Há
uma frase de que gosto muito e que, para mim, é a expressão da presença
política: “Os ausentes nunca têm razão”. Embora pudessem estar com alguma
razão, eles a perdem pelo fato de se ausentarem.
A ideia para o título desta crônica
veio do filme: "Precisamos falar sobre o Kevin." Kevin é o filho da
personagem Eva que mata o pai e a irmã à flechadas. Uma tragédia que poderia
ser evitada, se Eva tivesse provocado o marido para conversar sobre a personalidade
maléfica do filho.
Aqui dou uma quebrada. Algumas vezes, creio que muito dos leitores devam ter
ouvido algo assim: "Eu não avisei!". Ocorreu o aviso e assim mesmo o
erro foi cometido.
Desde o início da Operação Lava Jato para o bem ou para o mal, ou para ambas as
situações, em concomitância, a nossa opinião foi sendo conduzida, quase como
uma regra, a favor dela e contra os "bandidos", ou contra os
elementos fáticos dela e dos seus protagonistas. Elementos fáticos de fato e os
elementos fáticos de "não fatos". Em resumo, uma oposição entre
os fatos comprovados e os "fatos criados por uma narrativa
deliberada", intencionados para atingir um objetivo.
Antes disto, a maioria da população se cindiu em a favor e contra. A partir de
2013, tal cisão acabou conduzindo o pensamento do brasileiro para ser um anti,
UM ANTI TUDO QUE NÃO FOSSE A SUA FORMA DE VER O MUNDO.
Se alguém olhar os fatos e os interpreta diferente, ele é contra, se não opina,
o viés do ANTI TUDO, também interpreta como contra ao MEU PENSAMENTO. Vou
enfatizar, MEU PENSAMENTO.
Neste ponto vou abrir um espaço para uma experiência
pessoal. Sou uma mistura de credulidade com um ceticismo forte. Sou crédulo por que
tendo a confiar nas pessoas e sou cético por necessidade. Fui muito vezes enganado
ao acreditar que havia boa vontade em muitas pessoas.
A experiência me fez quase acreditar que o pensamento dos telejornais era o meu. Passei meses assistindo as informações que a Lava Jato produzia. De tanto ouvir eu fui deixando de ponderar aquilo que eu recebia por meio das sucessivas edições do Jornal Nacional, Jornal da Record, Globonews, sites G1, UOL, Estadão, a revista Veja e outros noticiosos menos relevantes. Todos pareciam repetir as mesmas informações, até a Rádio Jornal, que tendo a escutar muito, vinha com o mesmo tom.
Em certo momento, eu senti que a minha mente estava sendo dominada, nela já
não tinha espaço para fazer uma reflexão, até que certo dia eu parei: "Não
vou mais assistir e ler esses noticiários." Parei e passei muitos meses
sem assisti-los ou os ler. Mas o processo era massacrante, então comecei
a buscar outros meios de me informar ou ouvir opiniões diferentes, que me
propiciasse uma certa capacidade de ponderar o quanto se ouvia era verdadeiro,
inconteste, ou haviam opiniões diferentes. Assim eu fui saindo do lameiro que
me prendia no pensamento único. O MEU PENSAMENTO agora era múltiplo. Comecei a
perceber nuances e a minha alma não foi domada.
Bem, esta foi a minha realidade. Ainda vez por outra eu penso na frase de
Nelson Rodrigues: "Toda unanimidade é burra"; eu acho que ela é viciante. Provoca
um bloqueio que torna muita gente incapaz de ouvir o aviso: "Eu não
disse!" Não é o meu caso viver avisando, pois não sou profeta e nem
adivinho.
Por causa do acirramento desta forma de reagir, do radicalismo que muita gente
se porta ao tratar do assunto. Da prática corrente do linchamento sem
consequência nas redes sociais. Da instigação do ódio contra quem quer
que seja, contra quem quer que não tenha dado motivo pessoal, insuflado por uma
retórica que domina o bom senso e pelo uso da tecnologia que não dar nenhum
descanso à mente dos adoradores do novo bezerro de ouro: A raiva
contra qualquer humano que seja diferente do nosso modo de ver. Por causas
destas e de outras circunstâncias, a maioria tem deixando de discutir uma coisa
de imensa importância: A POLÍTICA.
Vamos tentar ilustrar.
Na "política das eleições", tudo que os candidatos querem é insuflar as nossas emoções mais primárias e universais: o medo, a raiva, o ódio, a vontade de brigar, a vontade de matar, a idolatria. Com isto, muitas vezes dominam os pensamentos e provocam um impacto duradouro na nossa capacidade de sermos tolerantes. Isto também tem um efeito, na era de antes das eleições turbinadas pela internet ainda se via alguns candidatos mostrarem seu programa de governo. Isto, por hora, perdeu importância.
Na "política após as eleições”, a gente, nobres eleitores, viramos
passageiros. Muitas decisões parecem mirar a maior parte da sociedade, mas miram
exatamente o contrário. Cá de longe, ficamos apenas no "OBA!; ÔHHH!
EITAAAA!. E muitas vezes apenas lamentando.
- Quando falta apoio para salvaguardar
o oceano? Foi uma decisão política que decidiu.
- Quanto se abriu de todo mundo andar
armado? Foi uma decisão política.
- Quando se fez a reforma da
previdência?
- Quando se constrói uma estrada?
- Quando se dá subsidio a uma
indústria?
- Quando se criou o SUS?
- Quando se privatiza uma empresa
pública?
- Quando se quer transformar a nossa
economia para um modelo diferente?
- Quando se constrói e se mantem em
funcionamento um hospital público?
- Quando se cria uma universidade
pública ou se estrangula ela com falta de recursos?
Basta imaginar um pouco. Basta imaginar um pouco para ver como não podemos nos omitir.
A Política precede a economia, a economia favorece ou desfavorece um político,
mas a Política e a força do estado é que podem transformar a minha vida, a sua,
de muitas pessoas para melhor ou para pior.
Pois bem, é sobre estes aspectos da Política que a gente precisa conversar.
Discutir para compreender. Discutir para não sermos passageiros de uma agonia,
que às vezes se prenuncia sem nos darmos conta.
Vamos discutir Política sem apaixonar, pois, sem a cegueira
da paixão poderemos ver com toda clareza o que é discurso, retórica e o que é
fato ou o que certos discursos prenunciam nas entrelinhas.
Mesmo distantes, mas
ao se ter consciência da realidade política, podemos usar os meios digitais
para dizer aos políticos como estamos vendo a sua atuação e assim obter um
mínimo de capacidade de não sermos meros passageiros, pois nos dias atuais
somos meros fantoches, influenciados por mensagens bombardeadas diariamente,
incessantemente, gerando na nossa mente a pior das acomodações: A preguiça de
pensar.
Abraço,
Marconi
PS:
Uma resenha sobre o filme "Precisamos conversar sobre o Kevin", neste link:






