só tive a curiosidade despertada quando ganhei de presente o livro Estrela de Couro - a Estética do Cangaço, do mesmo autor. Frederico Pernambucano de Mello. Lindo livro.

        Ao ler Guerreiros do Sol até o final, entre os pontos que desconhecia, um me chamou muito à atenção. A análise e minha interpretação que Lampião foi deixando de ser o guerrilheiro de sempre e foi se aquietando, não querendo mais confrontos, como se o amor por Maria Bonita o houvesse amançado. Além do que, a sua vida de bandido nômade estava cobrando alto para os seus quase 40 anos de idade. Interpretei como se estes fatores tivessem contribuído para ser achado e morto.

        Mas no livro há muito mais, é preciso ler com paciência e ir apreciando as informações que ao longo dele vão chegando. Esta é uma parte da história  do Nordeste que só tomei completo conhecimento agora, antes tudo eram apenas fragmentos que não me davam compreensão desta realidade que assolou o nordeste, em um banditismo rural medonho.

        De certo modo esse fenômeno é revivido sobre a alcunha de Novo Cangaço, quando bandidos do nosso tempo atacam os bancos pelo interior do Nordeste, do Sudeste também. 

        Em resumo: Vale a pena ler o livro, pois se terá a compreensão do complexo fenômeno do cangaço e dos fatores multifacetados da sua origem e sustentação durante tanto tempo.

        Por hora é só. 

        Abraço, Marconi Urquiza. 


quinta-feira, 24 de agosto de 2023

O jogador reclamão



    Nesta quarta-feira encontrei-me com Euler, presidente da AABB Recife, e perguntei sobre o técnico das equipes de futebol society, de veteranos, que irão jogar em novembro em São Luís (MA).

    Naquela conversa curta fiz menção de um técnico que nos acompanhou e gritava em excesso. Seu nervosismo contagiava para ruim todo o time.  Disse que não chamasse mais ele.

    Aquele papo se encerrou em poucos minutos e segui para o campo a fim de olhar as peladas. 

    Quando foi ontem lembrei da minha verve de gritão, reclamão. Um chato. 

    Entre 1983 e 1984 eu vivia uma fase de grande preparo físico e isto me ajudava a ser um bom marcador.  Um zagueiro de grande vigor físico, no sentido de marcar bem e não na violência. Na fase eu era um ótimo marcador e um péssimo "batedor".

    Em certo momento nas peladas eu comecei a gritar.  Passava meia hora gritando,  como se quisesse animar o time.

    Era o que eu desejava, mas o resultado era os colegas de pelada se chateando.

    Fiquei meses nessa ladainha. Um dia jogava no gol e perdíamos por 2x0, em certo momento pedi para trocar de posição e fui para a linha.  Ainda ensaiei umas reclamações (estímulos para mim) e senti algo estranho.  Não se explicar,  sei que me calei. 

    Calado corri como sempre corria naquele fase da vida e o time, penso, com base no silêncio, sem gritos, começou a reagir.  De 2x0 viramos para 3x2 em 30 minutos de pelada.

    Futebol tem uma coisa riquíssima.  Um talento individual faz um time ganhar muitos jogos, mas é o time que ganha campeonato. 

    Dali para frente comecei a ser mais silencioso, algumas vezes chamo a atenção de forma objetiva por alguma falha, tentando não me achar superior e nem denegrindo a autoestima do colega de time. 

    As vezes vejo peladeiros do mesmo time discutindo entre si, aí, quase sempre penso: Para que esse estresse?

    Para que esse estresse? Repito a pergunta, se os peladeiros veteranos vão, na maioria, por lazer e para manter a forma.

    Por hora, é só.  Ótimo final de semana. 

    Abraço, Marconi Urquiza 

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

O Luto, O vazio

        
https://vocerh.abril.com.br/coluna/diana-gabanyi/quatro-formas-de-praticar-a-empatia-no-ambiente-de-trabalho

        Na última segunda-feira estive no velório do primo Bastinho, passei parte do tempo ali observando a esposa e os seus três filhos.

        Tentei entender a tristeza que sentiam, a angústia que os acompanhou com o agravamento da doença e com o sofrimento que ela causou a ele.

        De vez em quando, a esposa, um dos filhos ou os irmãos, sobrinhos levava a mão aos olhos e secava uma lágrima. 

        Depois de mais de hora, quando as orações terminaram tive coragem de me aproximar deles e ver Bastinho no caixão.  Os cumprimentei e apresentei os sentimentos. Sempre tenho enorme dificuldade nestas horas. Ao conseguir fazer, senti-me mais tranquilo  

        Ao me afastar da sala de velório senti uma leveza no ambiente.  A tristeza era serena, sem revoltas, compassiva.

        Já com algumas horas de velório chegou um amigo de Bastinho,  quando ele foi entrando no velório eu senti seu rosto mudando e o choro chegando,  ele o segurou, entrou na sala e saiu rapidamente. Se juntou à irmã,  que enviuvou há poucos meses.

        O luto estava estampado nas expressões serenas dela, até quis conversar com ela, mas achei inconveniente.

        Passado algum tempo o velório foi se aproximando da despedida final,  os filhos lhe beijaram a testa, tocaram em uma das mãos de Bastinho e despedida final foi curta, apenas alguns metros o cortejo levou o corpo até o carro que seguiu para o crematório, bem próximo de onde estávamos. 

        Logo depois eu e Cida nos despedimos e voltamos para casa. No entanto, nos últimos dois dias tenho refletido sobre o luto e do vazio que as pessoas próximas a Bastinho sentirão. 

        Essa sensação de vazio não existe mais conosco quando nosso pai morreu em 1982, mas foi muito forte, muito forte,  quando fomos jantar na noite após o sepultamento. 

        Até pensei em dizer aos filhos dele, homens adultos e com suas famílias, como se passou conosco, como o luto faz parte da vida e como a saudade do que não foi feito irá os acompanhar algum tempo.

        Mas me falta proximidade,  assuntos assim, para falar deles tem que haver permissão e necessário algum grau de amizade.

        Não tenho, só tenho o sentimento e o coração aberto, para se houver oportunidade.

        Por hora, é só. 

        Abraço, Marconi Urquiza 

sábado, 5 de agosto de 2023

"Deus proteja de mim" *

Estava no restaurante de um hotel em João Pessoa quando li três frases de artistas paraibanos. Uma do personagem Chicó, de Ariano Suassuna, outra do cantor Chico César e a terceira que reconheci a frase, mas não lembrei do nome do autor.

A frase de Chico  César "Deus  me proteja de mim e da maldade de gente boa". Li, reli, lá pela quarta vez que prestava atenção na frase de Chico César um redemoinho tirou do arquivo escondido da memória lembranças arquivadas, recente e de mais tempo.

Meu pai tinha uma frase, que hoje posso sintetizar como agir com Boa Fé,  mas ele nunca falou este termo, em muitos momentos ele se expressou assim: "Ser honesto de principio". Para mim 100% ambígua,  não fora o convívio e suas atitudes jamais chegaria a esta conclusão.

Sempre achei ela de difícil interpretação, o fato é que ele nos criou sob um rigoroso principio de ser Honesto,  sem nenhuma margem para não ser assim.

Quando estava concluindo a faculdade de Direito fiz o trabalho de conclusão de curso no Direito do Consumidor e neste ramo a Boa Fé é princípio fundamental nas relações de consumo.

Pesquisando para este trabalho achei um livro que estudava a Boa Fé no Direito Civil e o autor dizia que a Boa Fé não depende de circunstância ou da vontade de alguém, a Boa Fé é objetiva.  Em resumo: As partes devem agir por lei com Boa Fé.  

É uma questão que me interessou tanto que inclui um capítulo no trabalho ligando esta Boa Fé com a Boa Fé do Direito do Consumidor. 

Na vida mundana o que mais se ver é a Má Fé, empresas e pessoas que não dizem tudo que pode afetar a decisão do consumidor,  que prometem o que não pode cumprir,  que fazem puxadinhos nos preços,  não informam defeitos e se aproveitam do dogmatismo da Justiça para se livrarem de suas más intenções  

E quando a Má fé se reveste de um sorriso aberto, de olhos que brilham, enquanto nos perscrutam para identificar nossas fraquezas, fica difícil para um espírito de boa fé identificar. 

