Esta crônica tornou-se essencial quando Euler me disse: não
tem imagem do gol. Como apresentar um gol, tido por golaço, com palavras,
vírgulas e pontos? Como tornar as palavras em imagens?
Foi na quarta-feira (06.11.24), treino de futebol
preparatório para a Jornada de Integração dos Aposentados do Banco do Brasil,
que será neste mês em Fortaleza.
Nos reunimos no meio do campo para os avisos de costume,
qual seria a estratégia daquele treino, nas palavras do treinador Júnior, uma
simulação de jogo. Então a primeiro tempo foi o time de hipermaster (entre 65
anos e menos de 70 anos) contra uma
equipe de ultramaster (de 70 anos para frente).
Eu fiquei no banco vendo o jogo rolar, aí acabou o primeiro
tempo e se decidiu que dois times do ultramaster iriam treinar, incluindo
alguns jogadores para completar uma das equipes. Eu entrei nessa hora. Fui para a
lateral direita, não digo ala, pois fico mais recuado, avanço pouco. E o jogo
estava pegado, ótimo para participar, com ataques e defesas constantemente
acionados. Eu estava me divertindo, fisicamente não sentia a habitual falta de elasticidade
muscular, que prende meus movimentos.
Estava fazendo tudo que um peladeiro faz: cortar a bola,
acertar passes, errar mais ainda, tentava não dar chance para toma gol. De tanto dribles de corpo, acertei a marcação de um atacante. Nessa hora só jogava e
pensava defensivamente. E o jogo corria com todos em campo se esforçando para
acertar o ataque.
Em alguns momentos avancei um pouco no início do campo de
ataque e logo me posicionava, para junto com os demais jogadores defensivos não
tomar gol de contra-ataque. Pois bem, nosso time ataca e ganha um escanteio. Era o
começo de uma aventura.
Atenção!! O ultramaster raiz ataque, Dilson corta, escanteio
para o time azul. Lá vai, caminhando para o canto do campo Araken.
Valter Araken coloca a bola no gramado e se prepara para bater escanteio. A
área está congestionada. Tem gente demais. Dá para contar oito jogadores
naquele quadrado do minicampo que ficou pequeno. Valter Araken, arrumou a bola,
olhou para a área, parou, está pensando o que vai fazer.
Nisso o treinador Júnior, disse: Vai Marconi. "Eu dei uma corrida curta para a intermediária, quase de frente para o gol, mais pela direita."
Atenção, o escantei vai ser cobrado, é sempre uma jogada pouco aproveitada. Marconi avançou, o que será que vai acontecer.
Ele não é de ir para ataque. Ele olha para trás, viu Zé Maria dando cobertura,
do lado esquerdo, marcando alto, esta Renazico. Araken, Araken dá dois
passos para trás, dois passos, levantou a cabeça, escolheu para quem cruzar. Ele tocou, tocou
para trás! Quebrou toda a defesa! O ataque não entendeu.
"E a bola veio serena, queimando a grama, nem devagar e nem
muito rápida, no ponto. Quando vi a bola na minha direção eu corri, corri e
peguei ela em cheio, com o pé direito, com todo o impulso do corpo. Não vi a
bola voando, apenas vi o goleiro Edvaldo levantando as mãos e a bola já
empurrava com força a rede. Quase instantaneamente."
Lá vem a bola rasteira, rápida para Marconi, ele vai
dominar e lançar pelo alto para ver se encontra uma cabeça que faça do
gol. Ôxe, o que ele fez, isso não foi um chute, foi uma explosão. Torcedor,
você ouviu? O microfone captou a explosão, quase atômica, da bomba do chute de
Marconi. Repórter, encosta nele e pergunta como foi isso.
Sim, Osvaldo, assim
que terminar vou perguntar o que ele sente por fazer um golaço.
O repórter chegou e eu disse:
— Olha, fiquei contente. Tinha mais
3 anos que não fazia um gol.
— E como foi isso? Você fez algum
sinal para Araken passar a bola?
— Nada, fiquei até surpreso da bola vir para
mim, só não fiz o normal, que era parar a bola, mas me deu um impulso. Para ser
sincero, não lembro se pensei em alguma coisa, apenas agi. De repente era para
chutar e eu chutei. Foi assim.
— Você tem ideia da velocidade do chute?
— Eita rapaz, sei não. Rápida, né?
— No minha experiência de repórter esportivo, foi mais de 70 km/h.
— Isso tudo?
— Tudo. Não arrisco dizer que foi mais para não passar por mentiroso.
Sabe, muitas coisas na minha vida eu tive desejo. Alguns
realizei, a maioria ficou pelo caminho, mas um tinha um sonho. E esse era fazer um gol de fora da área em um campo grande e fiz perto dos 40 anos lá no campo do seminário
de Terra Boa (PR), depois de mais de 20 anos de peladas. Tanto que a partir dele acreditei que poderia chutar de
longe, esse gol da quarta, vem desses 24 anos em que o sonho se tornou uma alegria
em um domingo frio do inverno paranaense.
Por hoje é só, Marconi Urquiza