sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Quem avisa...tem amizadis

                             

        Gaudêncio, Hélio,
        Mocó,
        Bode, Milton,
        Bacurau...
        Na véspera do grande
        encontro
        Com estilo de sarau
        Nos bares de 
        Afogados
        Quantos casos
        relembrados...
        Pinga e cerveja no
        grau.
                    Do Poeta Ademar Ferreira Rafael

    Amiga leitora, amigo leitor,  agora você vai passear por 390 quilômetros de memória, em uma viagem física,  no tempo e no afeto.

     No dia 01 de fevereiro de 2020 foi realizado um grande encontro dos ex-funcionários do Banco do Brasil de Afogados da Ingazeira, naquela querida cidade.

    Nas minhas contas eram 26 anos sem ir à cidade, a última vez em 1994. Nem posso falar da lindeza que a cidade havia sido transformada.

    Como motorista que tenta decorar cada curva do caminho, não tenha dúvida, tentei advinhar os buracos de mais de 30 anos antes. Não é que achei alguns!  Achei, ixe! Quando nós (Eu e Cida) viramos em Cruzeiro do Nordeste ou Placas, indo à direita na direção de Sertânia, comecei a ver antigos e novos buracos no asfalto que parecia se esfarelar.

    Pegamos uma parte da rodovia estadual em Sertânia no sentido de Custódia e ela parecia um tapete,  saímos dela e pegamos uma rodovia federal com os buracos antigos, mas o que esse trecho tinha de especial foram duas recordações. 

    Já havia anoitecido no sábado de 09 de janeiro de 1982 e me sentia perdido quando passava no povoado de Albuquerque Né, vindo de Recife.  Naquele início de noite eu dirigia devagar com o Chevette branco, 1978, olhei para o lado direito e vi uma bodega. Parei e desci para perguntar como iria para Afogados da Ingazeira, para tentar disfarçar meu constrangimento pedi uma Coca Cola. Corri com olhar as prateleiras em busca de algum biscoito. Nada tinha, quer dizer: tinha muita cachaça e cerveja.
 
    No último copo perguntei como chegaria em Afogados.  Recebi a orientação e saí guiando como se tivesse andando de salto alto.

     Uns 10 minutos depois achei a estrada para o meu destino de mais de 5 anos.

     Naquela volta em 2020 essa lembrança veio forte, com olhar ávido tentei achar a casa onde funcionou a bodega. Não a reconheci, andamos mais um quilômetro e vi o campo de futebol. Nesse ano parecia estar abandonado. 

     Encostei o carro na beira da estrada e fiquei olhando-o, também olhei para dentro e a lembrança me levou a vê-lo em um domingo à tarde, um domingo qualquer na década de 1980. Nesse dia a gente voltava de Bom Conselho, no campo corria solta uma partida de futebol.

     Um time atacava para o norte e outro para sul. O time que atacava para o norte, fez uma jogada pelo lado esquerdo e  a bola foi cruzada para dentro da área e um jogador que corria da direita para o centro dela acertou o gol de primeira. Nem vi direito a comemoração,  dei partida no carro e me concentrei nos 48 km que restavam até Afogados da Ingazeira.

     Naquele entardecer de 2020, sexta-feira, após dar uma volta em Afogados vi três colegas aposentados tomando cerveja. Parei o carro e fui até eles.  

    Izac, Bode, Joãozinho Mocó e Bacurau já haviam vertido várias garrafas. Com gosto pela cerveja, me encostei e comecei a também verter. Não é que de repente recebi o aviso fatal. Não sei se mensagem ou um telefonema.

    Eis a mensagem crucial:
       "Marconi eu conheço essa turma,  você não vai aguentar beber com eles".

     Foi o amigo Alberto Belo encarecidamente me avisando.  Quem avisa amigo é. Dei uma desculpa, já meio tungado e fui para o hotel. 

    A questão é que nesta semana recebi do amigo Negri a imagem de abertura desta crônica. Pois bem,  naquele 31.01.2020, segui duplamente à risca o mandamento de Mussum, primeiro para beber, depois para não ter uma ressaca braba. 

    Então! Foi tudo pela Amizadis.


    Por hora é só, ótimo final de semana.

        Marconi Urquiza

Buscando escrever

     Por excesso de temas acabei por não escrever a crônica como faço no domingo. Aí fui buscar uma que estivesse pronta,  vi  vários rascunhos.  Outro tanto de versões de crônicas divulgadas. 
     Achei uma que trazia o conceito de Esperançar de Paulo Freire. Parece que estamos vivendo esse conceito que é uma ação ativa e não passiva. Onde as palavras positivas estão fazendo eco depois que a maldade parecia tomar conta de tudo.
     Achei outra que tem uma linda rosa vermelha como imagem de abertura, inspirada no lindo conto de Clarice Lispector, Clarice menina que entrou nos jardins de uma casa de um rico em Recife e furtou uma rosa.
     Vi outro rascunho, e está vívido em mim a fotografia do rosto travesso e sorridente do multi artista da escrita Antônio Maria, um notório boêmio e que colhia suas crônicas diárias andando pelas ruas de Copacabana. Como ele viu aquela Mulher Nua Na Janela? Prosaica. 
     Lembrei-me da minha própria crônica em que tentava descrever um gol que fiz quase do meio campo e falhei. Falhei no que deveria descrever, que não era físico, não era a mecânica do chute, o efeito do vento que mudou a trajetória da bola. O que deveria trazer foi a alegria imensa de ter consigo realizar um sonho juvenil de fazer um gol de tão longe. Era sobre sentimentos.
     Aí esta semana me ocorreu de lembrar de um Baile do Governador no Rotary, cuja atração principal era o cantor Adilson Ramos. Quase 15 anos se passaram e o que presenciei causa-me estranheza pela alegria e espontaneidade das senhoras ao ouvir os primeiros acordes do maior sucesso do cantor. 
     Se moveram e foram para frente do palco cantar e dançar com o artista as lembranças de suas juventudes. Para resumir aquilo tudo só em uma palavra: Fantástico. 

     Por hoje é só.  Abração. 

      Marconi Urquiza. 

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

O Rato

            
https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2020/04/isolamento-social-ratos-lixo-esgoto-esconderijo-alimento-pandemia-coronavirus-covid

        Até ontem estava sem ideia sobre o que escrever. Puxava um assunto, outro,  um livro, parte de um livro, um filme, um artigo, os cortes de vídeos da psiquiatra e escritora Ana Beatriz (Mentes Perigosas) e nada deu liga.
         Fiquei a mutatar, paquerando a desistência de escrever a crônica desta semana. 

         Como se sabe, como diz o ditado popular: Quem procura, ...

         Mas é preciso que certas ideias sejam pegas pelo laço, o cabra precisa estar atento para notar que uma é capaz de sair do terreno vago para formar um texto, uma mensagem. 
         Bem, depois dessa conversa mole vamos ao calo, ou caso, ou a uma conversa inviesada. 
         Tempos atrás comecei a ler um romance, daqueles que tem bandido, tem policial, tem crime, tem rico que sacaneia,  tem pobre que se lasca, tem político que se mete na investigação,  tem delegado que junta a imprensa para fazer espetáculo,  tem preso que não é bandido, tem policial que faz tudo para aparecer e "cumpre seu dever" para o dono do poder e abusa do poder fácil e some no meio da burocracia estatal.
          Aí aparece um cara que o leitor não dar conta. Quer dizer, o vê, mas não o percebe no emaranhado de gente, de cenas e de circunstâncias e ele vai passando incógnito no meio da turba e dos tiros. 
          É tão dissimulado que o leitor fica caçando em sua mente o que ele está fazendo no livro. 
         Tão ardiloso quanto um crocodilo que sai da água com rapidez e surpreende sua presa.
         No caso do personagem por ser tão premeditado, mas TÃO PREMEDITADO, que morde com força e some nas sombras, quase um ostracismo, deixando rastros quase inexistentes. 

         Aí ontem pela manhã fui conversar com um advogado para defender a empresa em uma Reclamatória Trabalhista, a estreia da empresa nesse ponto da vida empresarial.
         Levei o caso e voltei refletindo,  na verdade, a continuação da reflexão que venho fazendo desde que li a petição inicial.
         Li cada ponto reclamado, de início foi apenas a tomada de consciência do que se tratava.
         Aí, ainda ontem, após coletar os documentos para a defesa, comecei a viajar nas conversas com o Reclamante dos últimos dez meses. 

         Pouco a pouco as moedas foram sendo colocadas no Caça Níquel.

         Telefone corporativo, comprado e ainda assim reclamado.
         Insalubridade,  questionada e reclamada pelo ruído e não pelo risco biológico ou químico que tantas vezes comentou. 
         Horas extras,  quase todo o tempo trabalhava menos de 8 horas. As poucas horas extras realizadas foram pagas. Os intervalos respeitados.
         Dano moral.  Como provocou para configurar um dano real.  Até Síndrome de Bournout falou, mas desta não reclamou.
         LER, como repetiu.  10 meses é pouco tempo para uma LER. Falava das mãos e colocou a lombar.