Em tempos recentes eu convivi com alguém que me deu nós cegos,  parecia que eu estava sempre dez passos atrás ao identificar uma maldade,  essa pessoa já tinha 10 outras sacanagens para por em prática. Era como se tivesse um arsenal de maldades.

Era como um estrategista a enganar um general em campo de batalha com ações que desviavam o foco, enquanto os suas tropas ia pelo flanco mais fraco do outro general.

Com minha fé imperdenida que aquilo era temporário eu tomava tombo em cima de tombo, imaginando que tudo aquilo fosse passar e não ocorria, eu convivia com um ser maldoso, até que usei o silêncio para não sinalizar o meu pensamento. 

Sabe que Chico César tem razão:
"Deus me proteja de mim
 E da maldade de gente boa
 Da bondade de pessoa ruim
 Deus me governe e guarde
 Ilumine e zele assim"

Apesar dos tombos, continuo tendo a Boa Fé como um princípio para minhas atitudes todos os dias.

Por hora, é só.  Na Boa.

Abração,  Marconi Urquiza. 

PS:
(*) O título da crônica retirado na canção Deus me Proteja, de Chico César.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Enigma de uma vida

 

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       Sabe um desejo de uma explicação, até mais que isso, da descoberta de um enigma que está aí na vida, na minha. Certa vez, adolescente,  caminhando para ser um adulto jovem comecei a prestar atenção na intrigas que pareciam ser fruto das posições políticas locais antagônicas. Via apenas por este ponto de vista.

        Nesta época observava os arranca-rabos da política da minha cidade natal, o que também ocorria em muitas cidades circunvizinhas. Havia um padrão. Após muito refletir e observar, acreditei que fosse ódio. Um ódio enraizado, uma raiva entranhada. 

       Desde esse tempo procurava entender esta situação, só não sabia por onde procurar, de onde provinha esta raiz.

        O comportamento flutuava, para mais raiva a menos raiva fora das eleições. Fora das eleições, naqueles anos de minha estranheza, muitos contendores até pareciam amigos, quando a rinha da eleição era colocada no meio da praça, a raiva voltava com toda a sua insanidade.

        Passei anos refletindo sobre muitos acontecimentos, muitos diálogos e casos que chegaram até a mim, das leituras que fiz, especialmente do fenômeno do coronelismo nordestino e até dos barões do café no Sudeste.

        Até que esta inquietude foi aos poucos se transformando na busca incessante por uma resposta, mas ela não vinha completa, eram fragmentos de compreensão que aportavam na minha mente, mas não explicava a razão fundamental daquela raiva entranhada.

        Para mim uma liderança forte, com sabedoria, pode provocar mudanças comportamentais em muitos homens, mas hoje vejo que é uma parte da realidade, até esse líder (o coronel José Abílio d`Ávila Albuquerque) foi influenciado por uma cultura em que a mediação de conflitos que não passava apenas por uma vingança ou em impingir no desafeto a força da sangria.

        Como resposta para mim mesmo, escrevi em livro de ficção, nele contei a minha percepção a partir do estudo da biografia do coronel José Abílio e também me baseando em conflitos reais. Tem muito daquela história não escrita, colhida como nos ancestrais que não sabiam escrever, tudo oral. 

        A partir de um narrador, esta realidade foi sendo mostrada nas páginas do livro. Misturando realidade e ficção, fazendo amálgama que aos poucos foi me dando convicção que havia encontrado o conforto para minha inquietude.  Tanto que parei de pensar a respeito.

        Feito isso relaxei, a minha versão de uma parte da história de Bom Conselho estava explicada, ponto final.

        Mas o que pensei que estava encerrado em mim, não foi bem assim!

        Há anos que queria ler um livro e ele estava esgotado, quando pesquisei na internet, seu preço estava exorbitante, abandonei a busca e fiz uma em alguma biblioteca, mas não achei o livro. Meses atrás ele foi relançado, por circunstância adversas não pude ir ao lançamento, acabei esquecendo. Nesta semana ao passar próximo ao Museu do Estado em Recife, lembrei que a Editora CEPE tem nele uma livraria, e ela  havia lançado um nova edição daquele livro desejado, então fui até lá e comprei o livro.