         E como dominou o discurso,  as atenções e as minhas preocupações ao longo dos meses. Um verdadeiro estrategista. 
         Bem,  aí fui aos poucos juntando queixas, cobranças que pareciam aleatórias, peças de um quebra-cabeça com várias ações planejadas para ter elementos para a reclamação judicial.

         Há em mim a convicção que tudo foi premeditado,  cada passo, cada frase, cada teste à minha personalidade,  cada experimento aos meus limites. Tudo premeditado, tudo.
         E como um Rato ele emergiu gigante nos últimos meses de trabalho na empresa, provocando constrangimento com as clientes,  reclamações pelo atendimento e por serviços ruins.
         Foi tudo como um jogo, na base do prejuízo emocional e financeiro descobri que como micro empresário que  não há espaço para ser bonzinho,  não pode ser injusto,  mas não pode bonzinho e ainda, tem que ser precavido como um bom enxadrista a projetar uma partida, se armando na proteção da empresa e de si mesmo.

         Em resumo, não há espaço para amadorismo de qualquer espécie. 

         Por hora é  só. 

        Abraço,  Marconi Urquiza. 
      

      "Ficou curioso sobre o livro?" 
           "Gosta de quebrar a cabeça para saber antes do fim quem é o                    bandido?"

        Escreva nos comentários do blog, passo o título do romance.



     

sábado, 26 de agosto de 2023

Guerreiros do Sol e minha ignorância

        

        
       Não foi por causa da série Cangaço Novo, bem que ela veio me ajudar a escrever esta crônica.

        Após três semanas do início da leitura do livro Guerreiros do Sol - violência e banditismo no Nordeste do Brasil,  conclui a sua leitura no último sábado (26.08.23).

        Algumas reflexões são importantes para mim. 

        Tudo que sabia sobre o cangaço era superficial. Nada conhecia sobre a índole e cultura do sertanejo. Da sua cultura consolidada por séculos de isolamento. 

        Sou do Agreste Pernambucano e achava que os homens de minha terra eram muito suscetíveis a serem violentos. Umas das características do sertanejo ancestral segundo o livro. 

        Esta suscetibilidade impactou direto no meu comportamento,  enquanto gerente do Banco do Brasil, que após 15 anos fora de Pernambuco fui trabalhar em 2003 em Surubim (PE). Como se diz no popular: eu era cheio de dedos para dizer alguma coisa aos clientes.  No exagero, quase isso, eu pensava 200 vezes antes de falar uma frase mais dura.

        Então, voltando ao livro, há nele até uma tipologia para o cangaço, o autor explica que havia três tipos de cangaço. O Cangaço meio-de-vida. Como profissão.  O Cangaço-vingança.  O uso de cangaço para vingar-se de um mal que sofreu e o Cangaço-refúgio. Quando o cangaceiro procura uma proteção contra algum inimigo ou da perseguição da polícia, por exemplo.

        Para mim tudo se resumia a três nomes: Lampião, Antônio Silvino e Jesuíno Brilhante. No entanto, o cangaço (banditismo) foi amplo, endêmico,  como informa o autor.

        Uma coisa que me chamou a atenção, entre tantos detalhes, foi o aspecto cultural que envolvia o cangaceiro, um ser cheio de liberdade em uma busca por uma vida de muita aventura, no caso do Cangaço meio-de-vida. Inclusive com a população do sertão os admirando e apoiando contra as volantes que os combatiam. Além de tudo havia uma rede de proteção de poderosos fazendeiros, políticos e comerciantes.

        Um outro ponto da minha ignorância é que parte da minha história de vida se passou pela ribeira do rio Pajeú.  Vivi em Afogados da Ingazeira entre 1982 e 1987. Nesse período poucas vezes se falou em cangaceiros,  ouvi a informação que Antônio Silvino nasceu na cidade, apenas isso,  de resto não era uma assunto que se conversava naqueles anos. 

        No período, se a memória não falha, a cidade parecia mais calma que minha cidade natal, que tinha frequentes episódios de violência entre seus habitantes. Surras e assasinatos eram comuns.

        O fato é que passei batido pelo assunto e só tive a curiosidade despertada quando ganhei de presente o livro Estrela de Couro - a Estética do Cangaço, do mesmo autor. Frederico Pernambucano de Mello. Lindo livro.

        Ao ler Guerreiros do Sol até o final, entre os pontos que desconhecia, um me chamou muito à atenção. A análise e minha interpretação que Lampião foi deixando de ser o guerrilheiro de sempre e foi se aquietando, não querendo mais confrontos, como se o amor por Maria Bonita o houvesse amançado. Além do que, a sua vida de bandido nômade estava cobrando alto para os seus quase 40 anos de idade. Interpretei como se estes fatores tivessem contribuído para ser achado e morto.

        Mas no livro há muito mais, é preciso ler com paciência e ir apreciando as informações que ao longo dele vão chegando. Esta é uma parte da história  do Nordeste que só tomei completo conhecimento agora, antes tudo eram apenas fragmentos que não me davam compreensão desta realidade que assolou o nordeste, em um banditismo rural medonho.

        De certo modo esse fenômeno é revivido sobre a alcunha de Novo Cangaço, quando bandidos do nosso tempo atacam os bancos pelo interior do Nordeste, do Sudeste também. 

        Em resumo: Vale a pena ler o livro, pois se terá a compreensão do complexo fenômeno do cangaço e dos fatores multifacetados da sua origem e sustentação durante tanto tempo.

        Por hora é só. 

        Abraço, Marconi Urquiza. 


quinta-feira, 24 de agosto de 2023

O jogador reclamão



    Nesta quarta-feira encontrei-me com Euler, presidente da AABB Recife, e perguntei sobre o técnico das equipes de futebol society, de veteranos, que irão jogar em novembro em São Luís (MA).

    Naquela conversa curta fiz menção de um técnico que nos acompanhou e gritava em excesso. Seu nervosismo contagiava para ruim todo o time.  Disse que não chamasse mais ele.

    Aquele papo se encerrou em poucos minutos e segui para o campo a fim de olhar as peladas. 

    Quando foi ontem lembrei da minha verve de gritão, reclamão. Um chato. 

    Entre 1983 e 1984 eu vivia uma fase de grande preparo físico e isto me ajudava a ser um bom marcador.  Um zagueiro de grande vigor físico, no sentido de marcar bem e não na violência. Na fase eu era um ótimo marcador e um péssimo "batedor".

    Em certo momento nas peladas eu comecei a gritar.  Passava meia hora gritando,  como se quisesse animar o time.

    Era o que eu desejava, mas o resultado era os colegas de pelada se chateando.

    Fiquei meses nessa ladainha. Um dia jogava no gol e perdíamos por 2x0, em certo momento pedi para trocar de posição e fui para a linha.  Ainda ensaiei umas reclamações (estímulos para mim) e senti algo estranho.  Não se explicar,  sei que me calei. 

    Calado corri como sempre corria naquele fase da vida e o time, penso, com base no silêncio, sem gritos, começou a reagir.  De 2x0 viramos para 3x2 em 30 minutos de pelada.

    Futebol tem uma coisa riquíssima.  Um talento individual faz um time ganhar muitos jogos, mas é o time que ganha campeonato. 

    Dali para frente comecei a ser mais silencioso, algumas vezes chamo a atenção de forma objetiva por alguma falha, tentando não me achar superior e nem denegrindo a autoestima do colega de time. 

    As vezes vejo peladeiros do mesmo time discutindo entre si, aí, quase sempre penso: Para que esse estresse?

    Para que esse estresse? Repito a pergunta, se os peladeiros veteranos vão, na maioria, por lazer e para manter a forma.

    Por hora, é só.  Ótimo final de semana. 

    Abraço, Marconi Urquiza 

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

O Luto, O vazio

        
https://vocerh.abril.com.br/coluna/diana-gabanyi/quatro-formas-de-praticar-a-empatia-no-ambiente-de-trabalho

        Na última segunda-feira estive no velório do primo Bastinho, passei parte do tempo ali observando a esposa e os seus três filhos.

        Tentei entender a tristeza que sentiam, a angústia que os acompanhou com o agravamento da doença e com o sofrimento que ela causou a ele.

        De vez em quando, a esposa, um dos filhos ou os irmãos, sobrinhos levava a mão aos olhos e secava uma lágrima. 

        Depois de mais de hora, quando as orações terminaram tive coragem de me aproximar deles e ver Bastinho no caixão.  Os cumprimentei e apresentei os sentimentos. Sempre tenho enorme dificuldade nestas horas. Ao conseguir fazer, senti-me mais tranquilo  

        Ao me afastar da sala de velório senti uma leveza no ambiente.  A tristeza era serena, sem revoltas, compassiva.

        Já com algumas horas de velório chegou um amigo de Bastinho,  quando ele foi entrando no velório eu senti seu rosto mudando e o choro chegando,  ele o segurou, entrou na sala e saiu rapidamente. Se juntou à irmã,  que enviuvou há poucos meses.