        Horas depois comecei a ler, cheio de ansiedade quis pular a introdução para ir para as partes iniciais que estão relacionadas no sumário. Mas resisti e fui ler o prólogo do autor. Longo, por vezes me cansei, mas muito rico de informações.

       Ao continuar lendo Guerreiros do Sol - o banditismo no Nordeste do Brasil, de Frederico Pernambucano de Mello, fui me aproximando de uma perspectiva para aquele ódio entranhando que eu sentia em Bom Conselho da minha infância e juventude. Não procurava nenhuma resposta, pois para mim isto estava respondido nas páginas do romance O Último Café do Coronel. 

        Então pela curiosidade de conhecer o cangaço continuei a leitura, estava perto de terminar este início do livro quando li sobre uma parte sociológica, histórica e da formação da cultura dos homens do sertão. 

        De uma população que entrou para o sertão no início da colonização e descobriu que não podia voltar para o litoral por falta de recursos, que 100 anos depois deste início era uma população isolada, mantendo os costumes e valores medievais. Além disso, criando uma cultura própria para superar a escassez de recursos (água e alimentos, principalmente), que caracteriza aquele região, de resistir a uma economia destroçada a cada seca.

        Valores que induziam a resolver divergências com a violência. A macheza, o destemor, a valentia e principalmente a resolução de conflitos de forma peculiar, fora dos parâmetros legais. A Justiça lá, como conhecemos, não tinha seu espaço no sertão mais antigo, nele os ritos eram feitos pelos costumes apenas, desconectados do ambiente do leste, da área costeira. 

        Foi então que compreendi que aquela raiva entranhada em Bom Conselho e que se mostrava por inteira nas eleições era resquício do padrão de conduta da cultura do sertão ancestral e que para mim é ainda forte em alguns bolsões do sertão dos dias atuais.

        Não sei o que mais encontrarei no restante do livro, mas conhecer um pouco da história pode nos permitir compreender nuances que ficam em nossas mentes como nozinhos a serem desatados. Acho que destei um desses.

        Abraço, Marconi Urquiza

        

PS:

A linda capa da 1ª edição.


Link da CEPE Editora a 6ª edição atualizado do livro para quem pretender ler - Maiores de 60 anos tem desconto.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

É mais que futebol, que jogar bem

             

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            Hoje acordei pela madrugada e de repente me lembrei de uma observação feita por um companheiro de pelada em 1995: "Como você é bom zagueiro!" Ela me deixou feliz no momento em que ouvi. Fazia muitos anos que não jogava de zagueiro nas peladas, minha paixão era jogar de lateral esquerdo, posição em que me sentia livre para atacar e tentar fazer uns golzinhos.

         Na década de 1980, de 1982 a 1985 eu jogava na AABB de Afogados da Ingazeira e eu em muitos momentos, por ter um preparo físico e uma capacidade de marcação excelente eu fui muitas vezes o primeiro jogador a ser chamado para uma das equipes que disputaria a pelada noturna. Isto de certo modo me deixou orgulhoso ao me recordar destes fatos, muitos anos depois. Um zagueiro como "craque" de um time. Menos, né, muito menos.

         Aí o tempo passou, já com mais de sessenta anos, sem jogar futebol regularmente, lá vou eu treinar para os jogos de aposentados do Banco do Brasil e um amigo, generoso, saiu com algo assim: "Olha ele, faz tempo que não joga e quando vem treinar joga muito". Qualquer coisa nesse sentido.

         Vou espalhar estas observações para outros pontos da vida. Muitas vezes nós não percebemos como seres com algum talento mais desenvolvido, muitas vezes, não é incomum, vivemos sob a influência de pessoas que dizem cotidianamente crenças limitantes, que terminam por minar, reduzir a nossa capacidade de perceber o que cada um tem de excepcional, minam a confiança própria que podemos ser mais, que em algum momento nos pareceu ser impossível ir adiante.

         Estes três momentos do futebol são para mim, no alvorecer dos 64 anos, um alerta e um despertar que em algum canto de nossa mente, de nosso coração, há um talento excepcional para ser mostrado, não pelos outros, mas por nós mesmos.

           Pois bem, por hora é só.


            Marconi Urquiza

O poder revela ou transforma uma pessoa?

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