        O luto estava estampado nas expressões serenas dela, até quis conversar com ela, mas achei inconveniente.

        Passado algum tempo o velório foi se aproximando da despedida final,  os filhos lhe beijaram a testa, tocaram em uma das mãos de Bastinho e despedida final foi curta, apenas alguns metros o cortejo levou o corpo até o carro que seguiu para o crematório, bem próximo de onde estávamos. 

        Logo depois eu e Cida nos despedimos e voltamos para casa. No entanto, nos últimos dois dias tenho refletido sobre o luto e do vazio que as pessoas próximas a Bastinho sentirão. 

        Essa sensação de vazio não existe mais conosco quando nosso pai morreu em 1982, mas foi muito forte, muito forte,  quando fomos jantar na noite após o sepultamento. 

        Até pensei em dizer aos filhos dele, homens adultos e com suas famílias, como se passou conosco, como o luto faz parte da vida e como a saudade do que não foi feito irá os acompanhar algum tempo.

        Mas me falta proximidade,  assuntos assim, para falar deles tem que haver permissão e necessário algum grau de amizade.

        Não tenho, só tenho o sentimento e o coração aberto, para se houver oportunidade.

        Por hora, é só. 

        Abraço, Marconi Urquiza 

sábado, 5 de agosto de 2023

"Deus proteja de mim" *

Estava no restaurante de um hotel em João Pessoa quando li três frases de artistas paraibanos. Uma do personagem Chicó, de Ariano Suassuna, outra do cantor Chico César e a terceira que reconheci a frase, mas não lembrei do nome do autor.

A frase de Chico  César "Deus  me proteja de mim e da maldade de gente boa". Li, reli, lá pela quarta vez que prestava atenção na frase de Chico César um redemoinho tirou do arquivo escondido da memória lembranças arquivadas, recente e de mais tempo.

Meu pai tinha uma frase, que hoje posso sintetizar como agir com Boa Fé,  mas ele nunca falou este termo, em muitos momentos ele se expressou assim: "Ser honesto de principio". Para mim 100% ambígua,  não fora o convívio e suas atitudes jamais chegaria a esta conclusão.

Sempre achei ela de difícil interpretação, o fato é que ele nos criou sob um rigoroso principio de ser Honesto,  sem nenhuma margem para não ser assim.

Quando estava concluindo a faculdade de Direito fiz o trabalho de conclusão de curso no Direito do Consumidor e neste ramo a Boa Fé é princípio fundamental nas relações de consumo.

Pesquisando para este trabalho achei um livro que estudava a Boa Fé no Direito Civil e o autor dizia que a Boa Fé não depende de circunstância ou da vontade de alguém, a Boa Fé é objetiva.  Em resumo: As partes devem agir por lei com Boa Fé.  

É uma questão que me interessou tanto que inclui um capítulo no trabalho ligando esta Boa Fé com a Boa Fé do Direito do Consumidor. 

Na vida mundana o que mais se ver é a Má Fé, empresas e pessoas que não dizem tudo que pode afetar a decisão do consumidor,  que prometem o que não pode cumprir,  que fazem puxadinhos nos preços,  não informam defeitos e se aproveitam do dogmatismo da Justiça para se livrarem de suas más intenções  

E quando a Má fé se reveste de um sorriso aberto, de olhos que brilham, enquanto nos perscrutam para identificar nossas fraquezas, fica difícil para um espírito de boa fé identificar. 

Em tempos recentes eu convivi com alguém que me deu nós cegos,  parecia que eu estava sempre dez passos atrás ao identificar uma maldade,  essa pessoa já tinha 10 outras sacanagens para por em prática. Era como se tivesse um arsenal de maldades.

Era como um estrategista a enganar um general em campo de batalha com ações que desviavam o foco, enquanto os suas tropas ia pelo flanco mais fraco do outro general.

Com minha fé imperdenida que aquilo era temporário eu tomava tombo em cima de tombo, imaginando que tudo aquilo fosse passar e não ocorria, eu convivia com um ser maldoso, até que usei o silêncio para não sinalizar o meu pensamento. 

Sabe que Chico César tem razão:
"Deus me proteja de mim
 E da maldade de gente boa
 Da bondade de pessoa ruim
 Deus me governe e guarde
 Ilumine e zele assim"

Apesar dos tombos, continuo tendo a Boa Fé como um princípio para minhas atitudes todos os dias.

Por hora, é só.  Na Boa.

Abração,  Marconi Urquiza. 

PS:
(*) O título da crônica retirado na canção Deus me Proteja, de Chico César.

O poder revela ou transforma uma pessoa?

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